Capítulo 91 — Adeus ao Antigo
Tang Shishi ficou sem palavras por um tempo quando ouviu Zhao Chengjun mencionar a Concubina Imperial Guo Gonglie e o Imperador Shizong. Já quando ela chegou à mansão do Príncipe Jing, Mamãe Feng havia mencionado de forma velada que era um tabu, naquela residência, falar da Concubina Imperial Guo Gonglie, que fora sepultada junto com o Imperador Shizong.
Era algo simplesmente inconcebível e sem precedentes: uma concubina imperial de alta patente, que dera à luz três príncipes, ser enterrada com um morto.
Depois, Tang Shishi soube que os dois irmãos de Zhao Chengjun por parte de mãe haviam morrido um após o outro, nos primeiros anos do reinado de Yongxi.
Quando o Imperador Xiaozong subiu ao trono, no início do reinado de Yongxi, a Imperatriz Viúva Yao acabara de assumir o controle da corte. Tang Shishi não ousava conjecturar sobre a relação causal, mas apenas ao observar a maneira estranha como Mamãe Feng e Zhao Chengjun se trataram no primeiro encontro, lá na estação de retransmissão, talvez os dois príncipes não tivessem morrido de forma natural.
Mesmo pensando de novo, talvez nem os “acidentes” das noivas de Zhao Chengjun tivessem sido por acaso.
Por isso, havia um boato que se espalhara por fora: que Zhao Chengjun tinha um destino maldito, um espírito assassino forte demais, e que trazia a morte a todos ao seu redor. Seus pais, seus irmãos, suas noivas… ninguém escapava.
Esse rumor enganou muitas pessoas. A fama de que Zhao Chengjun amaldiçoava suas esposas ainda circulava na capital até os dias de hoje. No entanto, por outro lado, talvez não fosse que ele causasse a morte de quem estivesse por perto… mas sim que ele era o único que sobreviveu entre todos os seus entes e amigos.
Tang Shishi, em seu íntimo, suspeitava de uma pessoa — a Imperatriz Viúva Yao. E, a partir disso, o resto se tornava lógico. Tang Shishi era uma pessoa da Imperatriz Viúva Yao. Foi justamente porque a imperatriz viúva desejava demonstrar benevolência que o casamento de Zhao Chengjun pôde ser realizado com sucesso. Tang Shishi ainda suava frio ao pensar nisso, e se sentia grata por ter escapado daquela calamidade. O nervosismo extremo de Zhao Chengjun naquele período também se explicava por isso.
Tang Shishi não respondeu à menção da Concubina Imperial Guo Gonglie. Ela não sabia o que era ver a própria mãe ser forçada a ser enterrada viva. Se tentasse consolar Zhao Chengjun de forma leviana, só pareceria pretensiosa. Além disso, era um assunto extremamente sensível. Se falasse algo fora de lugar, seria condenada por dentro e por fora, e se isso chegasse aos ouvidos da Imperatriz Viúva Yao, estaria acabada.
Por isso, Tang Shishi apenas segurou a mão de Zhao Chengjun e a colocou sobre seu ventre.
— Wangye, o passado já passou, e nada disso foi sua culpa. Enquanto houver sinceridade no coração, nunca é tarde para compreender. Se houver arrependimentos, então não seria certo ensinar bem o seu filho, para que ele carregue todos os seus pensamentos e sentimentos?
Zhao Chengjun sentiu o calor do sangue que pulsava sob sua palma, como se conseguisse ouvir os batimentos frágeis de uma nova vida através do ventre dela. Era seu filho, um pequeno ser que carregava seu sangue, descendente da família Guo, com traços que lembrariam seus irmãos perdidos.
Zhao Chengjun nunca considerou Zhao Chengting um verdadeiro irmão, e menos ainda sentia qualquer laço com o pequeno imperador sentado no trono. Os irmãos mais velhos morreram cedo e nenhum deles deixara descendência. Ele próprio havia se atrasado por causa das guerras e só agora, depois de tantos anos, finalmente teria um filho. Aquele menino seria o único descendente da linhagem.
Por isso, Zhao Chengjun o valorizava cada vez mais. Antes mesmo do nascimento, já havia feito todos os preparativos para o futuro — até os livros iniciais para o aprendizado ele já escolhera.
Zhao Chengjun contou a Tang Shishi:
— O que você acha? Deveríamos ensiná-lo a escrever primeiro ou treinar artes marciais? Meu avô materno tinha ótima memória. Dizem que, desde criança, recitava dicionários para aproveitar o potencial da infância. Quando crescesse, teria memória excepcional. Ah, e meu segundo irmão era especialmente bom em caligrafia e pintura. Quem sabe nosso filho tenha talento para o desenho…
Tang Shishi franziu o cenho, nada satisfeita, e interrompeu:
— Wangye, ele nem nasceu ainda e você já está impondo regras e metas. E se ele for só uma pessoa comum? Além disso, por que ele não pode ser como eu? Não estou me gabando, mas desde meu avô materno, nossa família sempre foi boa de copo e rápida em aritmética — nunca precisamos de ábaco para fechar contas.
Zhao Chengjun assentiu:
— Também seria bom que fosse como você. Especialmente se for menina, que herde sua resistência ao álcool. Assim não precisaremos nos preocupar com ela sendo enganada no futuro.
Quanto mais falava, mais absurdo ficava. Tang Shishi ergueu as sobrancelhas, furiosa, e deu um beliscão na mão dele:
— O que está dizendo? Como pode amaldiçoar sua própria filha assim? Credo! No Ano Novo, não se deve dizer coisas azaradas. Retire isso agora mesmo!
— Tá bom, tá bom. Retiro o que disse. — Zhao Chengjun cedeu, apoiando-a com um suspiro. — Não se irrite. Fale devagar.
Enquanto Zhao Chengjun a acalmava, Liu Ji anunciou do lado de fora:
— Wangye, o Shizi e a Shizifei chegaram.
Os dois se entreolharam e pararam o que estavam fazendo. Tang Shishi retirou a mão, ainda mal-humorada, mas não resistiu a beliscá-lo de novo, de leve. Zhao Chengjun suportou em silêncio e se recompôs com seriedade:
— Deixe-os entrar.
Zhao Zixun e Lu Yufei entraram e fizeram as devidas reverências:
— Prestamos nossas homenagens ao pai e à Wangfei. Desejamos um feliz Ano Novo, com saúde e prosperidade.
Lu Yufei também se curvou:
— Feliz Ano Novo ao Wangye e à Wangfei.
Tang Shishi respondeu de forma vaga, sem dar muita atenção. Mas Zhao Chengjun, naquele instante, percebeu algo.
Zhao Zixun o chamara de pai, mas se dirigira a Tang Shishi como Wangfei. Zhao Chengjun nunca havia reparado nisso antes, mas agora que ouviu os dois títulos lado a lado, algo lhe pareceu estranho.
Pensando melhor, percebeu que Zhao Zixun nunca a chamava de mãe em público. O que isso queria dizer? Que ele não aceitava a posição dela? Ou que simplesmente se recusava a reconhecer esse título?
Zhao Chengjun fitou Zhao Zixun em silêncio, sem dizer nada. Afinal, naquele dia, além das saudações dos dois, muitos oficiais da cidade também viriam prestar votos de Ano Novo.
Logo, Liu Ji retornou para informar:
— Wangye, o Magistrado chegou.
O Magistrado de Xiping sempre esperava que Zhao Chengjun o recebesse pessoalmente. O príncipe levantou-se e Zhao Zixun apressou-se para acompanhá-lo, andando rapidamente até a saída do biombo.
No entanto, para sua surpresa, Zhao Chengjun demorou… e não saiu.
Zhao Zixun ficou surpreso e voltou para o quarto interno. Encontrou Zhao Chengjun ainda parado no mesmo lugar e o ouviu dizer suavemente para Tang Shishi:
— Cuide-se bem. Se precisar pegar alguma coisa, peça para a criada. Não faça nada sozinha. E onde quer que vá, leve sempre uma criada com você.
— Eu sei. — Tang Shishi já sabia tão bem que poderia recitar tudo de trás para frente. — Não se apressar, não levantar peso, não se irritar. Eu lembro de tudo, pode ir logo.
Lu Yufei, que estava servindo ao lado, arregalou os olhos em surpresa. Tang Shishi era ousada assim ao ponto de falar com o Príncipe Jing desse jeito? Ela olhou discretamente para o rosto de Zhao Chengjun, mas, para sua surpresa, ele não estava irritado. Continuou conversando com paciência:
— Não custa ser mais cuidadosa. Deixe que a criada converse com você por enquanto. Depois que eu me despedir do magistrado, volto para te fazer companhia.
Tang Shishi assentiu com um despreocupado “en, en”, com uma expressão indiferente que, ao olhar de perto, até parecia impaciente. Era Zhao Chengjun quem caminhava devagar, cheio de recomendações para um lado e para o outro, até finalmente sair pela porta com grande dificuldade.
Em comparação, Tang Shishi parecia ser a sem-coração da história.
Depois que Zhao Chengjun saiu, ainda parou para alertar mais uma vez as criadas na porta. Lu Yufei observou tudo com espanto e disse em voz baixa:
— Wangfei, o Wangye já foi.
Tang Shishi a olhou surpresa:
— Eu sei, ué.
Ela não entendeu o que Lu Yufei queria dizer. Lu Yufei também ficou sem palavras por um instante, sem saber como abordar o assunto. Ela só pôde ver Zhao Zixun hoje ao vir ao pátio Yan’an para cumprimentar no Ano-Novo. O casal não trocou uma palavra durante todo o caminho. Foi apenas na hora das saudações que Lu Yufei ouviu Zhao Zixun falar sua primeira frase. O relacionamento entre marido e mulher era tão distante que até desejar um bom ano parecia um luxo.
Quanto a Tang Shishi, Zhao Chengjun não parava de lhe dar conselhos, voltava para falar com ela várias vezes antes de sair, e mesmo assim, ela ainda parecia impaciente.
As pessoas realmente não podiam ser comparadas.
Tang Shishi quis se levantar, e ao perceberem seu movimento, as criadas ao redor correram para ajudá-la. Ela segurou a cintura, andou com dificuldade e resmungou:
— Essa barriga grande é irritante. Mal consigo enxergar o chão. Nunca mais quero engravidar de novo.
As criadas ficaram em pânico e apressaram-se em dizer:
— Wangfei, não diga uma coisa dessas! Credo! Credo! Credo! Bata na madeira. O que a senhora disse não conta!
— Isso mesmo, Wangfei. Hoje é Ano-Novo, não diga palavras desanimadoras. Aguente só mais um pouco, e o pequeno jovem mestre vai nascer daqui a dois meses.
As criadas cercaram Tang Shishi, tentando acalmá-la e distraí-la com conversa. Lu Yufei veio logo atrás, acariciando o próprio ventre em silêncio.
Ela não podia entender a angústia de Tang Shishi. Nem mesmo podia desejar aquilo — e, no entanto, algumas pessoas tratavam como se fosse algo descartável, como um sapato velho.
O mundo era cruelmente injusto.
