Capítulo 61 a 65


 Capítulo 61 – Você é Boazinha Demais

As mãos de Yang Yufen coçavam de raiva enquanto lia a carta.

Aquele desgraçado! Me arrastar pra isso já não bastava — agora quer envolver a própria esposa nessa bagunça? Não presta mesmo!

— Nian, não se preocupe com isso. Finja que não viu nada. Vou fazer uma ligação e depois te explico tudo direitinho — disse Yang Yufen, levando a carta embora.

Qin Nian observou a silhueta da sogra se afastando, a mente um caos.

Por que Yang Yufen havia aparecido justamente naquele momento? E por que ficou? Será que ela sabia desde o início que Shen Xianjun não estava morto? Ou…?

Qin Nian não conseguia juntar as peças. Quanto mais tentava entender, mais confuso tudo parecia — mais embaralhado que os próprios relatórios do trabalho.

Ela sabia que Yang Yufen se importava de verdade com ela — mas esse carinho era por ela mesma, ou por causa de Shen Xianjun?

Perdida nesses pensamentos, Qin Nian só percebeu que Yang Yufen havia voltado quando ouviu a porta se fechar.

— Nian, alguém do distrito militar virá buscar isso logo. Nunca mais se envolva com algo tão perigoso assim — disse Yang Yufen, ainda abalada.

— Mãe… quando foi que a senhora descobriu? — A voz de Qin Nian saiu rouca, os olhos fixos no chão, sem coragem de encarar a sogra.

Yang Yufen suspirou ao vê-la daquele jeito e segurou suas mãos.

— Por que estão tão geladas?

Acabara de se sentar, mas se levantou de novo, indo direto à cozinha. Mesmo com o aquecedor ligado, preparou um copo de água quente e o pressionou nas mãos de Qin Nian.

— No começo, eu só desconfiei. O distrito militar primeiro enviava mesada, depois passou a mandar pensão. Achei que ele tinha mesmo morrido… mas guardei um fio de esperança. Aquele garoto pode ser desmiolado, mas nunca trairia o Partido nem o país. Se traísse, eu mesma espancaria até a morte!

As últimas palavras saíram com os dentes cerrados, a frustração transbordando.

— A primeira vez que o vi foi antes do Dia Nacional. Você estava ocupada, então levei o filho da Tia Liu ao hospital com ela. Nos encontramos no banheiro, e ele me passou uma bolinha de cera — foi bem antes da explosão na caldeira do Terceiro Hospital.

Qin Nian ouviu em silêncio, girando o copo entre as mãos, absorvendo o calor que subia para os dedos.

— A segunda vez foi no dia em que fui atropelada. O sujeito que me atingiu pagou mil yuans de indenização — e isso lá é coincidência? Por isso, Nian, se você encontrar ele de novo, fique longe. Ele é meu filho, e lidar com ele é minha responsabilidade. Não vou deixar que ele te machuque.

A raiva de Yang Yufen aumentava a cada palavra. Se não fosse pra não preocupar a nora, teria desabafado muito mais.

Levantou-se de novo e voltou com um papel nas mãos.

— Olha só, conseguimos mais uma casinha. Só não tive tempo de limpar pra alugar. Em uma casa, é a mulher quem deve cuidar do dinheiro. Homem, quando põe as mãos em muito, desanda — você tem que aprender a esconder umas coisas, até mesmo do homem que dorme ao seu lado.

Ao pensar no filho, Yang Yufen bufou.

Qin Nian olhou para o documento de posse nas mãos, depois para a sogra. A expressão de Yang Yufen parecia dura — mas não com ela, pensou. Afinal, se fosse, por que entregaria o documento?

— Mãe, a senhora devia guardar esse dinheiro pra si.

— O que é meu, é seu. O título fica com você, mas por enquanto eu ainda recolho o aluguel. Se um dia eu ficar caduca, é melhor deixar isso com você desde já.

Yang Yufen não tinha dúvidas. Sabia que sua nora era de coração mole — mesmo nos piores tempos, nunca pensou em divórcio e sempre a tratou com bondade. Não era o tipo que se tornaria cruel.

— Mãe… talvez o título devesse ficar no nome do Xianjun. Afinal, ele—

— Já não te falei? Homem, quando tem dinheiro, se perde. Um brutamonte como ele não precisa de casa — dorme em qualquer canto. Você é boazinha demais. Mulher não pode ser fraca, senão o homem monta em cima.

Yang Yufen estalou a língua, exasperada. Ainda tinha muito o que ensinar.

Atordoada, Qin Nian guardou o documento na gaveta. Mesmo ao sair para buscar as crianças, parecia ainda digerindo tudo.

Yang Yufen não queria que Qin Nian se envolvesse nos problemas, então, quando viu o momento certo, pediu que fosse buscar os meninos enquanto ela esperava sozinha.

O enviado do distrito militar chegou rápido. Yang Yufen entregou a carta ainda lacrada e logo se ocupou na cozinha — começou matando uma galinha para o ensopado.

— Nian chegou, entra!

A professora Wen estava em casa.

— Mãe!

— Titia!

