Capítulo 52 a 54


 Capítulo 52: Li Dai Tao Jiang

(Li Dai Tao Jiang – 李代桃僵 – é um idioma chinês frequentemente usado para descrever uma situação de substituição ou sacrifício. Normalmente significa que alguém ou algo é sacrificado para salvar outro. A expressão vem de uma história do período dos Três Reinos. Em uso moderno, descreve sacrificar ou substituir algo/alguém por um bem maior.)

Na manhã seguinte, Han Yan levantou-se cedo. Era a véspera do Ano-Novo, e Ji Lan trouxe uma bacia de bronze com água quente para lavar seu rosto, ajudando-a a se vestir e se arrumar.

Naquele dia, Han Yan não usou seu coque habitual; em vez disso, pediu que Ji Lan trançasse seus longos cabelos em duas tranças bem-feitas, seus fios escuros organizados com capricho. A franja caía suavemente sobre a testa, adornada por um grampo translúcido de cristal roxo. Trocou os brincos por um par de pérolas com enfeites dos Oito Tesouros, e ao pescoço pendia um pequeno e delicado sachê vermelho. Sua aparência estava bem diferente do habitual, mas sem exageros. Han Yan escolheu um casaco de pele brocado verde-claro, cor que antes considerava chamativa e de gosto duvidoso, por isso raramente usava. No entanto, agora parecia uma peça nova. Quando terminou de se arrumar, Mamãe Chen olhou para a silhueta delicada diante dela e sorriu:

— Jovem Senhorita, você está mesmo encantadora, mas ainda parece um pouco simples demais. — Ela franziu a testa e sugeriu: — Que tal usar aquele traje novo carmesim...?

Han Yan balançou a cabeça:

— Não é necessário. Estou indo ao templo com a Irmã Yushan para rezar por bênçãos. Usar algo muito chamativo não cairia bem.

Mamãe Chen ficou em silêncio. Nesse momento, Ji Lan e Shu Hong também apareceram, ambas vestidas com jaquetas verde-claro e saias longas. Ao lado de Han Yan, estavam tão parecidas que era difícil distingui-las à primeira vista.

Mamãe Chen ficou sem palavras. Han Yan sorriu, tirou de uma arca um manto de vison vermelho-vivo e o vestiu sobre si. O corte era primoroso, moldando seu corpo com perfeição. A pele era macia e brilhante, um verdadeiro tesouro. Assim que vestiu o manto, o casaco verde-claro ficou completamente coberto, fazendo com que parecesse bem diferente de Ji Lan e Shu Hong. Com tudo pronto, Han Yan finalmente saiu.

A carruagem aguardava por perto. Assim que Han Yan saiu, viu a Tia Zhou conversando com Zhuang Yushan. Tia Zhou ficou surpresa com a aparência de Han Yan — de fato, havia uma diferença marcante em relação ao estilo de sempre. Ela havia abandonado o coque infantil e as roupas joviais; agora, com um manto vermelho flamejante e duas tranças longas caindo sobre o peito, parecia ter amadurecido de um dia para o outro. Os adornos simples destacavam seus lábios rosados, dentes brancos e pele alva, enquanto seus grandes olhos brilhantes curvavam-se como luas crescentes, exalando uma doçura encantadora que transmitia conforto logo ao primeiro olhar. Até mesmo Zhuang Shiyang não pôde deixar de demonstrar um leve apreço.

Zhuang Yushan era conhecida por sua beleza, mas agora Han Yan parecia estar à sua altura.

Zhuang Yushan olhou com cobiça para o manto de vison que Han Yan usava, desejando-o intensamente. Se eu tivesse um igual, certamente seria o centro das atenções. Determinou-se, ali mesmo, a arranjar uma forma de obter aquele manto.

Tia Zhou observou a transformação de Han Yan e sentiu um desconforto estranho se insinuar. Então sorriu e disse:

— Quarta Jovem Senhorita, você está tão diferente hoje que quase não a reconheci.

Han Yan sorriu e respondeu:

— A véspera do Ano-Novo marca o começo de um novo ciclo, então achei justo me arrumar para atrair boa sorte. Além disso, estou um ano mais velha agora, não sou mais uma criança, não posso continuar me vestindo como uma.

