Capítulos 100 a 102


 Capítulo 100 – Convocando o Príncipe

Li You deixou temporariamente aqueles “presentes” no palácio e ainda estava considerando o convite do Reino Zhongli. De qualquer forma, fosse ou não, não haveria perigo para ela. Agora, seu foco estava em avaliar uma proposta vinda do Reino do Sul.

Por isso, no segundo dia após convocar os mensageiros dos Três Reinos, Li You chamou três príncipes à Sala do Estudo Imperial.

— Feng Ying, vá convidar os três príncipes.

— Sim!

Na geração de Qianhe Liyou, restavam ao todo seis príncipes. Três já estavam casados e três ainda viviam no palácio. Esses três que permaneciam no palácio agora se ajoelhavam diante de Liyou: o décimo terceiro príncipe, Qianhe Ziwu, de dezessete anos; o décimo quarto príncipe, Qianhe Qiuyi, de quinze; e o décimo quinto príncipe, Qianhe Wushuang, de doze.

Os três eram bastante notáveis na aparência, com algumas semelhanças sutis entre si, mas diferenças marcantes no conjunto. Qianhe Ziwu, o mais velho, transmitia virtude, serenidade e generosidade, com a nobreza típica da família real, mas sem parecer inacessível. Qianhe Qiuyi tinha um ar mais feroz, com um toque sedutor; já Qianhe Wushuang era elegante, afável e possuía um espírito erudito. Apesar das similaridades, cada um tinha um caráter próprio.

Ao ver Qianhe Wushuang, Liyou não pôde deixar de lembrar-se da jovem chamada Huayu, que vira da última vez. Desta vez, ela não estava presente — não sabia onde Anhui a havia colocado. Pensou em ajudá-la, mas não perguntou mais a respeito.

— Levantem-se todos.

— Agradecemos, Imperatriz. — Responderam, pondo-se de pé, com as mãos postas, mas visivelmente apreensivos. Embora vivessem no harém, as notícias corriam rápido pelo palácio. Todos já sabiam o que o enviado do Reino do Sul dissera na corte no dia anterior e, provavelmente, imaginavam o motivo da convocação.

— Dezessete, quinze e doze anos... Embora tenha chamado vocês três desta vez, o principal é ouvir a opinião de vocês. Ziwu, o Imperador do Reino do Sul propôs um casamento. Entre todos, você é o príncipe mais adequado para ser enviado. Aceita? — Tecnicamente, era possível casar aos quinze anos, mas, pelas circunstâncias, Qianhe Ziwu era o mais apropriado.

Qianhe Ziwu, que havia acabado de se erguer, ajoelhou-se novamente.

— Majestade, desde que levo o nome Qianhe, compreendo naturalmente o que devo ou não fazer. Quanto a isso, é Vossa Majestade quem decide. Se achar adequado, eu também acharei.

Como membro da família real, e sendo príncipe, já conhecia o peso do próprio destino.

— Não tenho nenhuma opinião formada sobre isso. Se quiser se casar, eu concordarei. Se não quiser, não concordarei. Portanto, Qianhe Ziwu, essa decisão precisa ser sua. Não quero decidir o seu futuro... e, claro, isso também vale para vocês dois. — Liyou lançou o olhar para Qiuyi e Wushuang, deixando claro que falava para ambos.

Ela não tinha interesse em manipular o destino alheio e, na verdade, não convocara os três para casá-los.

Qianhe Ziwu olhou para a imperatriz, surpreso. Por um momento, não compreendeu bem o que ela queria dizer. Se fosse realmente como estava entendendo, não seria algo... irreal?

— Majestade, não entendo muito bem o que quer dizer... — Não ousou tirar conclusões precipitadas e preferiu confirmar.

— Não entende o sentido literal? Estou perguntando se aceita ou não. A sua escolha será a decisão final. Isso não tem nada a ver comigo. — Liyou não se importou em repetir, percebendo o choque nos olhos deles, mas sem se estender.

A razão para agir assim não era bondade, mas o fato de não querer ligar o destino de tantas pessoas ao seu. Controlar o próprio destino, fazer a escolha mais sensata e arcar com ela — esse é o sentido da vida humana.

