Capítulo 81 a 85


 Capítulo 81 —  O Retorno da Noiva à Casa dos Pais

Embora a família Ming gozasse de grande prestígio entre os estudiosos, o Príncipe Chen percebeu que eles não se entregavam a um discurso excessivamente literário. As refeições também não vinham acompanhadas de versos floridos — às vezes comentavam coisas mundanas, como o fato de que os produtos do mercado leste eram mais baratos que os do oeste.

Antes da visita, ele temera que os anciãos Ming propusessem jogos de bebida ou concursos improvisados de poesia, por isso decorou várias antologias. Nada disso foi útil.

— Esta chuva de primavera veio bem a tempo. Que o povo tenha uma boa colheita — Ming Jingzhou levantou a xícara de chá. — Vossa Alteza deve retornar ao palácio esta noite, então vinho não é recomendável. Este humilde oficial oferece chá em seu lugar, um brinde a vós.

Quando as xícaras se tocaram, o Príncipe Chen segurou a sua propositalmente mais baixa que a de Ming Jingzhou. O homem mais velho segurou seu pulso.

— Vossa Alteza, não. Vós sois o soberano, eu o súdito. Como poderia minha taça estar acima da vossa?

— Vós sois o mais velho, eu o mais jovem. Respeitar os mais velhos é apenas natural.

Enquanto discutiam, Jiuzhu pousou os hashis, segurou os pulsos de ambos e juntou as xícaras.

— Apenas bebam.

Os dois homens olharam para ela e riram em uníssono.

Um mantinha a etiqueta entre senhor e súdito, pelo bem da filha.

O outro deixava de lado seu status para honrar o sogro, pelo bem da esposa.

Eles achavam que Jiuzhu não notava esses gestos. Mas ela via tudo.

O aroma do chá era fresco, a doçura permanecia.

— Vossa Alteza — começou Ming Jinghai, pousando os hashis —, segundo o costume ancestral, quando Sua Majestade realiza a coroação da imperatriz, é emitido um decreto de perdão para simbolizar seu status honrado. Qual forma esse perdão deveria ter? Fale à vontade — aqui somos família.

— Perdões geralmente poupam infratores leves, isentam impostos ou concedem exames imperiais extras — respondeu o Príncipe Chen sem hesitar. — Mas perdoar criminosos prejudica suas vítimas. Isenções fiscais geram disputas sobre alcance e duração. Apenas exames adicionais funcionam bem — recrutam talentos para a corte e não encontram oposição.

Mais importante, os literatos o apoiariam.

Os estudiosos que prestassem esses exames hesitariam em criticar a imperatriz. Uma única jogada que gera triplo benefício.

— Excelente escolha. Interesses compartilhados resolvem muitos conflitos — Ming Jinghai olhou para o Quinto Príncipe com aprovação. — Este jovem é mais promissor do que eu esperava.

A divisão entre os literatos e a facção do Príncipe Chen vinha de anos de desentendimentos.

Mas, se o príncipe de repente adotasse seus ideais, a visão sobre ele mudaria drasticamente.

Após a refeição, Ming Jinghai perguntou a Ming Jingzhou:

— Terceiro Irmão, vamos achar uma distração para a tarde. Nada de arremesso refinado de flechas ou jogos de poesia — algo animado.

— Cartas? — Ming Jingzhou lançou um olhar ao Príncipe Chen. — Vossa Alteza, joga?

— Um pouco. — O príncipe pensou com ironia — quem no império poderia rivalizar com minha habilidade?

— Então nós quatro jogaremos, enquanto Jiuzhu conversa com a mãe — Ming Jingzhou chamou um servo para trazer as cartas e deu um conselho matrimonial: — As mulheres detestam homens que ficam de bobeira enquanto elas falam. Quando elas conversam, nós devemos ficar na sombra.

— Quando as mulheres perdem a paciência — Ming Jingzhou baixou a voz — é aterrorizante.

O Príncipe Chen olhou para Jiuzhu, que ria com a mãe. Quão aterrorizante ela poderia ser?

Sua Jiuzhu era bondosa demais para jamais se enfurecer com ele.

— Quatro? — Ming Cunfu contou o grupo. — Espera, não somos cinco homens?

— Vai estudar. — Ming Jinghai o dispensou friamente. — Homem sem posto ou cargo não é homem.

— Aqueles sem nem noiva são os indignos — murmurou Ming Cunfu, baixo demais para o pai ouvir, antes de sair correndo.

Ming Jiyuan: "..."

Para quem foi essa alfinetada?!

Depois de duas rodadas, o Príncipe Chen percebeu que o brilhantismo literário dos Ming não se estendia ao jogo de cartas.

Jogavam as mãos de forma brusca, alheios às estratégias dos adversários.

Deixar eles ganharem sem ser notado era mais difícil do que vencê-los diretamente.

— Com essas habilidades patéticas, eles ousam desafiar Vossa Alteza? — Shen Ying riu, observando os quatro homens no pavilhão. — Os salários de teu pai e teu irmão não cobrirão as perdas deles.

— Não se preocupe, mãe. Vossa Alteza não ousaria derrotá-los — Jiuzhu sorriu. — Ontem à noite, ele me interrogou sobre os temas de poesia que nossa família prefere.

— Eu disse a ele que o pai raramente faz versos em casa. Ele não acreditou.

— Ele costumava compor com frequência. — O olhar de Shen Ying suavizou. — Mas não no último ano.

Antes do retorno de Jiuzhu, ele bebia nas noites de meio outono, escrevendo odes à filha perdida antes do vinho chegar na metade da garrafa.

Talvez corações realizados não precisem do combustível melancólico da poesia.

— Eu adoraria ler os versos do pai.

— Ele nunca os guarda — Shen Ying desviou o assunto, relutante em revisitar aquelas linhas carregadas de tristeza. — Nenhum sobrevive.

— Está se adaptando bem ao palácio?

— Perfeitamente. As atendentes são atenciosas, e Sua Majestade e a imperatriz enviam notícias frequentes — Jiuzhu apertou a mão da mãe. — Sua Majestade me trata como sempre.

— Bom, bom. — Shen Ying notou as presilhas feitas no palácio no cabelo de Jiuzhu e soube que era verdade. — Suas quatro cunhadas vêm de casas nobres, mas você não é inferior. Não se acovarde diante delas.

— Mãe... A consorte do Quarto Príncipe parece estranha. Há alguma história entre nossas famílias e os Sun?

— Os Sun são uma antiga aristocracia estudiosa. Nossos ancestrais Ming eram obscuros até a geração de seu pai — teus tios conquistaram os primeiros lugares, ele ficou em terceiro, e nossa posição subiu. Depois...

Shen Ying fez uma pausa.

— Deixa pra lá. Cortamos relações com a família Ming de Lingzhou. Não adianta ficar pensando nisso.

— Embora agora respeitados entre os estudiosos, os Sun sempre nos desprezaram. — Ela hesitou, depois confessou: — Na primavera passada, Sua Majestade considerou casar o Príncipe Chen com uma filha dos Sun. Eles... recusaram.

— Mas Sun Caiyao casou-se com o Quarto Príncipe. — Jiuzhu não lembrava de insatisfação dos Sun com essa união.

— Porque a candidata inicial era o Príncipe Chen. — Shen Ying afagou a mão assustada de Jiuzhu. — Antes das propostas formais, correram rumores de que Sun Caiyao velejava intimamente com o Quarto Príncipe. Como ele é o mais velho, a união mudou para ele.

— O casamento é questão de destino. A senhorita Sun e o Príncipe Chen não estavam destinados a ficar juntos, então não adianta você ficar remoendo isso. — Shen Ying tomou um gole de chá. — Digo isso porque temo que a fofoca no palácio transforme um assunto simples em algo complicado, causando conflito entre você e o Príncipe Chen.

— É por isso que ela tem agido tão estranhamente comigo? — Jiuzhu ficou ainda mais confusa. — Qual o objetivo?

— O coração das pessoas é diferente. Você não precisa entender as motivações dos outros — apenas saiba o que sente e o que realmente quer. Assim, não será influenciada por eles.

— Eu só quero que minha família esteja segura e bem, que Sua Alteza e Sua Majestade, a Imperatriz, permaneçam ilesos, e que meus dois mestres alcancem o esclarecimento na cultivação. — Jiuzhu pensou com cuidado. — Parece que não peço muito mais.

Quem não deseja nada, não teme nada.

O que parece querer pouco é, na verdade, uma grande ambição.

Shen Ying sorriu — a filha era sábia.

Ming Jingzhou, que raramente ganhava nas cartas, finalmente conseguiu triunfar algumas vezes contra o genro. Animado, elogiou o Príncipe Chen:

— Vossa Alteza é naturalmente brilhante. Se se dedicasse aos estudos, poderia superar os outros príncipes em poucos dias.

