Capítulo 81
Yang Yufen voltou para casa e viu que não havia roupas penduradas no varal de bambu. Ficou bastante satisfeita — ao menos alguém teve o bom senso de recolher depois que secaram.
No entanto, ao entrar na casa, não viu ninguém. Chamou uma vez, mas não teve resposta. Decidiu então preparar o jantar primeiro e, ao abrir a cozinha, descobriu que não só o arroz já tinha sido cozido, como uma das galinhas penduradas na viga havia sido abatida e estava no fogão. Também havia uma tigela de vegetais secos no vapor com pasta de feijão.
O médico tinha sido claro ao dizer para não comer esse tipo de coisa, mas alguém não resistiu.
Yang Yufen ficou ao mesmo tempo divertida e irritada. Ela só tinha mencionado que não estaria em casa para o almoço, e agora alguém já tinha cozinhado por conta própria. Não acreditava nem por um segundo que essa pessoa não tivesse provado.
Na porta do orfanato, Shen Xianjun, sentindo-se um pouco culpado depois de cozinhar, decidiu ir buscar as crianças. Era também uma boa oportunidade para conhecer o ambiente escolar delas.
Coincidentemente, uma das professoras estava no pátio contando histórias para as crianças sobre a resistência clandestina durante a guerra. Os pequenos escutavam com atenção, e Shen Xianjun acabou ficando igualmente absorto.
Qin Nian chegou do trabalho de bicicleta e viu Shen Xianjun parado ereto junto ao muro.
— O que está fazendo aqui? Eu posso buscar as crianças depois do trabalho.
Qin Nian falou, chamando sua atenção.
— Não tinha nada pra fazer em casa. Já saiu do trabalho?
Shen Xianjun respondeu, então percebeu Qin Nian levantando o pulso para mostrar o relógio.
Ao ver os ponteiros marcando seis horas, Shen Xianjun coçou o nariz. Será que ficou ali ouvindo por tanto tempo assim?
— Mamãe!
As vozes animadas das duas crianças ecoaram. Shen Xianjun se virou e viu todos os pequenos do orfanato saindo em disparada.
— Papai!
Dabao, que tentava subir sozinho na bicicleta, de repente sentiu-se sendo erguido. Assim que se acomodou, virou-se e viu Shen Xianjun, gritando animado.
Erbao também foi pego e colocado no selim.
— Pronto, fiquem firmes.
Shen Xianjun respondeu às crianças e então pegou a bicicleta das mãos de Qin Nian.
— Seu machucado...
Qin Nian olhou preocupada.
— Tá tudo bem.
— Esse é meu papai!
Dabao apresentava Shen Xianjun com entusiasmo para cada pessoa que passavam.
— Tio! Esse é meu papai!
— Ah, foi buscar as crianças na escola, né?
As pessoas que Dabao cumprimentava não se incomodavam e respondiam com naturalidade.
— Você é bem corajoso, hein, garoto? Vai cumprimentando todo mundo.
Depois de andarem mais um pouco, Shen Xianjun bagunçou os cabelos de Dabao com a mão grande. Ao notar o olhar de Erbao, também alcançou e bagunçou os cabelos dele.
Qin Nian não deixou passar a expressão de Erbao. Embora o menino não dissesse nada, também não afastou a mão de Shen Xianjun. Aquilo era um sinal claro de afeto — se não gostasse, teria recusado na hora.
Criança precisa de pai.
Esse pensamento passou como um raio pela mente de Qin Nian naquele momento.
— Papai, vem brincar com a gente!
Dabao puxou a camiseta de Shen Xianjun, fazendo a camisa de baixo sair da cintura da calça.
Incapaz de se conter, Qin Nian virou o rosto para o céu e soltou uma risada.
— Mamãe, do que tá rindo?
Erbao olhou curioso para Qin Nian.
— Nada, nada.
Shen Xianjun também virou o rosto para ela, e Qin Nian rapidamente fez um gesto de que não era nada.
Shen Xianjun tinha se virado ao ouvir a voz de Erbao, mas ao ver Qin Nian rindo, ficou por um momento confuso. Quando notou que ela evitava seu olhar, teve a certeza imediata: sua esposa estava rindo dele!
Um leve constrangimento o tomou, e ele puxou a camiseta para baixo, tentando arrumar. Mas Dabao ainda não tinha recebido resposta e esticou a mão novamente para puxar.
— Papai, brinca com a gente!
Shen Xianjun segurou a bicicleta com uma mão e ajeitou as roupas de novo.
— Vamos jantar primeiro, depois brincamos.
Yang Yufen viu o jovem casal indo e vindo com as crianças e, por uma vez, mostrou um semblante amigável para Shen Xianjun.
Depois do jantar, as duas crianças puxaram Shen Xianjun para fora para brincar.
— Nian, hoje à noite não vou dormir em casa. Se não conseguir se virar de manhã, come no refeitório. Deixa as crianças com o Xianjun. Mamãe volta durante o dia e a gente janta em casa.