Os dois pequenos correram até Qin Nian, pedindo colo.

— Professora Wen, Dabao, Erbao, Zhenghao.

— Sente-se. Seu irmão ainda não voltou, e sua cunhada levou o bebê ao hospital.

— O que houve com o bebê?

Qin Nian não estava por dentro das últimas novidades.

— Coisa de criança. Sua cunhada quis deixá-lo perto dos médicos por precaução.

— O irmãozinho tossiu muito forte, então a mamãe levou — explicou Hu Zhenghao.

Seu irmão bebê era pequeno demais pra brincar — ele nem ousava tocar. Mas os gêmeos? Eram perfeitos pra aprontar. Com o recesso, havia convencido a avó a trazê-los. Eram tão fáceis de cuidar!

— Titia, posso ficar com eles? Quero dormir com eles! Posso até ensinar a ler!

Hu Zhenghao, que odiava estudar, se esforçava com a desculpa mais esfarrapada possível.

A professora Wen soltou uma gargalhada. Não queria envergonhar o neto, mas a cena era hilária demais.

A família toda era estudiosa — menos o menino, que vivia brigando com os livros. Tinham feito de tudo pra manter o garoto na escola.

— Com a mamãe!

Erbao falou de repente.

— Erbao! Já vai me abandonar? A gente ia brincar de general! Eu deixei você usar todos os meus brinquedos e agora você não quer mais?

A cara de choro exagerada de Hu Zhenghao fez Erbao hesitar, pensando que realmente o tinha magoado.

Os adultos riram com a cena.

— Igual irmão! Quero!

Erbao logo voltou atrás. Dabao, por outro lado, estava tranquilo.

— Juntos! Dormir juntos!

Dabao gritou animado.

— Brinquem com seu primo por enquanto. Preciso conversar com a vovó. A mamãe também está de folga — mais tarde saímos um pouco.

Qin Nian precisava desabafar com alguém. A família da Professora Wen era de sua total confiança — com apenas as crianças por perto, era a hora ideal.

— Tá bom!

As crianças saíram correndo para brincar de novo.

Mesmo sem uma resposta definitiva, Hu Zhenghao não se deu por vencido. Tentaria de novo. Um dia ainda convenceria os gêmeos a morarem com ele. Aí ele os levaria pra escola, buscaria, e quando o irmãozinho crescesse… três irmãos mais velhos esperando por ele!

Percebendo que algo incomodava Qin Nian, a Professora Wen a levou para a cozinha com a desculpa de preparar o jantar e fechou a porta.

— Professora Wen… o que a senhora acha da minha sogra?

A pergunta pegou o Professora Wen de surpresa. Ela parou por um instante antes de responder.


Capítulo 62 – Sua Sogra Quer que Você se Case de Novo

— Minha sogra diz que meu temperamento não é bom o bastante.

Qin Nian não conseguiu conter-se e acabou soltando o que Yang Yufen havia dito.

A Professora Wen ficou momentaneamente atônita. Se não fosse pelo fato de que Yang Yufen havia acabado de ajudá-la a garantir um título de propriedade, pensaria que a sogra estava insatisfeita com Qin Nian.

— Ela disse que eu sou calma demais e que não vou conseguir controlar um homem.

Ao dizer isso, Qin Nian abaixou um pouco a cabeça. Nunca havia refletido sobre “controlar um homem”. Ela ganhava seu próprio dinheiro, tinha um emprego estável, e havia se casado mais para tranquilizar o Professor An e sua esposa. Um relacionamento baseado em respeito mútuo já bastava para ela.

— Sua sogra está sugerindo que você se case de novo?

A Professora Wen ficou chocada. Será que sua consogra era mesmo tão mente aberta assim?

— Não, não! — Qin Nian apressou-se em negar com as mãos.

— Ah, é? Então por que tocar nesse assunto de repente?

A Professora Wen sentiu uma pontada de decepção. Qin Nian ainda era jovem, e seus filhos pequenos. Se não fosse pelo apoio de Yang Yufen, tanto ela quanto o Velho Hu já teriam sugerido que Qin Nian se casasse novamente — caso contrário, o que faria quando envelhecesse?

— É que minha sogra me deu um título de propriedade e pediu que eu o guardasse bem, sem contar pra ninguém — nem mesmo pro meu marido. Isso me deixou desconfortável, principalmente porque foi ela mesma quem comprou a casa.

Qin Nian escolheu as palavras com cuidado, levando em conta que Shen Xianjun ainda estava em missão.

— Sua sogra realmente quer o seu bem. Ela te trata como filha. Caso contrário, nunca teria dito algo assim. No total, ela comprou três propriedades — e fora o seu professor, nem mesmo seu irmão mais velho e a esposa dele sabem disso.

Qin Nian piscou, confusa.

— As feridas mais profundas costumam vir de quem está mais perto. Um casamento pode ser íntimo e, ao mesmo tempo, distante. Sua sogra passou por muitas dificuldades, e é raro alguém alcançar essa clareza. A maioria das sogras que atormentam as noras, sofreram o mesmo quando eram jovens — querem que as outras provem do mesmo amargor.