Quando trabalhava no Ministério dos Ritos, na primeira vez que testou o Príncipe Chen em redações políticas, percebeu sua memória extraordinária e a capacidade de aplicar o conhecimento de forma criativa — um estudioso promissor, se quisesse prestar os exames imperiais.

Infelizmente, o príncipe não se interessava pelos estudos e, como membro da realeza, não precisava se preocupar com a progressão oficial.

— Estais me lisonjeando, sogro. — O Príncipe Chen abriu uma sequência limpa na mão e jogou a carta mais baixa. — Tudo graças à sua orientação.

— Nem o melhor escultor consegue fazer uma flor com madeira podre. — Os olhos de Ming Jingzhou brilharam ao ver a carta que o príncipe jogou e ele rapidamente descartou uma carta baixa que vinha tentando usar. — Não se subestime.

Enquanto os dois homens trocavam elogios, Ming Jinghai quase amassou as cartas frustrado. Será que eles não poderiam pensar um pouco nele?

— Tio, terminei de ler todos os textos militares que me emprestou da última vez. — O Príncipe Chen olhou para a mão de Ming Jinghai e mentiu sem hesitar. — Não consigo vencer essa jogada.

— Terminou? — Ming Jinghai, satisfeito por ninguém conseguir contrapor seu lance, recolheu as cartas feliz.

— Nunca imaginei que o tio, como funcionário civil, tivesse tanto talento para estratégias militares. — Elogiou o príncipe. — Se tivesse seguido a carreira de general, seria certamente um comandante reverenciado.

Ming Jinghai se vangloriou:

— Claro. Até meu mestre de esgrima dizia que eu tinha jeito para ser grande general. Mas meu talento para literatura era ainda maior, então escolhi os exames imperiais.

Depois de elogiar o tio, o príncipe não esqueceu de exaltar o cunhado, Ming Jiyuan, demonstrando grande expectativa pela futura nomeação dele na Corte de Revisão Judicial.

Ao fim do jogo, os três Ming tinham vencido algumas mãos e o Príncipe Chen não perdera muito também. Foi uma reunião harmoniosa, cheia de alegria.

No jantar, Ming Jingzhou até elogiou o Príncipe Chen diante de Jiuzhu.

Quando a noite caiu após a refeição, a alegria deu lugar à tristeza da despedida. Segurando a mão de Jiuzhu, o Príncipe Chen disse à família Ming que os acompanhava:

— Fiquem tranquilos, trarei Jiuzhu para casa com frequência, para que possamos ficar juntos novamente.

— Confiamos que Vossa Alteza cumprirá a palavra. — Sorriu Ming Jingzhou. — Amanhã no tribunal, proponho a Sua Majestade a abertura de um exame especial. Ele não concordará imediatamente. À tarde, eu e vários oficiais dos Seis Ministérios iremos ao Palácio Taiyang para convencê-lo. Vossa Alteza pode nos acompanhar para dar apoio. Não se preocupe — esta também é a intenção de Sua Majestade.

O Príncipe Chen fez uma reverência a Ming Jingzhou:

— Obrigado, sogro. Lembrarei disso.

Seu pai e sogro o ajudavam a conquistar o favor dos oficiais civis.

— Espera! — Ming Jiyuan de repente lembrou da sacerdotisa taoista que visitara a família Ming dias antes. — Irmã, tenho algo para você — um presente de seus dois mestres, enviado por mensageiro.

— Meus mestres? — Jiuzhu ficou surpresa.

— Fiquei tão feliz de vê-la hoje que quase esqueci. — Ming Jiyuan se virou e saiu apressado. — Espere aqui com Vossa Alteza. Já volto.


Capítulo 82 — O Prendedor de Prata

— Como você não estava aqui, nunca abri esta caixa. — Ming Jiyuan colocou uma caixa de madeira antiga nas mãos de Jiuzhu. — Perguntei o nome da monja taoista, mas ela se recusou a me contar. Convidei-a para ficar em nossa casa, mas ela recusou, dizendo que encontros e despedidas são assuntos do destino e não devem ser forçados. Também disse que, se você perguntar, entenderá.

— Vivi anos nas profundezas da montanha com meus dois mestres. Nosso templo raramente recebia visitas, embora às vezes cultivadores errantes parassem para descansar. — Jiuzhu acariciava a caixa de madeira com carinho, os olhos cheios de afeto. — Eles vinham e iam livremente, eram gentis com os idosos e os fracos, mas nunca deixavam seus nomes. Meus mestres devem ter sabido que essa monja estava passando pela capital e pediram que entregasse isto a mim.

Depois de se despedir dos pais, Jiuzhu entrou na carruagem. Mesmo quando ela já se afastava, ela ergueu a cortina e olhou para trás, ainda conseguindo ver a família Ming parada no portão, observando sua partida.

— Não fique triste. Comigo aqui, posso trazer você para casa sempre que quiser. — O Príncipe Chen tirou os envelopes vermelhos e saquinhos que recebera antes e os colocou nas mãos de Jiuzhu.

— Vossa Alteza, por que está me dando isto? — Jiuzhu olhou para ele confusa.

— A riqueza do marido pertence à esposa — isso é natural. — O Príncipe Chen coçou o nariz, meio sem jeito. — Todos os meus guardas e criados fazem o mesmo depois de casados.

— Então, no futuro, se Vossa Alteza precisar de dinheiro, é só me avisar. — Jiuzhu guardou a prata com cuidado.

— Mas um homem não deveria receber dinheiro tão facilmente — o príncipe tossiu levemente. — E se eu gastar tudo sem você saber?

— Se gastar te faz feliz, então vale a pena. Dinheiro é só uma posse mundana — Vossa Alteza é muito mais importante. — Jiuzhu pensou por um momento e acrescentou: — Embora seria melhor se Vossa Alteza não me enganasse.

A mesma Jiuzhu que já havia separado o menor pedaço de prata para compensá-lo pelas despesas do funeral do grilo — agora dizendo que dinheiro era coisa pequena e que a felicidade dele importava mais?

Até que ponto essa tolinha da família Ming se importava com ele?

— Você... você... — O Príncipe Chen suspirou profundamente. — Ainda bem que ela se casou comigo. Se tivesse casado com outro, quem sabe o quanto teria sido maltratada?

— Vossa Alteza. — Jiuzhu colocou a caixa de madeira no colo. — Quero ver o que meus mestres enviaram.

— Pode abrir. — O príncipe levantou-se para sair da carruagem. — Vou mandar o cocheiro acalmar o balanço.

— Vossa Alteza. — Jiuzhu estendeu a mão e o puxou de volta. — Sente aqui comigo enquanto vejo.

— Tudo bem. — Ele parou, depois se aproximou dela. — Que tesouros seus mestres nos enviaram?

Aproveitar oportunidades para chegar mais perto — nisso o Príncipe Chen era mestre.

Jiuzhu levantou cuidadosamente a tampa. Dentro havia várias caixas pequenas, cada uma do tamanho de uma palma.

O príncipe se perguntou — quantos presentes eles teriam preparado?

A primeira caixa continha seis frascos de remédio.

A segunda, terceira e quarta caixas também tinham remédios, mas para males diferentes.

Havia pílulas antídoto, elixires para estancar sangramentos, pós contra resfriados, xaropes para febre e outros.

— Porquinho, seus mestres são curandeiros divinos? — O Príncipe Chen olhou para as caixas de remédio, o cheiro medicinal misturado um pouco forte.

— Não sei. Nosso templo era pobre, então não podíamos pagar remédios. Sempre que eu adoecia, meu segundo mestre recolhia ervas na montanha e preparava uma sopa amarga. — Jiuzhu lembrava com carinho dos dias com seus mestres. — Mas meu primeiro mestre sempre chamava o segundo de charlatão, dizendo que eu sobrevivi só por ter um corpo forte.

O Príncipe Chen ficou em silêncio por um instante.

— O que seus pais pensavam, mandando você para um templo tão remoto?

— O templo era pobre, mas meus mestres me trataram muito, muito bem. — Jiuzhu sorriu.

Ela pegou a última caixa, a que ficava no fundo. Dentro havia duas cartas e um par de prendedores de prata.

Os prendedores tinham desenhos florais parecidos — um para homem, o outro para mulher.

Jiuzhu olhou demoradamente para o prendedor feminino, sem falar nada.

— O que há? — Notando sua expressão preocupada, o príncipe lhe envolveu o ombro com um braço. — Jiuzhu?

— Uma vez, perdi um prendedor de prata no rio Huaxi... era igual a este, só que bem menor. — Jiuzhu entregou o prendedor para o príncipe. — Vossa Alteza, me ajude a colocá-lo.