— Tá certo, mãe. Deixa que eu te levo lá.
Qin Nian interrompeu a lavagem da louça e apressou-se.
Ela pretendia acompanhar a sogra até o destino, mas foi interrompida na entrada do conjunto residencial.
— Vai, volta logo. As crianças precisam de você. Já vai escurecer de vez.
Yang Yufen empurrou Qin Nian de volta para dentro do pátio e seguiu caminho sem olhar para trás.
Qin Nian voltou para casa, respirou fundo e entrou. Para sua surpresa, encontrou Shen Xianjun observando os dois filhos tomarem banho.
Pelo visto, as coisas não estavam tão ruins quanto ela imaginava.
Qin Nian foi até o quarto para ler um pouco. Ao ouvir barulho do lado de fora, presumiu que as crianças haviam terminado o banho.
Pegou suas roupas e foi lavar-se também. Quando voltou, encontrou pai e filhos dormindo juntos no quartinho.
Normalmente, os meninos só dormiam depois de ouvirem uma historinha, mas naquela noite adormeceram cedo.
Qin Nian programou o despertador — pretendia levantar cedo no dia seguinte para preparar o café da manhã dos filhos, já que ir até o refeitório levaria muito tempo.
Por volta das três da manhã, Yang Yufen e Gui Xiang se levantaram.
— Tem que usar bastante óleo pra ficar saboroso. Coloca só um pouquinho de pimenta no repolho, só pra dar gosto.
— Agora entendo por que o Dashun e o irmão dele sempre amam seus pãezinhos.
Gui Xiang amassava a massa, modelava em tiras compridas, apertava e torcia — e os pedaços já estavam prontos, todos mais ou menos do mesmo tamanho.
— Eu não sou tão boa quanto você com costura, nem pra fazer esses desenhos.
Duzentos pãezinhos — as duas mulheres trabalharam juntas e, às quatro da manhã, todos já estavam moldados e colocados nas esteiras do vapor, prontos para cozinhar.
Pouco depois das cinco, os pãezinhos estavam cozidos e carregados no triciclo.
— Vamos, o horário tá perfeito.
Quando Yang Yufen e Gui Xiang chegaram, outros vendedores já estavam por lá.
— Yang, fazia tempo que a gente não se via. Vai vender o quê hoje?
Um conhecido cumprimentou Yang Yufen.
— É o irmão Zhao. Ai...
Yang Yufen soltou um longo suspiro, e todos ao redor aguçaram os ouvidos.
— O que houve?
O tio Zhao perguntou em nome de todos.
— Vim com minha velha amiga, Gui Xiang. Esse é o irmão Zhao, ele é um bom homem. Se eu não estiver por perto e você tiver algum problema, pode procurar ele. A nora dele é diretora do comitê feminino da repartição de bairro — muito prestativa.
— Irmão Zhao...
Gui Xiang falou timidamente.
— O marido e o segundo filho dela caíram num desfiladeiro quando desciam da montanha. Foi um esforço enorme pra conseguir levá-los até o hospital militar e salvar a vida dos dois, mas...
Os olhos de Yang Yufen se avermelharam, e Gui Xiang começou a chorar.
— Os dois sustentos da casa estão fora de combate. A gente nem sabe quanto vai vir de conta médica. Trouxe ela aqui pra vender pãezinhos. Orgulho não vale mais que a vida. Mesmo que a gente não consiga vender, vale tentar. Ainda temos que correr pro hospital depois pra cuidar deles.
— Puxa, minha jovem, não chora. Salvar uma vida é mais importante que qualquer coisa. Monta sua barraca aqui do lado da minha. Eu vendo panquecas — quase tudo de café da manhã.
Gui Xiang sentiu o carinho nas palavras e parou de chorar.
Aos poucos, mais pessoas começaram a passar de bicicleta a caminho do trabalho, e alguns funcionários do hospital saíram para comprar o desjejum.
Alguns até reconheceram Yang Yufen e foram direto até ela.
— Dona Yang, o que tá vendendo hoje? Quando vai voltar a vender sopa de pera?
— Hoje é pãezinho. Agora não é temporada de pera — respondeu Yang Yufen com um sorriso.
— Tem pãezinho de ovo com cebolinha, pãezinho doce de tâmara vermelha e os vegetarianos, com cebolinha pura e repolho. Os de repolho têm um leve toque apimentado. Nenhum precisa de cupom de racionamento. Os de ovo com cebolinha e os doces custam dez centavos cada, e os vegetarianos, cinco centavos. Com mais dois centavos, leva uma porção de mingau grosso de painço com tâmaras vermelhas.
Capítulo 82
— Então me dá um pão doce e um de repolho, junto com uma tigela de mingau de painço.
A enfermeira contou dezessete centavos e entregou a Yang Yufen junto com uma marmita.
Yang Yufen embalou os pães para a enfermeira, enquanto Gui Xiang servia o mingau de painço, caprichando na porção de tâmaras vermelhas picadas.
As tâmaras flutuando no mingau dourado formavam uma cena encantadora.