Depois de dizer isso, a Professora Wen reconsiderou, em silêncio, se deveria ou não mencionar o assunto de um novo casamento para Qin Nian. Diante do cuidado da sogra, talvez não fosse apropriado.

— Mas… será que uma nora pode mesmo ocupar o lugar de um filho no coração de uma mãe?

Qin Nian não resistiu e expressou sua dúvida.

— O coração das pessoas é naturalmente inclinado. Sua sogra te trata bem — não pense demais.

Qin Nian assentiu e ficou em silêncio.

— Vovó, posso dormir na casa da titia?

Incapaz de ficar longe dos primos mais novos, Hu Zhenghao apareceu na cozinha e perguntou, cauteloso.

— Vá, desde que sua tia concorde.

A Professora Wen quase suspirou, exasperada com o neto mais velho.

— Titia, titia! Eu ajudo a cuidar dos pequenos — diz que sim, vai!

Hu Zhenghao correu até Qin Nian e puxou sua manga.

— Tudo bem… mas já terminou a lição de casa?

Adultos nunca deixavam de fazer essa pergunta inevitável.

— Terminei! Acabei cedo só pra poder brincar com os meninos!

Hu Zhenghao respondeu com orgulho. Havia aprendido a lição da última vez. Nesse feriado, finalmente usara a cabeça.

— Leva ele, leva! Esse menino dá trabalho demais. Quando está na escola, se ocupa. Mas nas férias… é um barulhento incorrigível.

A Professora Wen resmungou, mas mesmo assim encheu uma cesta de petiscos e entregou nas mãos de Qin Nian.

— Comporte-se, entendeu?

Ela repetiu as instruções.

— Pode deixar, vovó! Diz pra mamãe e pro papai que eu vou dormir na casa da titia!

Hu Zhenghao gritou de volta, pendurando a mochila nos ombros e segurando um priminho em cada mão.

As trilhas do conjunto habitacional haviam sido limpas da neve, então não havia risco de escorregar. Vestidos com roupas de inverno grossas, mesmo que caíssem, não se machucariam.

Qin Nian não conteve o riso ao ver os três andando desajeitados como pinguins. Seu humor se iluminou na hora.

Ao chegarem em casa, ela se surpreendeu ao ver que a sogra já havia preparado o jantar.

— Zhenghao tá aí? Hoje tem hot pot.

— Olá, Vovó Yang! Vou dormir aqui com os meninos!

Hu Zhenghao anunciou alegremente.

— Que ótimo! Todo mundo vá lavar as mãos — o jantar tá pronto.

Yang Yufen já estava acostumada com a algazarra das crianças. Bastou um dia sem elas para sentir saudade da movimentação.

— O bebê tava tossindo muito, então a Cunhada levou ele ao hospital. Só ficaram Zhenghao e a professora em casa — explicou Qin Nian.

— É mesmo? Então Zhenghao fica com a tia por enquanto. Nian, ainda temos algumas peras aqui. Vou preparar um xarope — você leva pra eles depois. É bom pro pulmão. Criança fica doente fácil. Dabao e Erbao eram assim também quando pequenos.

Yang Yufen foi imediatamente buscar as peras.

— Mãe, deixa que eu ajudo. Só me diga o que fazer.

— É simples — lava as peras, corta, coloca tâmaras vermelhas e açúcar cristal, depois cozinha na água. Só demora um pouco.

Enquanto falava, Yang Yufen já tinha feito tudo com a maior naturalidade.

— Certo, mãe. Amanhã eu mesma faço.

Vendo como era fácil, Qin Nian memorizou os passos para a próxima vez.

As três crianças lavaram as mãos e sentaram-se direitinho à mesa.

O hot pot era simples — Yang Yufen pegou os legumes da estufa e jogou tudo em um caldo de galinha. Perfeito para um dia frio.

Depois do jantar, Qin Nian levou o xarope de pera bem na hora em que Hu Jun e Zhou Ang chegavam em casa.

— A mamãe disse que o Zhenghao foi pra sua casa. Aquele menino dá trabalho — obrigada por cuidar dele.

— Aqui está o xarope de pera. Minha sogra disse que ajuda com a tosse. O Zhenghao é um ótimo irmão mais velho — brinca bem com o Dabao e o Erbao e obedece direitinho.

— Sua sogra é muito atenciosa. Eu ia comprar peras pra fazer isso, mas o trabalho me prendeu. Quando saí, já era tarde demais.

Zhou Ang realmente não esperava tanto cuidado de Yang Yufen.

A sogra dela também estava ocupada, mas ainda assim ajudava com o Zhenghao nas férias. Zhou Ang tinha levado o bebê ao hospital em parte pra não sobrecarregá-la.

— Deixa o bebê em casa amanhã. Foca no trabalho.

A Professora Wen interferiu. Com o Zhenghao por perto, ela não conseguiria cuidar de dois sozinha — ainda mais com o bebê mamando e o neto cheio de energia.

— Tá certo. Obrigada, mãe.

— Deixa o Zhenghao comigo por mais um tempo. Quando a Cunhada estiver mais livre e o bebê melhorar, eu levo ele de volta.