Suas palavras soavam pueris, e é claro que Tia Zhou não acreditou. Ainda assim, desconfiada, lançou um olhar a Han Yan, que parecia distraída examinando a carruagem — o que aliviou um pouco sua apreensão. Zhuang Shiyang disse:

— Nesse caso, entrem logo na carruagem. A viagem é longa, melhor partir cedo para voltar cedo também.

Han Yan inclinou a cabeça para olhar Zhuang Shiyang e apontou para as duas carruagens:

— Pai, não era para eu e a Irmã Yushan viajarmos na mesma carruagem?

Tia Zhou lançou um olhar a Zhuang Shiyang e respondeu com gentileza:

— A Quarta Jovem Senhorita comentou, no último banquete do palácio, que não está acostumada a dividir carruagem. Além disso, precisa levar sua própria criada, e talvez uma carruagem só não seja suficiente. Com duas, certamente será mais confortável.

Ela trouxe à tona o episódio do banquete anterior, o que faria qualquer um interpretar a atitude de Han Yan como ingrata e arrogante — preferindo andar com a criada a dividir espaço com uma filha de concubina da casa. Isso era visto como um desrespeito aberto à posição de uma filha secundária.

Como esperado, a expressão de Zhuang Shiyang escureceu ao ouvir aquilo. Ele disse friamente a Han Yan:

— Você não disse que preferia ir sozinha? Que história é essa agora?

Depois virou-se para Zhuang Yushan, com um tom muito mais suave:

— Yu’er, tome cuidado na estrada. O caminho é longo. Não se esqueça de ver os fogos com seu pai mais tarde.

Zhuang Yushan sorriu e respondeu:

— Com certeza rezarei a Buda pelo sucesso do pai e pela boa saúde da mamãe.

Depois de finalizadas as instruções, Han Yan subiu em sua carruagem.

Lá dentro, Ji Lan se aproximou de Han Yan e sussurrou:

— Senhorita, a casa enviou muitos guardas.

Han Yan levantou a cortina para espiar e, de fato, havia seis guardas uniformizados cercando cada carruagem. Ela não conteve um sorriso frio, baixou a cortina e recostou-se contra a almofada macia.

Aqueles guardas provavelmente já foram subornados pela Tia Zhou. Em sua vida passada, ela jamais entendeu como doze guardas treinados da residência falharam diante de um bando de bandidos desorganizados. Mais tarde, percebeu que aqueles bandidos não tinham muita habilidade — davam socos aleatórios, sem técnica alguma. Aqueles guardas não estavam ali para resgatá-la, mas sim para garantir que tudo saísse conforme o planejado e vigiá-la.

Shu Hong ajudou Han Yan a desfazer os laços do manto. A carruagem era aquecida por um pequeno braseiro, tornando o ambiente muito mais aconchegante que o exterior. Vestida com o manto pesado, Han Yan sentia as bochechas ruborizadas pelo calor.

Ji Lan sussurrou:

— Senhorita, pode nos dizer por que tivemos que nos vestir assim?

Na noite anterior, Han Yan havia instruído Ji Lan e Shu Hong a usarem blusas verde-claro para acompanhá-la ao templo. Embora não entendessem, obedeceram. Depois de tantos anos com Han Yan, ambas haviam desenvolvido uma compreensão silenciosa que ninguém mais tinha. Estava claro que a senhorita preparava algo para hoje — mas o quê?

Han Yan lançou um olhar para a cortina da carruagem, tomou a mão de Ji Lan, virou a palma para cima e escreveu algumas palavras com o dedo.

Ji Lan e Shu Hong acompanharam atentamente e, quando finalmente entenderam o que estava escrito, arregalaram os olhos em choque.

As palavras eram: “Tia Zhou quer me prejudicar e arruinar minha reputação.”

Shu Hong imediatamente levantou o olhar, o rosto tomado de preocupação enquanto encarava Han Yan. Esta continuou a escrever: “Aliada a bandidos para me sequestrar, fingindo que vai acionar as autoridades.”

As duas criadas ficaram atônitas. Embora tivessem presenciado muitas intrigas na casa ao longo dos anos, era difícil acreditar que um plano tão cruel estivesse sendo tramado contra a própria jovem senhorita. Sentiram-se aflitas e impotentes. Shu Hong foi a primeira a se recompor; após um instante, abriu a boca e formou silenciosamente as palavras:

— O–que–de–vemos–fazer?