A véspera do Ano-Novo era um festival de reencontro. Filhos e netos se reuniam ao redor dos mais velhos para celebrar a ocasião. Como não havia nenhuma concubina sênior na mansão, Tang Shishi assumia o papel de anciã da família. Durante todo o dia, todos ficavam ao seu redor, atentos e zelosos, tentando de todas as formas deixá-la satisfeita.
À noite, na hora do jantar de reunião, as concubinas também vieram. Zhou Shunhua e as outras vestiam roupas novas — casacos finos e elegantes, adornados com pérolas e presilhas de jade nos cabelos, segurando aquecedores de mão delicadamente trabalhados. Ficaram reunidas no salão de recepção, conversando.
Não havia necessidade de incenso no salão. A fragrância dos pós e perfumes usados pelas beldades já preenchia o ambiente. Tang Shishi olhou para aquela cena reluzente de pérolas e jade, depois para si mesma… e suspirou levemente.
Com o suspiro de Tang Shishi, o salão ficou em silêncio na hora. Após um tempo, Zhou Shunhua comentou com um sorriso:
— Por que a Wangfei suspira num dia tão auspicioso?
— Eu invejo vocês. — Tang Shishi respondeu com o rosto carregado. — Invejo por serem tão leves, poderem usar aqueles enfeites complicados no cabelo, e até roupas justas. Eu, por outro lado, só posso usar essas roupas folgadas de gravidez.
Zhou Shunhua, Ren Yujun e as outras ficaram atônitas. Zhou Shunhua observou atentamente a expressão de Tang Shishi. Suspeitava que ela estivesse zombando.
Quando alguém queria se gabar, normalmente começava se rebaixando, para depois exaltar a própria virtude com mais naturalidade. Era assim que se fazia para parecer sincero enquanto ostentava.
E aquilo? Aquilo era reclamação?
Na frente de várias concubinas que ainda não tinham filhos, e que ainda lutavam por atenção, ela vinha reclamar que não podia usar roupas bonitas porque estava grávida?
Pff... Patético!
Elas realmente tinham subestimado Tang Shishi. Nunca imaginaram que ela fosse tão astuta e dissimulada — até para se exibir, conseguia ser irritante.
Zhou Shunhua forçou um sorriso e disse:
— A gravidez da Wangfei é uma bênção. Em mais dois meses, estará linda como antes.
Tang Shishi olhou o próprio braço e suspirou:
— Espero que sim. Nunca fui gorda na vida. Essa é a primeira vez que engordo tanto.
As outras mulheres, todas à base de dieta e controle rígido, que evitavam comer até mais um grão de arroz, ficaram em silêncio. Zhou Shunhua demorou um bom tempo antes de responder:
— A Wangfei é naturalmente bela e fora do comum.
— E o que isso tem de bom? — Tang Shishi colocou o lenço sobre a mesa e disse com pesar: — Às vezes, invejo vocês. Podem fazer amizades sinceras. Já eu… todos só olham para meu rosto e dizem que gostam de mim.
Capítulo 92 – Receber o Novo
O salão de recepção estava mergulhado em silêncio. Lu Yufei, Zhou Shunhua e as demais concubinas não conseguiram dizer uma só palavra.
Quando Zhao Chengjun voltou do lado de fora, estranhou a quietude do ambiente:
— O que houve? Por que ninguém está falando?
Assim que o viram entrar, Lu Yufei e as demais se levantaram rapidamente e o saudaram com respeito:
— Wangye.
Tang Shishi também se levantou devagar ao ouvi-lo chegar:
— Wangye.
Ao vê-la se movendo, Zhao Chengjun atravessou todos com passos largos e segurou a mão de Tang Shishi:
— Não se mexa. Já disse várias vezes que não precisa seguir essas formalidades superficiais. O mais importante agora é cuidar de você.
Tang Shishi não insistiu na reverência e, apoiando-se em Zhao Chengjun, sentou-se lentamente. Zhao Zixun entrou logo depois do pai e, esperando que Tang Shishi se acomodasse, saudou com as mãos unidas:
— Wangfei.
— Shizi — respondeu Tang Shishi com um aceno de cabeça.
Após a saudação de Zhao Zixun, Lu Yufei e as concubinas também cumprimentaram em sequência:
— Shizi.
Zhao Zixun respondeu com um leve aceno. Naturalmente, ouviu a voz de Zhou Shunhua. Ao notar isso, os olhos de Lu Yufei escureceram ligeiramente. Ren Yujun permanecia tranquila como um monge ancião, enquanto Ji Xinxian, por outro lado, demonstrava ansiedade, competindo com Zhou Shunhua.
No entanto, nada disso tinha a ver com Tang Shishi. Ela se manteve firme em seu lugar. Liu Ji se curvou e perguntou:
— Wangye, deseja que a refeição seja servida agora?
Zhao Chengjun assentiu:
— Pode começar.
Liu Ji acatou a ordem e saiu. Zhao Chengjun olhou ao redor e perguntou:
— Por que estavam todos tão calados quando entrei? Aconteceu algo? Estavam brigando?
Ninguém teve coragem de responder. Lu Yufei foi a primeira a se apressar em negar:
— Não ousaríamos.
E os criados também se ajoelharam:
— Wangye, pedimos calma.
— Hoje é Ano-Novo! — Tang Shishi deu um tapa leve no braço de Zhao Chengjun e ralhou, zangada: — Eu estava ensinando a elas sobre gravidez. Você chega e assusta todo mundo desse jeito, que maravilha.
Zhao Chengjun ficou furioso por um instante, mas depois apenas suspirou. Ele estava preocupado se ela tinha sido ofendida… e ela o culpava? Todos viram claramente que, mesmo sendo repreendido e agredido, Jing Wang não apenas não se irritou, como ainda a consolou com um sorriso:
— Certo, certo, eu entendi errado. Não fique brava, pense no bebê.
Os que serviam diretamente no pátio Yan’an já estavam acostumados com essas cenas absurdas. Mas aqueles que nunca tinham visto de perto o comportamento de Jing Wang quase arregalaram os olhos. Por sorte, Liu Ji voltou a tempo e anunciou:
— Wangye, Wangfei, a refeição está pronta. Por favor, sigam-me.
Todos despertaram imediatamente. Zhao Chengjun foi o primeiro a se mover, mas não saiu logo. Em vez disso, virou-se para ajudar Tang Shishi e caminhou lentamente com ela até o local da refeição. Ninguém se atreveu a andar mais rápido que ele, então todos avançaram devagar, seguindo o ritmo de Tang Shishi.
Assim que Zhao Chengjun e Tang Shishi se sentaram, as criadas se aproximaram em fila para organizar tigelas e hashis. Zhao Zixun sentou-se ao lado do assento principal, mas Lu Yufei não ousou se sentar. Aproximou-se de Tang Shishi e disse:
— Eu servirei a Wangfei.
Era um costume tradicional. Antes do casamento, uma jovem era tratada como convidada; depois, tornava-se praticamente uma criada, precisando servir com afinco à família do marido. Durante as refeições, pais, irmãos e maridos se sentavam, mas as noras tinham que permanecer de pé para servir a sogra.
Antes, Tang Shishi até exercia essa autoridade de sogra, mas sempre em particular. Agora, durante o banquete da véspera de Ano-Novo, com Zhao Chengjun e Zhao Zixun presentes, ela não ousaria se destacar tanto. Além disso, não queria arrumar confusão com Zhao Zixun.
Tang Shishi lançou um olhar rápido para ele e sorriu:
— Não precisa. O banquete de Ano-Novo é uma refeição em família. Hoje devemos nos sentar juntos e aproveitar. Pode se sentar.
Mas Lu Yufei insistiu:
— Isso é uma questão de etiqueta, e a etiqueta não pode ser abandonada.
Tang Shishi olhou discretamente para Zhao Chengjun. Ele parecia não ter ouvido nada, permanecendo em silêncio. A melhor forma de se posicionar… é não se posicionar. Zhao Zixun logo interveio:
— Ela deve servir a Wangfei. Quanto mais importante a ocasião, mais devemos seguir a etiqueta. Wangfei, deixe-a servir.
Tang Shishi olhou para os dois homens à mesa, surpresa. Esse tipo de drama, em que a sogra maltrata a nora de propósito… e os dois estão achando normal? Já que Zhao Chengjun e Zhao Zixun disseram isso, não havia mais o que recusar. Ela cedeu com relutância, fazendo um pequeno teatro de resistência:
— Bem, então. Vou incomodar a Shizifei.
Lu Yufei já tinha decidido servir mesmo. Mas era uma coisa tomar essa decisão sozinha, e outra bem diferente ver que sua própria família política não se importava nem um pouco com ela. Seu marido, Zhao Zixun, não a protegeu. E o Wangye, que a fizera Shizifei, também ignorava sua situação. Lu Yufei ficou com o coração amargo, mas ainda assim sorriu e, depois de limpar as mãos, começou a servir Tang Shishi:
— Wangfei, experimente este prato.
Como Lu Yufei estava de pé servindo os pratos, qual das outras concubinas ousaria se sentar? Zhou Shunhua e as demais também se apressaram a servir Tang Shishi, mas apenas como figurantes, tomando o cuidado de não ofuscar Lu Yufei. Tang Shishi sabia que tudo tinha um limite. Se deixasse Lu Yufei lhe servir a noite inteira e ela acabasse desmaiando, a culpa acabaria recaindo sobre ela.
Tang Shishi enxugou os cantos da boca com um lenço e já planejava encontrar um momento para dispensá-la. Percebeu então que Zhao Zixun não parava de olhar para trás. Tang Shishi olhou por cima do ombro, sorriu e disse:
— Quase esqueci que essas beldades ainda não comeram. A beleza Zhou é a favorita do Shizi. Se ela ficar com fome, ele vai sofrer por ela. Que tal isso? Shizifei e as demais beldades, todas podem ir comer também.
Zhou Shunhua ficou rígida como uma estátua. Quando Tang Shishi disse isso, estava claramente a colocando como alvo. Zhou Shunhua rapidamente se curvou:
— Não ouso. É uma honra servir à Wangfei. Não estou cansada. Por favor, permita-me continuar.
Tang Shishi zombou em silêncio. Agora sabe o quanto é difícil ser o alvo? Quando Zhao Zixun fazia isso com você, cadê a dor no coração de vocês?
Ela disse:
— Já chega. Esse é um banquete de reunião em família. É para comermos bem e estarmos à vontade. Não vamos criar embaraços desnecessários. Todas podem se sentar.
Diante disso, ninguém ousou insistir. Zhou Shunhua não pôde dizer mais nada, apenas suportou os olhares afiados das outras e sentou-se discretamente após agradecer.
Lu Yufei ficou no último assento, enquanto Zhou Shunhua e as demais concubinas não tinham permissão para sentar-se à mesma mesa que os mestres — uma mesinha separada foi arrumada para elas. Zhao Zixun sabia que Tang Shishi estava provocando Zhou Shunhua de propósito, mas ainda assim teve que agradecer:
— Obrigado, Wangfei.