O Príncipe Chen o prendeu em seu cabelo.

— Combina com você.

— Mesmo? — Jiuzhu tocou o prendedor suavemente.

— Eu já te menti alguma vez? — Ele tirou a própria coroa e prendeu o prendedor masculino no cabelo. — Este deve ser para mim. Agora somos um par combinando.

Embora simples, os prendedores de prata, quando usados por ele, tinham a elegância real.

Pessoas belas fazem até coisas comuns brilharem.

As duas cartas — uma do primeiro mestre, outra do segundo — eram curtas, pois nenhum deles gostava de palavras longas. Descreviam as propriedades de cada remédio, admitiam suas dificuldades financeiras e explicavam que os prendedores eram presente de casamento.

[As montanhas estão tranquilas. Seu segundo mestre e eu não gostamos de visitas. Não há necessidade de enviar dinheiro ou roupas com frequência. Desde que você partiu, as despesas do templo diminuíram... drasticamente.]

“Diminuíram drasticamente” — não era uma frase um tanto dura demais?

A dor e a saudade de Jiuzhu foram instantaneamente reduzidas pela metade por aquelas palavras.

[As despedidas são o caminho da vida. Se sentir nossa falta, escreva no Festival do Meio Outono e no Ano Novo. A lua é a mesma lua, o sol o mesmo sol — não importa a distância, a vista permanece a mesma.]

Jiuzhu fungou. Sabia que seus mestres nunca gostaram de barulho. O templo só havia ficado vivo por causa dela.

Depois de ler a carta do primeiro mestre palavra por palavra, ela abriu a segunda.

[Uma vez mestre, sempre mestre. Para nós, você foi discípula e filha. Nestes últimos meses, seu primeiro mestre recitou sutras diante dos Três Puros pela sua segurança. Há dois meses, acrescentou mais um pelo seu futuro marido. Você e o Príncipe Chen estavam em mundos separados, mas o destino os uniu — uma verdadeira bênção.]

[Os remédios que preparei para você são todos excelentes. Confie nas minhas habilidades.]

Jiuzhu leu ambas as cartas várias vezes antes de guardá-las cuidadosamente. Olhou para o Príncipe Chen.

— Vossa Alteza, meus mestres disseram que fomos destinados a ficar juntos.

— O Imperador é o Filho do Céu. Seu decreto para nosso casamento é, de fato, a vontade dos céus. — Apesar da distância de milhares de milhas para esses dois mestres, o Príncipe Chen escolheu elogiá-los. — Seus mestres devem ser verdadeiros sábios para prever isso.

— Os remédios que eles fizeram devem ser tesouros raros. — Ele juntou as caixas solenemente. — Vou guardá-los com cuidado.

Jiuzhu: "…"

Ela não tinha certeza se eram sábios, mas sabia que o segundo mestre cozinhava muito mal e que suas poções de ervas eram amarguíssimas. Mesmo assim, ao ver a expressão sincera do príncipe, não conseguiu desapontá-lo.

— Sim, vamos cuidar bem deles.

Não importava a eficácia das pílulas, eram presentes sinceros dos seus mestres — como poderia tratá-los com descaso?

Assim que o casal terminou de guardar as caixas, uma discussão barulhenta irrompeu do lado de fora da carruagem, vozes acaloradas, com palavras como "príncipe" e "vagabundo" sendo lançadas.

Jiuzhu, curiosa, inclinou a cabeça pela janela da carruagem e viu vários jovens vestidos com luxuosos robes de brocado discutindo sob os leões de pedra na entrada do escritório da Prefeitura da Capital. Entre eles, um homem com robe marrom tinha um grande hematoma na testa e exibia uma expressão de fúria extrema.

— Yun Qirong, não pense que tenho medo de você só porque está em maior número! — O homem de marrom apertava a testa e gritava. — Pare de usar seu título de guarda imperial para intimidar os outros. Todo mundo sabe que você só conseguiu essa posição porque lambeu as botas do Príncipe Chen!

— E daí se eu sirvo ao Príncipe Chen? — Yun Qirong arregaçou as mangas. — Você gostaria de estar no meu lugar, mas não é nem digno!

Yu Jian, que passava por ali enquanto estava fora de serviço, parou no meio do passo.

Por alguma razão, sentiu que também havia sido insultado.

— Tudo bem, não sou digno, mas você ainda consegue se agarrar ao Príncipe Chen? — O homem de marrom não ousava insultar o príncipe diretamente, então apontou para Yun Qirong. — Seu Alteza não passa tempo com vocês há séculos, não é?

— Você não sabe de nada! — Yun Qirong zombou misteriosamente, estufando o peito. — Se não fosse por Seu Alteza, teríamos ido à Academia Hongwen entregar livros? O trabalho que fazemos para ele, como auxiliares de confiança do Príncipe Chen, está além da compreensão de um nobre distante como você!

— Muitos desses estudiosos são os futuros pilares da nossa grande nação. Como parente distante da família imperial, você não só não os respeita, como tentou humilhá-los de maneira desprezível. Como pode se rebaixar assim? — Yun Qirong sabia que era importante se vangloriar das boas ações e omitir as ruins. — Embora outros nos vejam como vagabundos, o Príncipe Chen nos ensinou a reconhecer a grandeza e os desafios dos estudiosos. Nós os reverenciamos e aspiramos aos seus ideais. Claro que impediríamos escória como você de intimidá-los.

Os espectadores rapidamente montaram o quebra-cabeça da situação: um nobre havia intimidado estudiosos indefesos, e um grupo de jovens próximos ao Príncipe Chen o confrontou, resultando naquela discussão pública.

— Vocês estão a serviço do Príncipe Chen? — O nobre de robe marrom riu alto. — Espera que a gente acredite nisso? Quem confiaria trabalho sério a vagabundos como vocês?

Yu Jian franziu o cenho. Embora Yun Qirong e seus amigos fossem conhecidos pela preguiça, nunca haviam perturbado inocentes. As palavras daquele homem foram duras demais.

— Ah? Você reclama que eu lhes dou tarefas? — O Príncipe Chen desceu da carruagem. — Desde quando preciso da sua aprovação para agir?

— Quem você pensa que—

— P-Príncipe Chen! — O homem de marrom empalideceu, baixando a mão da testa e fazendo uma reverência profunda. — Perdoe minhas palavras impensadas, Vossa Alteza.

— Vossa Alteza! — Yun Qirong e seus companheiros se animaram ao ver o príncipe. — Terminamos todas as tarefas que nos deu hoje. Só tivemos problemas com esse encrenqueiro lá fora, na Academia Hongwen.

Ele não resistiu a comentar: — O prendedor de prata que está usando hoje é lindo, Vossa Alteza.

O Príncipe Chen arqueou uma sobrancelha, levantando o queixo.

— Um presente dos anciãos da Jiuzhu.

O nobre de robe marrom ficou tenso no pescoço.

— Vossa Alteza, tudo isso é um mal-entendido. Permita-me explicar.

— Silêncio. Não me interessa suas desculpas. — O príncipe voltou para a carruagem e ajudou Jiuzhu a descer. — Qirong, você explica.

Yun Qirong reparou no prendedor de prata no cabelo de Jiuzhu, combinando com o do príncipe. Baixou a cabeça e contou o incidente — embora simples, sua narração vívida pintou o homem de robe marrom como um valentão monstruoso que atormentava estudiosos indefesos como gatinhos. A multidão ficou cheia de indignação.

Jiuzhu olhou para os sapatos do nobre. Forçar alguém a lamber sapatos? Algumas pessoas na capital tinham gostos realmente estranhos.

— Qirong, dê a ele um lingote de prata. — O Príncipe Chen enfiou a mão na manga, mas lembrou que tinha dado todo seu dinheiro para Jiuzhu. Então se virou para Yun Qirong. — Faça ele tirar os sapatos agora e ir para casa descalço.

Um homem sem moedas deve aprender a improvisar.

Assim era a importância de ter subordinados ricos.

— Se alguém sujar seus sapatos, é justo que peça desculpas, compre outros novos ou limpe-os — disse o príncipe friamente. — Mas exigir que ajoelhem e lambam os sapatos é humilhação.

— Chega. — Ele ergueu o queixo. — Não tenho paciência para mais besteiras. Vá para casa descalço agora — vou mandar homens acompanharem você para garantir que não trapaceie.


Capítulo 83 —  Zhaoyi


O jovem nobre encrenqueiro, vestido com brocado marrom, foi levado pelos Guardas Dragão Imperiais, enquanto os escudeiros reais se adiantaram para cumprimentar Jiuzhu com reverências.

— Saudações, Princesa Consorte. Você e Sua Alteza são realmente um casal feito no céu, uma dupla perfeita.