— Mas... se eu recusar, como o Reino do Sul reagirá? — Ziwu sabia que não deveria questionar assuntos de Estado, mas as palavras da imperatriz o surpreendiam demais. O que significava deixá-lo escolher? Se aceitasse, ótimo. Mas se recusasse, não aceitaria. O Reino do Sul o queria como noivo e ele era o mais indicado para o papel. Se não fosse ele, poderia ser Qiuyi? Não... já que a imperatriz perguntava diretamente, não forçaria Qiuyi. Era evidente que as palavras dela eram para os três. Mas, se fosse assim... qual era a verdadeira intenção dela?

— Eu mesma lidarei com isso. — Ela não pretendia forçar ninguém a se casar. Adiar era possível, mas sacrificar o futuro de alguém, não. Esse tipo de método me causa desprezo.

— Mas... e se houver guerra? — O que ele temia era que isso fosse culpa sua. Qianhe Ziwu hesitou. Se uma guerra começasse por causa de sua recusa, mesmo que a imperatriz não o culpasse, ainda sentiria o peso na consciência.

— Não quero conversar fiado nem discutir grandes questões de Estado com você. Se haverá guerra ou não, isso não é problema seu. Agora só quero saber: está disposto ou não? — A paciência de Liyou já se mostrava curta, e ela não via necessidade de explicar mais.

Ziwu apertou os lábios e fechou os punhos sob as mangas. Não se irritava com a postura dela; pelo contrário, estava animado. As palavras da imperatriz eram um alívio: assuntos nacionais não são problema meu. Mesmo que houvesse guerra, não seria culpa dele. Agora só precisava decidir de acordo com o próprio coração. E, se podia realmente fazer isso, não havia mais hesitação.

— Majestade… este servo não deseja se casar com o Reino do Sul. Se puder escolher, ainda prefere permanecer na terra de Qianhe. — Casar-se para outro país, mesmo que fosse para se tornar uma consorte de alta posição, sempre acabava como nas histórias… e muitas narravam a tristeza desse destino. Ele não queria ser mais um desses casos, ainda que estivesse preparado para isso.

— Nesse caso, e vocês dois? Querem se casar? — Li You olhou para Qianhe Qiuyi e Qianhe Wushuang.

Qianhe Qiuyi a observava com um olhar de escrutínio, investigativo. Já Qianhe Wushuang, após um breve silêncio, respondeu com cautela:

— Majestade… este servo já tem alguém a quem ama. Se possível, este irmão mais novo deseja casar-se apenas com ela.

As palavras de Wushuang fizeram todos na sala voltarem a atenção para ele — até mesmo Li You. Todos ficaram surpresos com a ousadia: um príncipe não casado não deveria falar assim.

Mas Wushuang sustentava o olhar da imperatriz com calma, sem medo, firme. Talvez fosse coragem impulsiva, talvez estivesse embriagado pelas palavras ditas por ela momentos antes, mas, uma vez que abriu a boca, não hesitou mais.

— Suplico à Majestade! — Wushuang ajoelhou-se. Aos doze anos, magro e pequeno, encolhido diante dela, ainda parecia uma criança. Mas… que criança corajosa, pensou Li You, lembrando-se do dia no jardim. Naquela ocasião, ele também havia mostrado uma determinação incomum — até o desejo de fugir. Agora, com essa persistência, ainda que imatura, havia algo nele que lhe agradava.

Ela sempre dissera que idade não define caráter, e achava que devia respeitar essa escolha de amor.

— Se um dia essa pessoa tiver condições de se casar com você, eu permitirei. — Não tinha objeção alguma, mas, se ele dependia dessa mulher, então precisava ser capaz de protegê-la. Se alguém não pode sequer proteger quem ama, de que adianta estar vivo? Foi o mesmo pensamento que a fizera mandar An ajudar Huayu.

Wushuang ergueu a cabeça de repente, os olhos brilhando de emoção. A imperatriz não lhes dava uma promessa imediata, mas oferecia uma chance. E ele acreditava em Huayu — ela era tão extraordinária… bastava uma oportunidade para conquistar o reconhecimento da imperatriz.

— Majestade, a pessoa que este servo ama é apenas uma escrava agora, mas é trabalhadora, estudiosa, habilidosa nas artes e nas armas, de caráter puro e íntegro. Se a Majestade estiver disposta a dar-lhe uma chance, ela certamente alcançará grandes feitos!

— A chance já foi dada… cabe a ela agarrá-la. — Li You desviou o olhar para Qianhe Qiuyi, que permanecia em silêncio. — E você? Vai se casar ou não?