Han Yan sorriu, tentando tranquilizá-las, e então escreveu com firmeza, traço por traço:

Li dai tao jiang.

Capítulo 53: Acontecimentos Inesperados
O Templo Fengdi era um templo renomado na capital, mas poucas pessoas iam até lá oferecer incenso. O motivo era simples: o Templo Fengdi era famoso por causa do Mestre Qingfeng, um monge talentoso que raramente recebia visitantes. O caminho montanhoso até o templo era difícil de percorrer; os devotos vinham por admiração, mas partiam desapontados por não conseguirem encontrar o Mestre Qingfeng, o que os levava a parar de visitar o local com o tempo.
Embora houvesse poucos visitantes, o Templo Fengdi não estava em decadência. Na verdade, as frutas e oferendas apresentadas eram frescas e raras. Han Yan suspeitava que alguém por trás do templo deveria ser muito rico para custear doações tão luxuosas.
Han Yan tinha uma impressão muito negativa do Templo Fengdi, até mesmo um profundo desgosto por ele. Em sua vida passada, foi por causa desse lugar que ela foi sequestrada por bandidos — uma raiva deslocada, talvez. Agora, parada diante do portão do templo e olhando para o edifício que parecia exatamente como ela lembrava, Han Yan sentia uma mistura de emoções, como se tivesse caminhado por aquele caminho durante mil anos.
Zhuang Yushan já havia instruído os servos a levarem itens para doação — comida e cobertores para os monges. Eram os suprimentos mais necessários; outras coisas tinham menos importância.
Um monge de meia-idade veio conduzir Han Yan e Zhuang Yushan até o salão principal do templo. No centro, erguia-se uma estátua dourada do Bodisatva, e Han Yan não pôde evitar um leve sorriso de escárnio. Um templo tão isolado nas montanhas podia se dar ao luxo de erguer uma estátua dourada do Bodisatva? Aquilo era realmente extravagante.
Zhuang Yushan ajoelhou-se sobre a almofada de meditação, e Han Yan a imitou, encarando diretamente os olhos do Bodisatva. Ela não acreditava no budismo; sua mãe acreditava no céu, na terra e nos bodisatvas — e acabou sendo vítima mesmo assim. Em sua vida passada, ela fora pacífica, mas teve seu destino manipulado, o que levou à sua ruína. O Bodisatva não deveria aliviar o sofrimento? Então por que ninguém veio salvá-la quando ela se debatia num mar de dor? Mas... seria possível desacreditar completamente? Seu renascimento talvez fosse uma reviravolta do destino. Talvez o Bodisatva não suportasse vê-la sendo maltratada por pessoas más e lhe concedeu essa chance de mudar tudo e recomeçar.
Han Yan curvou-se profundamente, inclinando-se três vezes com a testa tocando a almofada de meditação, fechando os olhos enquanto orava em silêncio:
“Bodisatva, se o senhor realmente tem esse poder, por favor, ajude-me a vingar-me dos meus inimigos. Que eles paguem por seus erros, e que Ming Ge'er e aqueles ao meu redor vivam bem. Mesmo que isso custe minha vida em troca, estou disposta.”
Depois de fazer as três reverências respeitosas, viu Zhuang Yushan ao seu lado, com o rosto corado, pedindo timidamente uma sorte no amor. Han Yan lançou-lhe um olhar breve e, assim que Zhuang Yushan recebeu uma previsão favorável, saíram juntas. O mesmo monge que as havia conduzido retornou, convidando-as a permanecer no templo para uma refeição.
A família Zhuang tinha levado muitos suprimentos ao templo, então Han Yan não se preocupou com a generosidade dos monges. Chamou os guardas e algumas criadas para ajudar. Os monges eram poucos, então as criadas deram assistência.
A refeição do templo era bem simples — apenas mingau branco e alguns acompanhamentos — mas Han Yan a achou estranhamente agradável. Já Zhuang Yushan mal conseguia engolir. Ver Han Yan comendo com tanta naturalidade só aumentava o seu desprezo. Depois de algumas mordidas hesitantes, largou os hashis.
Depois de comer, Han Yan se despediu naturalmente dos monges, entrou na carruagem e recostou-se sobre os cobertores macios para tirar um cochilo. Não fazia ideia de quanto tempo tinha passado, quando de repente a carruagem parou, inclinando-se para frente de forma brusca, quase jogando-a para fora. Seus olhos se abriram num estalo, claros e atentos, sem nenhum traço de sonolência.