Ao ver aquelas moedas, Gui Xiang sentiu de repente uma fagulha de esperança pela vida.
Depois de uma hora e meia corridas, ao verem as esteiras esvaziando e a panela de mingau quase seca, Yang Yufen abruptamente cobriu a panela.
Gui Xiang a olhou, confusa.
— Leva alguns desses para dividir com os vizinhos — eles já nos ajudaram tantas vezes. O resto é pro Ershun e pro pai dele, eles também precisam comer. Já tá ficando tarde — precisamos correr pra comprar carne e entregar a comida, senão vamos perder os melhores pedaços.
Gui Xiang assentiu animadamente e insistiu em entregar os pães pessoalmente. Depois de alguma insistência, voltou com uma panqueca colocada à força em suas mãos.
— O pessoal daqui é mesmo muito gentil — comentou.
Yang Yufen sorriu, mas não disse nada.
As duas levaram as coisas para casa primeiro e, depois, foram de triciclo até o mercado comprar carne.
— Tem tanta carne aqui!
— E bem mais gente do que na nossa comuna. Vamos pegar uns ossos também.
Com as compras feitas, correram de volta ao hospital.
Em casa, Qin Nian acordou com o alarme, esfregou os olhos e foi cambaleando até a cozinha — apenas para esbarrar em algo na porta.
— Já acordou tão cedo? Mamãe disse que você só acordaria em meia hora. O café da manhã acabou de ir pro fogo, ainda vai demorar um pouco.
Shen Xianjun se afastou para abrir espaço.
Qin Nian piscou para ele, surpresa por um instante, e depois se aqueceu com aquelas palavras.
— A mamãe não acerta nem o horário. E ainda mandou eu não confundir também — resmungou, trocando a ternura por irritação.
— Vou me lavar. Acordar cedo significa mais tempo pra estudar.
— Na verdade, eu tinha umas perguntas pra te fazer — acabei esquecendo ontem.
Shen Xianjun tirou um caderninho do bolso, intrigado com um conceito de engenharia mecânica.
As crianças acordaram logo depois, fazendo barulho.
— Vovó? Vovó?
— Uaaaah! Quero a vovó!
Qin Nian e Shen Xianjun pegaram uma criança cada, mas nenhum dos dois conseguiu acalmá-las.
— Mamãe promete que vocês vão ver a vovó assim que voltarem da escola, tá bom?
Depois de muita luta, finalmente conseguiram levar os meninos para a escola — mas Qin Nian chegou atrasada no trabalho pela primeira vez.
— Nian, isso não é do seu feitio. Por que chegou atrasada?
Xiao Ranran se aproximou de lado, apenas para congelar ao ouvir um estrondoso ronco de estômago. Arregalou os olhos olhando para a barriga de Qin Nian.
— Estava tão ocupada com as crianças que esqueci do café da manhã.
Qin Nian bateu nos bolsos por instinto, mas estavam vazios.
— Aqui, come um pouco do meu.
Xiao Ranran empurrou seus próprios lanches nas mãos de Qin Nian antes de todas se afundarem no trabalho.
Na hora do almoço, Qin Nian parou no meio da mordida, esquecendo a comida pedida pela colega.
Tinha sido apenas uma noite sem a sogra, e mesmo com Shen Xianjun ajudando, já sentia uma falta enorme de Yang Yufen.
Enquanto isso, Shen Xianjun pendurava roupa no varal quando ouviu um choro familiar se aproximando.
— Tia Yang, a senhora está em casa?
— Dabao, Erbao, o que houve?
Encontrou as duas crianças sendo trazidas pela professora, imundas e chorando desesperadas.
— O senhor é o pai deles, certo? Por favor, tente acalmá-los — pediu a professora.
Shen Xianjun se agachou para verificar se estavam machucados, mas só de vê-lo, os berros aumentaram ainda mais.
— A tia Yang está em casa? É que… Dabao e Erbao normalmente se comportam muito bem, mas hoje já começaram o dia tristes. Durante o recreio, algumas crianças falaram algo, e acabou virando briga.
A professora, vendo que Shen Xianjun não conseguia acalmá-los, olhou ao redor procurando por Yang Yufen e explicou:
— Crianças mais velhas disseram que os dois estavam com saudade da avó. Um aluno tinha perdido os avós recentemente e presumiu que a deles também tinha morrido, então falou que Dabao e Erbao nunca mais veriam a vovó. Foi aí que a briga começou. Ninguém se machucou — só que esses dois não param de chorar.
Shen Xianjun ficou pasmo. Era isso o motivo da crise?
— Shhh, a vovó tá ótima! A mamãe não disse que vocês vão ver ela depois da escola? Que tal se eu...
Quase sugeriu levá-los até ela, mas percebeu que não fazia ideia de onde sua mãe estava.
— Ou a gente pode ir ver a mamãe?
Ao ouvir isso, o choro de Erbao, que tinha diminuído, voltou com força total.
