Mas Nangongxuan não se importava com nada disso. Seu cultivo seguia tranquilo, ele possuía uma esgrima única, e inúmeras oportunidades mágicas pareciam destinadas a ele. Que importância tinha a catástrofe da humanidade para mim?
Depois de muitos anos, Nangongxuan abriu as Sete Estrelas, tornando-se a única pessoa a alcançar o Reino de Yaoguang desde Jiang Ziyu.
Não — seus feitos até superaram os de Jiang Ziyu. Jiang Ziyu havia cultivado até seis estrelas aos dezenove anos. Todos diziam que, se lhe dessem mais dez anos, ele certamente se tornaria o primeiro cultivador de sete estrelas do continente. Mas Jiang Ziyu não conseguiu nada disso. Foi condenado ao Tumotai, e a estrela mais brilhante da história do mundo da cultivação caiu.
Mas Nangongxuan havia conseguido. Cheio de vitalidade, ele pensava, com certo desdém, que talvez nem fosse inferior a Jiang Ziyu em sua juventude. Esse tal de gênio... não é nada demais. Em termos de sorte e força, Jiang Ziyu não chega aos meus pés. Sem as técnicas de espada, os métodos espirituais e os tesouros mágicos deixados por Jiang Ziyu, Nangongxuan acreditava que ainda assim teria atingido o topo do continente.
Com ambição transbordando, fundou seu próprio império. Quando estava prestes a comandar os céus e dar conselhos ao mundo, sua cultivação entrou em um gargalo.
Jiang Ziyu havia morrido aos dezenove anos. As artes da espada e os métodos que deixou para trás só iam até o Reino de Kaiyang. Nangongxuan não conseguia mais avançar. E naquele tempo, o mundo exterior já não estava calmo — a energia demoníaca se tornava cada vez mais forte, e a humanidade perdia terreno na guerra contra os monstros.
No fim, o desastre chegou até ele. Seu império caiu em meio a uma maré de bestas.
A aura espiritual remanescente era escassa, mas Nangongxuan e suas belas concubinas ainda viviam em desperdício. O povo já havia perdido a fé. Quando a capital real foi invadida, Nangongxuan tentou reunir seguidores para um contra-ataque — mas ninguém o seguiu. Seu império, do qual tanto se orgulhava, desmoronou como um castelo de areia.
Se a pele já não existe, onde o pelo vai se fixar? Sem o povo, que imperador restaria?
Sem alternativas, Nangongxuan abandonou o sonho de reerguer o país. Pensou que, em tempos de calamidade, o melhor era se proteger primeiro, antes de salvar o mundo. Fugiu com seu harém. Acreditava que aquelas mulheres seriam gratas, mas foi traído, enganado e abandonado ao longo do caminho.
Quando estava no auge, incontáveis beldades o seguiam anonimamente, disputando por ele com ciúmes, armando intrigas veladas. Mas no instante em que ele deixou de fornecer joias e roupas finas, o abandonaram sem hesitar.
Quando ficou gravemente ferido, a esposa mais velha — a que mais confiava, com quem estava há mais tempo — o esfaqueou pelas costas e sugou todo o seu poder.
Foi então que Nangongxuan descobriu: ele não era o único no Continente Imortal que havia aberto as Sete Estrelas nos últimos anos. Muitos cultivadores haviam usado os métodos de Jiang Ziyu para alcançar o Reino Kaiyang. Eram discípulos ou conhecidos antigos de Jiang Ziyu. Com recursos suficientes, chegavam facilmente às seis estrelas. Mas, a partir daí... todos travavam.
Ele e os demais não haviam aberto de fato os verdadeiros meridianos das Sete Estrelas. Eram apenas falsos praticantes do Reino de Yaoguang.
O pobre Nangongxuan confiava tanto em sua esposa. Acreditava firmemente que, acontecesse o que fosse, aquela mulher virtuosa e gentil jamais o trairia. A realidade, porém, lhe deu um tapa na cara.