Enquanto isso, Hu Zhenghao estava absolutamente fascinado com o bonequinho de bambu que Yang Yufen havia feito.

— Vovó Yang, deixa eu tentar! Deixa!

Com apenas dois fios, o bonequinho de bambu se mexia e até “brandia uma espada”. À luz do lampião, a sombra no chão parecia a de um herói — nenhum menino resistiria àquilo.

As três crianças sentaram-se na cama, reunidas ao redor da mesinha, completamente absorvidas na brincadeira enquanto Yang Yufen os observava com carinho. Quando Qin Nian voltou, foi essa cena que encontrou.

A casa não era estilosa nem refinada como a do professor, mas cada canto transbordava aconchego. Qin Nian amava profundamente aquele ambiente.

Já havia um quarto reservado para as crianças, mantido sempre limpo por Yang Yufen. Após uma arrumação rápida, os meninos tinham seu próprio espaço.

Eles tinham dito que queriam dormir com a mãe, mas a brincadeira os cansara tanto que adormeceram ali mesmo.

Qin Nian afastou a mesinha, cobriu os filhos e então acompanhou a sogra para que descansasse. Depois, ficou para vigiar os meninos.


Capítulo 63

Qin Nian vinha levando xarope de pera por três dias consecutivos. Talvez por conta do ambiente mais acolhedor em casa, o Bebezinho havia parado de tossir. O Terceiro Irmão brincava de vez em quando com ele, e a criança dava risadas gostosas todos os dias.

— Finalmente a tosse parou. Agora posso respirar aliviado. Esses quatro crescendo juntos vão ter uma ligação tão boa quanto a dos seus irmãos no futuro.

A Professora Wen observava as crianças brincando sobre o cobertor na sala com um sorriso afetuoso. Por conta da política do filho único, não havia muitas crianças nas famílias. No começo, ter Zhenghao e os outros já era suficiente. Inesperadamente, o Bebezinho veio depois. Felizmente, tanto Hu Jun quanto Zhou Ang eram filhos únicos, então ter mais uma criança não infringia a política.

Com a implementação da política de planejamento familiar, quem teve filhos cedo saiu na vantagem. Diante da escolha entre o trabalho e ter mais filhos, a maioria das famílias de funcionários públicos optou pelo trabalho.

— Menino tem que ser resistente.

O Diretor Hu não se incomodava nem um pouco com o neto mais velho sendo levado demais.

— Deixe as crianças aqui hoje. Vou incomodar o professor e a esposa pra cuidarem deles.

Qin Nian planejava sair para fazer compras com Yang Yufen naquele dia. Originalmente, Yang Yufen queria ir sozinha, mas Qin Nian não concordou.

Coincidentemente, Zhou Ang também estava de folga, então todas sairiam juntas, deixando as crianças em casa.

Hu Jun levou as três até a loja de departamentos de carro e depois seguiu para o trabalho. Voltaria ao meio-dia para buscá-las.

— Niannian, vá às compras com sua cunhada. Eu vou dar uma volta sozinha. Nos encontramos no primeiro andar depois.

Yang Yufen queria preparar uma surpresa para a nora.

— Tá bom, mãe. Se cuide.

Vendo que a sogra realmente não queria companhia e que já estavam na loja, Qin Nian acabou cedendo.

— Ah, pelo amor de Deus. Nunca vi alguém tão grudada na sogra assim.

Zhou Ang não se conteve ao ver Qin Nian olhando para Yang Yufen com tanta relutância.

— Só fico preocupada de a mamãe ainda não estar totalmente recuperada da lesão. E se alguém empurrar?

— Já olhei o ferimento da Tia Yang. Não é nada sério. Ela está bem de saúde, tem pouco mais de cinquenta, dois anos mais nova que a nossa mãe.

Ao ouvir isso, Qin Nian ficou um pouco envergonhada. Não sabia explicar, mas simplesmente queria acompanhar a sogra.

— Vamos. Vamos comprar roupas novas para as crianças. Já que você gosta tanto da sua sogra, escolha também um casaco pra ela.

Zhou Ang não fazia compras havia um bom tempo. Só tirou doze dias de licença maternidade e depois voltou ao trabalho — a vida de médica era corrida demais.

— Certo.

As duas seguiram direto para a seção de roupas da loja. Como não tinham tempo de costurar, o melhor era comprar pronto.

Yang Yufen deu uma olhada ao redor e, ao perceber que a nora não a acompanhava, foi direto ao balcão de joias de ouro.

— Esse colar é bonito. Quero este.

Yang Yufen apontou para um colar de ouro.

— Eu quero esse!

Uma voz feminina a interrompeu. Uma mão surgiu para agarrar o colar que o atendente havia acabado de retirar.

Yang Yufen levantou a mão e deu um tapa na mão estendida.

Quando viu o rosto da mulher, todas as mágoas, velhas e novas, vieram à tona.

— Ah~ sua velha louca! Por que está batendo nas pessoas?!

Jiang Rourou gritou de dor. Tinha acabado de receber uma quantia em dinheiro e resolveu sair para comprar algumas coisas. Viu um colar que lhe pareceu perfeito, pediu para vê-lo… e então uma velha a agrediu. O que estava acontecendo?