— Com certeza! Crescemos com Sua Alteza, mas esta é a primeira vez que o vemos ajudar uma dama a descer da carruagem.

Jiuzhu achou aquelas palavras estranhamente familiares — nas histórias de príncipes dominadores, o mordomo ao lado do príncipe frequentemente dizia algo como: “Esta é a primeira vez que Sua Alteza trouxe uma mulher para a mansão dele.”

Ela sussurrou para o Príncipe Chen:

— Vossa Alteza, seus amigos também gostam de ouvir histórias de príncipes dominadores?

Príncipe Chen: “...”

— Você foi bem — disse o Príncipe Chen, dando um tapinha no ombro de Yun Qirong. — Quando virmos Sua Majestade da próxima vez, vou arranjar uma oportunidade para elogiar seu esforço.

— Muito obrigado, Vossa Alteza. — Yun Qirong e os outros escudeiros reais agradeceram apressadamente. — Nós apenas seguimos os ensinamentos de Vossa Alteza. Não foi nada demais.

Normalmente, eles passavam os dias ociosos, aprontando sem propósito algum. Mas de repente, um grupo de estudiosos os agradeceu sinceramente, olhando-os com admiração — aquela sensação não era nada ruim.

— Jovens nobres realmente são notáveis — disse Jiuzhu, olhando para eles com admiração. — Como esperado dos amigos de Sua Alteza, fazendo tantas coisas boas.

— De jeito nenhum, de jeito nenhum. Apenas seguimos o exemplo de Sua Alteza — respondeu Yun Qirong, mestre na arte de elogiar o príncipe na frente da consorte. — Costumávamos ser bem desregrados, mas sob a orientação de Sua Alteza, mudamos nosso comportamento.

Vossa Alteza, se a princesa consorte descobrir suas antigas manias com grilos e rinhas de galos, agora você já tem uma desculpa.

Os outros escudeiros reais não entenderam imediatamente por que Yun Qirong disse aquilo, mas ao ver o sorriso satisfeito no rosto do Príncipe Chen, logo entenderam e repetiram suas palavras, afirmando que a nova virtude deles era inteiramente graças ao paciente aconselhamento de Sua Alteza.

Um escudeiro real de verdade sabia como enaltecer seu patrono, garantindo benefício mútuo para todos.

— Já que começaram a fazer boas ações, melhor que continuem — disse o Príncipe Chen, com as mãos cruzadas atrás das costas. — Visitar orfanatos e abrigos de caridade são escolhas excelentes.

Se recusarem a estudar, pelo menos que façam caridade. Mesmo que não sirvam para nada no futuro, ainda assim acumularão algum crédito moral.

Virando-se, ele notou Jiuzhu olhando para ele com admiração e tossiu, sem jeito.

— Esses sujeitos têm aprontado comigo desde a infância. Não leve muito a sério o que dizem.

— Vossa Alteza não precisa explicar. Eu entendo. — Jiuzhu assentiu levemente. — Você é gentil por natureza, mas prefere manter perfil discreto.

— Eu não gosto de passar despercebido — murmurou o Príncipe Chen, inclinando-se perto do ouvido dela. — Eu gosto de você.

— Vossa Alteza! — Jiuzhu tocou a orelha que estava queimando e lançou a ele um olhar corado.

— Vossa Alteza, deveríamos ir embora — disse Yun Qirong, percebendo a intimidade do príncipe e da princesa consorte. Com tato, conduziu os outros para longe.

Quando os escudeiros reais se afastaram, Jiuzhu de repente lembrou-se de algo.

— Você não disse que, depois que seus guardas e criados se casam, entregam sua prata para as esposas? Por que Yun Qirong ainda carrega tanto dinheiro?

— Excelente pergunta — disse o Príncipe Chen, segurando a mão dela. — É porque ele ainda não tem esposa.

— Ah... — Jiuzhu assentiu compreensiva. — Agora entendo por que ele nem pestanejou ao dar prata embora. Até eu senti um aperto no peito por isso.

A expressão do Príncipe Chen ficou complicada. Ele também já gastara dinheiro com tanta despreocupação — até que seu pai o confinou no palácio...

Ele virou a cabeça e avistou uma figura familiar a alguns passos.

— Yu Jian? O jovem general?

Yu Jian entendeu o que o Príncipe Chen realmente quis dizer: “Por que de novo você?”

— Vossa Alteza — ele avançou e fez uma reverência.

O príncipe notou suas roupas casuais.

— Você não está de serviço com os Guardas Imperiais hoje?

— Reportando a Vossa Alteza, hoje é meu dia de folga. — O coração de Yu Jian se encheu de entusiasmo. Seu Alteza se preocupa com minhas funções — será que está pensando em me recrutar para a Mansão do Príncipe Chen?

— Ah. — O príncipe respondeu e então se afastou com Jiuzhu.

Yu Jian ficou olhando suas figuras se distanciarem, totalmente confuso.

O que exatamente Seu Alteza quis dizer com esse “ah”?

Se o Príncipe Chen mandasse alguém andar descalço, ele não daria nem a chance de usar sapatos.

Um jovem nobre com roupas finas caminhava descalço pelas ruas na primavera, atraindo olhares curiosos dos plebeus.

Para completar sua humilhação, os guardas que o vigiavam contavam todo o incidente para quem quisesse ouvir.

Um nobre tirano que maltratava um pobre estudioso, até que um príncipe justo descia como intervenção divina para salvar o estudioso e punir o valentão — não era esse o tipo de justiça poética que o povo adorava?

Em menos de duas horas, a história se espalhou por toda a capital.

Em uma reunião de estudiosos, o clima estava incomumente tenso.

Há dias, eles planejavam atrair os escudeiros reais para os portões da Academia Hongwen, esperando incitar conflito.

Mas o resultado foi justamente o oposto do que pretendiam?

O objetivo deles era fomentar animosidade entre estudiosos pobres e o clã imperial — não elevar o Príncipe Chen e seus escudeiros na opinião dos intelectuais!

— Não consigo entender por que aqueles vândalos de repente decidiram doar material de escrita para a Academia Hongwen — resmungou um chefe de clã, lançando olhares para os demais. — Será que tudo isso foi um plano orquestrado pelo Príncipe Chen e seus seguidores?

— Você está sugerindo... que há um traidor entre nós? — outro franziu a testa. — Somos confidentes há anos. Quem entre nós trairia os demais?

Ele confiava nos presentes — mas a coincidência dos acontecimentos o fez pensar se Príncipe Chen não teria ajuda divina.


— Irmão Du, o que acha disso? — Ele se voltou para Du Qingke, que estava sentado silenciosamente em um canto. — Será que ele realmente tem os deuses ao seu lado?

— Você armou essa situação. Por que me perguntar? — Du Qingke zombou, com o cabelo longo solto e os trajes desleixados. — Talvez ele realmente tenha ajuda divina.

— Irmão Du está brincando. Se ele realmente tivesse essa ajuda, não seria apenas um príncipe — o chefe do clã balançou a cabeça. — O imperador fez da Senhora Su sua imperatriz, mas não nomeou o Príncipe Chen como herdeiro aparente — claramente, está insatisfeito com ele.

Antes da queda do Quarto Príncipe, muitos oficiais o apoiavam, mas suas petições desapareceram sem deixar rastro.

Depois que a Senhora Su foi nomeada imperatriz, alguns oficiais apressaram-se em bajulá-la, pedindo a elevação do Príncipe Chen a príncipe herdeiro — mas essas petições também afundaram sem qualquer consequência.

Du Qingke sorriu levemente. A relutância do Imperador Longfeng não era por insatisfação com o Príncipe Chen, mas pelo apego natural de um governante ao poder — e seu ciúme de um filho em plena força.

Quanto mais poder alguém tem, mais teme o envelhecimento.

Essa é a natureza humana.

— Irmão Du, depois deste incidente, nenhum patife vai ousar causar problemas na Academia Hongwen. O que mais podemos fazer?

— O que podemos fazer? — Du Qingke suspirou. — Sou apenas um homem inútil que se entrega a vinho e mulheres. Vocês que precisam descobrir.

— Irmão Du, Irmão Du — vendo que ele ia se levantar, os outros o impediram rapidamente. — Combinamos de trocar ideias juntos — como pode ir embora agora?

— Se vocês insistem que o Príncipe Chen tem ajuda divina, por que se preocupar em conspirar contra ele? — Du Qingke sacudiu a manga. — Por que não aceitam a realidade logo e abandonam esses sonhos de restaurar as famílias nobres?

— Estávamos só brincando antes, Irmão Du. Não leve a sério. — Essas famílias aristocráticas decadentes, exceto a Família Du, que ainda mantinha alguma influência na capital, agarravam-se apenas à ilusão do prestígio, com pouca força real na corte.

