Capítulo 66
Quando Zhou Ang viu o nome do paciente, apenas achou um pouco familiar.
Ela trabalhava na ortopedia e ficava de plantão em emergências, embora não fosse exigido que entrasse na sala de cirurgia.
— Devemos entrar em contato com a família? E se…
Zhou Ang ouvia enquanto os homens de uniforme militar conversavam.
— Vá até os alojamentos da família e traga a Tia Yang e a Camarada Qin. Chame o Diretor Hu.
Zhou Ang levantou os olhos de repente. Ela se lembrou — o marido de Niannian se chamava Shen Xianjun, o filho da Tia Yang.
— Eu faço a ligação. Niannian e a Tia Yang estão na minha casa. Sou cunhada da Niannian.
Zhou Ang se levantou e falou, já pegando o telefone para discar.
Como diretor, o Diretor Hu tinha um telefone em casa por conveniência. Quando ele tocou, a Professora Wen olhou, supondo que era Zhou Ang ligando com saudade da filha.
— Alô…
— Mãe, deixe a Tia Yang atender. O filho dela está em estado crítico no nosso hospital.
A Professora Wen congelou ao ouvir a voz do outro lado da linha, paralisada por um momento, mas ainda assim entregou o telefone para Yang Yufen.
— Alô, Xiao Zhou?
— Tia Yang, aqui é o Comissário Político Zhao. Xianjun está em atendimento de emergência no hospital militar. Já enviamos um carro para os alojamentos familiares para buscar você e a Camarada Qin.
Yang Yufen respirou fundo.
— Está bem. Entendi.
Ela desligou o telefone, e o Professor Wen abaixou o volume da TV, deixando a sala em silêncio.
— Família…
A Professora Wen não sabia o que dizer.
— Eu sei. Vou chamar Niannian. Ela precisa saber disso.
Yang Yufen não conseguiu esboçar um sorriso. O Professor Wen se levantou e a acompanhou até lá fora.
— Mãe, Professora Wen, vocês aqui também?
— Niannian, Xianjun sofreu um acidente. Está em emergência no hospital militar. O carro chegará em breve para nos buscar. Fique com as crianças — vou verificar como ele está. Se acontecer alguma coisa, sua cunhada vai te ligar.
— Mãe, deixa eu ir com você. O Professor Wen pode ficar com as crianças.
Qin Nian não conseguiu esconder a preocupação.
— Não. Se o pior acontecer… é melhor você não ver.
Yang Yufen a impediu firmemente. Se aquele moleque inconsequente não sobrevivesse, ela não queria que Niannian sofresse. A lembrança do acidente de Niannian ainda era recente — as crianças podiam crescer sem avó, mas não sem mãe.
Yang Yufen se preparou para o pior. O veículo militar chegou rápido, parando bem em frente à residência dos Hu.
— Tia Yang, sinto muito.
— Está tudo bem. Se ele não resistir, é o destino — como foi com o pai dele.
Comparado à última vez, os sentimentos de Yang Yufen agora eram outros.
— Reunimos os melhores médicos para tratar Xianjun. Por que a Camarada Qin não veio com você?
— As crianças precisam da mãe. Não posso arriscar.
Com essas palavras, todos baixaram a cabeça.
— Ele vai ficar bem. Aquele garoto sempre foi forte. Vou esperar por ele aqui.
Yang Yufen não conseguiu forçar um sorriso. Limpou o rosto e só então percebeu que as lágrimas haviam escorrido.
Ficou em silêncio do lado de fora da sala de cirurgia, sem chorar nem fazer escândalo. Todos esperavam com ela, observando o entra e sai apressado da equipe médica, o cheiro de sangue e desinfetante pairando no ar enquanto o tempo passava.
— A cirurgia foi um sucesso, mas os próximos dias serão decisivos para sabermos se ele vai acordar. O estilhaço perfurou o abdômen e danificou o rim. Ainda há risco de infecção — não podemos garantir que ele vai sobreviver.
Yang Yufen não compreendia os termos médicos, mas entendeu o essencial — ele estava vivo, por ora. Seus ombros tensos relaxaram levemente.
— O paciente precisa de cuidados especializados e não pode ser transferido para uma enfermaria comum ainda.
Yang Yufen olhou para Zhou Ang.
— A família ainda não pode vê-lo, mas não se preocupe, Tia Yang. Se houver qualquer mudança, eu aviso imediatamente. E não precisa trazer comida — ele não pode comer.
Zhou Ang a tranquilizou com rapidez.
— Obrigada. Nesse caso, vou ligar pra Niannian e dizer pra ela não vir.
Não fazia sentido esperar ali se não podia vê-lo nem levar refeições. Ela também não podia deixar as crianças sozinhas por tanto tempo.
— Tia Yang, não se preocupe. O Camarada Shen Xianjun se feriu servindo ao país. Vamos providenciar atendimento especial pra ele. Se estabilizar, ele vai se recuperar.
O Comissário Político Zhao também se adiantou para confortá-la.
Depois de passar a noite inteira em vigília, Yang Yufen aceitou que não poderia vê-lo e não quis incomodar mais os oficiais. Voltou para casa com Zhou Ang.