— Você é jovem, mas é cega e surda. Não sabe respeitar os mais velhos. Sem educação nenhuma! Fica me chamando de velha? Você não vai envelhecer também? Ou não tem nenhum idoso na sua família?

Yang Yufen apontou o dedo na cara de Jiang Rourou sem cerimônia. Suas unhas quase tocavam o rosto da mulher, e ela ainda estava se contendo.

— Sua velha nojenta! Como ousa falar assim comigo? Tire essa mão imunda de mim! Esse lugar não é pra gente como você! É só uma caipira do campo, uma jeca da roça!

Jiang Rourou, depois do susto inicial, ficou ainda mais furiosa.

— Sua fedelha! Vivi tudo isso pra ser insultada assim? Se seus pais não te ensinaram direito, eu ensino! Quer xingar? Pode xingar! Qual o problema de ser do campo? O arroz que você come não é plantado por gente da roça? Acha que o mundo gira ao seu redor? Que não dá pra conversar civilizadamente? Olha pra mim com desprezo só por ser do interior?

Yang Yufen deu dois tapas no rosto de Jiang Rourou. Era algo que queria fazer há muito tempo.

Jiang Rourou nunca tinha apanhado na vida. Reagiu imediatamente, e as duas começaram a brigar.

Mas Yang Yufen era forte demais. Jiang Rourou mal conseguia se aproximar.

Depois dos dois primeiros tapas, Yang Yufen passou a mirar em partes do corpo que não ficariam visíveis. Agarrou o cabelo da outra e só parou de bater quando achou que era suficiente. Então se jogou no chão, segurando na mão de Jiang Rourou como apoio.

— Ai! Ai! Socorro, assassinato! Além de tentar me roubar, ainda me xingou! De onde saiu essa madame capitalista? Eu sou do campo, sou honesta! Aii~

Yang Yufen sentou-se no chão e começou a bater nas próprias coxas.

— Você, você, você…

Jiang Rourou estava com dor e furiosa. Apontava para Yang Yufen no chão, mas não conseguia dizer nada.

— Ai~!

Yang Yufen cobria a cabeça, virando o rosto.

— Mas o que é isso? Maltratando idosa? Tão bem vestida, mas sem um pingo de decência.

Ao ouvir aquela voz familiar, Qin Nian, que estava escolhendo roupas, ficou inquieta. Imediatamente se virou e atravessou a multidão rumo à confusão.

— Mãe, o que aconteceu?!

Ao ver a sogra no chão, Qin Nian ficou desesperada.

— Ai, Niannian. Foi essa mulher que me empurrou. Todo mundo viu. Eu estava comprando — vi primeiro e pedi pro vendedor separar. Essa mulher tentou pegar à força. Quando eu não deixei, me chamou de velha ridícula. Uma boca suja, credo.

Yang Yufen apertou a mão de Qin Nian discretamente. Qin Nian ficou paralisada por um instante. Não sabia exatamente o que tinha ocorrido, mas como a esposa do professor disse: as pessoas têm seus afetos. E o dela, naturalmente, estava com a sogra.

— Mas que absurdo! Alguém pode chamar a polícia? Uma mulher empurrando uma idosa! A lesão na cintura da minha sogra ainda não cicatrizou. Você tem ideia das consequências disso?

Qin Nian não era boa com palavras ofensivas.

— Ai, minha cintura… tá doendo tanto!

Melhor deixar a nora quieta, pensou Yang Yufen. Então passou a gritar de dor sozinha.

— Pff, essa velha… quando é que eu te chamei de velha ridícula? E você acha que pode pagar por isso aqui? Foi você que começou a briga! Levei surra dessa velha e agora quer vir com história de polícia? Acha que isso intimida alguém?

Jiang Rourou ficou assustada quando ouviu sobre chamar a polícia. Mas como ninguém se mexia, voltou a se achar no controle.

Zhou Ang também chegou, mas não foi direto até elas. Em vez disso, virou-se para a vendedora no balcão ao lado e caminhou até ela.

— Comadre, olá. Sou médica do Hospital da Região Militar. O que exatamente você viu agora há pouco?

Ao ver que Zhou Ang estava bem vestida, tinha um porte distinto e ainda dizia ser médica do exército, a vendedora contou tudo o que tinha presenciado.

Capítulo 64

— Foi isso que aconteceu. A senhora realmente bateu nela, mas as palavras daquela mulher foram muito ofensivas.

— Por favor, chame a polícia.

Zhou Ang sorriu para a atendente, que assentiu com a cabeça.

— Sou médica. Deixe-me examinar a senhora.

Zhou Ang se aproximou, e suas palavras fizeram Qin Nian hesitar por um momento. Mas, como estava preocupada com a sogra, acabou se afastando um pouco.

— Essa senhora já tinha uma lesão anterior, e o impacto agravou a situação. Ela precisa ir ao hospital imediatamente. Evite movê-la demais para não causar mais danos.

Zhou Ang falava com calma, a voz firme e precisa.