— Do jeito que estão, é melhor não voltarem pra creche hoje. Só acalme eles. Preciso voltar — a turma não pode ficar sozinha.
A professora se despediu enquanto a tia Wang surgiu.
— Ai, meu Deus, o que aconteceu com Dabao e Erbao?
— Tia Wang, queremos a vovó!
As crianças largaram o pai e correram para os braços dela.
— Não chorem, senão o coração da vovó vai doer! Vamos pra casa da tia Wang, tá bom? Ela vai voltar logo. Lembra? Ela sempre está em casa quando vocês voltam da escola.
— Eu tô com saudade da vovó — fungou Erbao.
— A tia Wang já mentiu pra vocês alguma vez? Come o almoço, tira uma soneca, e quando acordar, a vovó vai estar aqui. Mas se continuarem chorando, os olhos vão inchar, e aí é que não vão enxergar ela mesmo.
— Sério?
Dabao limpou as lágrimas apressado.
— Sério.
A tia Wang assentiu. Os soluços foram diminuindo, embora alguns ainda escapassem.
— Muito obrigado mesmo, tia Wang — suspirou Shen Xianjun, sentindo a dor de cabeça aliviar. Como é que criança tem tanto fôlego pra chorar assim?
— Que nada. Sua mãe deixa eles comigo direto quando tá ocupada.
Shen Xianjun terminou de pendurar a roupa e preparou o almoço, mas as crianças se recusaram a sair da porta da casa da tia Wang, com os olhos fixos na estrada.
Enquanto isso, no distrito militar:
— As ligações não param de chegar — na maioria de companheiros que lutaram ao nosso lado. Dizer sim ou não pra qualquer um é impossível.
— Aqui também. Mas o país está numa fase em que não podemos perder tempo.
— Eu dou o exemplo. Começamos a desmobilização por mim. Vamos deixar a nova geração assumir o comando. Cada era tem sua missão — a minha terminou. Agora é hora de abrir espaço para a deles.
Capítulo 83
— Chefe, isso é inaceitável!
A multidão ficou atônita.
— O que exatamente é inaceitável? Cada dia a mais significa mais despesas militares sendo desperdiçadas. Redirecionar esses fundos para pesquisa de armamentos é muito mais produtivo. Está decidido!
A voz firme e resoluta silenciou todos ao redor.
— Mas com cem mil pessoas envolvidas, se não forem devidamente apaziguadas, pode haver caos.
— Eu mesmo vou conversar com os velhos camaradas. Como quadros do partido, precisamos ter consciência ideológica elevada! Tudo isso é pelo desenvolvimento maior da nação!
Hospital
— Velho, eu ganhei um dinheirinho. Olha, foi isso que consegui hoje. Você precisa focar na recuperação — o nosso Ershun ainda precisa de nós.
Gui Xiang mostrou ao marido as notas espalhadas, aquela esperança frágil de sua família.
— Muito bom, muito bom.
O casal se compreendia sem precisar de muitas palavras. Apesar do corpo imóvel, ele assentiu.
Gui Xiang olhou para o filho, desembrulhou um doce que alguém lhe havia dado e colocou na boca de Ershun. O menino sorriu para ela.
De volta ao Pátio
Gui Xiang interrompeu Yang Yufen em meio às tarefas.
— Quero ligar pra casa. Fico pensando como estará o mais velho.
— Tem que ligar mesmo. Vamos, vou voltar também — tô com uma sensação esquisita.
Yang Yufen não era de hesitar. Levou Gui Xiang até o local da ligação e depois partiu para o conjunto habitacional.
Racionalmente, sabia que Shen Xianjun estava em casa, mas era justamente isso que a preocupava.
Ao passar pelo antigo pátio — agora ocupado por estranhos —, Yang Yufen parou por um instante ao ver as videiras cheias de uvas. Depois, seguiu em frente.
Conjunto Habitacional
— Vovó!
Yang Yufen congelou ao ver os dois netos correndo em sua direção. Eles não deviam estar na creche?
— Ai, meus amores!
Ela os abraçou apertado. Os bracinhos grudaram em seu pescoço, como bolinhos de arroz grudando na colher. A tia Wang apareceu logo atrás.
— Graças a Deus você voltou. Os dois choraram tanto na escola que a professora teve que mandar pra casa. O Xianjun não deu conta de acalmar.
— Com tanta saudade da vovó assim, foi?
O coração de Yang Yufen doía entre divertimento e frustração. Depois, veio a raiva.
Esse inútil... não consegue nem consolar os próprios filhos.
— Leva eles pra dentro. Mal comeram no almoço e não quiseram dormir — disse a tia Wang, preocupada com as crianças.
— Tá bem, vou cuidar deles.
Os meninos não largavam a avó. Dabao, normalmente agitado, estava estranhamente calado — sem cutucadas nem risadinhas. Aquele silêncio apertava o coração de Yang Yufen.
Dentro de Casa
— Mãe, ainda bem que voltou — suspirou Shen Xianjun, aliviado.