Tang Shishi sorriu:
— Não há de quê. Afinal, a harmonia familiar é a base de tudo. Somos todos da mesma família. Devemos cuidar uns dos outros, não é mesmo, Shizi?
Zhao Zixun baixou a cabeça:
— O que Wangfei disse é muito verdadeiro. Aprendi uma lição.
Zhao Chengjun parecia concentrado na refeição, sem dizer uma palavra. Mas, por dentro, sua mente já tirava conclusões. Observou durante todo o dia como Zhao Zixun sempre se referia a Tang Shishi como Wangfei — e não a chamou de mãe nem uma única vez.
Realmente surpreendente.
Na verdade, Tang Shishi não estava acostumada a ser servida. Esse tipo de formalidade era típico do palácio imperial, mas ela nunca se adaptou. Sentiu-se aliviada quando Lu Yufei parou de ficar por perto e pôde comer os pratos de que gostava.
Ela nem percebeu quando mais um vegetal verde apareceu na sua tigela. Tang Shishi fez uma careta e tentou tirá-lo com os hashis. Mas, no meio do movimento, seus hashis foram interceptados por outro par:
— Ainda fazendo birra com comida?
Tang Shishi levantou os olhos para encarar Zhao Chengjun por um longo tempo. Por fim, comeu o vegetal de má vontade. Zhao Chengjun pegou mais dois para ela:
— Esses vegetais fazem bem para a sua saúde. Quanto mais perto do parto, menos frescura você pode ter com comida, entendeu?
A aula de “boas maneiras imperiais” recomeçou. Tang Shishi resmungou com impaciência:
— Tá bom. Eu sei.
Lu Yufei tinha acabado de se sentar e mal dera duas colheradas, já se sentia sufocada pela troca constante de afeto entre Tang Shishi e o Príncipe Jing — sem saber se faziam aquilo de forma intencional ou não. Não é à toa que Tang Shishi nos mandou embora... no fim das contas, é que estávamos atrapalhando o Wangye?
Havia quatro pessoas à mesa de jantar, e cada uma nutria pensamentos diferentes. Após a refeição, Tang Shishi foi para o salão lateral descansar. Lu Yufei queria segui-la, mas foi dispensada por Zhao Chengjun.
Compreensiva, Lu Yufei não ousou insistir ao perceber isso. Ao se retirar, notou que Zhao Zixun havia desaparecido — e Zhou Shunhua também. Lu Yufei permaneceu em silêncio no salão iluminado e majestoso da mansão, acompanhada apenas das igualmente bem-vestidas, mas frias, Ren Yujun e Ji Xinxian. Tristemente, ela percebeu que, naquela noite de véspera de Ano-Novo, quando a família toda deveria estar reunida… ela só tinha por companhia suas rivais declaradas.
Que ironia amarga.
Lu Yufei achava que Zhao Zixun tinha saído com Zhou Shunhua. Na verdade, não era isso. Naquele momento, Zhao Zixun estava parado num canto protegido do vento, observando com indiferença as lanternas sendo sacudidas pela ventania do norte, que batia nelas com sons surdos.
Um atendente atrás dele ainda tentava convencê-lo:
— …Shizi, o senhor deveria se preparar com antecedência. Nos últimos seis meses, o Wangye tem se rendido cada vez mais àquela mulher, o que mostra que ele foi completamente enredado pelo charme dela. A intenção da corte imperial de mover-se contra a Mansão Jing ainda não desapareceu. Se ela der à luz um filho, terá o apoio do palácio por fora e o favoritismo do Wangye por dentro. Receio que a sucessão do senhor esteja em risco.
Zhao Zixun respondeu num tom leve, zombando:
— É apenas um bebê que ainda nem nasceu. Nem sei se é homem ou mulher. Com que base ele competiria comigo?
— Se for uma filha, ótimo. Mas se for um menino, Shizi deve se preparar com antecedência — aconselhou pacientemente o atendente. — Afinal, será o filho biológico do Príncipe Jing. Mesmo que seja mais de dez anos mais novo que o senhor, não é problema algum para o Wangye continuar controlando a mansão por mais vinte anos em plena força. Quando chegar a hora… o senhor pode estar em perigo.
— Na sua opinião, o que deveríamos fazer?
— Eu vejo duas estratégias. — O atendente levantou dois dedos e explicou: — Primeiro, o senhor deve ter um filho o quanto antes. Um filho legítimo e primogênito é o ideal, e sua posição será ainda mais firme com um herdeiro. Segundo… é preciso cortar o mal pela raiz antes que aconteça.
O vento oeste uivava e varria os corredores profundos e sinuosos da mansão como o choro de uma criança. Zhou Shunhua recuou por trás de uma parede, pressionou com força o chapéu contra a cabeça e saiu apressada.
No salão lateral, Tang Shishi estava deitada na chaise longue e já dormia. A noite de vigília era longa demais para ela, e com o cansaço da gravidez, adormeceu quase instantaneamente.
Zhao Chengjun permaneceu ao seu lado, folheando o relatório imperial repetidas vezes. Não sabia o que acontecia naquele dia, pois, mesmo após muito tempo, não conseguia concentrar-se como de costume.
O “Wangfei” contido e distante que Zhao Zixun pronunciara continuava ecoando nos seus ouvidos. Já se passara o dia todo, e Zhao Chengjun revivia essa cena repetidamente, como se aquilo fosse uma tortura.
Ele ensinara aquele garoto a respeitar regras e etiqueta, a jamais demonstrar emoções ou impulsos. Se desejar algo, não deixe que ninguém perceba. Ele o moldara tão profundamente… que agora nem mesmo conseguia enxergar através de Zhao Zixun.
Zhao Zixun… o que você está pensando?
Tang Shishi dormiu por bastante tempo. Mais tarde, despertou levemente confusa e perguntou:
— Que horas são?
Zhao Chengjun foi tirado de seus pensamentos de repente. Olhou para baixo e viu que Tang Shishi havia acordado. Puxou o cobertor para cobri-la melhor e respondeu:
— Está quase na hora da virada do ano. Quer se levantar para dar uma olhada?
Tang Shishi tentou se sentar, mas não tinha forças. Zhao Chengjun a ajudou a se acomodar. Recém-desperta, ela sentia frio por todo o corpo. Apertou melhor o cobertor e resmungou:
— Qual é a graça? Agora estou desajeitada, pesada, minhas roupas são feias, e eu também estou feia. Qual a utilidade de sair assim?
Zhao Chengjun soltou uma risada calorosa:
— Nada disso. Você continua linda. Mesmo grávida, sua beleza não diminuiu em nada.
— Mentiroso.
— Estou falando sério. — Zhao Chengjun segurou a mão de Tang Shishi, envolvendo-a firmemente nas suas. — Quando foi que menti para você? Sem dúvida, você é a mais bonita.
Tang Shishi continuou emburrada, sem responder. Mas, aos poucos, seus olhos começaram a brilhar com um leve sorriso. Naquele instante, ouviu-se o estrondo dos fogos de artifício do lado de fora, seguido por aplausos e comemorações da multidão. Um brilho colorido se espalhou pelas janelas de papel.
Zhao Chengjun e Tang Shishi voltaram os olhos para a janela.
O Ano-Novo havia chegado.
Olhando para o céu cheio de fogos e lanternas, Tang Shishi de repente lembrou-se de que, nessa mesma época no ano anterior, ela ainda era uma criada incerta do próprio futuro, com dor de cabeça todos os dias por causa da disputa pela protagonista feminina. Tinha seguido Zhou Shunhua até a trupe de teatro e, por conta de uma reviravolta inesperada, acabou sendo usada e quase levou a culpa no lugar de Zhou Shunhua. Naquela época, não tinha como recuar e teve que empunhar a espada de Zhao Chengjun e dançar para ele.
Inesperadamente, um ano passou num piscar de olhos… e agora, ela carregava o filho dele.
Tang Shishi baixou os olhos para a própria barriga e sentiu o quão impermanente era a vida. Naquele tempo, jamais teria imaginado que acabaria se casando não com o protagonista masculino, mas com o pai dele.
Zhao Chengjun também pensava no que havia acontecido no ano anterior. Eles continuaram de mãos dadas, sem romper o silêncio que os envolvia. Após um momento, Tang Shishi sorriu e disse:
— Wangye, feliz Ano-Novo! Desejo que todo ano tenha um dia como hoje, e que hoje se repita a cada ano.
Essas foram as mesmas palavras que ela dissera a Zhao Chengjun no ano anterior. Ele sorriu baixinho ao recordar e, fitando os olhos de Tang Shishi com um olhar profundo e firme, respondeu:
— Que assim seja. Todo ano com um dia como hoje, e que hoje se repita a cada ano.
Com você, todos os anos.
O primeiro mês do ano era o mais movimentado nas casas alheias, mas, na Mansão do Príncipe Jing, era o mês mais tenso desde os últimos sete anos em Shentai.
A barriga de Tang Shishi ficava cada vez maior. Com a aproximação iminente do parto, toda a mansão — do pátio interno ao externo, dos mestres aos servos, da criadagem aos enviados da Imperatriz Viúva Yao — estava em estado de alerta.
Na noite do vigésimo dia do segundo mês, a mansão do Príncipe Jing, que até então estava silenciosa, subitamente mergulhou em agitação. Lu Yufei levantou-se com o rosto abatido. Ouviu barulhos apressados do lado de fora batendo no portão e alguém gritando com urgência:
— Shizifei! A Wangfei entrou em trabalho de parto!
Capítulo 93 – Manter o Filho
Lu Yufei despertou com o alvoroço no meio da noite. Vestiu-se às pressas, jogando um manto sobre os ombros, enquanto Zhang Momo já abria a porta do lado de fora. Pouco depois, ela voltou com o rosto sério e disse:
— Shizifei, a Wangfei está em trabalho de parto.
— Eu sei — respondeu Lu Yufei, rapidamente ajeitando os cabelos. — Acabei de ouvir. Momo, ajude-me a trocar de roupa, vou até a frente para ficar de prontidão.
Zhang Momo obedeceu, acendeu as luzes rapidamente e chamou as outras para ajudarem a vestir Lu Yufei. Ela mal tinha colocado o manto quando alguém apareceu no portão.
Zhang Momo foi atender. Quando voltou, seu semblante estava ainda mais carregado:
— Shizifei, a velha que veio avisar agora há pouco disse que o Wangye ordenou que ninguém pode sair. Se alguém for pego andando pela mansão sem permissão, será punido por traição.
Todas as criadas no quarto prenderam a respiração em choque. Acusar alguém de traição não era algo que se dissesse levianamente — ainda mais dentro da família imperial. Se fossem condenadas, nem suas famílias escapariam das consequências. O Príncipe Jing impôs uma proibição severa, com pena de morte, para impedir que alguém saísse ou espalhasse notícias.
Lu Yufei estava com a roupa pela metade. Ao ouvir isso, arrancou o grampo de pérolas da cabeça e o atirou sobre a caixa de joias com raiva:
— Chega. Não preciso mais me arrumar. Trabalhei à toa.
