Capítulo 52.2


 Um caminho Shinto[1] levava diretamente até o portão do túmulo. Havia pares de estátuas de pedra em ambos os lados do caminho, representando funcionários civis, oficiais militares e até animais com formas estranhas.

Pelo nível do túmulo, o chamado general era, na verdade, o rei da Cidade Chiyou.

Os cantos da boca de Xiao Cheng se contraíram de empolgação, e ele não conseguiu evitar dançar no caminho Shinto.

— Qual é o problema de dançar em cima do túmulo? Eu já pulei direto dentro dele mesmo.

Todos: “…”

#HAHAHAHA Xiao Cheng ficou trancado na masmorra o episódio inteiro na estreia, depois passou outro episódio inteiro na lavanderia com as tias, e finalmente pôde fazer um papel cômico no terceiro episódio.

#Liang Xiaoduan sou eu. Toda vez que vou em escape room, sou zoada por ser covarde, pálida e gritar demais. Tô prejudicada!

O portão do túmulo havia sido explodido pelos saqueadores. As duas bestas guardiãs contra ladrões de túmulo, agachadas à entrada, pareciam imponentes, mas nada podiam contra as armas e a ganância dos homens modernos.

A lápide — fundamental para confirmar a identidade do dono do túmulo — também havia sido danificada pelos saqueadores, com dois cortes profundos.

Jiang Zheng a limpou com as mãos e, tal como confirmado pelos murais do Templo da Imperatriz Huangsha, aquele era o túmulo conjunto do general e sua esposa.

Ji Muye comentou:

— Isso é oficial da Dinastia Han. Talvez a Cidade Chiyou tenha existido nessa época?

Jiang Zheng murmurou em concordância. Os objetos de ferro e outros itens que havia visto no acampamento poderiam ajudar a deduzir em qual ponto da história Chiyou se encaixava.

Eles atravessaram a entrada do túmulo. Logo adiante, ouviram uma movimentação.

A voz do chefe dos saqueadores soava alta:

— Leva tudo! Embala e leva!

— Droga. Primeira vez na vida que vejo um túmulo intacto. Isso tem que ir pro feed!

— Rápido! O sol tá se pondo. Eu não quero virar múmia aqui dentro, anda logo!

Aparentemente, tinham encontrado os objetos funerários na câmara auditiva esquerda do túmulo.

Depois de saquear essa câmara, os ladrões seguiram direto para a câmara principal.

Jiang Zheng e os outros se esconderam silenciosamente na câmara auditiva direita, onde havia apenas alguns vasos de cerâmica baratos e objetos laqueados. Claro, a “baixa” qualidade era só em comparação com o ouro, prata, joias, moedas e tigelas de ouro do outro lado.

Nesse momento, o diretor ativou todas as câmeras nos quatro cantos da câmara principal, permitindo que o público assistisse em 360 graus aos dois grandes caixões colocados no centro do túmulo.

O caixão da esquerda era maior e parecia ter espaço suficiente para comportar dois adultos.

A madeira espessa de um vermelho vívido, as entalhes negros e a integridade imortal preservada por mil anos faziam os corações dos espectadores tremerem.

O caixão da direita tinha o mesmo formato, mas era um pouco menor.

O chefe cuspiu no chão:

— Abre esse da esquerda. — Só o caixão grande teria muitos objetos de valor. Se por acaso encontrassem uma daquelas roupas de jade com fios de ouro, nunca mais precisariam entrar num lugar amaldiçoado desses na vida.

Mesmo sendo bandidos endurecidos, tinham levado um baita susto no templo da Imperatriz Huangsha. Abrir um caixão agora faria qualquer um hesitar.

A grande pergunta era: quem teria coragem de dar o primeiro passo?

O chefe gritou, furioso, pegou um punção de ferro da mão de um deles e enfiou com força na fenda da tampa do caixão.

— O quê? Acharam que ia ter um zongzi gigante enterrado aqui dentro? — zombou. — Vocês viram episódios demais de Ghost Blows the Lamp.

Os outros trocaram olhares nervosos. Se o chefe começou, então não é culpa nossa. Mesmo que os mortos se revoltassem, quem responderia por isso era ele.

Tranquilizando-se com essa ideia, começaram a ajudar.

Cinco ou seis barras de ferro foram inseridas na fresta.

— Um, dois, três…

Foi preciso muito esforço para inclinar levemente a tampa do caixão.

O rosto do chefe estava vermelho de empolgação. Com certeza havia algo valioso ali dentro — caso contrário, o caixão não seria tão resistente.

Depois de várias tentativas, finalmente conseguiram abrir uma fenda de dez centímetros na tampa.

Jiang Zheng escutava a movimentação na câmara principal e virou-se devagar para verificar ao redor.

À luz bruxuleante da vela, ela tocou um armário laqueado com flores negras sobre fundo vermelho. Assim que o tocou, o móvel se desfez no chão, espalhando o conteúdo.

Felizmente, o barulho na câmara principal era grande, e ninguém percebeu a anomalia.