O olhar cortante de Yang Yufen ricocheteou nele. Já era imune ao desprezo dela. Desde que os pequenos parassem de chorar, ele aguentaria qualquer coisa.
— Mãe, que tal eu comprar uma bicicleta pra você? Não se muda não. As crianças só querem a senhora.
Shen Xianjun pesou a situação. Ajudar Gui Xiang era inegociável, mas a dependência emocional dos filhos pela avó era insuportável. Um único dia daquilo tinha sido pior que campo de treinamento.
De repente, ele entendeu por que a mãe se irritava tanto com ele.
Yang Yufen ajustou os netos no colo, lançou um olhar de canto para o filho e não disse uma palavra.
— Vamos lá, a vovó vai fazer uma coisa bem gostosa. Estão com fome?
— Tô com fome!
Só depois de confirmarem que a vovó não ia embora, é que voltaram a falar.
Shen Xianjun coçou o nariz, totalmente ignorado.
— Panquecas de cebolinha e ovo! Vocês vão ajudar a vovó a pegar ovos, e Dabao e Erbao, vão colher as cebolinhas, combinado?
— SIM!
Os dois gritaram animados, escorregando dos braços dela e agarrando suas mãos. Toda a tristeza da manhã tinha evaporado.
— Mãe, guarda um pouco pra mim também.
Shen Xianjun se intrometeu, temendo ser deixado de lado. Sabia cozinhar, mas nada se comparava ao sabor dela.
Caos na Cozinha
Os irmãos se enfileiraram ao lado do fogão, farejando o ar enquanto as panquecas douradas estalavam na frigideira. Yang Yufen dividiu a primeira, soprou para esfriar e entregou. As risadinhas deles dissiparam todos os traços do colapso emocional da manhã.
Ela continuou fritando, empilhando as panquecas numa tigela — mas misteriosamente, a tigela nunca parecia ter mais de uma por vez.
As crianças arregalavam os olhos para o estômago sem fundo do pai.
Yang Yufen segurava a espátula com força.
— Já estão cheios? Vão brincar lá fora. A vovó vai atrás depois.
— Tá bom!
Barrigas cheias, correram tranquilos, com a certeza de que a vovó estava por perto.
Outra panqueca foi à frigideira. A mão de Shen Xianjun se aproximou — pá!
— Só sabe comer! Não acalma os filhos, não guarda comida pra esposa — fora da minha cozinha!
Mesmo assim, ele pegou a panqueca, desviando de outro golpe.
— Mãe, eles é que estavam com saudade! Que culpa eu tenho? E ainda tem massa sobrando — minha mulher come feito passarinho.
— E eu, sou invisível? Por acaso não como?
Yang Yufen ergueu a espátula como uma arma.
— A senhora nunca usava cebolinha. Eu achava que tinha gosto ruim.
Resmungou. Só no exército descobriu que cebolinha era uma delícia — então o problema era só a mãe ser exigente demais.
— Vai. Vigia eles.
Ela não suportava ver o raciocínio dele sendo desperdiçado assim.
Soneca Problemática
Depois das panquecas, Yang Yufen levou os meninos para tirar cochilo. Os dois agarraram seus braços com força.
Ela ficou de olhos abertos. Esse era o defeito do plano: dar espaço para os pais jovens, mas os filhos criados por ela não aguentavam a separação.
Tentou se soltar duas vezes, e Erbao já começou a choramingar no sono. Ela ficou paralisada.
Depois da soneca, levou os dois para passear, já resignada.
Enquanto Isso, com Gui Xiang
Dois minutos ao telefone foram o suficiente para deixá-la abalada.
— Mãe, os sogros do meu segundo filho levaram a esposa dele embora — só sobrou o Qing. Como estão o papai e o segundo filho?
— Mãe, minha sogra tá aqui também. Tá ameaçando separar a família se eles não levarem minha mulher embora.
Capítulo 84
— O que está acontecendo aqui?
Yang Yufen chegou com seus dois netos e encontrou Gui Xiang sentada no quintal, atordoada, os olhos vermelhos e inchados — claramente, ela estivera chorando há pouco tempo.
— Vocês dois, vão brincar no quintal. A vovó precisa conversar com a vovó Gui Xiang.
As crianças obedeceram e correram para brincar.
— Yu Fen, me diz... qual é o sentido de criar filhos? Eu e o pai deles trabalhamos até nos quebrar pra criá-los, casar eles, até construímos casa pra eles.
A voz de Gui Xiang estava pesada de amargura.
— Até entendo que as noras fiquem chateadas, com medo da dívida e querendo ir embora. Mas meu filho mais velho... ele não tem coração!
Ela abaixou a cabeça.
— Nem perguntou como o pai ou o irmão mais novo estavam. Só ficou reclamando das dificuldades dele — que os sogros foram lá exigir que levasse a mulher e a filha embora, dizendo que queriam dividir a família.