Levantando a cortina, Han Yan perguntou com surpresa aos guardas ao redor:
— Por que a carruagem parou?
Um dos guardas se aproximou com postura firme e fez uma reverência com o punho fechado, dizendo:
— Jovem Senhorita, os cavalos que puxavam a carruagem tiveram um problema.
Han Yan ficou surpresa e logo saltou para fora. Viu que a carruagem havia parado diante de um grande agrupamento de árvores, com dois cavalos deitados no chão, arfando violentamente, os olhos quase se fechando. Um dos guardas chicoteava um dos cavalos com força, mas o animal apenas agitou as patas algumas vezes, bufando alto, incapaz de se levantar.
— Como os cavalos adoeceram tão de repente? — Zhuang Yushan também desceu da carruagem, intrigada.
Han Yan lançou-lhe um olhar embaraçado e então se virou para o guarda:
— O que faremos? A carruagem está presa aqui, e se esperarmos alguém trazer outra equipe, talvez escureça antes disso.
O guarda começou a suar; a família Zhou havia instruído que deviam chegar ao Rio Shahe antes do entardecer. Com a carruagem repentinamente avariada, parecia que não conseguiriam cumprir o horário. Han Yan olhou para Zhuang Yushan e de repente disse:
— Irmã Yushan, por que não me deixa ir em sua carruagem? Isso economizaria tempo e evitaria que perdêssemos o banquete de fogos de artifício ao entardecer.
Zhuang Yushan estava prestes a recusar, mas ao ouvir a menção ao banquete de fogos, engoliu as palavras na hora. O banquete seria uma oportunidade de ver vários oficiais de alto escalão e jovens nobres que normalmente não encontraria. Ela certamente não queria perder essa chance.
Os olhos do guarda líder brilharam com a sugestão de Han Yan e acrescentou:
— Isso também serve. As duas jovens podem dividir uma carruagem, e eu providenciarei alguém para guardar esta aqui.
Zhuang Yushan finalmente assentiu. Han Yan sorriu com doçura e disse calorosamente:
— Agradeço o incômodo, irmã.
Mas Zhuang Yushan respondeu:
— Irmã, tudo bem você entrar na carruagem, mas as duas criadas não podem. Elas terão que seguir do lado de fora.
Han Yan soltou uma risadinha e disse:
— Ji Lan, Shu Hong, vocês duas venham seguindo a carruagem.
Ji Lan e Shu Hong imediatamente concordaram. A prontidão com que Han Yan aceitou deixou Zhuang Yushan um pouco surpresa — e também ligeiramente irritada.
O sorriso de Han Yan era radiante, mas se alguém olhasse com atenção, veria que não havia traço algum de alegria em seus olhos. O caminho montanhoso era acidentado, obrigando as criadas a manter o ritmo ao lado dos guardas, o que mostrava a consideração de Han Yan. Felizmente, a carruagem não podia ir rápido, o que aliviava um pouco o esforço de Ji Lan e Shu Hong.
Han Yan desviou o olhar, sentindo a intensidade dos olhares ao seu redor. Se eu não soubesse que Zhuang Yushan é minha inimiga jurada, até pensaria que está apaixonada por mim.
Naquele momento, Zhuang Yushan estava obcecada com o manto de vison que cobria Han Yan, inclinando-se para observá-lo de perto. Achava aquele manto incrivelmente precioso, e o vermelho vibrante a deixava fascinada. O ar luxuoso que conferia a Han Yan fazia com que ela desejasse desesperadamente tomá-lo para si.
Quando Han Yan virou a cabeça e notou Zhuang Yushan examinando o manto, perguntou:
— Irmã Yushan, você está olhando para o manto que estou usando?
Zhuang Yushan se assustou, desviando o olhar de propósito, e perguntou:
— Onde conseguiu esse manto?
Han Yan alisou o manto e sorriu:
— Foi um presente do meu avô.
Enquanto estava vivo, seu avô realmente a mimava. Talvez fosse o único parente, além de sua mãe, de quem recebeu calor neste clã Zhuang.
Ao ouvir isso, Zhuang Yushan sentiu um misto de inveja e ressentimento. Sendo filha de concubina e criada fora da casa, ela nunca chegou a conhecer o avô que Han Yan mencionava. Ele devia ter sido muito generoso. Se eu tivesse crescido dentro da família Zhuang, pensou ela, com certeza teria recebido ainda mais tesouros.