Zhang Momo nunca tinha passado por algo assim. Seus dedos tremiam de medo, e seu corpo inteiro estava inquieto e apreensivo. Era só um parto… não era como se nunca tivesse visto uma mulher dar à luz. Por que o Wangye precisava fazer tanto alarde?
Para quem não soubesse, pareceria que havia um motim acontecendo na mansão.
Lu Yufei respirou fundo, sentou-se pesadamente no banco e não conseguiu se mover por um bom tempo. Após um momento de silêncio, começou a se sentir sufocada e ordenou:
— Abra as janelas para ventilar. O carvão já está quase acabando. Troque a bacia por uma nova.
— Sim, senhora. — A criada respondeu, pegou a bacia de carvão e saiu para reabastecê-la.
Aproveitando que havia menos gente no quarto, Lu Yufei se aproximou de Zhang Momo e sussurrou:
— Momo, o Wangye não nos permitiu sair. Fique de guarda no portão lateral e preste atenção a qualquer movimentação. Assim que tiver alguma notícia, venha me contar sem demora.
Zhang Momo assentiu com firmeza:
— Eu entendo.
Mas, logo depois, hesitou e perguntou com a voz baixa, carregada de raiva contida:
— Shizifei, a senhora acha que o bebê será menino ou menina?
Lu Yufei apertou os lábios. Seu rosto ficou sombrio, ocultando sua expressão. Menino ou menina? Claro que Lu Yufei esperava que fosse uma menina.
Que o Céu tenha piedade... Não seria nada bom se ela desse à luz a um menino neste momento crítico.
Depois que Zhang Momo saiu, Lu Yufei ficou sozinha no quarto, andando de um lado para o outro, inquieta. No fim, não conseguiu suportar. Procurou apressadamente um rosário budista, sentou-se ao lado da cama e começou a rezar em silêncio, apertando as contas com força:
— Que seja uma menina, tem que ser uma menina.
Lu Yufei esperou ansiosamente por muito tempo. Quando o galo já se preparava para cantar, Zhang Momo voltou com o rosto desanimado. Ao ver a expressão dela, o coração de Lu Yufei afundou.
— Shizifei… a Wangfei deu à luz. É um menino.
Ao mesmo tempo, em vários pátios da mansão do príncipe, pessoas corriam discretamente de volta pelo portão lateral e passavam a notícia aos seus respectivos mestres:
— A Wangfei deu à luz um menino.
No pátio Yan’an, uma parteira segurava um recém-nascido enrolado em panos e mostrou o rostinho da criança a Zhao Chengjun com um sorriso gentil:
— Parabéns, Wangye. Veja, é um belo garotão, pesando oito jin.
A pele do bebê era toda avermelhada e seu rosto, enrugado e inchado. Naquele momento, os olhinhos ainda estavam fechados — ele não fazia ideia de que mundo havia acabado de entrar.
Era a primeira vez que Zhao Chengjun via um recém-nascido. Sentiu-se maravilhado com aquilo, como se presenciasse um milagre.
Uma criança é assim quando nasce? Em sua mente, sempre imaginou bebês enrolados em mantos vermelhos, limpinhos, rechonchudos e adoráveis. Sempre achara que vinham ao mundo assim, já prontos e perfeitos.
Mas, agora, percebia que quando chegavam ao mundo, eram pequenos e frágeis desse jeito. Ao ver que Zhao Chengjun olhava atentamente para a criança, a parteira, com coragem, guiou sua mão para que a estendesse, e colocou o bebê em seus braços.
Zhao Chengjun ficou completamente rígido. Olhava, meio atônito, para aquele serzinho tão pequeno na palma da sua mão. E pensava:
Esse é meu filho.
O filho meu e de Tang Shishi.
Será que eu era assim também quando nasci?
Zhao Chengjun não se atrevia a mexer os braços. Quando Liu Ji viu sua postura dura e travada, aproximou-se habilidosamente e pegou o recém-nascido em seus próprios braços:
— O Wangye é pai pela primeira vez e ainda não aprendeu a segurar uma criança. Depois de segurar algumas vezes, o senhor vai se acostumar.
Zhao Chengjun nunca havia pegado uma criança no colo, mas Liu Ji era experiente. E ao dizer “pela primeira vez”, não se sabia se era intencional ou não… mas parecia ter esquecido completamente da existência do filho adotivo.
Zhao Chengjun, no entanto, não percebeu esse detalhe. Aliviado por ver Liu Ji pegar a criança com segurança, perguntou:
— Onde está a Wangfei?
— A Wangfei está dormindo no quarto de parto.
Tang Shishi teve uma gravidez difícil, mas o parto em si correu bem — o bebê nasceu sem grandes complicações. Zhao Chengjun olhou para o quarto de parto, cujas janelas e portas estavam bem fechadas, e disse:
— Leve-o e deixe a ama de leite alimentá-lo. Liu Ji, vá você mesmo supervisionar tudo de perto.
— Sim, Wangye. — Liu Ji respondeu, com o rosto iluminado de satisfação.
Ele havia cuidado de Zhao Chengjun quando era pequeno e agora podia continuar cuidando do pequeno mestre. Estava radiante. Este era o herdeiro que o Wangye conseguiu com tanta dificuldade — seria o sucessor da Mansão Jing no futuro.
Xiang Wang, Teng Wang e o próprio Wangye tinham apenas este único filho. Para Liu Ji, esse menino era um verdadeiro tesouro incomparável.
Ele partiu com a ama de leite. Como era um eunuco do palácio, já havia servido o imperador e consortes anteriormente — era experiente e confiável. Por isso, Zhao Chengjun estava tranquilo em lhe confiar o bebê.
Depois de enviar a criança, Zhao Chengjun finalmente sentiu um alívio no peito e foi a passos largos em direção ao quarto de parto. As criadas e velhas parteiras que entravam e saíam à porta ficaram horrorizadas. Homens não podiam entrar no quarto de parto! Isso poderia trazer má sorte ou até arruinar a carreira de um oficial. Mas, ao verem o rosto do Wangye, nenhuma delas ousou abrir a boca — recuaram em silêncio.
Zhao Chengjun não dava ouvidos a superstições idiotas. Um homem não tem senso algum de sucesso ou fracasso em sua carreira? Que absurdo culpar o parto de uma mulher por isso. Lá dentro estava sua esposa, a mãe de seu filho. E ele havia cumprido um feito grandioso ao protegê-los. O que haveria para temer?
Assim que entrou e sentiu o cheiro forte de sangue no ar, seu coração disparou.
Ela sempre foi tão sensível, tão medrosa, e ele precisava convencê-la por horas só para deixá-la bater na mesa… e agora havia perdido tanto sangue.
Dujuan saía com uma bacia de água quente nas mãos. Quando ergueu os olhos e viu Zhao Chengjun, quase caiu de joelhos de susto:
— Wangye?!
Zhao Chengjun a silenciou com um olhar severo:
— Fique quieta.
Dujuan percebeu o erro imediatamente e fechou a boca. Zhao Chengjun perguntou:
— Ela está aí dentro?
— Sim — respondeu Dujuan em voz quase inaudível. — A Wangfei está exausta e acabou adormecendo.
— Pode sair.
Dujuan assentiu. Queria dizer algo, mas ao ver Zhao Chengjun se aproximando devagar da cortina da cama, percebeu que não precisava dizer nada. Pegou a bacia, fechou silenciosamente a cortina de seda… e saiu pé ante pé.
Zhao Chengjun abriu a cortina da cama. Quando viu a pessoa deitada ali, mesmo já preparado mentalmente, ainda assim sentiu uma forte dor no peito. A roupa de cama havia sido trocada, mas o cheiro de sangue ainda impregnava o ar. Os cabelos dela estavam completamente encharcados de suor, o rosto pálido, os lábios sem cor. Ela dormia profundamente, exausta, sobre o travesseiro.
Zhao Chengjun sentou-se à beira da cama e, com cuidado, puxou os fios molhados de suor para trás da orelha dela. Ela gostava tanto de se arrumar… e mesmo assim adormeceu assim, sem se importar — o que mostrava o quanto havia sofrido.
Ficou ali sentado, observando-a em silêncio. Tang Shishi, no entanto, não dava sinais de que despertaria. Uma das criadas, temendo que ele as culpasse, disse com cautela:
— Wangye, a Wangfei ficou muito cansada depois de dar à luz ao pequeno Junwang*. Logo, ela vai acordar.
(*Junwang – título dado ao filho de um príncipe)
Zhao Chengjun era um Qinwang*, o mais alto título para um príncipe, abaixo apenas do imperador. Sua filha seria agraciada com o título de Princesa, seu filho mais velho com o título de Shizi e, futuramente, herdaria o título de Qinwang. Os demais filhos receberiam o título de Junwang. Tang Shishi havia dado à luz um filho, e embora ainda não estivesse claro se ele era o primogênito ou o segundo, chamá-lo de pequeno Junwang não seria incorreto.
(*Qinwang – príncipe de mais alto escalão, abaixo apenas do imperador)
Zhao Chengjun levantou-se e disse:
— Deixem-na dormir. Ninguém está autorizado a acordá-la. A recuperação da Wangfei é o mais importante. Se alguém ousar falar com ela sobre assuntos externos ou trouxer visitas sem minha permissão, será executado sem piedade.
A criada se ajoelhou e abaixou a cabeça, assustada:
— Sim, senhor.
Zhao Chengjun ordenou que cuidassem bem de Tang Shishi e saiu a passos largos. Do lado de fora do pátio Yan’an, já havia um círculo de guardas posicionados em volta. Ele se dirigiu ao comandante e ordenou:
— Vigiem bem o portão. Ninguém entra sem minha autorização.
— Sim, Wangye.
Zhao Chengjun deixou o pátio. Naquele momento, a primeira luz da manhã mal começava a despontar. A brisa era fresca, e o sol prestes a nascer no leste. Zhao Chengjun não dormira a noite inteira, mas não sentia cansaço algum. Ao contrário, estava cheio de energia.
Ele sabia que o que o aguardava lá fora era uma tempestade ainda maior.
Uma única noite bastava para que as notícias se espalhassem. Zhao Chengjun foi até o escritório, abriu um pergaminho com calma e começou a redigir um memorial à corte. A nova adição ao feudo — e filho legítimo — precisava ser reportado à Mansão do Clã Imperial e registrado na genealogia dos Zhao.
Ao mesmo tempo, precisava escolher o nome da criança.
Zhao Chengjun sempre achou que os nomes para os filhos da nova geração seriam fáceis de escolher. Mas, agora que se tratava de seu próprio filho, percebeu que não era tão simples assim. Uma hora achava o caractere leve demais, outra hora não suficientemente digno, ou então antigo demais. Ficou indeciso por tanto tempo que atrasou mais do que esperava na escrita do memorial. Quando alguém veio prestar-lhe reverência, ele ainda não havia terminado.
Zhao Zixun parou à porta e cumprimentou:
— Pai.
Zhao Chengjun largou o pincel, secou a tinta e guardou cuidadosamente o papel na estante. Sua voz soou calma e indiferente, como sempre:
— Entre.