— Então que dividam! Manda o Qing pra cá. Ela já tem idade pra ajudar, ganhar um dinheirinho, e isso não vai atrapalhar os estudos dela. Pede pro chefe da vila fazer um acordo de divisão. A gente não tá tão velha a ponto de não conseguir trabalhar. Lembra como a gente se virava antigamente? Vai deixar que uma dificuldade dessas acabe com você?
Yang Yufen também estava decepcionada. Como aquele menino, que ela viu crescer, pôde se tornar tão egoísta depois de casar?
— Você mesma viu — se estiver disposta a trabalhar duro e engolir o orgulho, ganhar dinheiro não é tão difícil assim. O Xianjun e a esposa trabalham, e eu cuido dos filhos deles, mas não posso ficar te ajudando pra sempre. A Qing tem sete anos, é esperta. Quando o Ershun e os outros melhorarem, tudo vai ficar mais fácil.
Ela apertou a mão da velha amiga, transmitindo coragem.
— Você tem razão. Pelo menos tenho você. Aquele meu filho mais velho... tá bom, que ele divida a família. Mas que pague a parte dele pelos nossos cuidados todo ano, e que não venha plantar nas nossas terras de graça. Depois de tudo que a gente fez por ele, agora que o pai tá doente, ele finge que nem é com ele?
Gui Xiang endireitou as costas, jogou água fria no rosto e deixou de lado a preocupação com o telefonema. Em vez disso, começou a preparar as coisas para o trabalho do dia seguinte.
— Você já me ajudou tanto. Se eu não conseguir me reerguer agora, aí sim sou uma inútil. Vai pra casa cuidar das crianças. São ótimos meninos. E não se preocupa comigo — já tô pegando o jeito do triciclo.
Depois de terminar de organizar tudo, ela praticamente expulsou Yang Yufen de lá.
Vendo isso, Yang Yufen levou os netos de volta para o conjunto habitacional. Manter-se ocupada era bom — impedia a mente de remoer os problemas.
Pouco depois que Yang Yufen e os pequenos entraram no conjunto, Qin Nian voltou do trabalho em sua bicicleta. Ao ver a sogra com as crianças, seu rosto se iluminou.
— Mãe, por que pegou o Dabao e o Erbao tão cedo hoje?
Yang Yufen hesitou — ainda não tinha dito nada para a nora, mas também não havia uma maneira fácil de explicar.
— Nada demais. Vamos, fiz panqueca de ovo com cebolinha hoje.
Qin Nian não insistiu, empurrando alegremente a bicicleta ao lado da sogra.
Quando passavam pela antiga vizinhança, tia Liu as chamou.
Tia Liu gesticulava animadamente, e os olhos de Yang Yufen brilharam — fofoca boa à vista? Mas antes que pudessem entrar na casa da senhora Liu, uma gritaria estourou na casa ao lado.
Os novos vizinhos haviam se mudado recentemente.
— Mandei você cozinhar, sua inútil, e você queimou tudo! Serve pra quê?
— Mãe, eu tava dando de mamar pra Niuniu e me distraí por um momento. Não foi de propósito...
A voz da mulher era fraca, exausta.
— Uma imprestável dessas — pular uma mamada não vai matar ninguém! Agora ninguém come! Aposto que foi de propósito! Meu filho deve ter sido amaldiçoado pra casar com você. Essa menina sujou a linhagem da nossa família e você ainda se faz de vítima!
Qin Nian apertou o guidão da bicicleta. Dabao e Erbao já haviam corrido para brincar com os netos da tia Liu.
— Os novos vizinhos são assim difíceis?
Yang Yufen já tinha visto coisa pior, mas aquele era o conjunto do instituto de pesquisa — geralmente, as pessoas ali eram mais instruídas. Aquilo soava totalmente fora de lugar.
— Imagina! A nora acabou de dar à luz uma menina e eles não param de brigar. Aquela velha odeia a própria neta e ainda manda na minha netinha! Parece uma relíquia da era feudal, sério. Outro dia, peguei ela tentando afogar o bebê!
— O quê?! — Yang Yufen engasgou.
— Isso mesmo. A nora impediu, foi um escândalo.
Lá dentro, a gritaria continuava.
— Fizemos todo esse esforço pra vir morar aqui e você só me dá azar! Outras dão à luz gêmeos, e você me vem com essa menina inútil. Patética.
Tia Liu trocou um olhar com Yang Yufen — esse papo de "atrair sorte" era superstição pesada.
Um homem passou por elas, hesitando antes de entrar no quintal ao lado.
— Esse é o Wang Aimin — murmurou tia Liu.
Qin Nian o reconheceu, mas não o conhecia bem.
— Chega! Já tá fazendo escândalo demais — a voz de Wang Aimin veio do quintal vizinho.
— A culpa é da sua esposa! Eu te avisei que os quadris dela não serviam pra gerar filho homem, mas você casou com ela assim mesmo. Agora a linhagem dos Wang acaba com você, por causa dessa desgraçada! Nem cozinhar direito sabe!
— Dá pra parar de causar confusão? Eu tenho que trabalhar, e a mamãe já tá ficando velha — ele respondeu com impaciência.