— Você aí, não pode sair ainda. Já que diz estar ferida, deixe-me examinar você também.

Zhou Ang segurou Jiang Rourou, que tentava sair de fininho.

— Meu rosto tá machucado, mas não preciso que você examine nada! Eu mesma vou ao hospital. Acha que não percebi? Vocês estão todas metidas nisso, querendo me passar a perna! Que tipo de médica é você? Solta!

— Eu sou médica sim — Zhou Ang, do setor de ortopedia do hospital militar. Pode verificar a qualquer momento. E sustento cada palavra que disse. Mas você, camarada, agrediu um membro da família militar. Isso precisa ser apurado a fundo.

Zhou Ang a segurava com firmeza, sem deixá-la escapar.

— E-eu não fiz nada! Vocês estão armando pra cima de mim! Me solta, ou eu...

Ela queria gritar “assédio”, mas quem a segurava era uma mulher.

— Ela não pode ir embora! Ai, minhas costas! Acha que pode sair sem pagar os custos médicos? Nem pensar!

Yang Yufen não era do tipo que aceitava calada.

— O que vocês estão fazendo? Me soltem!

Jiang Rourou começava a entrar em pânico.

— Tá bom! É dinheiro que vocês querem, né? Um bando de pobres… aqui, fiquem com isso!

Ela tirou dinheiro da bolsa, prestes a jogá-lo, mas Zhou Ang a deteve.

— Camarada, esse comportamento é um insulto à dignidade da classe trabalhadora. E sua atitude evasiva diz muito!

As palavras de Zhou Ang arrancaram murmúrios de aprovação da multidão.

— Isso mesmo! Se você está certa, por que age assim? Jogar dinheiro? Típico comportamento de capitalista!

Depois de toda essa confusão, as autoridades finalmente chegaram. Como a atendente já havia explicado a situação com clareza por telefone, a resposta foi objetiva e firme.

Zhou Ang entregou Jiang Rourou aos policiais antes de voltar para junto de Yang Yufen.

— Xiao Zhou, essa mulher tem ligação com espiões — sussurrou Yang Yufen assim que pôde.

— A senhora tem certeza? — Zhou Ang manteve a expressão impassível e respondeu no mesmo tom.

— Absoluta.

— Vou alinhar os ossos dela por enquanto. Depois, leve-a ao hospital — disse Zhou Ang a Qin Nian, antes de simular o ajuste da lesão e ajudar Yang Yufen a se levantar.

Qin Nian já ia sair com ela quando Yang Yufen a deteve.

— Espera, espera — ainda não comprei o que vim buscar. A Dra. Zhou é mesmo incrível; minhas costas já não doem tanto. Vou sentar um pouco pra descansar.

Qin Nian não sabia o que a cunhada estava tramando, mas não podia simplesmente abandonar a sogra.

— Senhora, deixe-me pegar uma cadeira pra senhora — ofereceu a atendente, rapidamente trazendo uma.

— Ótimo, ótimo.

Yang Yufen abriu um sorriso.

— Mocinha, aquele que escolhi antes… era pra te fazer uma surpresa. Vem cá, vê se você gosta.

Yang Yufen segurou a mão de Qin Nian enquanto a atendente trazia o colar.

— Que lindo. Mãe, a senhora comprou esse colar pra mim?

Qin Nian não esperava por isso.

— Desde que você goste. Não precisa embrulhar — pode usar agora mesmo.

Yang Yufen tirou o dinheiro, e a atendente, aliviada, emitiu o recibo.

Achava que tinha perdido a venda.

— Senhora, a senhora é tão boa com a sua filha. Ela tem muita sorte!

A jovem vendedora logo a elogiou.

— Essa é minha nora — respondeu Qin Nian, um pouco constrangida.

A moça ficou surpresa no início, mas logo lançou um olhar cheio de admiração.

Quem não gostaria de ter uma sogra assim? E ela nem era casada ainda!

— Senhora, a senhora tem outro filho?

— Hehe, infelizmente não. Mas uma moça tão doce quanto você vai encontrar uma boa família, com certeza. Toma aqui, um presentinho — uns tirinhos de batata-doce que sequei eu mesma.

Yang Yufen riu, tirando um punhado de tiras de batata-doce embrulhadas em papel oleado — geralmente reservadas para os netos.

— Muito obrigada pelas palavras, tia!

A vendedora, encantada com a simpatia de Yang Yufen, aceitou com alegria.

— Niannian, você ainda tem coisas pra comprar, não tem? Eu fico aqui esperando. Quando terminar, vamos pro hospital. Não se preocupe — a mamãe não deixou ninguém tirar vantagem.

— Isso mesmo! A senhora foi incrível — meu respeito! Vou trazer uma água pra senhora.

A vendedora levantou o polegar discretamente. Pra falar a verdade, ela também não gostava daquela outra mulher.

— Vai lá. Ainda precisamos esperar seu irmão e sua cunhada — a gente combinou.

Yang Yufen acrescentou, e Qin Nian acabou assentindo. Pelo menos o shopping era cheio e seguro.

— Qual seu nome, querida? Se eu encontrar um bom partido, apresento pra você.

