Capítulo 97: O Alívio de uma Relação Tensa
Luo Yu parecia muito calmo e não demonstrava estar assustado. Mas, por outro lado, um Rei Viúvo de um império precisava mesmo ser assim. Ainda assim, o sangue em seu pescoço era verdadeiramente chocante. Liyou mandou que alguém buscasse remédio e gaze para estancar o sangramento, aplicando o medicamento pessoalmente. Luo Yu não recusou, sentando-se ali em silêncio enquanto olhava fixamente para o rosto de Liyou o tempo todo. Isso a deixou um tanto desconfortável.
— Olhando assim para Zhen, ficou assustado até a morte? — Depois de enfaixar os ferimentos de Luo Yu e vê-lo ainda fitando-a daquela forma, ela não conseguiu evitar a vontade de provocá-lo. Embora os ferimentos fossem leves, era um alívio saber que ele estava bem.
— Já que não quer falar comigo, por que se deu ao trabalho de me salvar? — Luo Yu sabia que suas palavras pareciam conter um toque de ressentimento, mas não conseguiu evitar dizê-las.
Liyou ficou surpresa com a pergunta, pois o tom soava como uma queixa magoada.
— Por que eu o estaria ignorando? — Diante de Luo Yu, ela não conseguia ser cruel. Nem mesmo conseguiu manter uma expressão indiferente, restando apenas uma leve impotência em seu rosto.
Luo Yu não respondeu, mas sua expressão deixava claro o que sentia por dentro. Ela o ignorara, sim!
Liyou franziu o cenho, perguntando-se por que Luo Yu de repente se comportava como uma criança. Será que todos tinham um lado infantil que poderia emergir a qualquer momento?
Liyou suspirou suavemente, passando a mão pelos cabelos de Luo Yu com delicadeza e continuou, num tom resignado:
— Achei que queria que eu me afastasse. Você não parecia gostar do que eu fazia antes, certo?
Parecia que era a primeira vez que ela se mostrava tão atenciosa com alguém, ponderando inúmeras vezes antes de finalmente decidir dar um passo atrás. Mas agora, parecia que sua decisão não o deixara feliz.
Luo Yu continuou em silêncio. Não sabia o que dizer. Não gostava de como You’er o tratava antes. Ele era seu pai, não um consorte do harém dela. Como poderia gostar de ser tratado daquela maneira? Mas também não queria que You’er se tornasse uma estranha para ele. Ela era a pessoa de quem ele mais gostava...
— Eu sou seu pai! — Após um longo silêncio, Luo Yu disse as palavras que Liyou não queria ouvir!
É claro que Liyou sabia que Luo Yu era seu pai biológico e não queria negar esse fato. Embora realmente não acreditasse que Luo Yu fosse o pai de uma zumbi de dez mil anos, o que Luo Yu queria não era apenas afirmar esse vínculo, mas também dizer que eles não poderiam ter nenhum outro tipo de relação...
A intenção de Luo Yu era bem clara. Tanto ele quanto Liyou entenderam perfeitamente o que fora dito…
Mas… será que realmente não podiam? Liyou já não conseguia sentir raiva de Luo Yu por causa disso. Apenas sorriu com indiferença e disse de forma neutra:
— Isso é um fato, ninguém pode negar. Já está tarde e você passou por um susto. Deveria descansar.
Já era o quarto dos cinco turnos da noite. Se não descansasse agora, não teria mais tempo. Ela não queria discutir o assunto do parentesco em plena madrugada. Era cansativo demais.
Luo Yu estranhou a atitude de Liyou, mas de fato estava muito tarde e não era apropriado conversar sobre tais assuntos. Ele se levantou, querendo ir embora.
— Então vou voltar para o palácio.
— Não volte. Você está ferido e não deve enfrentar o frio. Este lugar fica longe do seu palácio. Descanse aqui. — Liyou segurou a mão de Luo Yu, impedindo que ele saísse.
Luo Yu ficou atônito por um instante, como se pensasse em algo, e seu rosto corou de repente.
— V-você...
Ao vê-lo daquela maneira, Liyou soube que ele estava imaginando coisas absurdas e, sem conter-se, assumiu uma expressão séria:
— O que está pensando? Há muitos quartos aqui.
Será que ele pensou que ela iria dormir com ele? Ela não se importaria, mas sabia com certeza que Luo Yu jamais aceitaria algo assim. Pensando nisso, Liyou sentiu uma pontada de decepção.