Zhao Zixun entrou, acompanhado por vários oficiais próximos de Zhao Chengjun, que também vieram cumprimentá-lo. Normalmente, eles falavam com liberdade, mas agora, após a saudação, todos permaneceram em silêncio.
Depois de um momento, Zhao Zixun foi o primeiro a romper o silêncio. Juntou as mãos e disse:
— Pai, parabéns. Fico feliz por ter um filho.
Zhao Chengjun apenas respondeu com um leve:
— En.
Ma Er não conseguiu se conter por mais tempo e perguntou, com voz grave e rouca:
— Wangye, quais são seus planos daqui em diante?
— Agir conforme o dever, proteger a fronteira e servir ao país — respondeu Zhao Chengjun com naturalidade. — Do contrário, que planos você acha que eu deveria ter?
Ma Er ficou sem palavras, o rosto até ficou vermelho:
— Wangye, o senhor sabe que não foi isso que eu quis dizer.
Ma Er era bruto e não sabia lidar com situações delicadas. O conselheiro tomou a palavra, falando com educação e respeito:
— Parabenizo o Wangye por ter mais um filho. O Shizi é elegante, inteligente e estudioso. O pequeno gongzi* é adorável, cheio de vida e saudável. É uma bênção para o feudo de Jing.
(*gongzi – título de cortesia para filhos da nobreza)
Zhao Chengjun assentiu:
— Agradeço os elogios do Senhor Lu. Espero vê-lo no banquete de um mês do bebê, para que possa escolher palavras auspiciosas para meu filho.
— Agradeço, Wangye. Será uma honra imensurável. — O Conselheiro Lu curvou-se com polidez e, de repente, mudou de tom ao tocar no verdadeiro assunto: — É uma grande alegria o Wangye ter um filho. Este pequeno gongzi é a esperança do feudo Jing. Juramos lealdade a ele. Contudo… não sabemos o que o Wangye pretende fazer com a mãe do pequeno gongzi.
Finalmente, havia chegado o momento. Zhao Chengjun já sabia que esse dia viria desde o instante em que descobriu que Tang Shishi estava grávida. Ela mal havia dado à luz na noite anterior e, naquela manhã, já estavam ali para cercar seu escritório.
Zhao Chengjun sentou-se ereto atrás da escrivaninha, com expressão serena, e declarou com a mesma voz calma com que sempre emitia ordens — firme e confiante:
— Ela é minha Wangfei. Deu à luz um filho esta noite. Naturalmente, deve ser honrada nesta mansão por seus méritos.
Ma Er não aguentou mais. O Conselheiro Lu lançou-lhe um olhar de alerta para que não fizesse nada precipitado, e então voltou-se para Zhao Chengjun, falando com sensatez:
— É natural reconhecer o mérito da Wangfei por ter dado à luz ao pequeno gongzi, mas essa mulher foi enviada pela Corte Imperial. Ela tem laços estreitos com a Imperatriz Viúva Yao. Há pouco tempo, a Imperatriz Viúva enviou sua Momo de confiança para recompensá-la. Wangye, sei que ama seu filho, mas há muitas mulheres virtuosas no mundo. O senhor pode encontrar uma jovem nobre para cuidar do pequeno gongzi. Enquanto ele ainda é pequeno e não se lembra de nada, pode ser rapidamente entregue a outra mulher para ser criado. Assim, o senhor não precisa se preocupar com o menino sendo influenciado de forma inadequada, nem com desarmonia na mansão ou distância entre mãe e filho.
Zhao Chengjun permaneceu em silêncio.
O Conselheiro Lu então se curvou profundamente e declarou, com reverência:
— Wangye, por favor, dê a ordem de manter o filho e descartar a mãe. Ordene a execução da mãe biológica do pequeno gongzi.
Capítulo 94 – Livrar-se da mãe
Os auxiliares e conselheiros fizeram uma profunda reverência, quase encostando a cabeça no chão. O sol brilhava pela janela, lançando um feixe prismático no ar. A fera dourada no canto da sala soltava fumaça silenciosamente, estendendo-a sob o calor do sol.
Havia um impasse estranho no escritório. Os outros subordinados pensavam como o Conselheiro Lu. Não importava a quem Zhao Chengjun favorecesse, ou se a mulher sentada no posto de Wangfei tivesse sobrenome Xi, Li ou Tang — de qualquer forma, ela não poderia ser alguém ligada à Imperatriz Viúva Yao.
Tang Shishi era uma beleza enviada pela Imperatriz Viúva Yao, com fortes conexões na corte imperial. Dizia-se que ela agia com arrogância, confiando apenas na própria beleza. Isso era praticamente uma armadilha para a Mansão Jing. Mesmo que ela não fosse assassinada, deveria ser deixada de lado e ignorada. Caso contrário, como o povo do feudo Jing poderia ficar em paz?
Dando um passo atrás, ainda que fosse por consideração à Imperatriz Viúva Yao que Zhao Chengjun teve que aceitar Tang Shishi como sua Wangfei, e mesmo que não pudesse matá-la antes da situação se esclarecer, não podia permitir que Tang Shishi criasse sozinha o herdeiro da Mansão Jing.
Aos olhos dos auxiliares e conselheiros — incluindo Ma Er e outros — o pequeno gongzi* nascido na noite anterior tinha o sobrenome Zhao e era o futuro da Mansão Jing, aquele que ajudaria Wangye e Shizi a conquistar o mundo. Mas Tang Shishi, não.
*gongzi — termo para filho nobre
Claro, o filho devia ficar, mas a mulher tinha que ser eliminada.
Eles estavam ali para forçar Zhao Chengjun a se posicionar: ou matava Tang Shishi ou restringia sua liberdade. De qualquer forma, ele precisava dar uma solução.
Sentado atrás da escrivaninha, Zhao Chengjun sentia a pressão silenciosa de todos. Se fosse antes, não faria nada contra a vontade popular. Contanto que não fosse questão de princípio, um passo atrás não faria mal. Mas desta vez, ele não queria.
Essa era a mulher que ele conquistou, oferecendo-lhe estrelas e lua, enfrentando dificuldades para mantê-la ao lado. Por que, com uma única frase, alguém poderia tirá-la dele?
Quando Tang Shishi engravidou, ele voltou correndo de Suzhou. Nos meses em que ela sofreu enjoos, ele esteve ao lado dela, suportando junto o sofrimento. Agora, a mulher de queixo delicado dera à luz um bebê de oito catties* na noite anterior — e tudo o que ela recebeu veio do próprio Zhao Chengjun, colher por colher.
*Uma unidade chinesa de peso, aproximadamente 500g.
Ele dedicou mais à Tang Shishi do que a qualquer coisa na vida. Prometeu acompanhá-la para sempre, suportando sua raiva por toda a vida. Agora, depois de apenas um ano, como poderia desistir?
A postura dos oficiais era clara, mas a determinação de Zhao Chengjun também. Tang Shishi certamente seria sua esposa e mãe de todos os seus filhos. Como mãe, era natural que criasse seus próprios filhos.
Zhao Chengjun poderia simplesmente confessar que ela era sua mulher amada e ninguém teria permissão para maltratá-la. Mas as coisas não eram tão simples. Proteger Tang Shishi era fácil, mas manter o coração do povo da mansão — fazer com que todos continuassem leais e sem reclamar — era o mais difícil.
Afinal, Tang Shishi carregava a marca da Imperatriz Viúva Yao. Se Zhao Chengjun não resolvesse isso direito, nem pensaria em levantar tropas contra a capital.
Mentir para acalmar os oficiais não era uma opção. Primeiro, isso contrariava o princípio de Zhao Chengjun de sempre ser honesto. Segundo, quem detinha o poder não temia errar nas decisões, mas sim a indecisão. Se ele não tomasse uma posição agora e empurrasse o problema para depois, acabaria perdendo tudo: o coração do povo, da esposa e do filho.
Zhao Chengjun passou mentalmente pela próxima fala, conferiu se estava à prova de falhas e então falou:
— Entendo todas as preocupações, mas ninguém pode se sustentar sem credibilidade. Já informei à corte e a todos que Tang Shishi é a Wangfei. Como posso voltar atrás e quebrar minha própria palavra? Desde que ela se tornou Wangfei, nunca soube que ela violou qualquer segurança interna ou externa. Agora que deu à luz um filho sem grandes problemas, por que deveria ser deposta? Mais ainda, estou aqui para proteger o território, defender nossa casa e nosso país, para que o povo possa dormir tranquilo. Embora ela seja uma dama da corte imperial, é também pessoa da Dinastia Yan e filha de seus pais. Vocês que me acompanharam pela vida e morte, que amaldiçoaram os tártaros por matarem inocentes desarmados, querem agora matar uma mulher que não fez nada errado e não tem poder para se defender, só porque é ligada à Imperatriz Viúva Yao?
Silêncio absoluto. Depois de um silêncio quase insuportável, o Conselheiro Lu falou:
— A Wangfei é realmente impecável. Porém, a ignorância não é crime, mas prezar um anel de jade vira pecado. Ela foi enviada pela Imperatriz Viúva, e sua beleza é seu maior pecado. Espero que Wangye renuncie ao amor por ela em prol da situação geral.
Zhao Chengjun respondeu:
— Não importa se sou uma pessoa que não distingue público de privado, ou mesmo que eu esteja confuso, a culpa é minha. Que interesse isso tem nela?
— Wangye! — todos suspiraram e se curvaram juntos — Esperamos que Wangye priorize a situação geral.
Zhao Chengjun conteve a raiva e disse:
— Se vocês dizem para pensar na situação geral, então falarei sobre ela com vocês. Meus pais e irmãos mais velhos estão mortos, os dois primeiros noivos morreram também. Já tenho fama nas ruas de trazer má sorte para esposa e familiares. Se algo acontecer com a Wangfei, não poderei jamais tirar o nome de ‘estrela solitária’.
Os ministros ficaram calados. O povo era ignorante e acreditava em espíritos. Um homem que trazia má sorte para mãe e esposa obviamente não servia para ser imperador.
Todos recuaram.
Outro auxiliar propôs um meio-termo:
— Wangye é bondoso, e não é impossível poupar a vida da Wangfei. Mas o pequeno gongzi é o futuro da mansão e não pode ser criado por alguém ligado à Imperatriz Viúva Yao. Wangye, por favor, mude o pequeno gongzi para fora do pátio interno e proíba que Wangfei o veja novamente.
Zhao Chengjun bateu com as mangas e respondeu calmo:
— Desde que cheguei ao feudo, educo o povo na lealdade, na piedade filial, na amizade, e na distinção entre esposa legítima e concubina. Se eu ignorar minha esposa legítima e entregar meu filho para outra mulher criar, o povo não pensará que prefiro a concubina à esposa? A longo prazo, como ganharei a confiança do povo e defenderei lealdade e piedade filial?
Ma Er não entendia essas palavras eruditas, mas ao menos percebeu que Zhao Chengjun não concordava em deixar seu filho e descartar a mãe, nem em tirar o pequeno gongzi de perto dela. Ansioso, disparou:
— Nem isso, nem aquilo serve. Então, o que devemos fazer?