O encontro que tivera com ele dias atrás não lhe deixara boa impressão, sobretudo pelo ressentimento em seus olhos — e parecia que o alvo era ela mesma. Mas, mesmo assim, não o considerava pior do que um estranho.

— Majestade, o que deseja de fato? Como príncipe, como poderia ter o direito de escolher meu próprio casamento? Está tonta? Ou há algum complô? — Qiuyi admitia sentir medo diante dela, mas isso não significava que não pudesse falar. Certas emoções estavam presas no peito há tempo demais e agora transbordavam. Se não fosse pela imperatriz à sua frente, ele não estaria confinado no palácio como se estivesse em prisão domiciliar. Não só não experimentava o prestígio de ser príncipe, como vivia temendo se tornar uma vítima política.

— Qianhe Qiuyi! — Wushuang sussurrou com raiva, mas havia preocupação na voz. Desde pequeno, a imperatriz sempre pegara para si o que era dele, mas, neste palácio profundo, ele era o único parente que via com frequência. Sabia que o irmão não era mau — apenas deixara o ódio nublar sua mente…

— Não se preocupe comigo! Mesmo que a Majestade me mate, eu preciso dizer… Imperatriz, se quer algo, diga diretamente. Não há necessidade de usar esse tipo de artifício! — Qiuyi endireitou as costas. Foi ela quem matou minha irmã… e minha mãe. Foi ela quem me fez órfão. Ele a odiava, mas nunca ousara resistir. Se fosse morto por falar, talvez até fosse um alívio…

***

Capítulo 101 – Sang Ziyan Faz um Pedido

— O que você quer ouvir de mim? Que decidi casar você com a Imperatriz do Reino do Sul e que pode ir se preparar agora? Se fosse esse o caso, eu nem teria me dado ao trabalho de convidá-lo para vir, apenas mandaria alguém buscá-lo. É isso. — Li You não se irritou com a desconfiança de Qianhe Qiuyi. Confiar tão facilmente nas pessoas é a maneira mais rápida de sofrer.

— Então o que a Imperatriz quer fazer? Perguntar aos súditos sobre os próprios desejos? Isso é ridículo demais. — Qianhe Qiuyi já tinha passado do ponto, afinal, ofender a Imperatriz não o preocupava mais, e decidiu falar tudo o que pensava.

Desde o início, ele nunca acreditou que a soberana, famosa por sua crueldade, trataria a ele e aos outros príncipes com gentileza, muito menos que lhes pediria opinião. Para ele, aquilo era simplesmente risível.

— Qianhe Qiuyi, você está sendo ousado demais! Imperatriz, Qianhe Qiuyi está exaltado, por favor, perdoe-o! — Qianhe Wushuang segurou a mão do irmão, ansioso para interceder. Por mais que o comportamento de Li You naquele dia o surpreendesse, destoando completamente da imagem cruel e tirânica que ele tinha dela, ainda assim ela era a soberana. Se Qianhe Qiuyi a enfurecesse de verdade, as consequências seriam desastrosas.

— Qianhe Wushuang, não preciso da sua defesa! Está querendo se passar por bom-moço agora? Imperatriz, não tenho medo de você. Minha vida é minha, e se for para irritá-la, que me mate! — Qianhe Qiuyi não queria viver há muito tempo. E por que permitir que justamente alguém que sempre me humilhou venha interceder por mim?

— Cale a boca! Que besteira está falando? — Qianhe Wushuang não conseguia entender por que o sempre inteligente Qianhe Qiuyi estava agindo de forma tão insensata. Será que ele está mesmo procurando a morte com essas palavras?

Wushuang levantou o olhar, tentando captar alguma expressão no rosto da Imperatriz. Nada. Ela os observava com a mesma serenidade de sempre. Mas, justamente por estar tão calma, ele sentiu um aperto no peito. Instável, imprevisível… Uma imperatriz indiferente é mais assustadora que uma cruel.

— Qianhe Wushuang, Qianhe Qiuyi pode dizer o que quiser. Se você e Ziwu não têm mais nada, ajoelhem-se.

Wushuang e Ziwu não ousaram recusar e se ajoelharam, enquanto Qiuyi permanecia em pé, teimoso.

— Deixem-nos ir. Não quero dar a você a chance de falar, nem desejo levá-lo. Só quero dizer que o que você pensa não me diz respeito, e o seu humor também não. Algumas coisas não podem ser mudadas. O melhor que você pode fazer é aprender a aceitar. E, sendo tão belo assim, pode também se ajoelhar. — Foi tudo o que ela disse a ele. E isso, para ela, era suficiente.