O rosto de Luo Yu foi do vermelho ao branco e depois voltou a ficar vermelho com as palavras de Liyou. Sua expressão constrangida e hesitante fez Liyou rir. No fim, Luo Yu acabou passando a noite no quarto de Liyou e, após tomar café da manhã no dia seguinte, voltou ao seu próprio palácio sob os cuidados atentos dela.
— Você não tem que ir para a corte matinal? — Já havia passado do horário da audiência imperial.
— Está tudo bem, não é necessário. — Liyou pediu que alguém trouxesse a gaze enquanto falava isso com indiferença, trocando cuidadosamente o curativo de Luo Yu.
Luo Yu esticou o pescoço, sentindo o toque proposital ou não dos dedos de Liyou. Seu corpo ficou rígido e ele não ousava se mover. Havia tantos médicos imperiais no palácio, mas You’er insistia em cuidar dele, o que o deixava envergonhado…
— Não precisa ficar tão tenso, eu não vou te devorar. — Sentindo o nervosismo de Luo Yu, Liyou deu um tapinha em sua cabeça para confortá-lo.
Luo Yu quis evitar o toque de Liyou. Ele não era uma criança, era o pai dela. Que tipo de criança acaricia a cabeça do próprio pai? Ele não era uma criança.
— Eu não sou uma criança. — protestou Luo Yu.
Liyou sorriu e não disse nada, mas continuou teimosa, acariciando os cabelos dele. Aquele cabelo negro como corvo era tão macio que ela não conseguia parar... De repente, Liyou inclinou-se e deu um leve beijo na testa de Luo Yu.
— Seja feliz. E não se machuque mais.
Luo Yu assentiu e, vendo que ele concordava, Liyou deixou o palácio dele.
— Anhui. — Liyou chamou num tom sombrio assim que saiu do quarto de Luo Yu.
— Majestade! — Anhui parecia saber o que a Imperatriz queria dizer. Aqueles que tocaram em quem não deviam agora teriam que enfrentar as consequências.
— Reforce as fileiras da guarda imperial. Peça aos Anbu que providenciem a proteção dos membros do harém. Zhen não quer ver assassinos aparecendo outra vez. Use todo nosso poder para lidar com essas pessoas o mais rápido possível e envolva o exército nas buscas!
— Sim, este subordinado entendeu! — Com a ajuda dos militares, mesmo que essas pessoas estivessem escondidas num buraco de rato, ele estava confiante de que conseguiria encontrá-las!
Anhui partiu para cumprir suas ordens, e apenas Fengying permaneceu acompanhando Liyou. Fengying parecia ter algo a dizer à Imperatriz e hesitou antes de falar:
— Majestade, o aniversário de Ning guiren é daqui a dez dias. Este subordinado deve preparar algo?
Ela tinha registros de todas as niangniangs do harém, então naturalmente sabia as datas de nascimento, de entrada no palácio e os antecedentes de cada uma. Já teria avisado antes, mas a Imperatriz nunca havia demonstrado interesse.
— En. — Liyou respondeu levemente. Vendo que não houve mais reação, Fengying calou-se e apenas a seguiu em silêncio.
— Fengying, em alguns dias, todas as niangniangs farão uma visita fora do palácio. Faça os preparativos com antecedência. — Embora tivesse enviado pessoas para protegê-las, havia outras trivialidades a serem resolvidas.
— Sim, este subordinado entendeu.
— E diga ao Rei Consorte que o aniversário de Ning guifei se aproxima. Que ele reúna todos para um jantar em comemoração e diversão. — Ela supôs que Qin Ning não se importaria com uma celebração elaborada, e que o suficiente seria reunir a família para o aniversário.
— Sim. — Parece que a Imperatriz tinha seus próprios planos, mas era apenas uma reunião de todos os membros do harém. Pensando na cena da última reunião, Fengying sorriu levemente. Às vezes, parecia que este palácio imperial era apenas uma casa comum, capaz também de compartilhar momentos de calor e alegria.
Após organizar essas questões, Liyou pensou na adorável Jing’er e dispensou Fengying, dirigindo-se sozinha ao Palácio Yaoyu.
Situ Hongyu estava brincando com Jing’er, sua expressão cheia de ternura. Liyou ficou parada observando em silêncio, achando aquela cena preciosa demais. Poderia assisti-la o dia inteiro.
— Majestade, vossa presença nos honra. — Situ Hongyu levantou a cabeça e viu a Imperatriz parada ali. Abraçou o bebê e a cumprimentou suavemente.
— Deixe Zhen segurá-lo. — De desajeitada a experiente, os movimentos de Liyou ao segurar o bebê estavam bem refinados. Pegou o pequeno dos braços de Situ Hongyu e o carregou. O bebê parecia reconhecê-la e sorriu docemente.