— Li En, os três irmãos Ming e mais da metade dos oficiais dos Seis Ministérios — nenhum deles veio de casas nobres proeminentes. Especialmente a Família Ming, cujas três primeiras colocações no exame imperial roubaram muito do brilho da Família Sun.

Du Qingke riu.

— A Família Sun ainda é uma nobre poderosa. Por que não tentam conquistá-los?

— Isso... — os chefes das famílias trocaram olhares desconfortáveis, sem confiança para persuadir a Família Sun.

A Família Sun sempre teve influência na corte e até casou uma filha com o clã imperial. Era improvável que se juntassem à causa deles.

— Se até a Família Sun está fora do alcance de vocês, como esperam reviver a aristocracia? — Du Qingke os encarou como se fossem crianças contando piadas. — Senhores, reflitam com calma. Eu vou me retirar primeiro.

— Du Qingke é arrogante demais!

— Suportem. Sem ele, nossas famílias nobres estariam em situação ainda pior.

Os demais ficaram em silêncio. Mas mesmo com ele, as coisas realmente melhorariam?

— Tenho outra ideia. — Um dos chefes das famílias, que desconfiava de um traidor entre eles, de repente animou-se. — Se não podemos agir contra a Academia Hongwen, há dois outros lugares que ninguém presta atenção.

— Quais?

— O orfanato e o abrigo de socorro. — Ele abaixou a voz. — O orfanato está cheio de crianças abandonadas, muitas com deficiências físicas. Se os oficiais lá forem flagrados maltratando-as, não causaria revolta pública?

— Isso não vai funcionar. — Outro chefe balançou a cabeça. — Desde que Sua Majestade subiu ao trono, ele destina fundos generosos anualmente para orfanatos nas províncias. Os supervisores são trocados a cada poucos anos, e as inspeções são frequentes — não há chance de maus-tratos.

— Mesmo que não haja, podemos fazer acontecer. — Ele esfregou os dedos com significado. — Dinheiro até faz fantasmas moerem trigo, não é?

Nas horas sonolentas da tarde, Jiuzhu caminhava em direção ao Palácio da Lua Brilhante, carregando pequenas bugigangas que comprara fora do palácio.

O palácio era vasto e silencioso. Incontáveis donzelas e eunucos se afastavam para curvar-se ao passar, com os olhos cheios de respeito... e medo.

Isso a fez lembrar da criada que um dia desmaiou sob uma árvore, espancada pela senhora. Alguns dias atrás, a vira novamente, agora servindo Sun Caiyao — provavelmente vivendo uma vida melhor.

— Princesa Consorte Chen. — Um grupo de mulheres se aproximou e fez uma reverência.

— Consorte Lü, Consorte Wei. — Jiuzhu as reconheceu e retribuiu a saudação de uma júnior. Eram as mães biológicas do Príncipe An e do Príncipe Jing. Consorte Wei, embora simples na aparência, parecia ainda mais apagada ao lado de Consorte Lü.

— Vocês também vão ao Palácio da Lua Brilhante prestar respeito à Sua Majestade? — Consorte Lü sorriu, com uma leve semelhança com o Príncipe An. — Se a Princesa Consorte não se importar, podemos ir juntas.

— Depois de vocês, honradas consortes.

— Não nos atrevemos. — Consorte Wei recuou um passo. — A Princesa Consorte deve ir na frente.

Príncipe Chen era filho da Imperatriz e, embora ainda não fosse o príncipe herdeiro nomeado, seu status ultrapassava o das concubinas imperiais.

A princesa consorte compartilhava o mesmo posto do marido. Se ousassem andar à frente de Ming Jiuzhu, o Palácio da Lua Brilhante certamente se ofenderia.

— Não precisamos ser tão formais — disse Consorte Lü, caminhando ao lado de Jiuzhu. — Consorte Wei sempre foi rígida com as regras. A Princesa Consorte não precisa se importar com ela.

Jiuzhu olhou para Consorte Wei, que mantinha a cabeça baixa e os ombros levemente curvados, deliberadamente meio passo atrás. Não era à toa que o Príncipe Jing e a Princesa Consorte Jing eram tão reservados — puxavam a ela.

— Será por isso que o Imperador Longfeng deu o título “Jing” (Tranquilo) ao Terceiro Príncipe?

Capítulo 84 — Esperança

Jiuzhu percebeu rapidamente que Consorte Lü estava tentando agradar de forma deliberada, mas seu jeito era tão sutil que não soava desagradável. Isso lembrou Jiuzhu da Princesa An — calorosa, porém comedida, deixando a pessoa tanto contente quanto tranquila.

O que ela não esperava era encontrar Consorte Xu, mãe biológica do Príncipe Huai, justamente quando se aproximavam do Palácio da Lua Brilhante.

Consorte Xu parecia pálida e frágil, apoiada por duas criadas do palácio enquanto caminhava.

— Alteza, por que não está usando uma liteira? — Consorte Lü, sempre direta, perguntou sem rodeios. — Andar assim só vai cansá-la ainda mais.

— Vim prestar respeito à Sua Majestade, como poderia aparecer em liteira? Não pareceria falso? — Consorte Xu cobriu a boca com um lenço, tossiu levemente e fez uma pequena reverência para Jiuzhu.

Jiuzhu retribuiu o gesto.

— Consorte Xu, Sua Majestade é generosa e compreensiva. Mesmo que a senhora chegasse em liteira, ela não a repreenderia. Mas se desmaiar de exaustão no caminho, não só o Imperador e a Imperatriz se preocupariam, como os outros poderiam até suspeitar que Sua Majestade maltrata as consortes imperiais.

A tosse de Consorte Xu cessou abruptamente. O ar ficou levemente constrangedor.

— A Princesa está certa. Esta concubina não havia pensado nisso.

Consorte Lü e Consorte Wei ficaram em silêncio, relembrando a terrível lembrança de quando Jiuzhu as ensinara a oferecer incenso ao céu enquanto copiavam os sutras.

A Princesa Chen era uma lâmina afiada ao lado da Imperatriz Su Meidai — precisa e dolorosa quando atacava.

Elas já a temiam antes mesmo de ela se casar com o Príncipe Chen.

Era apenas azar delas que, enquanto copiavam os sutras, a Imperatriz, compadecida da saúde delicada de Jiuzhu, não a convocara para participar. Assim, nunca tinham entendido completamente a habilidade verbal da Princesa.

Olhando para o sorriso rígido de Consorte Xu, Consorte Lü desviou o olhar discretamente. A vida no palácio era longa — Consorte Xu acabaria entendendo com o tempo.

— Irmã mais velha Chunfen, por favor, vá ao palácio de Sua Majestade e peça à tia Xiangjuan que providencie uma liteira para Consorte Xu ir ao Palácio da Lua Brilhante. — O coração de Jiuzhu apertou por aquela beleza tão delicada.

— N-não precisa—

— Precisa. — Jiuzhu firmou o apoio em Consorte Xu. — Alteza, a senhora é frágil demais para se esforçar assim. E não se preocupe com uma bronca de Sua Majestade — ela tem a alma mais gentil e jamais guardaria mágoa.

Consorte Xu: "..."

Claro que sabia que Su Meidai não se importaria. Mas, depois de todo o caminho a pé desde o Palácio Zhaoxiang, ser carregada o resto do percurso numa liteira do Palácio da Lua Brilhante não seria um desperdício de esforço?

— Alteza, não precisa se comover tanto. Sua Majestade é realmente bondosa. — Jiuzhu sorriu, interpretando o silêncio de Consorte Xu como agradecimento. — Não se preocupe, quando voltar, Sua Majestade providenciará uma liteira para a senhora também.

— Com certeza, Consorte Xu. — Vendo a oportunidade de agradar a Princesa Chen, Consorte Lü entrou na conversa animada. — Sua Majestade sempre foi compassiva e gentil. Se a senhora insistir em andar, ela ficará com o coração partido.

Consorte Xu viu os eunucos se apressarem com a liteira, percebendo que recusar era inútil. Forçando um sorriso apesar da doença que ainda sentia, disse:

— Agradeço muito a consideração de Sua Majestade e da Princesa Chen.

Jiuzhu admirou o sorriso de Consorte Xu, pensando consigo mesma como uma beleza doente ficava linda ao sorrir.

Ajudar uma beleza assim — mais um dia de boas ações e alegria.

— Hahaha! — A Imperatriz Su, sentada em seu trono de fênix, segurava a barriga de tanto rir. — Me diga, quando uma beleza resistente como Consorte Xu encontra Jiuzhu, ela não fica tão furiosa que suas doenças desaparecem?

— Vossa Majestade — Xiangjuan ajeitou a maquiagem da Imperatriz — a Princesa deixou claro que foi a bondade de Vossa Majestade que mandou a liteira.