Todos olharam para o chão — havia ali uma saia de gaze tão fina quanto asa de cebola. O ambiente seco a preservara tão bem quanto no dia em que fora guardada.

#Deus nos proteja com uma barragem divina.

#Alta energia! Alta energia!

#O que foi que eu acabei de ver?

No momento em que os ladrões comemoravam por terem aberto o caixão, uma garra negra surgiu e se agarrou à borda…

#Eita! O urso chegou!

#Sabia que tinha zongzi[2]!

#Eu avisei pra não abrir o caixão dos outros. Já não tava bom levar só os pertences?

Os saqueadores recuaram, apavorados. Até então só tinham visto o vento e sentido sua força — mas agora, algo de verdade saíra do caixão. Toda a defesa psicológica deles desmoronou.

— Chefe… ainda dá tempo de fugir?

— Eu não quero morrer, não!

As pupilas do chefe se contraíram, e ele gritou:

— Calem a boca! Vocês acham que cinco homens não conseguem derrubar um só?!

Mal terminou de falar, a tampa do caixão finalmente cedeu.

Algo com uma cabeça escura rompeu a madeira espessa com força e se revelou. Virou o pescoço lentamente, com um som de crec-crec. A garganta fazia barulho de fole quebrado, e por mais que tentasse gritar, nenhum som saía.

#Ahhh chegou! Chegou mesmo. Finalmente!

#Senhor Zongzi, olá. Assine aqui pelos cinco saqueadores.

#Esse é o famoso general apaixonado?

#Ajoelhando aqui pelo grupo de produção. Quem tá interpretando esse Zongzi, meu Deus? Tá assustador demais.

O Senhor Zongzi tinha uma capacidade de salto excelente. Assim que se ergueu do caixão, pulou direto para o chão.

Os olhos dos ladrões quase saltaram das órbitas, e o fedor vindo da câmara principal invadiu a sala ao lado, quase fazendo Jiang Zheng e os outros vomitarem.

He Xiao cobriu com força a boca de Liang Xiaoduan, sinalizando para ela ficar quieta.

Diziam que o Senhor Zongzi podia sentir o cheiro de pessoas vivas. Será que, depois de lidar com os ladrões, ele os encontraria também?

#E agora, e agora? Preocupado pelos convidados.

#O grupo do programa só joga gente aqui, mas não fornece nem uma ferramenta decente. Só tem uma pá de madeira.

#Os ladrões nem pá de madeira têm. Acho que nem a direção da rádio e televisão deixaria.

Diante da imensa diferença de forças, o Senhor Zongzi usou sua técnica de “mão-faca” e derrubou na hora os dois ladrões mais próximos.

Um dos saqueadores, incapaz de suportar aquela cena horrível, correu para a câmara direita gritando, em busca de abrigo.

Jiang Zheng e os outros estavam escondidos na escuridão, observando em silêncio o homem tremendo feito vara verde contra a parede.

Ji Muye se aproximou dele em silêncio, soprou levemente em seu ouvido e disse:

— Bem-vindo à minha casa.

O saqueador revirou os olhos e desmaiou.

#Hahahaha, travesso demais, Professor Ji.

#Gente assusta mais que assombração.

#Professor Ji, essa foi maldade pura.

Na câmara principal, o chefe viu três de seus homens desaparecerem em questão de segundos e rugiu:

— Joga a corda! Amarra ele!

Dois ladrões lançaram cordas grossas, e outros dois as agarraram e deram voltas ao redor do Senhor Zongzi.

Ele fora um bravo general em vida. Agora, com seu túmulo profanado e amarrado como um verdadeiro zongzi, explodiu em fúria. Gritou tão alto que o som agudo ecoou por todo o túmulo.

Mas o chefe era mesmo experiente. No momento em que o zongzi rugiu, puxou rapidamente a corda presa à sua cintura, fazendo com que ele caísse de volta ao caixão com um baque surdo.

O chefe avançou, empurrou a tampa do caixão e sentou-se sobre ela, prendendo o zongzi com todo o peso do seu traseiro. Os outros ajudaram a amarrar o caixão por cima e por baixo com mais cordas. Mesmo com o morto se debatendo por dentro, não conseguiria sair.

O movimento foi tão rápido quanto fluido, que deu até vontade de cobrir os olhos.

— Droga. Vamos queimar ele. Quero ver se não tem medo de fogo! — O velho sacou uma tocha, furioso, e se preparava para atear fogo aos dois caixões. Já nem se importava com os objetos funerários.

Nesse momento, uma risada ecoou atrás deles:

— Uma preciosidade dessas… não queimem, a não ser que queiram se arrepender.

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[1] Caminho Shinto: caminho tradicional nos templos japoneses, geralmente ladeado por estátuas protetoras.

[2] Zongzi: referência usada na internet chinesa para múmias ou mortos-vivos, fazendo alusão ao bolinho de arroz enrolado em folhas (zongzi), por causa do visual enfaixado.


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