Quando Qin Nian recebeu a ligação e soube que ele estava vivo, seu coração inquieto finalmente se acalmou um pouco.
Hospital
— É melhor você aguentar firme, moleque. Ganhou uma condecoração de mérito importante dessa vez — os superiores vão te promover três postos. Antes, sua experiência era limitada e isso barrava seus avanços. Mas dessa vez? Você lutou com a própria vida. Agora não estrague tudo!
O Comissário Político Zhao falou ao inconsciente Shen Xianjun. Por perto, a enfermeira Zhang Lingling fez uma pausa rápida antes de seguir com seus afazeres — trocou o soro e verificou os sinais vitais antes de sair.
Nos dias que se seguiram, o estado de Shen Xianjun oscilou bastante. Cada vez que era levado às pressas de volta para a cirurgia, Yang Yufen também voltava ao hospital.
A licença de Qin Nian era curta. A nação precisava de talentos, e cada segundo perdido era um passo atrás em relação aos concorrentes. No segundo dia do Ano-Novo Lunar, ela já tinha voltado ao trabalho.
Quando Shen Xianjun foi levado para a segunda cirurgia, Qin Nian insistiu em acompanhar Yang Yufen. Mas na terceira e quarta vezes, Yang Yufen não a deixou mais ir.
Depois do Festival das Lanternas, o jardim de infância reabriu. Fiel à sua palavra, Hu Zhenghao levava os gêmeos à escola todas as manhãs antes de correr para suas próprias aulas.
— Aguenta firme esses sete dias, moleque. Chega de centro cirúrgico — cada vez é um infarto. Sua velha mãe tá te esperando aqui fora.
Com a chegada da primavera, Shen Xianjun finalmente começou a melhorar depois de mais de um mês em coma. No fim de março, ele estava estável o suficiente para ser transferido para um quarto comum.
— Mãe…
No primeiro dia no novo quarto, Shen Xianjun abriu os olhos e viu a mãe.
— Pelo menos reconhece a própria mãe. Achei que um coma tão longo ia te deixar idiota.
O tom de Yang Yufen era ríspido, mas suas mãos eram delicadas ao servir água e umedecer um cotonete para aliviar os lábios rachados do filho.
— Tia Yang, deixa que eu faço. Suas mãos são firmes demais — o Camarada Shen acabou de acordar e pode não estar totalmente consciente. Fui eu quem cuidou dele esse tempo todo. Sei como fazer.
Zhang Lingling entrou e correu até a cama ao ver Shen Xianjun desperto. Embora suas palavras tenham irritado Yang Yufen, ela cedeu — especialmente porque a bolsa de soro estava quase vazia.
Zhang Lingling trocou o soro com habilidade, ajudou Shen Xianjun a beber e examinou seus ferimentos. Em vez de sair, pegou uma bacia debaixo da cama para buscar água.
Graças a um arranjo especial, o quarto tinha banheiro próprio.
Capítulo 67
Quando Zhang Lingling voltou, torceu um lenço e estava prestes a limpar o corpo de Shen Xianjun. Ele se assustou.
— Mãe!
Uma voz rouca e apavorada ecoou.
Zhang Lingling também se surpreendeu, e então o lenço foi arrancado de sua mão.
— Deixa que eu faço isso. Enfermeira, vá cuidar das suas obrigações.
Yang Yufen pegou o lenço e, no processo, deu um belo susto em Zhang Lingling.
— Certo!
Shen Xianjun assentiu rapidamente, sem se importar com o ferimento no abdômen.
— Comporte-se.
Yang Yufen lançou um olhar severo para Shen Xianjun.
Diante da cena, Zhang Lingling não teve escolha a não ser recuar.
— Tudo bem então, Tia Yang, só seja cuidadosa. O ferimento do Camarada Shen ainda não cicatrizou totalmente. Se houver qualquer problema, me chame. Estou designada especificamente para cuidar dele e não estou ocupada.
Zhang Lingling ainda queria permanecer no quarto, mas Yang Yufen a empurrou para fora.
— Sou a mãe dele. Você acha que eu não sei? Eu limpava ele quando fazia nas calças. Deve haver uma distância adequada entre homens e mulheres. Eu cuido disso.
Com um clique, Yang Yufen trancou a porta por dentro.
— Mãe, se queria se livrar dela, tudo bem, mas precisava mesmo mencionar meus vexames de infância?
Depois de beber um pouco de água, a voz de Shen Xianjun melhorou bastante.
— Humf~
Yang Yufen soltou um resmungo frio e lançou um olhar de soslaio para o filho.
— Você é um homem casado. Controle-se, senão eu não vou perdoar. Quebro suas asas.
Embora falasse com dureza, as mãos de Yang Yufen se moviam com agilidade. Era primavera, e as pessoas não suavam tanto. Yang Yufen era forte, e em pouco mais de dez minutos limpou o corpo inteiro de Shen Xianjun. Depois, ajudou-o a ir ao banheiro.
— Mãe, tô com fome.
Deitado de volta na cama, Shen Xianjun finalmente se sentia confortável, e a fome bateu.
— Se tá com fome, espere. Vou perguntar ao médico o que você pode comer.
Yang Yufen se levantou, destrancou a porta e estava prestes a sair. Na porta, Zhang Lingling já estava de pé com uma refeição.