— Certo, certo — Su Meidai quase chorava de rir. — Quando Consorte Xu chegar, preciso ver bem seu rosto — pra ver se está mais rosado que o normal.

Acontece que a pele de Consorte Xu estava mesmo mais rosada — só que era de raiva, não de saúde.

Atrasada pela liteira do Palácio da Lua Brilhante, chegou depois das outras consortes. Os olhares invejosos lançados para ela quando saiu da liteira soavam mais azedos que limão no pé.

O que Consorte Xu poderia dizer? Admitir na frente de todos que a Princesa Chen a obrigou?

Quem diria que a jovem Ming Jiuzhu já dominava a arte de matar com gentileza!

Notando o olhar disfarçado de Consorte Xu, Jiuzhu sorriu e assentiu.

Ela sabia que a outra devia estar agradecendo, mas favores tão pequenos não valiam menção.

Enquanto isso, no salão principal do Palácio Taiyang, os oficiais dos Seis Ministérios discutiam acaloradamente o decreto de anistia.

Alguns defendiam a redução de impostos, outros a libertação de presos. Mas por baixo, o que realmente queriam era um exame imperial extra.

Toda família tinha filhos ou sobrinhos estudando para os exames — mais uma rodada significava mais uma chance de sucesso.

Mas justamente por isso, ninguém ousava falar abertamente.

Os que discutiam sabiam; os que ficavam calados sabiam. Todos esperavam que outro tomasse a iniciativa.

— Vossa Majestade, este humilde oficial acredita que todos os ministros têm pontos válidos. — Ming Jingzhou deu um passo à frente. — Mas proponho uma outra forma de graça imperial.

Lá vem.

Os oficiais pararam de discutir, olhando Ming Jingzhou com expectativa. Diga, diga agora.

— Oh? — O Imperador Longfeng levantou o olhar. — Qual a sugestão do ministro Ming?

O salão ficou tão silencioso que se podia ouvir uma agulha cair.

— Este oficial ousa solicitar a Vossa Majestade que abra um exame imperial extra para reunir talentos de todo o país. — Ming Jingzhou fez uma profunda reverência. — Mais oficiais capazes só beneficiariam o Grande Cheng.

O Imperador Longfeng franziu o cenho, parecendo descontente. Virou-se para os outros.

— E vocês, ministros, o que dizem?

Falava agora com os que tinham discutido momentos antes.

— Vossa Majestade, este oficial acredita... que a proposta do ministro Ming tem mérito.

— Este oficial concorda.

— Mas antes vocês defendiam redução de impostos ou perdão de presos? — O Imperador balançou a cabeça. — Embora o ministro Ming tenha boas intenções, já estamos no segundo mês. Pedir aos estudiosos que corram para a capital para um exame seria exaustivo demais. Este Imperador considera inadequado.

Os oficiais: "..."

Inadequado como?

Se o tribunal realmente abrisse outro exame, os estudiosos rastejariam até a capital se preciso fosse.

Décadas de estudo exaustivo — não era tudo para servir à família imperial?

O que era cansaço diante disso? Que estudioso reclamaria de uma oportunidade a mais?

— Vossa Majestade, este oficial acha que—

— Basta. — O Imperador Longfeng interrompeu Ming Jingzhou. — Ministro Ming pode propor outra ideia.

O coração dos oficiais dos Seis Ministérios afundou. O exame extra parecia agora impossível.

— Vossa Majestade, o Príncipe Chen solicita audiência.

O Imperador lançou um olhar aos ministros. — Admitam-no.

— Vosso filho presta respeito ao Imperador Pai. — O Príncipe Chen entrou no salão com suas vestes reais, observando os oficiais reunidos. — Os ministros também estão aqui?

Os oficiais pensaram nas petições com caligrafia suspeitamente parecida com a do príncipe, com expressões complicadas.

— Seus subordinados saúdam Vossa Alteza.

— Não precisam de formalidades. — Percebendo a tensão no ar, o Príncipe Chen perguntou: — Sobre o que o Imperador Pai e os ministros discutem?

— Chegou no momento certo. Estávamos justamente debatendo o assunto das anistias imperiais com os ministros. Sendo você sangue da Imperatriz e meu, o que acha que deveria ser concedido como um ato de clemência? — O Imperador Longfeng tomou um gole de chá, o olhar percorrendo brevemente as expressões dos oficiais antes de pousar no filho, com um leve sorriso.

— Se é um ato de clemência, deve beneficiar sem dúvida o nosso Grande Cheng acima de tudo. — O Príncipe Chen ponderou por um instante antes de sugerir: — E se realizássemos um exame imperial adicional, Pai?

Os ministros suspiraram aliviados por dentro, torcendo silenciosamente por ele.

Sua Alteza, invoque sua teimosia habitual e mantenha firme essa proposta. As esperanças dos estudiosos do reino repousam em você.

— Um exame imperial adicional? — O Imperador Longfeng franziu levemente a testa. — Por que esse método? Lembro que você não era muito afeito a estudar na juventude.

— Pai, justamente por conhecer o quão árduo é estudar, entendo as dificuldades que os oficiais que passaram nos exames imperiais enfrentaram. — O Príncipe Chen fez uma reverência respeitosa. — Nos anos anteriores, quando os resultados eram anunciados, vi estudiosos — homens de espírito inquebrantável — ora chorando em desespero, ora em júbilo. Suas emoções eram profundamente complexas.

Os oficiais civis trocaram olhares: Então o Príncipe Chen considera os estudiosos inquebrantáveis?

Embora Sua Alteza possa ser arrogante e dominador às vezes, seu julgamento não está totalmente errado.

— Ao realizar um exame adicional, damos a eles outra chance de mostrar seus talentos — continuou o Príncipe Chen. — Afinal, nunca conseguiria suportar a mesma dedicação implacável aos estudos como eles tiveram.

Os oficiais acharam a sinceridade do Príncipe Chen até cativante.

— Presumi que sua aversão aos estudos vinha de desprezo pelos estudiosos, e não da dificuldade em estudar. — A voz do Imperador Longfeng tornou-se severa. — Olhe para esses oficiais ao seu redor — cada um suportou anos de esforço, dominando os clássicos. Como ousa estar diante deles e dizer que estudar é cansativo e exaustivo?!

— Vossa Majestade, por favor, acalme sua ira! — Um ministro avançou. — Sua Alteza é jovem e impulsivo, mas tem coração íntegro e fala o que pensa. Mesmo que tenha pequenas falhas, elas não ofuscam suas virtudes.

Esse mesmo ministro já havia repreendido o Príncipe Chen por gastar fortunas em lutas de grilos e galos há apenas meio ano. Agora o elogiava como “sem falhas apesar de imperfeições menores”.

— Vossa Majestade, embora Sua Alteza não ame os estudos, suas palavras e conduta superam as de muitos outros. Por favor, não o julgue severamente.

— Vossa Majestade, o Príncipe Chen doou milhares de taéis de prata para a Academia Hongwen. Tal sinceridade nos comove profundamente.

— Basta. — Sob a persuasão coletiva dos ministros, o Imperador Longfeng reprimiu a ira. — Pelo bem desses oficiais, deixarei passar hoje.

— Pai, isso significa que concorda em realizar um exame adicional?

— O que o exame tem a ver com eu poupar você? — O Imperador riu, exasperado. — Você, que nunca levou os estudos a sério, tem a audácia de propor um exame imperial?

— Tudo bem, eu aceito. — O Imperador, incapaz de negar completamente o filho, impôs uma condição impossível. — Se conseguir decorar todo o Livro de Agricultura em cinco dias, concederei seu pedido.

O livro era grosso como um tijolo, cheio de conhecimento agrícola.

Os oficiais civis desesperaram — o Imperador claramente não pretendia aprovar, por isso fez uma exigência absurda.

— Muito bem. — O Príncipe Chen fez uma reverência. — Com estes ministros como testemunhas, recitarei o Livro de Agricultura inteiro em cinco dias.

Os oficiais discretamente alisaram as mangas, pensando se poderiam bolar algum truque de memorização para ajudar o príncipe.

— Basta, podem se retirar. — O Imperador Longfeng acenou dispensando. — Em cinco dias, convocarei estes ministros para testemunhar sua recitação.

Quando os oficiais dos Seis Ministérios e o Príncipe Chen saíram do Palácio Taiyang, os ministros não o viam mais apenas como um príncipe — ele agora era a esperança de todos os jovens estudiosos do Grande Cheng.

— Tia Xiangjuan. — Jiuzhu avistou o Príncipe Chen cercado por oficiais com olhares ardentes. Preocupada, perguntou: — O que esses ministros pretendem fazer com Sua Alteza?

Levantando as saias, apressou-se em direção a ele.