Idosos não resistem a fazer casamentos, e Yang Yufen não era exceção.

— Tia, me chama de Xiao Li. Tenho vinte anos. Se encontrar alguém legal, me apresente sim! Com o jeito que a senhora trata sua nora, tenho certeza de que quem a senhora indicar será decente. Não sou exigente — só quero alguém responsável, que sustente a família. Embora… eu tenha uma preferência… gosto de homens bonitos.

Xiao Li corou levemente.

— Isso mesmo, Xiao Li! Tem que saber o que quer. A gente chama isso de “casamento direcionado”. Se não escolher o homem certo, qual é o sentido da vida?

Yang Yufen não via problema nenhum nisso. Ter clareza sobre o futuro no casamento era um ato de coragem e merecia incentivo.

— Tia, a senhora é demais!

O balcão de ouro não estava muito movimentado, então as duas conversaram e riram até Qin Nian voltar. A essa altura, Xiao Li já estava relutante em ver Yang Yufen ir embora.

— Tia Yang, venha me visitar sempre! E não esquece de me arranjar alguém!

— Pode deixar, querida. Eu lembro.

Enquanto desciam, Zhou Ang voltou.

— Liguei pro seu irmão. Provavelmente ele não vai conseguir vir nos buscar — vamos pegar um carro direto pra casa.

As três entraram no carro.

— Conjunto Residencial do Instituto de Pesquisas — disse Zhou Ang ao motorista, e o carro partiu.

— Mas não íamos ao hospital? — perguntou Qin Nian, confusa.

— Com sua cunhada cuidando de mim, você ainda desconfia das habilidades dela? Mamãe tá bem. Conversamos melhor em casa.

A viagem foi rápida, e como os acontecimentos foram inesperados, voltaram antes do planejado.

— Como a tia soube que aquela mulher tinha ligação com espiões? — perguntou Zhou Ang, fazendo Qin Nian olhar para Yang Yufen.

— Já a vi antes. Mas não sei se posso falar disso agora. Melhor deixar pra depois.

Zhou Ang assentiu.

— Certo. Por enquanto, é melhor você e a tia evitarem sair. Depois preparo um kit extra para o Ano-Novo. Esse assunto envolve coisas maiores — seu irmão mais velho já foi convocado.

— Entendido, cunhada.

Capítulo 65

Qin Nian se despediu de Zhou Ang, mas não teve pressa para buscar as crianças.

— Mãe, a senhora fez aquilo de propósito? — Qin Nian se virou para Yang Yufen em busca de uma resposta.

— Eu fui mesmo comprar algo pra você. Não esperava encontrar com eles. Quando a situação esquentou e sua cunhada apareceu, pensei: já que tô aqui mesmo, vou dar uma mãozinha.

Rixas antigas finalmente resolvidas — e ela ainda saiu barata!

Sem planos de sair, com Hu Jun fazendo hora extra e o Diretor Hu ocupado com a administração do instituto de pesquisas, o Professor Wen simplesmente levou as crianças para a casa de Qin Nian, onde todos começaram a preparar os produtos para o Ano-Novo.

— Aquelas almôndegas vegetarianas que você fritou no ano passado estavam deliciosas. Tentei fazer em casa, mas não deu certo. Esse ano vou te ajudar pra podermos fazer mais — disse o Professor Wen, colocando um avental para colaborar.

— É só bolinho frito de legumes — a única coisa que sei fazer. Suas mãos são pra segurar caneta. Se você souber fazer tudo, sobra o quê pra gente? Olha como você pica bem esses vegetais!

Yang Yufen sovava a massa, energizada pelo clima animado. Tarefas que normalmente pareciam cansativas agora estavam até agradáveis com tanta gente por perto.

Qin Nian tentou ajudar na cozinha, mas foi enxotada e incumbida de vigiar as crianças. Sem opção, ficou com um livro numa mão e os olhos nas crianças.

Com Hu Zhenghao entretendo os gêmeos e o Bebezinho mordiscando uma tira de batata-doce no berço, não havia muito o que vigiar.

— Tia, tia! Que cheiro bom! O que a Vovó Yang e a vovó estão fazendo na cozinha? — Hu Zhenghao correu com Dabao e Erbao logo atrás.

Qin Nian, mergulhada na leitura, só voltou à realidade quando o aroma da comida chegou até ela.

— Vou dar uma olhada pra vocês. Mas não entrem na cozinha — estão fritando coisas e vocês podem se queimar.

Depois de dar o aviso, ela se levantou, mas antes que pudesse chegar à cozinha, o Professor Wen apareceu com uma tigela enorme de petiscos.

— Chegou na hora certa. Leve isso primeiro. Sua sogra é tão atenciosa — até preparou uma sopa de pera pra acompanhar, pra não irritar a garganta. Eu trago a sopa já.

— Uau! Chegou a comida! — comemorou Hu Zhenghao, e Dabao e Erbao bateram palmas — só que acabaram assustando o Bebezinho, que acordou chorando.

Assim que Qin Nian se moveu para acalmá-lo, Hu Zhenghao já tinha se antecipado até o berço.