— Tia, trouxe a comida do Camarada Shen. Aproveito para medir a temperatura e verificar o ferimento.
Yang Yufen recuou, dando passagem para Zhang Lingling.
Zhang Lingling colocou a refeição sobre a mesa e então pegou um termômetro.
— Vou ver se o ferimento sangrou durante a limpeza. Se tiver sangrado, precisamos trocar o curativo de novo.
Shen Xianjun ergueu o cobertor por conta própria. O ferimento era no abdômen, então não havia constrangimento.
Zhang Lingling só deu uma olhada e depois desviou o olhar.
— Sem sangramento. Vou sair agora. Depois volto para pegar o termômetro.
Zhang Lingling sorriu gentilmente para Shen Xianjun e Yang Yufen e saiu.
— Já que tem comida, vou voltar então. As crianças estão na escola, e ainda tenho que cozinhar pra elas.
— Mãe, que crianças? E, aliás, por que a senhora tá aqui e vendendo batata-doce?
Só então Shen Xianjun se lembrou de várias perguntas.
— Suas crianças. Acha que eu viria até aqui pra cuidar dos filhos dos outros por nada? Você fala demais. Nem comendo consegue calar a boca?
Yang Yufen respondeu atravessada, pegou sua sacola de pano e foi embora.
Shen Xianjun coçou a cabeça e, por fim, pegou a marmita para comer. Estava boa. Sua mãe já o importunava fazia mais de um dia. Ele já estava acostumado a se virar sozinho.
Mas, após duas mordidas, Shen Xianjun arregalou os olhos de repente. Sua mãe acabara de dizer que estava cuidando dos filhos dele. Filhos?
Não, pera. Ele era casado. Saiu às pressas para uma missão e, com o tempo, acabou esquecendo. Então era bem possível que tivesse filhos. Ele era pai?!
Shen Xianjun colocou o termômetro sobre a mesa. Pouco depois que Yang Yufen saiu, Zhang Lingling entrou.
— Camarada Shen, por que está comendo sozinho? Pode puxar o ferimento. Deixe que eu alimento você.
Zhang Lingling se aproximou com um olhar preocupado, tentando pegar os utensílios das mãos dele.
— Não, já terminei de comer.
Shen Xianjun rapidamente enfiou o restante da comida na boca e então pousou a marmita.
Ora, sua mãe acabara de adverti-lo para manter a castidade e o autocontrole. E, além disso, sua esposa realmente havia dado à luz. Isso era incrível! Ele até queria ter alta para ir ver. Pena que sua mãe saíra tão rápido que ele nem teve tempo de perguntar.
— Talvez o Camarada Shen não se lembre de mim. Zhang Zhiyuan é meu irmão mais velho. Sou a irmã dele. Já nos encontramos antes. Meu nome é Zhang Lingling.
Vendo o olhar defensivo de Shen Xianjun, Zhang Lingling recuou meio passo antes de falar.
— Zhang Zhiyuan?
Shen Xianjun se confundiu por um momento e então se lembrou. Eles estavam no mesmo pelotão antes. Mas depois que foi promovido a líder, Zhang Zhiyuan saiu do seu grupo. Ainda assim, eram companheiros de armas e tinham uma boa relação antes.
— Então você é irmã do Zhang Zhiyuan. Obrigado, Enfermeira Zhang.
— Sim. O Irmão Shen pode me chamar de Lingling, como meu irmão faz.
Zhang Lingling deu um passo à frente. Shen Xianjun se moveu por reflexo. Zhang Lingling estendeu a mão e pegou o termômetro sobre a mesa para verificar.
— Sem febre. Vou levar a marmita. Irmão Shen, descanse bem.
Zhang Lingling arrumou a mesa e saiu sorrindo.
— Xiao Zhou, meu filho já pode tomar sopa de galinha?
Depois de sair do quarto, Yang Yufen virou o corredor e foi até o consultório de Zhou Ang.
— Pode sim, Tia Yang. Mas não pode ser muito gordurosa. Ele perdeu muito sangue antes, então precisa comer bem pra recuperar as forças.
Zhou Ang também ficou feliz por Yang Yufen e Qin Nian.
— Que bom, que bom, que bom. A Tia não vai atrapalhar seu trabalho. Vou voltar agora.
Depois de obter a resposta, Yang Yufen saiu feliz.
No ano passado, por conta da lesão na cintura, ela não conservou muitas galinhas. Só matou algumas para o consumo do dia a dia, e ainda tinha algumas sobrando.
Yang Yufen escolheu um galo.
Começou a preparar a sopa na velha panela de barro, acrescentando algumas tâmaras vermelhas. Qin Nian chegou do trabalho trazendo as crianças.
— Niannian voltou. Xianjun acordou. Vamos jantar primeiro. Depois do jantar, vamos visitá-lo.
— Tá bom.
Qin Nian respondeu e levou os dois filhos para lavar as mãos.
— Venham, vamos comer sopa de macarrão com frango hoje.
O aroma rico de sopa de galinha com tâmaras vermelhas preenchia o ar. Como sempre, havia uma coxa de frango na tigela de Qin Nian, e as crianças ganharam asas de frango.