Quando se aproximou, ouviu um ministro dizer:

— Vossa Alteza, este velho servidor tem uma receita caseira para melhorar a memória e aguçar a mente. Gostaria de experimentar?


Capítulo   85 Flor Encantada


As passadas de Jiuzhu pararam abruptamente. Tônico para turbinar o cérebro?

Quando o som de passos se aproximou, o primeiro pensamento do Príncipe Chen foi que devia ser Jiuzhu. Ele virou a cabeça e logo abriu um sorriso. — Sabia que era você. — Lançou um olhar para Xiangjuan, que vinha atrás dela. — Saindo do palácio da Imperatriz Su?

— Sua Majestade disse que o Palácio da Lua Brilhante está lotado e barulhento agora, e ela temia que eu me sentisse sufocada, então me mandou dar uma volta — respondeu Jiuzhu. Ela suspeitava que a Imperatriz Su apenas arrumou uma desculpa para afastá-la, com medo que ela percebesse as indiretas e sutilezas excessivas com que as consortes imperiais falavam.

— Vossa Alteza. — Os outros oficiais se curvaram em saudação ao ver Jiuzhu.

— Não queria atrapalhar, senhores. Por favor, me perdoem a intromissão. — Jiuzhu retribuiu a cortesia com uma leve reverência e piscou para Ming Jingzhou. — Pai, já que estão discutindo assuntos oficiais, vou me retirar.

— Não há necessidade de ir embora, Vossa Alteza. Estamos apenas trocando algumas palavras, não debatendo assuntos do estado — interveio um oficial. — Contudo, Sua Alteza, o Príncipe Chen, pode ter um período ocupado pela frente. Por favor, cuide bem dele.

— Oh? — Jiuzhu olhou para o Príncipe Chen com uma expressão interrogativa antes de se voltar para Ming Jingzhou. — Pai, o que aconteceu?

— Sua Majestade prometeu que, se Sua Alteza conseguir recitar Os Registros de Agricultura e Sericultura em cinco dias, permitirá uma sessão adicional do exame imperial — respondeu Ming Jingzhou após uma pausa. — Enquanto estiver no palácio, cuide de preparar para ele uma sopa de cabeça de peixe, para nutrir.

Jiuzhu não pôde deixar de comentar: — Talvez Sua Majestade nem tenha pretendido aprovar esse exame adicional desde o começo.

Os oficiais trocaram olhares.

Que coincidência — eles compartilhavam a mesma suspeita.

— Pai, li uma vez que peixes têm memória de apenas alguns segundos — ponderou Jiuzhu. — Você tem certeza de que sopa de cabeça de peixe pode aumentar a inteligência?

— Sopa de pombo seria melhor. Pombos conseguem voltar para casa atravessando milhares de quilômetros, o que prova sua memória excelente — sugeriu outro oficial. — Acrescente algumas bagas de goji e ginseng — nutritivo para o corpo, revigorante para o qi e que aguça a mente. É esse o caminho.

— Senhores, talvez Sua Alteza deva voltar aos estudos agora? — interrompeu Ming Jingzhou, preocupado que pudessem arrastar Jiuzhu para um debate prolongado sobre a preparação da sopa de pombo. — Se quiserem, posso passar os próximos dias explicando o texto para Sua Alteza.

— Agradecemos a ajuda, Senhor Ming. — Eles se voltaram para o Príncipe Chen. — Vossa Alteza, o senhor também deveria retornar ao Palácio Kirin.

Volte logo e decore esse livro!

— Adeus. — Príncipe Chen pegou na mão de Jiuzhu e a conduziu para longe. Ming Jingzhou não os seguiu; em vez disso, juntou as mãos em sinal de despedida. — Eu também me retiro.

Os oficiais se aglomeraram, cochichando. — Vocês acham que tudo isso é só uma encenação entre Sua Majestade e o Príncipe Chen?

— Eu suspeitava o mesmo, até Sua Majestade exigir que o Príncipe Chen recitasse Os Registros de Agricultura e Sericultura em cinco dias. Aí percebi que não era fingimento.

— Como assim?

— Estamos falando do Príncipe Chen — aquele que nunca se importou com estudos. Já dei aulas para príncipes imperiais, e até o Clássico dos Mil Caracteres era um esforço enorme para ele. — O oficial bateu a manga. — Além disso, considerando o quanto Sua Majestade favorece o Príncipe Chen, por que ele precisaria fingir para nós? Que propósito isso teria?

— Verdade. — Eles assentiram, mas franziram ainda mais a testa. — Mas isso torna a situação ainda mais problemática.

— Como assim?

— Se o Príncipe Chen não se deu ao trabalho com o Clássico dos Mil Caracteres, como vai decorar Os Registros de Agricultura e Sericultura?

— Vamos ser sinceros — algum de vocês conseguiria?

— Vossa Alteza. — Jiuzhu puxou a manga do Príncipe Chen, olhando ao redor para ter certeza de que os oficiais não estavam perto, antes de sussurrar: — Você vai mesmo decorar Os Registros de Agricultura e Sericultura?

— A palavra de um cavalheiro vale mil peças de ouro. Fiz uma promessa na frente de todos esses oficiais — disse o Príncipe Chen, completamente à vontade, como se a tarefa fosse a coisa mais distante da sua mente. — Vamos jantar com Sua Majestade esta noite?

— Mas... e se... você não conseguir decorar? — Jiuzhu perguntou, com a voz mais baixinha possível.

— Tsc. — Príncipe Chen cutucou sua testa com um dedo. — Tão pouca fé no seu marido?

— Vossa Alteza. — Jiuzhu esfregou a testa. — Você tem cutucado minha testa demais ultimamente.

— Doeu? — Ele puxou a mão dela e sorriu. — Olhe para essa testa — lisa, redonda, impecável. Muito bonita, na verdade.

Com isso, ele segurou o rosto dela, se inclinou e plantou um beijo suave bem onde havia acabado de cutucá-la. Assentindo satisfeito, acrescentou: — Tão perfumada e macia. Realmente, uma testa excelente.

— Vossa Alteza, meu mestre usava o mesmo tom ao escolher melões — Jiuzhu resmungou, levantando a saia e andando à frente.

— Espere, não vá. — Príncipe Chen envolveu a cintura dela com o braço e a puxou para perto. — Que melão poderia se comparar a essa sua cabecinha adorável?

— Hmph! — Jiuzhu virou o rosto.

— Porquinho Ming, não pude deixar de notar... — Príncipe Chen inclinou a cabeça. — Desde que nos casamos, você tem sido bem menos gentil comigo.

— Tenho? — Jiuzhu negou prontamente. — Nada disso.

— Ah, o destino dos homens — admirados como flores antes do casamento, tratados como tofu estragado depois. — Ele suspirou dramaticamente. — Não só sou tofu estragado aos olhos da minha esposa, como ela ainda duvida do meu— mmph!

Jiuzhu bateu a mão sobre a boca dele. — Vossa Alteza, Xiangjuan está bem aqui. Comporte-se.

— Não dê atenção a esta serva, Vossas Altezas. — Xiangjuan cobriu os olhos, rindo. — Não vejo nem ouço nada.

— Em cinco dias, vocês verão o quão brilhante seu marido realmente é. — Príncipe Chen puxou a mão de Jiuzhu e beijou sua palma. — Agora, vamos jantar com Sua Majestade.

Enquanto Príncipe Chen seguia à frente, Jiuzhu apressou-se atrás dele. Mas antes que pudesse dar dois passos, ele se virou, a pegou no colo e a carregou adiante.

— Só consigo comer em paz quando minha esposa está segura em meus braços — murmurou, rindo enquanto as donzelas e eunucos desviavam o olhar, sem ousar assistir à demonstração de afeto do casal real.

Xiangjuan e Chunfen trocaram um olhar e sorriram.

Enquanto isso, as consortes imperiais saíam do Palácio da Lua Brilhante após prestarem suas homenagens à Imperatriz Su.

— Quem ousa rir e brincar tão barulhentamente do lado de fora do Palácio da Lua Brilhante? — a Consorte Zhang, mãe da Princesa Roude, franziu o cenho, só para logo suavizar a expressão tão rápido que quase torceu os traços.

— O Príncipe Chen e sua esposa parecem muito felizes juntos — comentou a Consorte Lü, olhando para Consorte Zhang. — Não acha?

— S-sim, claro. — Consorte Zhang amaldiçoou sua língua ágil. Enquanto outros não ousavam fazer barulho perto do Palácio da Lua Brilhante, o Príncipe Chen era filho da Imperatriz Su — naturalmente, as regras não valiam para ele.

Ela os observava caminhar de mãos dadas para dentro do palácio. Jiuzhu disse algo que fez Príncipe Chen segurar seu rosto e apertar suas bochechas com brincadeira, provocando-a a correr atrás dele.