Ela não apenas absorveu sua energia, como tentou roubar as outras oportunidades que ele havia conquistado. Um cultivador poderoso de sua geração... agora reduzido a um rato prestes a ser sacrificado.
Foi nesse momento que Nangongxuan pensou em Mu Yungui.
Se Mu Yun estivesse aqui, ela jamais faria isso.
Se Mu Yun tivesse voltado...
Nangongxuan gastou toda sua energia e sangue, ativou uma técnica secreta e lançou mão da técnica proibida de retrospectiva temporal. “Centopéias não morrem com facilidade” — afinal, ele havia acumulado muitos tesouros ao longo da vida. Como não teria um trunfo final? Essa era sua última carta na manga.
Queria voltar à juventude, com todas as suas memórias intactas, e trilhar o caminho da longevidade mais uma vez.
O velho servo finalmente havia cuidado dos jovens senhores e dos anciãos. Cambaleando, voltou para a casa e encontrou Nangongxuan acordado, apoiado no poste da cama, com um olhar distante. Assustado, o servo deixou cair o que carregava nas mãos.
— Terceiro Jovem Mestre, acordou? Está sentindo alguma coisa estranha? Vou chamar a senhorita Dongfang e o médico agora mesmo!
Nangongxuan franziu a testa e deteve o velho:
— Não. Estou bem. Só preciso descansar um pouco.
Na verdade, ele estava mesmo bem. A febre viera apenas porque o corpo atual tinha cultivo muito baixo e raízes espirituais fracas — não aguentava a técnica de regressão. Agora que sua alma havia despertado, não havia mais problemas.
Ao ouvir isso, o velho servo começou a chorar de alívio. Tremendo, limpou os olhos com as costas das mãos:
— Que bom que acordou. O senhor estava tão mal que quase matou este velho de susto. Ainda bem que a senhorita Dongfang mandou um médico e trouxe muitos remédios. Caso contrário, eu não saberia o que fazer...
As sobrancelhas de Nangongxuan se uniram. Sentia que algo estava fora de seu controle:
— Senhorita Dongfang... Você está falando de Dongfang Li?
— Exatamente! — O velho, que havia criado Nangongxuan como um filho, estava sinceramente feliz. — Terceiro Jovem Mestre, a senhorita é tão boa com o senhor. Ontem, quando desmaiou de repente, ela mesma o levou de volta. Hoje, até trouxe colegas para visitá-lo. Ela vem de família nobre, ama o senhor profundamente... Depois de se casarem, com certeza terão uma vida feliz!
Quanto mais Nangongxuan ouvia, mais confuso ficava. O velho está mesmo falando da Dongfang Li que conheço? Aquela mulher rompeu o noivado de forma arrogante, zombou dele quando foi humilhado e ainda mandou seus pretendentes importuná-lo — quase o mataram. Por que, nesta vida, ela de repente mudou tanto...?
Seu primeiro pensamento foi que Dongfang Li também usara a técnica proibida de retrospectiva. Mas logo descartou essa ideia. Essa técnica exigia uma quantidade absurda de energia espiritual, algo além da capacidade de Dongfang Li.
Sem entender, deixou a questão de lado e perguntou sobre alguém que realmente lhe importava.
Só de pensar no nome, sua voz já tremia:
— Onde está Mu Yun?
O velho servo ficou surpreso. Uma noiva nobre e apaixonada por você, e mesmo assim pergunta pela órfã? Nos últimos dias, o Terceiro Jovem Mestre estava claramente envolvido com a senhorita Dongfang. Por que, depois de adoecer, mencionou justamente aquela menina...?
— A senhorita Mu caiu no mar ontem — respondeu o servo — mas hoje disseram que ela foi encontrada. Deve estar em casa agora.