— Mãe, por que não deixamos a coxa pro Xianjun?
Qin Nian pensou um pouco e disse.
— Come você. Guardei uma parte pra ele. O médico disse que ele não pode comer nada muito gorduroso.
Qin Nian assentiu ao ouvir isso.
— Então, mãe, a senhora come a coxa.
Qin Nian pegou a coxa da sua tigela e quis colocá-la na de Yang Yufen.
— É uma galinha grande. Tem carne na minha tigela. Você come. Você emagreceu desde que começou a trabalhar. Quando esquentar, vai acabar comendo mal de novo. Você já perdeu muito peso antes, e parece que não consegue mais engordar, não importa quanto coma.
Yang Yufen não só recusou como ainda colocou mais um pedaço de carne na tigela da nora.
Vendo a carne extra, Qin Nian não teve escolha senão comer obedientemente.
Yang Yufen terminou de comer rápido e foi até a cozinha preparar outra tigela de macarrão caseiro. Qin Nian e as crianças também terminaram.
— Pronto, vamos. Dabao e Erbao, vamos ver o papai. Prestem atenção. O papai tem um machucado. Não pulem em cima dele. Fiquem só olhando, tá bom?
Yang Yufen instruiu os dois netinhos bem-comportados, e os dois assentiram obedientemente.
Capítulo 68
Hospital
— Você realmente sobreviveu, garoto. Não faz ideia de como seu estado era assustador.
O Comissário Político Zhao visitou Shen Xianjun novamente, desta vez carregando um documento.
— Comissário, falta muito pra eu receber alta?
Shen Xianjun estava mais do que ansioso para ver como era seu filho.
— Qual a pressa? O hospital não está cuidando bem de você? Ou a comida não tá do seu gosto?
O Comissário Político Zhao lançou um olhar exasperado para Shen Xianjun.
— Não é isso. É que eu já tô me sentindo bem, e ficar aqui parece um desperdício de recursos.
Shen Xianjun sorriu, mostrando os dentes.
— Hmph! Você não vai sair até os médicos liberarem. Até lá, siga todas as instruções médicas — isso é uma ordem!
— Sim, senhor!
Shen Xianjun instintivamente prestou continência, seu corpo reagindo antes mesmo da mente processar. Em seguida, sua expressão caiu.
— Comissário, eu—
— Chega. Vamos ao que interessa. Essa operação não só eliminou espiões nacionalistas como também revelou agentes estrangeiros envolvidos na conspiração, evitando perdas imensas para o país. A chefia já emitiu sua carta de nomeação. Assim que estiver totalmente recuperado, você voltará ao serviço.
O Comissário Político Zhao o interrompeu e colocou a carta nas mãos de Shen Xianjun.
— Claro, há outras condecorações também. Agora você tem direito ao acompanhamento familiar no exército, embora o trabalho da Camarada Qin torne isso inviável. A Tia Yang e a Camarada Qin se dão bem, e a Tia Yang já colaborou diversas vezes com nossas operações. A chefia preparou recompensas para elas também. Aqui — leve esses envelopes e entregue à Tia Yang e à sua esposa. Um soldado defende a pátria, mas também precisa proteger sua família. Estabilidade em casa garante sucesso na linha de frente.
O Comissário Político Zhao entregou dois envelopes, que Shen Xianjun aceitou feliz e escondeu debaixo do travesseiro.
— Certo, tenho trabalho a fazer. Guarde bem essa carta de nomeação. Ah, mais uma coisa — agora você está lotado no mesmo distrito militar que seu cunhado, Hu Jun. Feliz com isso?
Com um último sorriso malicioso, o Comissário Zhao lançou essa bomba e saiu.
Naquele momento, Shen Xianjun ainda não tinha percebido que o homem estava o entregando para uma boa dose de diversão — embora fosse também um aviso bem-intencionado. Infelizmente, Shen Xianjun não havia sacado ainda.
Depois que o Comissário Político Zhao saiu, Zhang Lingling entrou novamente no quarto.
— Irmão Shen, trouxe seu jantar. Pedi pro chef da cantina preparar sopa de galinha pra você. Seu corpo precisa de nutrição adequada agora.
— Obrigado. Quanto eu te devo?
Shen Xianjun alcançou os envelopes debaixo do travesseiro.
— Irmão Shen, que pergunta é essa? É só uma tigela de sopa — não fala em dinheiro! A chefia mandou cuidar bem de você. Se continuar assim, vou ficar chateada.
Zhang Lingling bateu o pé e fez beicinho.
Shen Xianjun se encolheu, sentindo arrepios subirem.
— Ah, então foi arranjo da liderança. Nesse caso, obrigado. Pode deixar na mesa.
Ele já estava começando a se sentir sufocado.
— A sopa está quente. Deixa que eu te alimento.
— Não, não! Ainda tô cheio do almoço. Como mais tarde. Pode ir agora — tô meio cansado.
Shen Xianjun recusou rapidamente.
Zhang Lingling respirou fundo, forçando um sorriso.
— Então me chama se precisar de algo. Tô de plantão hoje à noite.
Assim que ela saiu, Shen Xianjun suspirou aliviado — só para a cabeça dela reaparecer na porta.