Qianhe Qiuyi ficou parado, atônito. Não entendia como a Imperatriz o deixava ir tão facilmente. A frieza no tom dela soava como indiferença total. As palavras que ele ousara dizer, como se fossem seu último ato de coragem, pareciam não ter significado algum para ela.

— Ainda não vai se ajoelhar? — Se a pessoa não quer mudar de ideia, de nada adianta insistir. Há gente muito mais desgraçada no mundo, mas nem todos carregam tanta amargura.

Qiuyi congelou. Queria falar algo, mas não sabia o quê. O pedido repetido para que se ajoelhasse o deixava sem rumo. Não havia mais a questão de decidir se ficaria ou não — a mensagem da Imperatriz era clara.

— Este ministro se retira! — disse, com a voz engessada. Os passos eram trôpegos, como o próprio coração: nada tranquilo.

— Imperatriz, Huayu está em treinamento. Embora tenha muito potencial, ainda há uma distância considerável entre ela e as pessoas treinadas pelo Anbu desde a infância. Por isso, designei dois mestres para instruí-la, e ela tem se esforçado bastante. — O oficial, que estava escutando, achou que era hora de reportar sobre a moça.

— Isso não precisa ser informado. Se ela fizer um bom trabalho, eu mesma verei.

— Sim! — O tom indiferente de Li You pareceu normal ao mensageiro. Ela havia dado uma oportunidade à garota, assim como um dia dera a ele. Quanto ao quanto ela progrediria, restava apenas esperar para ver.

— Imperatriz, a Chefa de Secretaria do Ministério da Justiça solicita audiência — anunciou Feng Ying.

— Traga-a.

— Saúdo a Imperatriz. Vim reportar um assunto — disse Dang Yuefei.

— Fale.

— O antigo comandante militar do Reino Sang, Sang Ziyan, pediu para vê-la. Disse que, se aceitar recebê-lo, poderá revelar todas as forças ocultas do Reino Sang. Não ousei decidir por conta própria, por isso vim pedir que a Imperatriz tome uma decisão. — O assunto poderia afetar a estabilidade do mundo, e ela, como mera ministra, não podia decidir sozinha.

— Tragam-na. Quero vê-la agora. — Li You não se importava realmente com as forças ocultas mencionadas. O que a interessava era o talento militar dele. No futuro, Qianhe precisaria desse tipo de habilidade. Se possível, ela queria lhe dar uma escolha.

— Sim, Imperatriz.

Pouco depois, os guardas trouxeram Sang Ziyan até o Estudo Imperial. Li You observou a figura de branco simples. Estava bem melhor que no dia da captura. Embora a ferida ainda fosse visível, parecia não atrapalhá-lo mais. Apenas o rosto permanecia um pouco pálido.

— Sang Ziyan saúda a Imperatriz. Vida longa à soberana! — disse ele, ajoelhando-se, com um tom respeitoso, mas não submisso. Mesmo prisioneiro, mantinha a postura de príncipe.

— Fale. Você só tem esta oportunidade.

— Agradeço à Imperatriz por conceder esta chance. O motivo pelo qual pedi para vê-la é solicitar que trate a família real do Reino Sang com justiça. Fomos derrotados, mas a realeza de uma nação merece o tratamento adequado. Se concordar, revelarei todas as forças ocultas, garantindo que o Reino Sang não represente mais perigo a Qianhe.

— Tratamento justo? Quer dizer… — Ela queria ouvir que tipo de “justiça” ele tinha em mente. Que justiça existe para a família real de um país derrotado?

— O castigo é inevitável. O país caiu. Como membros da realeza, devemos morrer junto com ele. Espero que nos dê a chance de morrer com dignidade, em vez de apodrecer para sempre naquele calabouço escuro. — Ele não temia a morte, mas acreditava que alguém deveria manter a dignidade até o fim. Viver preso, esperando por uma luz que nunca virá, não é viver. É definhar.

— Não acha que isso é traição? — Revelar as últimas forças ocultas seria cortar qualquer esperança de restauração. E, mesmo que restassem esperanças, ela jamais as concederia.