— Caiu no mar? — franziu o cenho. Mu Yungui sempre foi cuidadosa. Na vida passada, se não tivesse me salvado, não teria morrido jovem. Por que caiu no mar desta vez?
— Por que ela caiu no mar? — perguntou, ansioso.
O velho balançou a cabeça:
— Não sei. Talvez tenha sido acidente. Sair para caçar feras marinhas é perigoso. Ninguém tem sorte o tempo todo...
Quanto mais ouvia, mais coisas estranhas surgiam. Acabou descobrindo que o local onde Mu Yungui caiu era justamente a área em que, em sua vida passada, matara os dois bajuladores de Dongfang Li. Foi também lá que encontrara o pingente de jade, após cair numa correnteza.
As sobrancelhas de Nangongxuan se arquearam formando um “川” (chuan). O que está acontecendo? Por que tantas coisas estão diferentes nesta vida...?
Sem conseguir entender, largou os pensamentos. Firmando-se no leito, levantou-se com esforço:
— Onde ela está? Quero vê-la.
O velho se assustou, tentando impedi-lo:
— Não, Terceiro Jovem Mestre! O senhor ainda está fraco. Não pode forçar o corpo assim!
Mas Nangongxuan insistiu. E o velho notou que o rapaz havia mudado drasticamente desde que acordou — estava ainda mais sombrio do que antes, mesmo calado. Sem coragem para contrariá-lo, apenas pegou suas roupas, suspirou e o acompanhou até a saída.
Assim que deixou a mansão Nangong, Nangongxuan partiu apressado para a casa de Mu Yungui. Seu cultivo estava muito fraco — nem conseguia voar — então teve que ir por meios comuns. À medida que se aproximava, seu coração batia mais rápido.
Riu de si mesmo. Já tive tantas mulheres... e agora estou tão nervoso quanto um garoto tolo. Quanto tempo faz que não vejo Mu Yungui...?
Os jovens não sabem o que é tristeza. Mas, naquela época, aquele era o único caminho.
Só depois de perder, percebi o tesouro que deixei escapar.
Felizmente, nesta vida ela ainda está aqui. Ainda há tempo.
Parado diante da porta da casa da família Mu, Nangongxuan respirou fundo e bateu. Esperou com o coração apertado, chegou a ajeitar discretamente as roupas. Mas o tempo passou... e nenhum som de passos se ouviu.
Franziu a testa. Estranho... ela não está em casa?
Mu Yun sempre deu muita importância aos estudos. A essa hora, deveria estar revisando as lições em casa.
Hesitava diante da porta. Já estava decidido a forçar a entrada quando ouviu uma voz suave e familiar às suas costas:
— Nangongxuan?
Ao ouvir aquela voz, seu coração se encheu de alegria e ele se virou de imediato. Mas assim que viu o que havia atrás, seu sorriso congelou.
O vento soprava pelo céu e pela costa, balançando a grama incessantemente. A garota, vestida de branco, estava sob o sol, brilhando como se fosse feita de luz. Ao lado dela, havia um jovem de roupas misteriosas.
O rapaz era alto, de postura firme como uma espada, sobrancelhas marcantes e expressão ousada. Os dois estavam lado a lado entre as flores da montanha — pareciam feitos um para o outro.
E o que mais perturbou Nangongxuan: ele reconheceu a roupa que o jovem usava. Era exatamente o presente de aniversário de vinte anos que Mu Yungui havia lhe dado na vida passada.
Seu rosto escureceu na hora. Jiang Shaoci olhou ao redor, arqueou as sobrancelhas e sorriu:
— Se conhecem?
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Notas:
[1]: Tumotai — Lugar de exílio ou punição no mundo cultivador, equivalente a um local de execução espiritual.
[2]: "Centopéias não morrem com facilidade" (百足之虫死而不僵) — Provérbio chinês que indica que alguém com muitos recursos ou poder não perece facilmente mesmo em ruína.
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