— Irmão Shen, meu irmão disse que vai vir te visitar nos próximos dias.
— Ah, tá bom.
Shen Xianjun quase pulou da cama.
Ficou olhando para a porta por um bom tempo, só relaxando quando teve certeza de que ela realmente tinha ido embora.
A sopa de galinha parecia rica e dourada, o aroma tentador — mas tinha óleo demais. Shen Xianjun a olhou, mas não teve pressa em comer. Em vez disso, puxou a carta de nomeação e começou a ler.
Passos ecoaram repentinamente do lado de fora. Shen Xianjun escondeu o papel por reflexo e levantou os olhos.
— Hora de examinar os ferimentos. É sopa de galinha caseira? Pode beber, mas com tanto óleo assim não ajuda na recuperação.
O médico olhou a sopa sobre a mesa antes de fazer sinal para Shen Xianjun levantar o cobertor.
Shen Xianjun não explicou de onde viera a sopa — apenas obedeceu.
— Hmm, está cicatrizando bem. Quando trouxeram você, não achamos que sobreviveria. Seus companheiros vieram doar sangue — várias cirurgias te tiraram do limite.
O médico continuava a examinação quando Yang Yufen chegou à porta com Qin Nian e as crianças.
— Doutor, como estão os ferimentos dele? Quando ele pode ter alta?
Yang Yufen não se conteve assim que viu o médico.
Shen Xianjun se animou, esperando ansiosamente a resposta.
— Mais sete dias. Quando os pontos forem retirados, ele pode sair. E sim, o paciente precisa de nutrição adequada — mas retire a gordura da sopa. Sem frutos do mar, fora isso, sem restrições.
O médico deu mais algumas instruções antes de se afastar, deixando a família se reunir.
Yang Yufen lançou um olhar para a sopa na mesa, mas não comentou. Em vez disso, desembrulhou a sopa de macarrão com frango que trouxera.
— ...
Qin Nian hesitou, sem saber como chamar Shen Xianjun. Antes, era “Camarada Shen” — eles eram casados, mas o relacionamento sempre foi distante. Agora, no entanto, ela estava próxima da sogra, e ser formal parecia ainda mais estranho, especialmente com as crianças ali.
— Dabao, Erbao, deem um oi pro papai. Esse é o Dabao, e esse é o Erbao.
Depois de pensar um pouco, Qin Nian deixou que as crianças tomassem a iniciativa.
— Papai?
Dabao olhou confuso para a barba por fazer de Shen Xianjun. Erbao ficou calado ao lado do irmão, achando aquele “papai” um pouco assustador — bem diferente do Tio Hu Jun ou do Tio Wang.
— É.
Shen Xianjun piscou ao ver as duas crianças idênticas.
Sua mãe não tinha dito que eram dois!
— Come logo. Depois você faz a barba — tá assustando as crianças.
Yang Yufen bufou, empurrando os hashis e o pote de comida nas mãos dele.
— Mãe, já limpo. Tava morrendo de saudade do seu macarrão feito à mão.
Os olhos de Shen Xianjun brilharam ao ver a sopa de macarrão.
— Hmph! Mesmo que eu não tivesse trazido, você não ia morrer de fome. Nian Nian, senta aqui. Você trabalhou o dia inteiro — deve estar exausta. Dabao, Erbao, venham com a vovó. Não tenham medo.
Num piscar de olhos, a postura de Yang Yufen mudou completamente enquanto ela chamava os netos para seu lado. Qin Nian se sentou obedientemente ao lado dela.
Shen Xianjun não se importou em ser deixado de lado. Começou a comer o macarrão com entusiasmo — sua mãe podia brigar o quanto quisesse, mas seu macarrão era imbatível. Era disso que ele sentia falta.
Ao mergulhar a colher, não encontrou só verduras, mas uma coxa de frango também!
Qin Nian observava em silêncio. Sua sogra tratava Shen Xianjun de um jeito diferente do que tratava ela — mas talvez fosse assim que era entre família de verdade. Sem medo de mal-entendidos. Com ela, a Tia Yang sempre era cuidadosa e educada.
Capítulo 69
Hospital
Yang Yufen estava distraindo seus dois netos quando percebeu que sua nora não lançava um único olhar para Shen Xianjun, apenas a observava de relance. Ela não pôde deixar de suspirar baixinho.
Certos homens são mesmo um caso perdido — nem fazendo papel de coitado conseguem atenção da própria esposa.
— Nian, acabei de lembrar que esqueci de comprar uma coisa. Vou sair rapidinho. Fica aqui com as crianças e me espera, já volto.
Yang Yufen se levantou. Não era que ela não quisesse levar as crianças, mas tinha receio de que, sem elas por perto, o clima entre o casal ficasse ainda mais constrangedor. Então, deixou os pequenos ali.
Ao sair do quarto do hospital, ela fez questão de fechar bem a porta.
Ficou escutando por um momento do lado de fora. Lá dentro, o único som era o barulho de Shen Xianjun sugando os fios de macarrão com gosto.
— Comer, comer, comer — só sabe fazer isso — murmurou Yang Yufen, antes de se afastar.
— Faltou só um pouquinho mais de vinagre — comentou Shen Xianjun depois de terminar tanto o macarrão quanto o caldo.