— Se eu acreditasse que o Reino Sang poderia renascer, jamais revelaria nada. Mas a Imperatriz daria essa chance? Pelo que vi e ouvi, desde que fomos derrotados, essa derrota é para sempre. — Não buscava desculpas; havia refletido muito. Fazia isso apenas para que a realeza tivesse ao menos o direito de morrer como perdedores dignos.

— E os outros membros da sua família pensam como você? — Ela duvidava. Nem todos valorizam tanto a dignidade.

Sang Ziyan se calou por um instante. Claro que não. Mesmo separado dos outros no cárcere, podia ouvir claramente os pedidos de clemência ecoando de outras celas.

Ele olhou para a mulher diante dele. Mesmo sentada, ela impunha uma pressão esmagadora. Sabia que ela jamais atenderia súplicas que não viessem de sua própria vontade. As cicatrizes em seu corpo ainda doíam, lembrando-o da dureza dos métodos dela. Estava certo: Li You não se importava com vidas irrelevantes.

— Se pudesse, adoraria que todos pensassem como eu. Mas, entre sonho e realidade, sempre haverá um abismo.

— Então por que supõe que pode pedir isso em nome deles? Quem lhe deu esse direito?

— Sou príncipe do Reino Sang e o membro mais influente da família real depois do imperador. É natural que possa representá-los. Mesmo que meu pedido não reflita a vontade de todos, ainda é o melhor resultado.

— Está bem, concordo. — Ela não queria manter aquelas pessoas vivas. Às vezes, morrer é melhor do que viver sem dignidade. E, para eles, a única alternativa era prisão perpétua.

— No entanto, tenho uma condição…

— Por favor, diga, Imperatriz.

— Eles podem morrer. Você também… mas deve viver! — Com tamanha visão e coragem, ela não desperdiçaria tal talento.

Sang Ziyan ficou surpreso, mas logo entendeu o que ela queria dizer. Mas… como isso seria possível?

— Não existe “impossível”. Use sua inteligência para encontrar um meio. E permitirei que salve mais uma pessoa — desde que possa garantir que ela não fará nenhuma estupidez. Sang Ziyan, esta é a última vez que chamarei seu nome. Volte, reflita e decida se aceita minha proposta. Dou-lhe três dias.

— Agradeço, Imperatriz. Pensarei com cuidado…


Capítulo 102: Escolha Dolorosa

— Se puder… espero que aceite o pedido da imperatriz. — Sang Ziyan já se afastava, e Dang Yuefei o acompanhava no caminho de volta à prisão. No meio do trajeto, ela falou de repente.

Sang Ziyan ainda sentia gratidão pelo Shangshu do Ministério da Justiça que o havia tratado bem. Se não fosse por aquela autoridade, ele jamais teria visto a imperatriz.

— Oh… embora me deem tempo para considerar, não tenho o direito de recusar. Aceitar é minha única opção. Mestra Dang, não tente me persuadir. Agradeço por ter me permitido encontrar a imperatriz. Zi Yan é grato. Se houver oportunidade, retribuirei o favor.

— Não, não… foi apenas meu dever. Sua condição foi o que lhe deu o direito de ver a imperatriz, eu apenas transmiti a mensagem. Não me agradeça. — Dang Yuefei rejeitou rapidamente a gratidão de Sang Ziyan. Por algum motivo, aquele príncipe um tanto indiferente do Reino Sang despertava nela um sentimento difícil de explicar: queria se aproximar, mas temia se ferir; desejava se afastar, mas não conseguia controlar o olhar que pousava nele.

— Ah… se o Reino Sang tivesse mais bons oficiais como você, não teria caído a este ponto. — suspirou Sang Ziyan, sentindo o peso das mudanças da vida. Jamais imaginara que chegaria a tal situação… Que tristeza vender-se para comprar a sobrevivência de todo o clã Sang.

— Alteza, exagera… Qianhe tem muitas cortesãs como eu, e entre elas, muitas são ainda mais notáveis. — Não era falsa modéstia. Havia de fato gente de grande visão na corte de Qianhe. A imperatriz sabia usar bem as pessoas! Caso contrário, não teria poupado Sang Ziyan. Certamente se interessara por seu talento e desejava mantê-lo.

— Zi Yan já não é mais Alteza… por favor, não me chame assim. E, se é realmente como diz, só posso concluir que Qianhe tem uma soberana esclarecida, mas… — Ele hesitou por um momento, lançando a Dang Yuefei um olhar de embaraço, como se ponderasse se deveria falar.