A chefe das criadas do Palácio da Lua Brilhante os seguia, assistindo às suas travessuras não com desaprovação, mas com um sorriso sereno.

Parecia que a Imperatriz Su estava completamente satisfeita com a nora.

O humor da Consorte Zhang azedou ao lembrar como sua filha havia ido à família Ming para implorar pela família do genro, apenas para ser gentilmente rejeitada por Jiuzhu.

Sua filha ainda não podia voltar para a mansão da princesa, e a família do genro permanecia sob rigorosa vigilância dos guardas imperiais pelo suposto envolvimento na tentativa de assassinato ao Quarto Príncipe.

Para uma princesa real se rebaixar a implorar por ajuda à filha de um ministro — que absurdo.

Se não fosse pelo apoio da Imperatriz Su e do Príncipe Chen, o que Ming Jiuzhu seria?

Naquele exato momento, ela notou Jiuzhu erguer a cabeça de repente, olhando diretamente para ela. Sob o olhar daqueles olhos claros, em preto e branco, Consorte Zhang sentiu uma pontada de culpa e recuou um passo.

O que há com essa Jiuzhu? O olhar dela é assustador.

— O que está olhando? — Príncipe Chen, vendo que Jiuzhu parou de persegui-lo, se virou.

— Peguei você! — No instante em que ele se aproximou, Jiuzhu agarrou sua manga, sorrindo. — Vossa Alteza, isso não conta como "atrair o inimigo para uma armadilha"?

— Isso é mais como "Jiang Taigong pescando — o peixe vem até a isca". — Príncipe Chen suspirou. — Seu anzol não tinha isca, mas este príncipe ainda mordeu.

Ele olhou para as consortes que estavam nos degraus e estalou a língua. — Estava olhando para elas?



— Sim. — Jiuzhu soltou a manga dele e alisou as rugas. — Uma das consortes estava me olhando estranho.

— Não dê atenção a elas. — Príncipe Chen pegou a mão dela e a conduziu adiante.

— Vossa Alteza, Príncipe Chen. — As consortes se abriram, desobstruindo os degraus para ele.

— Hmm. — Príncipe Chen deu uma leve inclinação de cabeça, seu olhar varrendo a Consorte Zhang. Seria ela aquela que o Porquinho Ming estava encarando?

Consorte Zhang encolheu-se sob seu escrutínio, abaixando ainda mais a cabeça.

Príncipe Chen havia humilhado sua filha no banquete — ele poderia facilmente negar sua dignidade ali mesmo.

Felizmente, ele apenas lançou um olhar indiferente e nada disse, escoltando a Princesa Consorte para o salão principal do Palácio da Lua Brilhante.

— Suas Senhorias, cuidem-se. — Xiangjuan ficou ao pé dos degraus, fazendo uma reverência. — Esta humilde criada se despede.

As consortes despertaram do transe, rapidamente colando sorrisos enquanto se afastavam apressadas.

— Consorte Zhang. — Xiangjuan a chamou.

Consorte Zhang ficou rígida, virando-se com um sorriso forçado. — Tia Xiangjuan, precisa de algo mais?

— Você deixou cair seu sachê. — Xiangjuan pegou e o entregou com as duas mãos. — Da próxima vez, tenha mais cuidado.

— Obrigada. — Consorte Zhang agarrou o sachê e fugiu.

Xiangjuan observou sua retirada atrapalhada antes de voltar para a ala lateral. Tirou da manga um sachê idêntico, cortou-o com uma tesoura e abanou levemente o conteúdo. Sentindo o aroma medicinal, seu rosto escureceu. — Este sachê está realmente contaminado.

— Guarde o sachê e seu conteúdo. Preciso informar Sua Majestade. — Ela entrou no salão principal, encontrando apenas o príncipe e a princesa lá dentro, e falou direto. — Vossa Majestade, o sachê da Consorte Zhang é suspeito.

A Imperatriz Su, que conversava com Jiuzhu, deixou o sorriso desaparecer um pouco. — Explique.

— Graças à atenção da Princesa Consorte, esta serva notou algo errado.

— Eu? — Jiuzhu piscou. — Quando foi que eu disse alguma coisa?

— Lembra do que mencionou quando esta serva a acompanhou para fora mais cedo?

Jiuzhu pensou por um momento. — Eu disse... que havia um cheiro estranho, como de datura.

— Exato — datura. — Xiangjuan assentiu. — Ao cortar o sachê da Consorte Zhang, encontrei não só datura, mas outras substâncias não identificadas. Infelizmente, meu conhecimento em medicina é limitado e não posso identificá-las todas.

— O sachê da Consorte Zhang foi emitido pelo Departamento de Administração do Palácio, idêntico em tecido e design aos distribuídos a todas as consortes. Mesmo que fosse trocado, seria quase impossível detectar. — A Imperatriz Su arqueou uma sobrancelha. — Informe ao Imperador, convoque um médico especialista em farmacologia e—

— Traga também a Consorte Zhang. — Ela tomou um gole de chá. — Este palácio suspeita que ela possui mais de um sachê envenenado.

Jiuzhu franziu a testa. — Por que alguém miraria na Consorte Zhang?

— Eles não estão mirando nela — ela encontrou o olhar de Jiuzhu. — Estão mirando em você. Consorte Zhang é mesquinha e muito protetora de seu filho. Desde que você ofendeu a Princesa Roude, era só questão de tempo até que se chocassem.

— Essas drogas são letais. Se ela morresse misteriosamente após uma confrontação com você, a principal suspeita seria você. — Os olhos da Imperatriz Su ficaram frios. — Se essa trama desse certo, não só teríamos problemas, como o Quarto Príncipe também seria implicado.

— Por causa de meu pai ter denunciado os crimes da mãe biológica do Quarto Príncipe e da família Zheng? — Jiuzhu arregalou os olhos em compreensão. — Então eles achariam que o Quarto Príncipe orquestrou isso para se vingar?

— Que pessoas tão abomináveis.

Príncipe Chen se virou para ela, impressionado. Para desvendar toda a trama tão rápido e ainda deduzir as motivações por trás — essa pequena tinha uma mente afiada.

— Mãe Imperatriz. — Jiuzhu animou-se. — Acho que deveríamos convidar não só a Consorte Zhang, mas também o Quarto Príncipe. Quanto mais gente, melhor.

Ah, “quanto mais gente, melhor” — forçar o Quarto Príncipe a provar sua inocência.

— Porquinho Ming, quem diria que você tem tanta malícia? — Príncipe Chen apertou a bochecha macia dela. — Mas este príncipe aprova.

— Vossa Alteza, eu apenas desejo garantir que nenhum outro príncipe acuse Sua Majestade de parcialidade — disse Jiuzhu solenemente. — Como mãe biológica de todos os príncipes, não é dever de uma mãe fazer justiça por seus filhos?

— Exatamente. Jiuzhu fala com sabedoria. — A Imperatriz Su sorriu. — Chame a Consorte Zhang e o Quarto Príncipe imediatamente.

— Consorte Zhang, pare. — No meio do caminho, um eunuco do Palácio da Lua Brilhante a interceptou. — Sua Majestade ordena seu retorno imediato.

As consortes que a acompanhavam recuaram, desesperadas para não serem arrastadas junto.

— Eunuco, posso saber por que Sua Majestade me chama de volta? — O sorriso da Consorte Zhang havia desaparecido há muito.

— Esta serva não sabe. Você saberá ao chegar.

Consorte Zhang quase chorou. A última pessoa que a Imperatriz Su convocara em particular fora Zheng Lanyin — agora havia grama sobre seu túmulo.

Suas pernas tremeram. — Esta consorte... obedece de imediato.

Olhando para suas supostas irmãs, viu cada uma mantendo distância segura, aterrorizadas de se associar.

Pfah! Laços de afeto e lealdade? Tudo mentira.

Mais confuso ainda ficou Yun Yanze. A Imperatriz Su, muito favorecida no harém, raramente convocava príncipes ou princesas ao Palácio da Lua Brilhante, mantendo distância cortês. Por que enviar seu eunuco chefe por ele hoje?

— Vossa Alteza. — Sun Caiyao falou. — Acompanharei você.

Com a Imperatriz Su sendo mulher, não seria apropriado que ele fosse sozinho.

O eunuco chefe não se opôs, curvando-se enquanto gesticulava: — Quarto Príncipe, Princesa Consorte do Quarto Príncipe, sigam esta serva.

Quando o casal alcançou a entrada do salão principal, uma voz estridente cortou o ar.

— Vossa Majestade, isso não tem nada a ver comigo! Eu não sei de nada!

O rosto de Sun Caiyao empalideceu. Algo tinha dado muito errado.


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