Zhao Chengjun respondeu:
— Ela é Wangfei e mãe biológica do meu filho. Natural que crie a criança. Ela é sincera, filial e não é uma mulher ardilosa. Deve ser autorizada a criar o filho até a maioridade.
Zhao Zixun ouviu isso, abaixou os olhos e disse:
— Pai, ela é a armadilha enviada pela corte imperial.
— Eu sei — Zhao Chengjun aumentou um pouco o tom — Mas ela é, antes de tudo, a Wangfei de Jing, minha esposa e mãe do meu filho.
Todos ouviram o recado claro: Zhao Chengjun era parcial com Wangfei. Pelas palavras dele, Tang Shishi sempre seria Wangfei, e ele era um homem justo, com o verdadeiro poder nas mãos.
Eles subestimavam o grau de afeição que ele tinha por essa Wangfei. No começo, pensavam que ele só a tratava bem por causa da criança. Agora que o bebê havia nascido são e salvo, sugeriam matar Tang Shishi. Mas Zhao Chengjun era extremamente parcial com ela, até mais cuidadoso do que com seu filho.
Já haviam combinado suas posições, e bastava que Jing Wang aproveitasse a situação. Sem o consentimento dele, ninguém podia invadir a mansão e dificultar a vida da Wangfei.
Quem ousaria? Nenhum homem suportaria que estranhos tratassem sua esposa e filhos assim, nem mesmo um irmão morto. Dizem que irmãos são como braços e pernas, e mulheres como roupas, mas desde sempre, nenhum homem vive sem suas roupas.
Desde sempre, quem não se dava bem com a favorita do imperador não tinha bom fim.
O Conselheiro Lu rapidamente mudou de posição e interveio:
— A Wangfei conhece o que é certo. Com a orientação do Wangye, ela saberá distinguir o bem do mal, abandonar o mal e fazer o bem. Wangye é nosso pilar. Se ele confia na Wangfei, nós naturalmente confiamos nela.
Zhao Chengjun se sentiu aliviado e disse firmemente:
— Isso é natural.
Como o mais experiente Conselheiro Lu já havia expressado sua posição, os outros não tiveram o que responder e foram se despedindo, um a um, pedindo desculpas pelas palavras desrespeitosas dirigidas à Wangfei há pouco. O ambiente no escritório ficou delicado, e todos logo pediram licença para sair.
Quando estavam quase indo, a voz de Zhao Chengjun soou por trás, inesperada:
— As palavras ditas hoje, depois que saírem por esta porta, considerarei como se nunca as tivesse ouvido. A partir de agora, ela é a legítima Wangfei da Mansão Jing. Se alguém tentar prejudicá-la, eu lidarei com isso segundo a lei, sem exceções.
As pessoas se entreolharam, entendendo que Zhao Chengjun parecia calmo e tranquilo ao discutir certo e errado, mas na verdade estava realmente irritado com a perseguição contra Tang Shishi. Desta vez, a lei não culpava ninguém; da próxima, não teriam tanta sorte.
Vários baixaram o olhar, um a um, concordando.
Tang Shishi dormiu por muito tempo — mais do que jamais lembrava de ter dormido. Ela mexeu os dedos e as criadas, ao perceberem, se aproximaram uma a uma:
— Wangfei, você acordou?
Tang Shishi abriu os olhos com esforço e demorou para enxergar uma figura claramente. Olhou ao redor e perguntou:
— Que horas são?
— Wushi (19h às 21h).
— Wushi — murmurou Tang Shishi — Dormi tanto assim...
Fora noite quando ela dera à luz, mas não esperava que ainda estivesse escuro ao despertar. De repente, ela se lembrou de algo e perguntou apressada:
— Onde está meu filho?
— Wangfei, não se preocupe. O pequeno Junwang está aqui.
Do lado de fora da cortina, a voz de Dujuan vinha ao longe. Ela carregava um bebê enrolado em vermelho nos braços, seguida por duas madames sérias, as amas de leite da criança. Os olhos de Tang Shishi brilharam ao ver o bebê:
— Me dê ele rápido.
Dujuan colocou o bebê na cama, encostado em Tang Shishi. Muitas criadas se aglomeraram ao redor, olhando para o menino junto com ela.
— Wangfei, o nariz do pequeno Junwang é bem arrebitado, igual ao seu.
— E os lábios são tão vermelhos! A cor dos lábios é mais viva que a de uma menina. Quando crescer, não sei quantas moças disputarão seu favor.
As criadas riram alto juntas. Tang Shishi também sorriu, olhando o filho com amor.
O bebê ainda não era bonito. Sua pele estava manchada de vermelho e branco, o rosto cheio de rugas e os cabelos embaraçados. Mas para Tang Shishi, aquele era o rosto mais adorável do mundo.
Enquanto as criadas conversavam animadas, de repente um frio invisível tomou conta do ambiente. Elas logo perceberam que Jing Wang estava chegando.
Ergueram-se firmes, olhando para baixo e saudando:
— Wangye.
Tang Shishi tentou se mover e também fazer uma reverência, mas Zhao Chengjun a interrompeu rápido:
— O que está fazendo? Deite-se com calma. Você precisa se cuidar bem no pós-parto para não deixar nenhuma sequela.
Tang Shishi respondeu com um “en” e, apoiada pela mão de Zhao Chengjun, recostou-se lentamente no travesseiro. Ele sentou-se ao lado da cama, estendeu a mão para tocar sua testa e perguntou:
— Você finalmente acordou. Está sentindo algum desconforto?
Tang Shishi balançou a cabeça. Zhao Chengjun viu o quanto ela estava fraca e a estimou ainda mais. Sua voz ficou cada vez mais suave:
— Pedi à cozinha para preparar uma papa de frango desfiado para você. Quer comer agora?
Ela estava realmente com fome; o parto exigia muito esforço físico e agora mal conseguia se mover. Zhao Chengjun se levantou e ordenou aos servos:
— Tragam a comida. Ama, leve o bebê para lá.
Tang Shishi imediatamente bloqueou a passagem ao ouvir isso:
— Por quê? Só olhei algumas vezes. Por que querem levar ele embora?
— Ninguém quer levar embora — disse Zhao Chengjun suavemente — Você coma primeiro e depois o pegamos de volta.
Ao ouvir isso, Tang Shishi ficou mais tranquila. A ama levou o bebê, e Dujuan trouxe a papa. Ela ia provar a temperatura, mas Zhao Chengjun a interrompeu. Ele pegou a tigela, fez um gesto para as criadas:
— Podem sair.
Dujuan recuou educadamente:
— Sim.
As criadas saíram uma a uma. Zhao Chengjun não se intimidou com a presença delas. Testou a temperatura da comida na parede da tigela, pegou uma colher e alimentou Tang Shishi com firmeza:
— Abra a boca.
Ela abriu e franziu a testa:
— O gosto está muito leve.
— Você acabou de ter bebê. Não pode comer nada pesado, cheio de óleo e sal — disse Zhao Chengjun com carinho — Seja boazinha, coma o resto.
Dujuan ficou para fechar a porta. Depois que a última criada saiu do quarto interno, uma delas comentou com inveja:
— Wangye é tão bondoso com a Wangfei. Não tem preconceito com a má sorte da sala de parto. Ele ainda a alimenta pessoalmente. Se fosse outra família, quem cuidaria da nora depois do parto?
Dujuan os olhou com severidade:
— Silêncio, saiam rápido.
As criadas abaixaram a cabeça e se afastaram depressa. Dujuan espiou pelo tecido da cortina e olhou para dentro novamente. A cortina embaçada deixava ver um homem sentado ao lado da cama, pacientemente alimentando a esposa que acabara de dar à luz. Dujuan ficou aliviada, fechou a porta e saiu silenciosamente.
O salão principal do pátio Yan’an era amplo e profundo, e Zhao Chengjun e Tang Shishi no quarto interno não ouviram barulho na entrada. Depois que Zhao Chengjun alimentou Tang Shishi, deixou a tigela sobre a mesa ao lado e disse:
— Escrevi algumas opções para o nome dele, não consigo decidir qual é melhor. Você vai olhar depois.
Era sobre o nome do bebê. Tang Shishi aceitou prontamente. Pensou em algo, hesitou um pouco, e perguntou:
— Wangye, onde o bebê vai morar no futuro?
— Naturalmente, ele vai morar conosco — disse Zhao Chengjun calmamente — Pode ficar tranquila. Ele tem duas amas de leite, quatro momos e várias criadas mais velhas por perto. Liu Ji vai mandar alguém vigiar, para que você não se canse.
Tang Shishi claramente ficou aliviada. Não tinha medo de se cansar, tinha medo de perder o filho.
A felicidade de o filho ficar com ela era inesperada.
Tudo aconteceu rápido demais e com tanta facilidade que Tang Shishi achou que fosse mentira. Mordeu o lábio, hesitou algumas vezes e gaguejou:
— Wangye... e os outros, eles não disseram nada?
Zhao Chengjun continuou calmo:
— Não. Ele é meu filho e não deu tempo para os outros no casarão ficarem felizes, então por que eles o rejeitariam? Não precisa se preocupar, todos gostam muito dele e também são muito gratos a você. Você se esforçou muito até aqui. Tudo isso contribuiu para o nascimento de uma criança tão saudável. Agora, você precisa cuidar do seu corpo e se recuperar rápido, para poder cuidar melhor do seu filho e tranquilizar todos dentro e fora da mansão.
Tang Shishi ficou claramente aliviada. Sempre se preocupou que o pessoal do pátio externo da Mansão Jing não gostasse dela. Mas, inesperadamente, era ela quem projetava ideias ruins sobre gente decente. O pessoal do pátio externo pensava diferente, com bondade para mãe e filho.
Os olhos de Tang Shishi brilharam e ela sorriu radiante:
— Tudo bem.
Ela precisava se recuperar o quanto antes, continuar cumprindo os deveres de Wangfei da Mansão Jing e nunca decepcionar ninguém.
Capítulo 95 — Lua Cheia
No terceiro mês, o vento soprava pelo Passo Yumen, o gelo e a neve derretiam, e a terra começava a revelar seus tons de verde.
A luz do sol entrava pela janela e aquecia o sofá. Tang Shishi ainda não podia sair por causa do vento, mas não havia problema em tomar sol junto à janela e caminhar pelo quarto com o bebê nos braços.
Tang Shishi caminhava lentamente pelo cômodo, carregando o filho. Zhao Chengjun entrou, viu seu movimento e perguntou:
— Ele está recusando dormir de novo?
Quando Tang Shishi se virou e viu Zhao Chengjun, suspirou levemente e respondeu em voz baixa:
— Sim, ele ficou se mexendo a manhã toda e ainda não quer dormir. Quero que ele tire uma soneca agora, senão vai dormir à tarde e, à noite, vai ficar agitado.
O menino estava nos braços de Tang Shishi, com os olhos semicerrados, já um pouco sonolento. Zhao Chengjun se aproximou, tirou o bebê dos braços dela e disse:
— Me dá ele. Você descanse um pouco.