— Eu não tô causando confusão, Wang Aimin. Ainda tô me recuperando do parto — a Niuniu precisa de cuidados —
A voz da mulher era desesperada, suplicando por compreensão.
— Recuperando? Que frescura é essa? No meu tempo, a mulher paria no meio da roça e já voltava pra cozinhar pro marido! Se você tivesse me dado dois netos como a Qin Nian deu pra família Yang, eu te tratava como rainha também. Mas não — você não serve nem como mulher. Se não fosse por gerar filho, acha que aquela velha Yang mimava a nora dela?
A raiva de Yang Yufen explodiu. Num pulo, subiu na escada encostada no muro da casa de tia Liu e apontou o dedo para baixo, na direção da vovó Wang.
— Sua velha maldita! O grande líder disse que as mulheres sustentam metade do céu — como se atreve a meter a minha Qin Nian no meio da sua podridão?! Você trata sua nora como escrava, mas não ache que todo mundo é tão vil quanto você. Se ousar mencionar minha família de novo, eu rasgo sua boca com as próprias mãos!
— Tia, minha mãe só estava disciplinando minha esposa. Não é errado gritar por cima do muro desse jeito? — Wang Aimin ficou surpreso com a aparição repentina de Yang Yufen.
— Ha! Um homem que saiu de dentro de uma mulher e ainda despreza as mulheres? Fica cego quando a mãe humilha a esposa, né? Você... não, nem merece ser chamado de mulher se despreza o próprio gênero. Mulher faz muito mais do que parir!
Yang Yufen zombou de Wang Aimin. Esse aí é pior que o meu próprio imprestável.
— Quando a gente carregava enxada no ombro e fuzil nas costas, você acha que a gente se escondia na cozinha? Despreza meninas? Meninas estudam igual, passam na universidade, dirigem trator — e vão pilotar avião também, se quiserem! Pff!
Ela cuspiu no chão com nojo. A vovó Wang tremia, apontando furiosamente, enquanto Wang Aimin recuava um passo.
Capítulo 85
— Vocês—vocês—vocês! Vovó Yang, se você realmente se importasse com sua nora, teria deixado ela voltar a trabalhar só três dias depois de ter dado à luz? Você só fez isso por causa dos netos! Outros podem pensar que você é uma santa, mas eu vejo através das suas armações! Não se faça de superior!
— Ah, então você sabe que as mulheres devem descansar depois do parto! — Yang Yufen respondeu com escárnio, desacreditada.
Qin Nian deu um passo à frente, estendendo a mão.
— Mãe, vá com calma. Cuidado para não cair. Vamos descer primeiro.
Do outro lado do muro, a voz de Qin Nian voltou a ecoar.
— Eu sei melhor do que ninguém quem me trata bem e quem não. Quando eu estava grávida, minha sogra preparava três refeições por dia para mim, sem faltar. Quando eu trabalhava, ela me apoiava de todo o coração, garantindo que eu não tivesse preocupações.
— Escolhi voltar ao trabalho três dias após o parto porque quis. Estava disposta a me dedicar ao serviço do nosso país. E foi minha sogra que não me impediu, que não usou a criança para me prender, que me permitiu seguir o que eu queria. Então a bondade dela não é só para os outros verem — é verdadeira!
A voz de Qin Nian estava firme e resoluta enquanto olhava para Yang Yufen com gratidão. As duas mulheres apertaram as mãos, unidas.
— Bravo! Muito bem dito!
Um estrondo de aplausos e gritos irrompeu do lado de fora do quintal, atraindo a atenção de todos.
Um grupo de militares fardados estava ali, incluindo o Diretor Hu e Hu Jun.
— A consciência ideológica da camarada Yang Yufen é algo de que todos devemos aprender. Casar e ter filhos tardiamente está alinhado às necessidades da nossa revolução. A família nunca deve se tornar uma corrente que impeça o desenvolvimento dos valores femininos.
— Incentivamos nossas camaradas a se libertarem das tarefas domésticas e a se dedicarem integralmente à construção socialista. Favorecer filhos homens em detrimento das filhas é inaceitável — seja como operárias, agricultoras ou soldadas, todos os papéis têm valor na contribuição para a sociedade!
Wang Aimin saiu e ficou pálido ao ver os oficiais.
— Viemos hoje visitar o camarada Shen Xianjun, mas acabamos presenciando essa cena esclarecedora. Diretor Hu, parece que as famílias no nosso conjunto residencial ainda precisam elevar sua consciência ideológica. Conhecimento acadêmico sozinho não basta para pesquisa — o caráter moral é igualmente crucial.
— De fato, devemos organizar mais reuniões ideológicas. Mas já está tarde — vamos visitar o camarada Shen Xianjun primeiro.
O Diretor Hu lançou um olhar direto para Wang Aimin.
— Vovô!
Dabao saiu correndo feito um foguete, escalando a perna do Diretor Hu.
— Calma, devagar!
O Diretor Hu segurou a criança, prestes a pegá-lo no colo, mas o comandante do Exército Liao chegou antes.