Qin Nian levantou os olhos para ele.
— Por causa do seu ferimento, você não devia comer vinagre — não conseguiu evitar de dizer.
— Ah. Você deve ter passado por um bocado, né? A minha mãe não tem o temperamento mais fácil. Você aguentou muita coisa, né?
Shen Xianjun já havia notado antes como Qin Nian ficava sempre observando as expressões da sogra, com medo até de falar.
— Não, a mãe tem sido muito gentil.
— Eu sei. Não precisa defendê-la. Ela é assim mesmo. Sobre as crianças… Eu não sabia. Me desculpa.
Shen Xianjun achou que estava oferecendo um consolo, seguido de um pedido de desculpas.
Qin Nian achava que tinha deixado tudo bem claro, mas aquele homem parecia mesmo não entender nada.
Desculpa? Pelo quê? Ele acha que as crianças não são dele?
— Aqui, pega. Eu te devo um pedido de desculpas — por ter te deixado sozinha logo depois do casamento. As crianças também são minha responsabilidade.
Após hesitar por um instante, Shen Xianjun puxou o envelope mais grosso dos dois e o entregou a Qin Nian. Agora ele era um homem de família, com filhos para sustentar. A prioridade era cuidar do lar. Dessa vez, não separaria nada para a mãe — a mesada militar dela estava garantida.
Qin Nian olhou para o dinheiro nas mãos, lembrando das palavras da sogra. Estava prestes a recusar, mas decidiu aceitar.
— Esse dinheiro não devia ir pra mãe?
Pelo menos ele reconhece que as crianças são dele, pensou Qin Nian.
— Dessa vez, não. A mãe já ligou para o oficial político pedindo que parte da minha mesada vá direto para a aposentadoria dela. Não fica chateada com isso — ela me criou sozinha.
Shen Xianjun falou sem perceber a sombra que atravessou o rosto de Qin Nian.
— Cuidar da aposentadoria dela é o certo — respondeu Qin Nian, com uma voz neutra.
— É. Ah, e Dabao e Erbao... esses são os nomes verdadeiros?
Finalmente, Shen Xianjun se lembrou das crianças.
— Não, são só apelidos. A mãe disse que eles ainda são pequenos, então por enquanto vamos usando assim. O nome verdadeiro de Dabao é Li Wu, e o de Erbao é Li Wen.
A expressão de Qin Nian suavizou um pouco.
— Bons nomes. Não leva a sério os costumes antigos da mãe. O pessoal da vila acredita que nome humilde ajuda a criança a crescer forte.
Assim que terminou de falar, o rosto de Qin Nian escureceu de novo.
Yang Yufen voltou bem a tempo de ouvir aquela última frase. Empurrou a porta com força e entrou.
— Ah, então agora você tá dizendo que a teimosia da sua avó de te chamar de “Ovo de Cachorro” virou nome humilde só porque eu mudei pra “Ovo de Ferro”? Dabao e Erbao são meus preciosos netinhos! Nian, você trabalha amanhã — precisa descansar. E as crianças têm aula. Vamos embora.
Sem esperar resposta, Yang Yufen fechou o pote de comida, fez sinal para que Qin Nian pegasse as crianças e saiu bufando.
— Mãe, não fica brava. Isso faz mal pra sua saúde — disse Qin Nian com gentileza, apressando o passo atrás da sogra com os filhos.
Só quando chegaram ao carro, Qin Nian falou de novo.
— Desculpa você ter presenciado aquilo. Na época, a avó dele insistia em chamá-lo de “Ovo de Cachorro”. O pai dele era doente desde pequeno, e o Shen Xianjun era a única esperança da família. Eu lutei pra mudar o nome pra “Ovo de Ferro” e só consegui dar um nome de verdade — Shen Xianjun — quando ele tinha dez anos e foi pra escola.
Yang Yufen não queria que Qin Nian tivesse uma impressão errada, então se explicou.
— Mãe, eu sei. E fui eu quem começou a chamar eles de Dabao e Erbao, de qualquer forma. Aqui, ele me deu isso mais cedo.
Qin Nian colocou o envelope nas mãos de Yang Yufen, tentando animá-la.
— Se ele te deu, fica com você. Eu ganho meu próprio dinheiro. Vamos pra casa antes que escureça.
O temperamento de Yang Yufen subia rápido, mas também passava depressa.
De volta ao quarto do hospital, Shen Xianjun coçou a cabeça.
— O que foi que eu falei agora pra deixar minha mãe brava de novo? — murmurou. — Ah, deixa pra lá. Levar bronca já virou rotina.
As frutas que Yang Yufen havia comprado mais cedo agora tinham sumido — ela as levara de volta. Sem motivo pra desperdiçar comida boa com ele.
— Nian, foca no seu trabalho. Você já viu que ele não tá morrendo. O médico disse que em poucos dias ele tem alta. Não precisa se preocupar.
Yang Yufen estava genuinamente com medo de que aquele filho inútil acabasse afastando a nora maravilhosa. Aparência simples já era uma coisa, mas por que ele ainda abria a boca pra piorar?
— Tá bem, mãe. Obrigada por tudo.