Crianças mudam muito rápido. Passados mais de vinte dias, o bebê já não era aquele macaquinho enrugado do nascimento, mas sim um pãozinho branco e fofinho. Segurar um “forninho” tão grande, mesmo sem ser pesado, já era um desafio depois de alguns longos períodos.
Tang Shishi entregou o bebê a Zhao Chengjun, puxou cuidadosamente a manga para fora debaixo dele e falou baixinho:
— Ele não consegue dormir direito. Não acorde, senão não dorme mais.
Zhao Chengjun assentiu e carregou o menino com destreza. No começo, no primeiro dia, tinha medo de pegar o bebê, mas depois de tantas vezes, aprendeu sozinho, sem professor.
O braço de Zhao Chengjun era mais firme que o de Tang Shishi. O bebê pareceu sentir essa aura firme no pai, e, em vez de atormentar a mãe como antes, logo adormeceu profundamente. Tang Shishi sentou ao lado, exercitando os pulsos. Vendo o filho dormir rápido, ficou irritada, mas não podia se irritar de verdade:
— Bully o fraco e teme o forte. Ele é obediente toda vez que você chega. Comigo e as criadas, não é assim.
Zhao Chengjun caminhou até a beirada do sofá, colocou o bebê cuidadosamente no assento e riu do que Tang Shishi disse:
— Seu próprio filho. Bully o fraco e teme o forte. Você acha que deve culpar quem?
Tang Shishi, provocada, ergueu a sobrancelha rapidamente. Encostou-se do outro lado e perguntou:
— Wangye, está dizendo que eu bully o fraco e temo o forte?
— Não disse isso — respondeu Zhao Chengjun. Depois de acomodar o bebê, sentou-se ao lado dela e massageou delicadamente seus pulsos. — Se estiver cansada de carregar, deixe a criada fazer isso. Ele já pesa nove catties. Cuidado pra seus pulsos não aguentarem.
Tang Shishi ficou irritada com a ideia de que ela bully o fraco e teme o forte. Quis puxar a mão, mas, mesmo tentando várias vezes, não conseguiu. Desistiu e deixou Zhao Chengjun massagear lentamente:
— Já respondeu o tribunal imperial? O nome dele está definido?
— Chegou hoje. Está definido — disse Zhao Chengjun. — A Mansão do Clã Imperial escolheu o caractere “Gao” e já o colocou no registro genealógico.
Tang Shishi bufou insatisfeita:
— Eles ainda usaram o que você escolheu. Você deixou alguma mensagem escondida na carta?
— Você tem que provar isso — Zhao Chengjun acariciou a cabeça dela e falou — Você viu com seus próprios olhos quando a carta foi colocada no envelope. Eu não disse nada dentro. Nem sei quem abriu a carta. Isso só mostra que até o pessoal do clã imperial achou que o nome que escolhi é mais adequado para um menino.
Quando Zhao Chengjun teve que nomear o filho, não conseguiu decidir qual caractere usar. Pediu ajuda a Tang Shishi, mas quanto mais escolhiam, mais nomes surgiam, e eles tinham opiniões completamente diferentes. Zhao Chengjun gostava de nomes masculinos como “Cheng”, “Nuo”, “Gao”, e assim por diante. Tang Shishi, que não gostava da tradição, preferia “Yi”, “Mi”, “Jin” e similares.
Nenhum dos dois conseguia convencer o outro. No fim, Zhao Chengjun escreveu esses caracteres em uma memorial e enviou para a Mansão do Clã Imperial, pedindo que escolhessem um nome para o bebê.
O resultado chegou hoje: eles escolheram o caractere “Gao”, que já foi registrado oficialmente.
— Zhao Zigao — Tang Shishi franziu os lábios e reclamou baixinho — Parece nome de menino de primeira viagem.
Zhao Chengjun ergueu as sobrancelhas, sem saber se ria ou chorava:
— E se não fosse?
Tang Shishi continuava insatisfeita. Pensando nisso, seu coração ficou inquieto:
— Você realmente não subornou ninguém na Mansão do Clã Imperial? Os nomes que escolhi são muito melhores.
— É, você escolheu melhor — concordou Zhao Chengjun — Quando nossa filha nascer, você que escolhe o nome. Que tal?
Tang Shishi se virou para olhá-lo:
— Como sabe que o próximo vai ser menina?
Zhao Chengjun não conteve a risada. Tang Shishi não percebeu a armadilha nas palavras dele e o seguiu completamente, o que mostrava que não o rejeitava por causa dos filhos. Ele sorriu e disse:
— Também não tem problema se for menino.
Tang Shishi ficou surpresa, reagiu de repente, puxou a mão com força e olhou para ele com raiva:
— Quem quer te dar um bebê?
A pele de Tang Shishi era branca como a neve. Ela segurava os pulsos, girava delicadamente os ossos e se reclinava no braço do sofá. Suas mãos finas e alvas descansavam no encosto com naturalidade, quase brilhando sob o sol.
Os olhos de Zhao Chengjun foram para as mãos dela, subiram lentamente para a pele úmida e luminosa, o pescoço esguio, os lábios vermelhos e a pele nívea. Seus olhos escuros eram delicados. Quando ela se apoiava no sofá, parecia reservada e delicada, com uma beleza extraordinária.
Tang Shishi estava bem cuidada no pós-parto. Seu queixo ainda era delicado, mas havia ganhado carne nas bochechas, muito mais arredondado que na gravidez. Antes, ela estava magra demais, com ossos visíveis. Agora, a carne estava na medida certa, e o sangue em plena vitalidade. Ao contrário, ela estava ainda mais bela que antes.
Além disso, diferente de outras jovens mães, sua cintura voltou rápido ao fino, mas o peito e os quadris ficaram arredondados, e a pele, delicada como porcelana. Sua juventude deu lugar a uma ternura maternal, como uma pérola polida que brilha intensamente.
Zhao Chengjun estava satisfeitíssimo — era assim que uma Wangfei devia ser. Sua esposa deveria ser orgulhosa e livre, luminosa e bela, calma e tranquila, alheia ao sofrimento do mundo. Ser magra demais ou abatida significava que o marido falhara.
Ele segurou os dedos finos e macios de Tang Shishi, e isso despertou um desejo crescente. Pensou silenciosamente no que o médico imperial dissera sobre quando poderiam ter intimidade depois do parto.
Tang Shishi não prestava atenção em Zhao Chengjun. Estava pensando no bebê e falou:
— Ainda bem que a carta do tribunal imperial chegou antes da lua cheia, senão seria difícil organizar a festa. Você viu o lugar para a cerimônia da lua cheia? Precisa mudar algo?
Zhao Chengjun resmungou despreocupado:
— Já está muito bom, não precisa mudar nada. Só dê uma olhada nessas coisas de leve. Tenho tantos servos, não é pra eles comerem arroz grátis, é pra você não precisar fazer tudo sozinha. Sua prioridade é se recuperar, o resto você deixa com eles.
— Eu sei — respondeu Tang Shishi — Só vou olhar a lista e as criadas fazem o resto. Não vou me cansar. Já faz um mês, não sou de papel. Como poderia ser tão delicada?
Zhao Chengjun pensou que ela era mais delicada que papel. Quis falar algo, mas viu de relance o sofá e perguntou:
— Você disse que ele não dorme direito?
— Sim — suspirou Tang Shishi — Igual a você, acorda com qualquer barulho. Temos que falar baixinho pra não acordar.
Zhao Chengjun suspirou:
— Ele já está acordado.
Tang Shishi ficou surpresa e se levantou rapidamente para encontrar Zhao Zigao deitado no sofá desmoronado, com os olhos grandes olhando para o teto enquanto mordia as próprias mãos. Tang Shishi ficou sem jeito, sentou-se na beirada do sofá e puxou o pequeno punho dele para fora da boca:
— Você, hein, só sabe aprender o ruim e não o bom. Só sabe aprontar com a mãe.
Zhao Chengjun a acompanhou até o outro lado do sofá, apoiando os braços no encosto como se estivesse protegendo Tang Shishi e o filho nos braços.
— Vou fazer duas amas de leite revezarem durante a noite. Agora que os dias estão mais longos, deve estar sendo mais difícil para ele dormir.
Tang Shishi também sentia o mesmo. Tirou o lenço e limpou cuidadosamente as mãos do filho. O menino abriu os olhos bem grandes para olhar os dois adultos à sua frente e, de repente, sorriu para Zhao Chengjun.
Zhao Chengjun ficou surpreso e falou admirado:
— Ele sorriu.
Tang Shishi estava limpando as mãos do filho quando ouviu isso e logo levantou a cabeça:
— Como assim, ele pode sorrir?
— Pode sim. — Zhao Chengjun sentou-se ao lado do ombro dela e olhou atentamente para o rosto do menino — Ele realmente sorriu agora há pouco. Zhao Zigao, sorri mais uma vez.
Tang Shishi olhou para o filho com expectativa, mas dessa vez Zhao Zigao desviou os olhos e recusou sorrir, não importava o que fizessem. Tang Shishi ficou desapontada e disse, meio magoada:
— Eu carrego ele o tempo todo, e ele nem sorri pra mim.
Zhao Chengjun a consolou, abraçando o filho rapidamente:
— Tudo bem. Ele ainda é pequeno, vai sorrir mais tarde.
— Isso é diferente. — Tang Shishi continuava decepcionada — Eu passo mais tempo cuidando dele, mas o primeiro sorriso não foi pra mim, foi pra você. Por quê?
Zhao Chengjun ficou sem jeito de que ela também quisesse disputar isso. Ele disse:
— Não, ele estava olhando para você naquela hora. Talvez tenha sorrido pra você, só que você não viu por acaso. Olha rápido, ele sorriu de novo.
Dessa vez, Tang Shishi também viu e finalmente recuperou um pouco do equilíbrio no coração. Depois disso, os dois continuaram provocando Zhao Zigao para sorrir, sentados no sofá, até que Liu Ji entrou e interrompeu Zhao Chengjun:
— Wangye, o Mestre Liu chegou e está esperando há muito tempo.
Zhao Chengjun relutantemente colocou o filho no sofá e, com pesar, se despediu da esposa e do filho:
— Vou sair para tratar de assuntos oficiais, volto logo para fazer companhia a vocês.
— Vá logo. — Tang Shishi respondeu sem levantar a cabeça. — Vá rápido.
Ela nem olhou para ele. Zhao Chengjun parou por um momento, percebeu que não conseguiria competir com Zhao Zigao pela atenção de Tang Shishi e saiu silenciosamente.
Lá fora, as cores da primavera estavam vibrantes e bonitas, os pássaros cantavam de vez em quando, e a terra estava cheia da excitação do retorno da estação. Zhao Chengjun e Liu Ji caminhavam nessa vitalidade intensa.
Liu Ji sorriu e disse:
— Wangye, você costumava dizer que não gostava de crianças e que ficava com dor de cabeça quando ouvia elas chorando. Agora vejo que você claramente se dá bem com o pequeno senhor.
Zhao Chengjun ficou sem palavras, sem saber o que responder. Os fatos provavam que certas coisas não deveriam ser ditas cedo demais. Quando se leva um tapa na cara, acabou — todo mundo pode rir da sua cara.