— Não chora, Bebezinho! Seus irmãos estão aqui. A culpa foi minha.

Ao ouvir vozes familiares, os soluços do bebê começaram a diminuir. Hu Zhenghao enfiou a mão no cobertor com naturalidade para verificar.

— Tá sequinho. Acho que só acordei ele. Hehe.

O Professor Wen viu a cena, mas não o repreendeu. Em vez disso, apenas sorriu, compreensivo, e colocou a sopa de pera sobre a mesa.

— O Bebezinho já dormiu bastante — hora da mamadeira.

— Deixa que eu cuido disso, professor.

Qin Nian, finalmente conseguindo ajudar, se atrapalhou um pouco, mas conseguiu alimentar o bebê, trocar a fralda e fazê-lo arrotar.

Depois disso, soltou um suspiro profundo.

Bebês eram tão delicados. Quando tinha voltado, os gêmeos já estavam maiores, já comiam sozinhos. A diferença de apenas três ou quatro meses era gritante.

Ela havia perdido tanto do crescimento deles. Se não fossem as fotos que a sogra tirou, talvez carregasse esse arrependimento pra sempre.

Na véspera do Ano-Novo, as duas famílias se reuniram para o jantar de Réveillon. Qin Nian ficou preocupada que a sogra pudesse se sentir mal — afinal, Shen Xianjun ainda estava vivo, e a ausência dele na celebração devia doer.

— Venham, venham! Envelopes vermelhos pra todo mundo!

Depois do jantar, Yang Yufen distribuía com entusiasmo pacotinhos embrulhados em papel festivo.

— Uau! Obrigado, Vovó Yang! — Hu Zhenghao foi o primeiro a correr.

— Crianças boas, esses são pra véspera. Lembrem-se de que amanhã de manhã tem mais um pra hora das saudações!

Yang Yufen sorria enquanto entregava os envelopes. Quando percebeu o olhar da nora, pressionou o último envelope na mão de Qin Nian.

— Você também ganha, Nian. Aceita.

Com os envelopes distribuídos, o Professor Wen ligou a televisão.

— Rápido, crianças! Vai começar a Gala da Primavera — bem na hora!

As crianças se juntaram animadas.

— Venham, consogros! Trabalharam tanto o ano todo — é hora de relaxar.

— Já vou! Quer sementes de melão? Vou buscar amendoins também.

Enquanto as duas mulheres se acomodavam, Zhou Ang trouxe chá.

— Tá com esse olhar pensativo por quê? Aqui — seu irmão e eu também preparamos um envelope pra você.

Ela colocou discretamente um envelope na mão de Qin Nian.

— Mana, agora sou mãe. Você e o irmão não precisam mais me dar esses presentes — respondeu Qin Nian, corando.

— Precisamos sim. Idade não importa. Você é a única irmã dele — mimar você é natural. Fica com isso. Preciso voltar pro plantão. Cuide de tudo por aqui.

— Tá bom. Se cuida, mana.

A TV tocava alegremente Parabéns pelo Ano Novo.

Um show atrás do outro mantinha todos rindo e acordados conforme a contagem regressiva se aproximava.

— Vovô, vovô! Tá quase meia-noite! Vamos soltar os fogos!

O Diretor Hu não teve escolha a não ser se levantar, puxado pelo neto.

— Dabao, Erbao, venham! Hora dos fogos!

Hu Zhenghao não se esqueceu dos gêmeos. Ao ouvir a agitação, Qin Nian também se levantou.

— Mãe, vou ficar de olho nos dois.

— Vai lá.

O badalar da meia-noite foi abafado pelos estouros dos fogos de artifício.

Enquanto isso, nos arredores da cidade, um carro bateu violentamente contra uma árvore.

— Cof… Você é comunista?!

Irmão Lan encarava incrédulo. Após sucessivas falhas nas missões, havia começado a desconfiar e armou uma emboscada. Apesar de todos os testes anteriores, ainda havia subestimado.

“……”

Shen Xianjun permaneceu em silêncio — não conseguia falar. O acidente fora intencional. Se não tivesse feito aquilo, Irmão Lan teria escapado. Esse homem estava ligado a operações demais; deixá-lo vivo não era uma opção.

— Apodreça aí. Tem uma bomba no carro. Um estalo e você vira farelo.

Irmão Lan arrastou a perna ferida para longe, sem notar que o quase inconsciente Shen Xianjun, entre os destroços, mirava uma arma em suas costas.

O disparo guiou os socorristas até o local.

— Fica acordado! Vamos tirar você daí!

— Bomba… dentro…

Com essas últimas palavras, Shen Xianjun desmaiou. Um estilhaço de metal havia perfurado seu abdômen, e o sangue escorria rapidamente sob ele.


Hospital Militar

— Dra. Zhou, paciente em estado crítico chegando. Ordens superiores: façam de tudo pra salvá-lo.

Zhou Ang se levantou imediatamente. Antes mesmo do paciente chegar, todo o hospital já estava em movimento.

— Ele perdeu muito sangue. Sem transfusão, não sobrevive à cirurgia.

O diretor agiu rápido, e logo uma fila de militares se formou para doar sangue.


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