Capítulo 54: Protegendo a Jovem Senhorita
— Este foi o primeiro prêmio que meu avô ganhou durante uma caçada — continuou Han Yan. — Era o animal mais belo de todos os que estavam no campo. Depois, ele mandou chamar o melhor alfaiate da capital para fazer essa capa. Ela brilha sob a luz do sol... é realmente preciosa.
Zhuang Yushan engoliu em seco, incapaz de conter a inveja que borbulhava em seu coração. Seus olhos estavam fixos na capa vermelha, e por um momento ela desejou poder arrancá-la das mãos de Han Yan ali mesmo.
Vendo a expressão despreocupada de Han Yan, ela pensou em silêncio: Continue sorrindo. Aproveite enquanto pode, porque logo isso vai acabar.
Ela não sabia exatamente qual era o plano de sua mãe, mas fora informada de que, desta vez, elas arruinariam Zhuang Han Yan. Naturalmente, estava eufórica.
Sobre a mesinha dentro da carruagem havia uma chaleira com chá recém-preparado. Han Yan serviu uma xícara para si mesma, o líquido fumegante quase transbordando. Ao ver isso, a criada Yun’er quis alertá-la, mas antes que pudesse abrir a boca, a mão de Han Yan tremeu — e o chá quente espirrou todo sobre Zhuang Yushan.
— Ah! — gritou Zhuang Yushan no mesmo instante, levantando uma das mãos, pronta para dar um tapa em Han Yan.
Han Yan, assustada, exclamou:
— A capa da irmã...
Zhuang Yushan congelou por um instante e imediatamente abaixou os olhos. Hoje ela usava uma capa novinha de pele de coelho branco, combinando lindamente com sua jaqueta de cetim rosa. Agora, aquela peça impecável estava toda manchada de chá, com um aspecto lastimável.
Tomada pela raiva, Zhuang Yushan gritou com Han Yan:
— Você arruinou minhas roupas! Como vou ao banquete de fogos de artifício desta noite agora? Você fez isso de propósito!
Han Yan abaixou a cabeça, parecendo desamparada.
— Eu não fiz de propósito... Para o banquete, a irmã Yushan pode trocar de roupa... Eu compensarei pela capa.
Zhuang Yushan não cedeu.
— Trocar de roupa? Esta capa foi feita especialmente para mim pelo meu pai há poucos dias! Como você vai me compensar? Falar é fácil. Quer que eu vá ao banquete com roupa velha?
Vendo que Han Yan apenas segurava a barra da própria capa, os olhos de Zhuang Yushan brilharam.
— Que tal isso: você me dá sua capa, e eu a uso. Pode me compensar com alguma prata também.
Han Yan sentiu um frio percorrer sua espinha. Zhuang Yushan pensou bem rápido. Aquela capa já era preciosa o bastante, e ainda queria receber prata? Gananciosa demais. Com isso em mente, Han Yan rapidamente balançou a cabeça.
— Não. Foi um presente do meu avô...
Zhuang Yushan não se importava com isso. Achava que, diante de tantas testemunhas, Han Yan, tendo derramado chá sobre ela, estava errada. Então, aproveitou-se da situação e tentou arrancar a capa da prima.
— Dívida se paga. Somos irmãs, então nem precisa me pagar em prata. Não é como se essa capa fosse nova mesmo; eu uso agora, já que você sujou a minha! Se meu pai souber que você estragou minha capa de propósito, espere só para ver como ele vai te punir!
Han Yan ainda tentava impedir que Zhuang Yushan tomasse a capa, mas ao ouvir o nome de Zhuang Shiyang, seus movimentos hesitaram. Ela lançou um olhar feroz para Zhuang Yushan, sentindo-se injustiçada e furiosa. Aproveitando-se disso, Zhuang Yushan puxou a capa de Han Yan e a vestiu com entusiasmo. Imediatamente, sentiu-se aquecida e perguntou à criada Yun’er:
— Está bonita?
Yun’er, mesmo achando tudo aquilo impróprio, respondeu:
— Está, sim.