E quanto mais firme na fase inicial, mais doloroso é o tapa na cara depois.
Na verdade, Zhao Chengjun não mentia. Não era que Liu Ji e os outros achassem que ele não entendia nada por ser jovem e só depois descobriu o valor da esposa e da família. Antes disso, ele realmente planejava não se casar na vida.
Quem diria que encontraria Tang Shishi e faria algo ridículo por uma reviravolta inesperada? Não era que ele quisesse se casar, queria se casar só com Tang Shishi.
Mas não precisava contar isso para os outros.
O bebê estava quase completando um mês. Nesse mês, Tang Shishi focou em cuidar do corpo, agradecendo os convidados atrás da porta fechada, isolando-se do mundo exterior e só convivendo com o filho e Zhao Chengjun diariamente. Embora Zhao Zigao causasse algum trabalho, havia muita ajuda. Se dava um pouco de trabalho, as criadas e as amas faziam. Tang Shishi só precisava mexer a boca, o que não cansava nada. Ela não precisava se esgotar e podia aproveitar a alegria de ter dado à luz. Zhao Chengjun também visitava o filho com frequência.
Esse mês, Tang Shishi teve uma vida extremamente confortável. Naturalmente, isso refletia em sua expressão.
Hoje em dia, Tang Shishi tinha uma aparência suave, pele brilhante e olhos lustrosos como cristal puro. Lu Yufei e outras ficaram surpresas ao vê-la pela primeira vez no banquete da lua cheia.
Se não fosse pelo bebê nos braços e pela barriga de grávida que não podia ser escondida, Lu Yufei quase desconfiava que Tang Shishi nem tivesse engravidado. Será que outra pessoa tinha dado à luz a esse filho?
Não só Lu Yufei pensava assim, mas as madames que vieram como convidadas também ficaram pasmas ao ver Tang Shishi:
— A Wangfei se recuperou muito bem. Realmente, os jovens têm uma boa base, e sua cintura ficou tão fina em apenas um mês.
— Não — reclamou Tang Shishi, segurando o filho — Eu engordei muito. Até meus braços estão mais grossos que antes.
Uma madame idosa sorriu e disse:
— Mulher é assim. Quando está no quarto, nem pode segurar uma agulha. Quando tem um filho, não se cansa de carregar um bebê de mais de dez catties sozinha por horas. A Wangfei está ficando cada vez mais forte de tanto carregar o pequeno Junwang o dia todo, não é?
Todos riram juntos. Tang Shishi olhou para o filho nos braços sorrindo e disse:
— Ele cresce muito rápido, agora eu consigo segurar um pouco, mas daqui a alguns meses acho que não vou conseguir mais.
— É bom para a criança crescer rápido. Melhor deixar o pequeno Junwang crescer cercado pelas criadas e pelas amas — outra senhora apertou o braço de Zhao Zigao e comentou surpresa — Olha esse braço firme. No futuro, será uma ótima qualidade para estudar e praticar artes marciais.
As damas se juntaram em volta de Zhao Zigao e conversavam animadamente. Crianças eram o assunto mais fácil para quebrar o gelo. Tang Shishi escutava as madames falando sobre experiências de criação e pedia conselhos de vez em quando. O ambiente ficou harmonioso por um tempo.
Lu Yufei ficou atrás de Tang Shishi, baixou a cabeça silenciosamente e olhou para a barriga ainda lisa com tristeza. Não queria ouvir aquele assunto, mas era nora e tinha que atender à sogra em uma ocasião tão importante.
Tang Shishi sentou-se no assento principal e era bajulada por todos. Lu Yufei teve que ficar atrás servindo chá e água, perguntando pela saúde o tempo todo.
Antes de Tang Shishi, Lu Yufei era a Shizifei. Essa ocasião sempre fora seu momento de destaque. Mas agora, com Tang Shishi, Lu Yufei não só desapareceu da mansão, como também dos olhos dos convidados.
Enquanto todos conversavam, perguntavam cuidadosamente pelas preferências de Tang Shishi e nem prestavam mais atenção em Lu Yufei, que permanecia atrás.
Até agora, Tang Shishi dera à luz seu primeiro filho legítimo. Ela não teve problemas para manter a guarda do filho, não perdeu seus direitos maternos e ainda ocupava firmemente o posto de Wangfei. Todos sabiam que ela era muito favorecida por Jing Wang e que sua posição era sólida como uma fortaleza impenetrável. As madames se apressavam para bajular Tang Shishi antes que fosse tarde demais; quem se lembraria de Lu Yufei?
Lu Yufei suportava todas essas diferenças. Quem a tornara Shizifei e Tang Shishi Wangfei, que naturalmente estava um degrau abaixo dela? O que Lu Yufei realmente não conseguia aceitar era o caminho completamente diferente que as duas seguiam depois do casamento.
Lu Yufei e Zhao Zixun, como muitos casais nobres, se afastaram irremediavelmente após um mês curto e doce. O distanciamento entre eles aumentava, assim como o número de concubinas. No fim, marido e mulher mantinham apenas as formalidades devidas.
Mas Tang Shishi era diferente. Apesar de toda a pose e arrogância, quanto mais difícil ela era, mais favorecida se tornava. Conquistou seu status e seu filho. Tang Shishi estava casada há mais de meio ano, não havia outras concubinas por perto até então, e seus olhos ainda tinham o brilho de uma jovem senhora, claros e vivos.
Era a expressão de alguém que nunca tivera feridas ou tivesse se chocado contra o muro frio do sul. Tang Shishi era jovem, bonita e também muito favorecida. Com a idade dela e do Jing Wang, ter mais alguns filhos não seria problema algum.
Lu Yufei acariciava a barriga com os olhos baixos. Desde que Tang Shishi ficou grávida, muita gente entrou em pânico, especialmente depois que ela deu à luz um filho, e a família Lu ficou completamente em choque. A família pressionava Lu Yufei para que ela tivesse um bebê logo, e até suas melhores amigas a apressavam. Ela mesma também desejava, mas não tinha a palavra final sobre isso.
Não sabia quantos remédios para fertilidade tomara, fez todas as oferendas a Guanyin, aos sacerdotes taoístas e a Buda, mas ainda assim não conseguia engravidar. Buscava, mas não conseguia, e ainda tinha que ouvir Tang Shishi e outras madames falando sobre as dificuldades de criar filhos, como se arrancassem carne do peito de Lu Yufei.
Lu Yufei não invejava a grandeza de Tang Shishi, mas invejava o seu favor. Quem não passou por isso jamais entenderia se o marido realmente a amava e se dispunha a ser cuidadoso com ela. A diferença era enorme. Se o relacionamento entre Lu Yufei e Zhao Zixun era tão frio, por que ela ainda tirava o próprio coração até agora?
Mas, mesmo as mesmas pessoas têm destinos diferentes. Quem diria que o romântico e bonito Zhao Zixun se tornaria cruel após o casamento, enquanto o imponente e indiferente Jing Wang era extremamente favorável à esposa? Claramente, vinham da mesma mansão, mas o tratamento era completamente diferente. Provavelmente, esse era o destino de Lu Yufei.
A presença de Tang Shishi no banquete da lua cheia era um anúncio formal à sociedade de que ela estava de volta. Após o início do banquete, Zhao Zigao foi levado por Liu Ji para o pátio da frente para ser mostrado aos homens, depois foi levado de volta ao pátio dos fundos.
Felizmente, era primavera, o tempo não estava frio, e não importava se o bebê estivesse bem enrolado. Afinal, Zhao Zigao ainda era muito pequeno e ficou exausto depois de ver tanta gente hoje. Tang Shishi parecia aflita e pediu à ama de leite que o levasse para dormir nos fundos.
Tang Shishi queria cuidar dela mesma, mas hoje era a anfitriã e precisava entreter os convidados, então não podia escapar. A ama de leite aceitou a ordem e partiu. Tang Shishi ficou preocupada e inquieta. Quando teve oportunidade, voltou silenciosamente para o pátio dos fundos para conferir.
Ao ver Tang Shishi, as amas de leite e criadas logo a cumprimentaram:
— Wangfei.
Tang Shishi acenou com a mão e perguntou:
— Levantem-se. Ele está dormindo?
— O pequeno Junwang está muito comportado hoje e adormeceu rapidinho, sem precisar ser ninado — a ama de leite puxou a cortina para mostrar Tang Shishi — Ele já dorme há um bom tempo.
Zhao Zigao estava com os olhos fechados, respirando firme, parecendo dormir profundamente. Tang Shishi se acalmou e sussurrou:
— Olhem bem, não deixem ninguém incomodá-lo. Ele pode sentir fome daqui a pouco. Se conseguir dormir de novo depois da amamentação, deixe que ele continue dormindo. Se acordar, tragam-no para o salão e eu cuido dele.
— Sim.
Tang Shishi observou por um tempo para confirmar que estava tudo bem antes de sair. Ao se preparar para ir, seus olhos atentos perceberam algo.
Tang Shishi tirou do enfaixamento um delicado gancho de jade e perguntou:
— O que é isso?
A ama de leite arregalou os olhos surpresa:
— Não é uma coisa da Wangfei? Achei que fosse um talismã que a Wangfei deu ao pequeno Junwang, e achei bonito, então deixei com o bebê.
Tang Shishi virou o gancho de jade de um lado para o outro, franzindo a testa, e perguntou:
— Quando você viu isso?
— Não prestei atenção — respondeu a ama. — Mas quando eu ninava o pequeno Junwang para dormir, ele já estava lá.
Tang Shishi franziu os lábios, pensando que ele já estava lá quando o bebê adormeceu. Isso significava que alguém havia colocado o gancho no filho discretamente, seja quando o levaram do salão para os fundos, seja na ida e volta entre o salão do banquete e o pátio da frente.
Felizmente, era apenas um gancho de jade. Se fosse outra coisa, seria inimaginável. Mas por que alguém se daria ao trabalho de colocar um gancho de jade no bebê?
Ao ver que Tang Shishi ficou pálida, a ama de leite ficou apavorada, ajoelhou-se e disse rápido:
— Wangfei, me perdoe, eu não sabia de nada. Será que tem algo errado com esse objeto?
Tang Shishi estava prestes a repreender a ama por descuido quando um pensamento atravessou sua mente.
Gancho de jade... Ela segurou um jade na mão quando nasceu e o soltou ao ver o imperador. Não era esse o gancho da Madame Gouyi?
Tang Shishi ficou gelada, como se tivesse caído numa caverna de gelo. Madame Gouyi foi uma concubina famosa por ser muito favorecida na história. Era filha de um plebeu que subiu ao céu por causa do favor do imperador. Depois deu à luz um príncipe, e os oficiais temiam que o filho e a jovem mãe ficassem fortes, e que os parentes externos tivessem poder. Por isso, mandaram o imperador Wu matar o filho e a mãe, e mataram Madame Gouyi.
Será que alguém colocou o gancho de jade nas roupas de Zhao Zigao para usar a história da Madame Gouyi e avisar Tang Shishi para tomar cuidado com guardar o filho e descartar a mãe?
Será que isso já aconteceu ou está acontecendo agora?
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