Qin Nian não ficou remoendo. Precisava de tempo para processar o fato de que seu marido não estava morto — e logo estaria de volta.
Na manhã seguinte, Shen Xianjun não recebeu visita da mãe. Em vez disso, Zhang Lingling chegou com Zhang Zhiyuan e alguns outros camaradas.
Zhang Lingling se movimentava com desenvoltura, servindo água pra todos como se fosse a dona da casa.
— Irmão Shen, come umas frutas. Eu mesma descasquei. Faz bem pra recuperação. Ah, já tá quase na hora do almoço — vou buscar sua comida na cantina.
Mesmo estando de folga, Zhang Lingling tinha ido ao hospital com um vestido amarelo e leve maquiagem no rosto.
— Zhang Zhiyuan, sua irmã é um achado. Tem certeza de que não quer me ter como cunhado?
Alguém brincou, arrancando risadas. No exército, até uma mulher simples virava beleza — imagine alguém bonita e prestativa como Zhang Lingling.
— Se afasta. Tira a mão da minha irmã — respondeu Zhang Zhiyuan, afastando o braço do colega do próprio ombro.
— A gente achou mesmo que você tinha morrido, cara. Fizemos até luto! Aí vem a notícia de que você tá vivo — e depois que tá morrendo de novo! Você sabe mesmo como assustar a galera. Nem o Rei dos Infernos te quis.
Entre camaradas, não havia assunto proibido.
— Não foi de propósito. Só cumpri meu dever. Qualquer soldado teria feito o mesmo. Quando eu melhorar, a rodada é por minha conta.
— Lingling, hoje não é seu dia de folga? Esse vestido tá lindo!
Uma enfermeira no balcão a cumprimentou.
— É sim. Vim visitar o Irmão Shen com meu irmão. Eles são companheiros de pelotão.
— Ah, seu irmão é o comandante de pelotão?
Os olhos da enfermeira brilharam.
— Isso mesmo. Melhor eu correr até a cantina antes que a comida boa acabe.
Zhang Lingling levantou o queixo com leveza e saiu com o pote de comida nas mãos.
— Pode ir.
Yang Yufen chegou ao hospital carregando uma marmita. Estava decepcionada com o filho ou não, sangue era sangue.
Ao se aproximar do quarto, viu que ele estava cheio de homens de uniforme militar.
Capítulo 70
— Obrigada por virem visitar meu filho. Aqui, peguem umas frutas — não fiquem com vergonha dessa velha aqui.
Yang Yufen distribuiu as frutas que havia trazido, aliviada por não ter chegado de mãos vazias.
— Obrigado, tia.
Um por um, eles aceitaram as frutas e recuaram para abrir espaço ao lado do leito do hospital.
— Tia, já ficamos bastante tempo. É melhor voltarmos para a base agora.
O grupo notou a marmita que Yang Yufen carregava e decidiu não se prolongar. Por um instante, ninguém se lembrou de Zhang Lingling — e nenhum deles se sentia confortável em ficar ali naquela hora.
— Tudo bem. Da próxima vez, deixem o Xianjun convidar todos vocês pra uma refeição lá em casa. Não vou segurar vocês mais.
Yang Yufen os acompanhou até a porta e depois voltou ao quarto, só para encontrar Shen Xianjun já devorando a marmita.
— Mãe, você me conhece bem demais. Eu estava morrendo de vontade do seu macarrão com molho de ovo. Faltou só um pouquinho de alho pra ficar perfeito.
— Nem pense nisso. A partir de agora, nada de alho no molho de ovo em casa — a Nian não suporta. E sem pimenta também. As crianças e a Nian não aguentam comida apimentada.
— Sem alho, sem pimenta e sem vinagre? Que tipo de macarrão artesanal é esse? Quem é que consegue comer um negócio tão sem graça?
Shen Xianjun murmurou sem pensar — e tomou logo um tapa na cabeça.
— Agradeça por eu ainda ter feito isso pra você! Vem exigir alho, pimenta, vinagre... Quem é o enjoado aqui, seu moleque?
Shen Xianjun ergueu os olhos, confuso. Ué, mas sempre tinham comido assim em casa! O que ele disse de tão errado?
Essa é a minha mãe biológica, essa é a minha mãe biológica, essa é a minha mãe biológica...
Repetiu o mantra mentalmente e afundou o rosto no macarrão. Tudo bem. Era melhor ficar de boca fechada.
Yang Yufen ouvia os barulhos altos de mastigação e sucção como se tivesse criado um porco. Nem Dabao e Erbao comiam o macarrão daquele jeito.
Seu desprezo era evidente, mas Shen Xianjun, focado na comida, nem percebeu. Yang Yufen virou de costas, decidindo que ignorância era uma bênção.
— Irmão Shen, como você consegue comer isso?
Zhang Lingling apareceu na porta, segurando uma marmita. Não tinha visto Yang Yufen de primeira, e, ao ver Shen Xianjun já comendo, deixou escapar a pergunta antes que pudesse se conter. Apressou-se para entrar.
— O que é que tem de errado?
A voz de Yang Yufen cortou o ambiente assim que ela deu um passo à frente. Qual o problema dessa garota? Sem o jaleco branco, Yang Yufen tinha certeza — era só mais uma flor que o filho encrenqueiro havia atraído.