Zhuang Yushan lançou um olhar vitorioso para Han Yan, que estava visivelmente irritada.
— Na verdade, acho que a Quarta Irmã nem combinava com essa capa. Acho que ela fica melhor em mim — disse, jogando sua própria capa de pele de coelho em direção a Han Yan. — Que tal usar essa por agora?
Han Yan a encarou.
— Obrigada, irmã Yushan, mas nunca tive o hábito de recolher as sobras dos outros. Isso seria como mendigar.
Zhuang Yushan captou o sarcasmo na resposta e zombou:
— Se a Quarta Irmã não quer usar minha capa, tudo bem. Yun’er, guarde isso. — E lançou um olhar zombeteiro para o casaco de couro de Han Yan. — Espero que a Quarta Irmã não congele mais tarde.
— Não precisa se preocupar, irmã Yushan — respondeu Han Yan com calma, olhando para sua roupa verde-clara e sorrindo discretamente.
Zhuang Yushan tinha um forte senso de posse; uma vez que punha os olhos em algo, fazia de tudo para conseguir. Se ela não tivesse sugerido a troca, Han Yan teria dado um jeito de oferecer a capa. Tudo estava indo até melhor do que Han Yan esperava.
A discussão dentro da carruagem, naturalmente, foi ouvida pelos guardas lá fora. Contudo, todos fingiram não escutar nada. No fim da comitiva, vinham Ji Lan e Shu Hong. Ambas estavam ofegantes, com dificuldades na trilha íngreme da montanha — o que já era desafiador até para um homem forte, imagine para duas mulheres delicadas. Felizmente, Ji Lan era animada e frequentemente puxava conversa com os guardas, tornando a caminhada menos penosa.
Após um tempo indefinido de caminhada, Ji Lan parou um pouco e puxou pela manga de um dos guardas mais próximos, sorrindo docemente:
— Irmão, que horas são agora?
Ela enxugou o suor da testa, parecendo especialmente frágil.
O guarda, de coração mole, percebeu o charme da jovem e sua fala suave, e respondeu de forma tranquilizadora:
— Está tudo bem, já estamos quase no leito arenoso do rio. Depois disso, será só mais meia hora até a cidade.
Ao ouvir isso, Ji Lan agradeceu e trocou um olhar significativo com Shu Hong; ambas tinham seus próprios planos.
Dentro da carruagem, Han Yan mordiscava alguns petiscos com calma, calculando o tempo — deviam estar se aproximando do destino. Ao virar o rosto, viu Zhuang Yushan encostada, brincando com uma pulseira nova de prata, claramente se exibindo. Han Yan sorriu, mas sua túnica verde-clara parecia apagada em comparação com a capa vermelha vibrante de Zhuang Yushan.
Para garantir que nada saísse do controle, tia Zhou certamente não contaria os detalhes do plano para Zhuang Yushan, já que ela era emocionalmente instável. Era uma precaução compreensível — e também uma brecha que Han Yan podia aproveitar.
Será que aqueles bandidos saberiam distinguir quem é a Segunda Senhorita e quem é a Quarta?
Han Yan sorriu sozinha, mas antes que pudesse disfarçar a expressão, um tumulto repentino começou do lado de fora da carruagem, seguido pelo som de cascos de cavalo em disparada. A carruagem balançou violentamente, e o barulho de espadas sendo sacadas pelos guardas ecoou no meio do caos. Uma voz rude soou alta e clara:
— Deixem as moças!
Finalmente chegaram. O rosto de Han Yan se tornou frio; ela de fato temia que não viessem, o que arruinaria todo o espetáculo.
Ao seu lado, Zhuang Yushan gritou em pânico, sem entender o que estava acontecendo. Han Yan ergueu a cortina da carruagem e saltou para fora, gritando com alarme:
— Rápido! Protejam a jovem senhorita!


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