— Mas… o quê? — ela perguntou, curiosa.

— Sei que não tenho o direito de dizer isto, mas ouvi dizer que as concubinas e consortes da imperatriz de Qianhe são todas belíssimas. Eu me pergunto… aos olhos da imperatriz, com minha aparência comum, que valor eu teria? — Se pudesse, preferiria morrer a viver como… moeda de troca.

A expressão surpresa de Dang Yuefei foi impossível de disfarçar — a ideia dele era inesperada demais. Ela estivera presente durante toda a conversa entre a imperatriz e Sang Ziyan, ouvira claramente quando a soberana dissera que queria mantê-lo. Mas aquilo… não significava o que ele estava imaginando.

— Senhor Sang… não estaria enganado quanto às intenções da imperatriz? — Sim, a imperatriz queria que Sang Ziyan ficasse, mas não dissera explicitamente com que objetivo. Na visão de Yuefei, o interesse dela estava no talento dele, não no “outro tipo” de interesse que ele supunha.

Ela não conhecia a fundo a imperatriz enigmática, mas tinha convicção: se a soberana realmente se interessasse por alguém, jamais recorreria a termos de troca para mantê-lo.

— Enganado? — Agora era a vez de Sang Ziyan se surpreender. — O que quer dizer com isso? Qual seria, então, o real significado das palavras da imperatriz?

— Pessoalmente, acredito que o que ela busca é a sua sabedoria. — respondeu Dang Yuefei. Não queria que ele interpretasse mal.

— Quer dizer que o motivo para a imperatriz não querer minha morte e me manter aqui… é para que eu trabalhe para Qianhe? — Ele era sagaz e rapidamente ligou os pontos.

Yuefei assentiu, mas acrescentou com cautela:

— Pelo menos é o que penso. O homem que a imperatriz deseja… não é conquistado com barganhas. E, além disso, a Concubina Sombra estava atrás dela naquele momento. Você acha que a imperatriz faria um pedido desses na frente da Concubina Sombra?

A Concubina Sombra… uma figura que surpreendera a todos. Não só quebrara a tradição de que o harém deveria ser composto de belos homens, como também conquistara respeito por seu próprio mérito, tornando-se a primeira consorte a realmente deter poder. Sua presença ofuscara todas as concubinas encantadoras da época, pois se mantinha de pé sem precisar desviar o olhar de ninguém — tinha o direito e a autoridade para estar ali.

Muitos oficiais, às escondidas, o chamavam de Concubina do Poder, tamanho era o seu prestígio.

— Concubina Sombra? — Sang Ziyan franziu o cenho. O nome lhe soava familiar, mas não tinha clareza. No cárcere, já ouvira guardas comentarem, mas não compreendia que tipo de pessoa era.

Concubina…? Na sala do trono, havia um homem presente — seria ele? Não parecia ter a postura de uma concubina… Sang Ziyan ainda se lembrava de vê-lo acompanhando a imperatriz nas fronteiras, vestido não como membro do harém, mas como um guarda.

— A Concubina Sombra é o consorte mais recente da imperatriz. Dizem que ela gosta muito dele, tanto que não só lhe concedeu o título, como também preservou sua autoridade original. Embora o Anbu de Qianhe seja uma força secreta, você deve saber que ele existe… e a Concubina Sombra é o líder do Anbu. — Isso não era segredo para a corte, por isso ela contou. Apenas o povo comum ignorava a existência de um poder subterrâneo como aquele.

— O líder do Anbu… é consorte da imperatriz? Como… isso é possível? — Em Qianhe, no Reino Sang e nos outros três países, homens sempre foram figuras singulares no funcionalismo. Embora controlassem muitas forças nas sombras, jamais se ouvira falar de um homem que, estando à vista de todos, ocupasse posição tão proeminente — e ainda por cima como concubino imperial.

— A imperatriz já tornou possíveis muitas coisas impossíveis. Na verdade, você não precisa se surpreender tanto. Se aceitar o pedido dela, esse tipo de milagre também poderá acontecer com você.

— Onde é que eu tenho escolha para não aceitar? Mas estou muito confuso... pedir à imperatriz que puna o clã Sang... Se o mundo souber disso, eu, um pecador, serei condenado para sempre! — mesmo achando que estava tomando a decisão certa, talvez isso fosse apenas o que ele pensava.

Diante da escolha entre a vida e a morte, Sang Ziyan também hesitava...