— Tia, a senhora está aqui. É só que o Irmão Shen ainda está se recuperando. Comida gordurosa e salgada não é boa pra ele nesse momento.
Zhang Lingling abaixou o tom ao ver Yang Yufen.
— Pode ficar tranquila. É só um toque de molho de feijão — basicamente ovos e macarrão. Não vai fazer mal. Eu já confirmei com o médico, e ele disse que não tem problema.
Yang Yufen manteve a expressão neutra, mas seu tom era cortante.
— Tão sem graça que mal tem gosto. Só um pouquinho melhor que a comida da cantina do hospital.
O rosto de Shen Xianjun murchou. Ele adorava sabores fortes, e já bastava estar sem vinagre, alho e pimenta — agora ainda vinha alguém piorar mais?
— Então para de comer feito um porco esfomeado se é pra reclamar! Se não fosse pelo país, um cara como você ia morrer solteiro. Só a Nian tem paciência pra você, ainda te deu dois filhos.
Yang Yufen falava diretamente com Shen Xianjun, mas seus olhos estavam em Zhang Lingling, esperando que a garota entendesse o recado.
Ela compreendia a admiração pela força, mas se meter no casamento alheio era errado.
Zhang Lingling apertou com força a alça da sacola de rede. Tentou sorrir, mas não conseguiu.
— Se a tia acha melhor assim, então vou indo.
E saiu às pressas.
— Ué, por que ela não deixou a comida? Não era pra mim? Eu podia comer mais!
Shen Xianjun lamentou a marmita perdida.
— Comer, comer, comer — não tá com medo de explodir, não? O médico disse pra não exagerar. Esqueceu?
Yang Yufen estava de saco cheio. Ultimamente, parecia que ela e o filho só brigavam. Talvez fosse o destino. Suspirou e tirou a marmita da frente dele. Chega por hoje.
Tá vendo? Era por isso que ele não queria a mãe por perto — vivia perdendo a paciência. Sua esposa devia ter sofrido calada. Ontem mesmo, ela mal ousou abrir a boca. A partir de agora, ele ia protegê-la mais. Já estava acostumado a aguentar tempestade mesmo.
Foi então que se lembrou — ainda não tinha entregado pra mãe a condecoração que ela merecia. Bem, faria isso à noite.
Quando Yang Yufen estava prestes a sair, deu de cara com Zhou Ang.
— Tia, o que houve? A senhora tá com uma cara...
— Ultimamente ando irritada do nada.
Ela não podia dizer que estava com vontade de enforcar o próprio filho.
— Temos uma médica de medicina tradicional aqui. Vou levar a senhora até ela. Agora é horário de almoço — não vai atrapalhar os pacientes.
Zhou Ang passou o braço pelo da Yang Yufen e a conduziu até o consultório.
— A senhora tem sentido calor repentino, suado fácil, dificuldade pra dormir ou mudanças de humor?
A médica perguntou após conferir o pulso.
— Tenho, sim.
— Vou receitar um remédio pra equilibrar seu sistema. Seu qi e seu sangue são fortes, mas não pode guardar raiva. Converse mais com as pessoas.
Depois de escrever a receita e trocar algumas palavras com Zhou Ang, ele acompanhou Yang Yufen para fora.
— Tia, a senhora está se sobrecarregando. A comida do hospital é nutritiva — não precisa ficar indo e voltando. Vou pedir pras enfermeiras levarem as refeições pra senhora poder descansar.
— Tá bem, obrigada, Xiao Zhou.
Yang Yufen concordou, sentindo que realmente precisava de um descanso. Saiu de lá com uma sacola de remédios.
Naquela tarde, Shen Xianjun esperou pela entrega de sempre da mãe — só para dar de cara com uma médica que não conhecia.
— Eu sou cunhada da Nian. Pode me chamar de Cunhada, como ela faz. A tia não está se sentindo bem, então não vai trazer comida por alguns dias. Alguém vai entregar a sua. Depois que comer, é só deixar a marmita ali — alguém vem buscar. Tenho que trabalhar agora, então estou indo.
Como era a primeira entrega, Zhou Ang fez questão de levar pessoalmente antes de encerrar o turno.
Shen Xianjun olhou para a comida — mingau simples de abóbora com milheto, dois ovos, uns acompanhamentos básicos e verduras.
Ia encher a barriga, mas como comparar com o macarrão artesanal da mãe?
Quando Qin Nian voltou pra casa, o cheiro de remédio a atingiu de imediato. Esquecendo dos dois filhos atrás de si, correu pra dentro.
— Mãe? Mãe?
— Nian, você chegou. Tô aqui no quintal.
A voz de Yang Yufen vinha dos fundos da casa.
— Mãe, a senhora tá bem?
Qin Nian correu até o quintal, onde encontrou Yang Yufen ocupada na horta.
— Tô sim. A tia Wang me deu umas sementes de feijão, então plantei. Cresceram demais — precisei colocar estacas. Tava enrolando pra fazer isso, aproveitei hoje.
Yang Yufen limpou a terra das mãos e das pernas, percebendo que tinha perdido a noção do tempo.
— Então por que é que a casa tá com cheiro de remédio?
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