Com uma mão, ele ergueu Dabao no ar. O menino não demonstrou medo, segurando o braço do comandante e travando as pernas para subir ainda mais, seus olhos grandes brilhando de curiosidade enquanto observava o homem.
— Então esses são os gêmeos do Xianjun, hein? Esse aqui puxou o pai.
O comandante do Exército Liao riu alto, passando a segurar o menino pelo colarinho para segurá-lo direito.
O Diretor Hu pegou Erbao.
— Isso mesmo. O que está nos braços do comandante Liao é o mais velho, Li Wu. Esse é o mais novo, Li Wen.
— O mais novo parece com sua aluna, camarada Qin Nian.
O comandante Liao sorriu calorosamente para Erbao.
O grupo seguiu conversando e rindo, deixando Wang Aimin sozinho. Só quando eles saíram de vista é que ele voltou furioso para dentro, com o rosto escuro de raiva.
— Feliz agora? Se eu perder meu cargo no instituto, a família toda pode fazer as malas e voltar a plantar na roça!
Ele bateu a porta com força. A mãe Wang ficou paralisada — ela só tinha dado umas broncas na nora. Que nora que não leva uma chamada da sogra? Ela nem tocou na mulher!
— Isso é tudo culpa sua, sua praga!
Ela olhou com raiva para a nora, que segurava seu filho, depois lançou um olhar para o muro do vizinho e engoliu o resto das palavras. Virou-se e correu atrás do filho — não pretendia voltar à vida rural.
— Comandante, o que o traz aqui?
Shen Xianjun ficou surpreso ao ver seu ex-superior e rapidamente saudou.
— Só vim ver como você está. O tempo é curto — vamos achar um lugar para conversar.
— Vai com a vovó buscar uns biscoitos.
Ao ouvir isso, as duas crianças foram atrás dela. Qin Nian serviu água para os visitantes e saiu para dar privacidade ao comandante do Exército Liao e a Shen Xianjun.
— Sogra, vou levar a Nian lá em casa pegar umas coisas. Voltamos logo.
O Diretor Hu também falou.
— Claro.
Yang Yufen assentiu.
Qin Nian ficou confusa, mas seguiu o Diretor Hu sem questionar.
Dentro da sala, o comandante do Exército Liao observava a estante e os livros abertos na mesa.
— Esses são os livros da camarada Qin Nian?
— Não, meu sogro e cunhado acharam que eu ia ficar entediada na recuperação, então trouxeram esses pra mim. São até interessantes.
Shen Xianjun olhou para a pilha — ele só tinha chegado ao segundo livro até então.
— Bom. Os jovens nunca devem parar de aprender. Sente-se.
O comandante do Exército Liao assentiu, satisfeito. Aquilo era o verdadeiro significado da parceria revolucionária — crescimento mútuo.
— Xianjun, vou me aposentar em breve. Fiz questão de que você fosse transferido para a unidade do seu cunhado Hu Jun — o velho Zhao deve ter te contado. Agora, leve isto para a Escola do Partido. A data já está marcada.
Ele entregou um pedido aprovado, carimbado e oficial.
— Aposentar? Assim, tão de repente?
Shen Xianjun ficou surpreso.
— No final do mês, será anunciado o enxugamento das Forças Armadas. Na minha idade, devo dar exemplo e abrir espaço para a nova geração. Estude esses livros que seu sogro te deu. O futuro da nossa nação está nas suas mãos.
— Comandante—
Shen Xianjun começou, mas o comandante Liao ergueu a mão.
— Esta é uma política estratégica para o progresso do país. O dever do soldado é obedecer. Os recursos militares devem ir para a pesquisa de armamentos, mas também precisamos de mentes capazes para operá-los. O cenário mundial muda diariamente — ficar para trás significa sermos derrotados outra vez.
Shen Xianjun ficou em silêncio. Mesmo depois de se despedir do comandante, manteve a testa franzida.
Enquanto isso...
— Professor, está tudo bem?
Qin Nian sentiu um incômodo inexplicável.
— Sente-se. Isso é algo que pensei com cuidado, mas a decisão final é sua. Não precisa ficar nervosa.
O Diretor Hu serviu-se de chá.
— Todo ano temos cotas para estudos no exterior financiados pelo governo. Mas muitos que saem encontram desculpas para não voltar, dificultando cada vez mais o processo seletivo.
Qin Nian assentiu levemente — ela já conhecia esse problema.
— O desfile militar do ano passado finalmente nos fez ficar orgulhosos. Ainda assim, neste ano, dados e tecnologias experimentais estrangeiras dispararam à frente das nossas. Estudar fora é uma oportunidade, mas também um risco.
— A senhora está... me pedindo para ir?
Qin Nian ficou surpresa. Ela já quisera ir, mas o professor recusara — citando o perigo de estudiosos serem interceptados ou escolherem não voltar, além das dificuldades da vida no exterior. Para sua segurança, nem ele nem a esposa haviam concordado.
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