Dang Yuefei o observava. Naquele momento, Sang Ziyan já não era mais o príncipe da família real que, mesmo aprisionado, parecia inalcançável. Agora era apenas um jovem que não conhecia o próprio futuro, com um traço de fragilidade e confusão no olhar. Isso despertou nela um impulso quase incontrolável de abraçá-lo e confortá-lo.

Não se surpreendeu com seus próprios pensamentos, pois sabia que já havia se apaixonado por aquele rapaz muito antes de perceber que seus olhos não conseguiam mais se afastar dele. Essa constatação, no início, havia deixado seu coração confuso e sem rumo. Mas, após muita reflexão, ela já sabia o que deveria fazer. Por isso, aceitou ajudá-lo — mesmo sem saber exatamente por que ele queria ver a imperatriz — e estava disposta a fazer qualquer coisa para salvar sua vida, ainda que ele nunca soubesse o que ela havia feito.

— Senhor Sang, mesmo que não fosse você, essas pessoas jamais viveriam em liberdade. O melhor para elas é permanecerem presas para sempre. Não acho que você precise se sentir culpado. Você é... muito corajoso! — disse Dang Yuefei com sinceridade. Ela realmente pensava assim. Se fosse ela no lugar dele, não sabia se teria tamanha coragem para assumir a responsabilidade por toda uma família. Por isso, além de respeito, sentia também profunda admiração por ele.

Sang Ziyan ficou particularmente surpreso com o elogio repentino. Olhou para a mulher que o elogiava e sentiu-se, de repente, um pouco constrangido.

— A senhora me dá muito crédito e... obrigado pelo seu consolo... — ele não era corajoso; sentia medo, hesitava e também tinha momentos de fragilidade. Se tivesse morrido junto com os outros, tudo teria acabado. Mas o clã havia sido dizimado, e agora ele precisava suportar todo o peso de continuar vivo...

Ele não conseguia imaginar se haveria felicidade em seu futuro, pois carregaria um fardo esmagador.

— Não estou te consolando, estou apenas sendo objetiva. O jovem senhor Sang, ao fazer essa escolha, demonstra uma coragem rara: a coragem de assumir todos os pecados sozinho. Como diz o velho provérbio: “Se eu não for ao inferno, quem irá?” Sua atitude é de uma grandeza imensa. Você precisa abrir mão desse nó no coração e deixá-lo ir embora! — só assim ele não ficaria eternamente preso à culpa, incapaz de viver plenamente, matando-se aos poucos. Dang Yuefei, no entanto, não disse essa última parte em voz alta; não queria aumentar ainda mais o peso sobre os ombros dele. Mas, no fundo, desejava que Sang Ziyan pudesse, um dia, se libertar desse peso sufocante. Ainda assim, ela sabia que era mais fácil falar do que fazer. O nó mais inexplicável e difícil de desfazer no mundo é sempre o que se forma dentro de nós mesmos...

Sang Ziyan abaixou a cabeça, escondendo a expressão. Depois de um longo silêncio, falou:

— Já que fiz minha escolha, peço que a senhora transmita à imperatriz que não me arrependerei. Sendo esse o caminho que escolhi, devo arcar com todas as consequências. Mestre Dang, obrigado por suas palavras. Ziyan as guardará no coração.

— Então devo informar à imperatriz? — Dang Yuefei se surpreendeu com a rapidez da decisão dele, mas, no fundo, sentia que esse desfecho era inevitável.

— Obrigado, Mestre Dang.

Dang Yuefei voltou à sala do trono para ver a imperatriz novamente, cerca de meia hora depois, e transmitiu a decisão de Sang Ziyan.

— Concedo a Sang Ziyan o direito de escolher mais uma pessoa para permanecer com ele. Você cuidará de todos os preparativos. Quanto à moradia deles, provisoriamente... — Li You hesitou, sem pensar de imediato em um local adequado.

— Majestade, se não houver destino especial, posso hospedá-los na minha própria residência? — Dang Yuefei sentia que aquele era o momento mais corajoso de sua vida, até mais do que quando se voluntariou para servir na corte. Seu coração batia rápido, tão rápido como nunca antes.

— Que seja. Fica a seu critério — respondeu Li You. A moradia seria apenas provisória, e ela confiava plenamente em Dang Yuefei, uma mulher de integridade.

— Sim, agradeço, Majestade!


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