— Jing’er, quando vai me chamar de Mãe Imperial… — Era um pouco bobo falar com uma criança que ainda não sabia falar, nem mesmo entender, mas ela se sentia muito feliz fazendo isso.
Desde que Situ Hongyu dera à luz, era atendido pelos médicos imperiais, e Liyou também instruíra os médicos a cuidarem das demais damas do harém. Se alguma estivesse grávida, deveria informá-la... Contudo, parecia que ultimamente ela só favorecera alguns poucos, e os encontros haviam sido escassos. Nessa velocidade, o segundo filho demoraria a vir. Será que não deveria se esforçar mais?
Pensando nisso, Liyou fez uma expressão um tanto estranha. Weiqing, Feng Xue e Anhui nem precisavam ser mencionados, mas quanto aos demais, ela não conseguia evitar pensar em Xingchen. A sensação de cavalgar com ele naquele dia fora muito estranha. Se não estivessem em meio ao campo, talvez tivesse feito aquilo ali mesmo…
— No que pensa a Imperatriz? Este consorte pode arriscar um palpite? — Vendo a expressão de Liyou, Situ Hongyu não resistiu à curiosidade.
— E o que acha que Zhen está pensando?
— A expressão da Imperatriz agora parecia a de quem pensa em alguém que a faz feliz. Quanto a quem é, este consorte não sabe. — A Imperatriz devia estar apaixonada de novo. Do contrário, como mostraria aquele tipo de expressão?
Liyou ficou um pouco surpresa. O palpite de Situ Hongyu havia sido certeiro.
— Adivinhou bem, mas não há recompensa. — Liyou continuou a brincar com a criança em seus braços, colocando os dedos nas pequenas mãos do bebê. Ela gostava muito disso.
— Hehe, este consorte não precisa de recompensa, basta que a Imperatriz venha visitar com frequência. Mas... este consorte tem uma dúvida… — De repente, lembrando-se da inquietação que o incomodava há dias, Situ Hongyu achou que aquele era o momento certo para perguntar.
— O que foi?
— As regras do palácio dizem que príncipes e princesas não devem ser criados diretamente pelos pais. A Imperatriz tem visitado este consorte com frequência... isso é apropriado? — Ele se lembrava que a Imperatriz dissera que o deixaria acompanhar o crescimento do filho, e pensou que aquilo fosse real. Mas, depois de tantos dias, a criança estava prestes a completar um mês e ainda permanecia em seu palácio.
— Sendo seu filho, é claro que deve criá-lo. Zhen não acredita que essas regras se apliquem neste caso. Cuide dele e o veja crescer com tranquilidade. Zhen acredita que não há ninguém que cuidará dele melhor do que você.
A emoção de Situ Hongyu era indescritível. Ele ajoelhou-se e fez uma profunda reverência à Imperatriz!
Capítulo 98: Convocando os Emissários
Liyou estava muito preocupada com o ferimento de Luo Yu. Sabia que ele estava bem, mas ainda assim ia visitá-lo todos os dias. No entanto, ela não se prolongava muito. Tomava uma xícara de chá e, após algumas palavras e olhares, se retirava. Seus gestos e seu tom eram muito contidos, mas contenção não significava indiferença. Pelo menos Luo Yu podia sentir que a atitude de You’er em relação a ele estava gradualmente melhorando, e ela já não evitava mais seu olhar, o que lhe trazia certo alívio.
Luo Yu sempre fora uma pessoa ascética, que raramente esperava algo da vida, mas agora, o único desejo que cultivava era poder se relacionar com You’er de forma normal.
— Descanse mais. Estou indo. — Liyou levantou-se e se despediu de Luo Yu.
Luo Yu assentiu, já acostumado com o modo como Liyou interagia com ele nos últimos dias. No entanto, hábito era uma coisa... por que ainda sentia uma pontinha de decepção? O que estava esperando, afinal? Luo Yu estava um pouco confuso.
Liyou deu dois passos, mas então parou.
— Você ainda se lembra do que disse no seu aniversário?
— ...O que quer dizer? — Claro que ele se lembrava, mas por que ela trazia isso à tona agora?
— O que quero dizer é: eu ouvi o que você disse. — Ela acreditava que Luo Yu entenderia o significado de suas palavras, então simplesmente se retirou após dizê-las. Assim como pensara naquele dia: se Luo Yu fosse sempre apenas dela, ela não se importava com o tipo de relação que teriam. Já dissera antes que não compreendia o amor.
Luo Yu refletiu com atenção até chegar a uma conclusão. As palavras de Liyou significavam que eles haviam... se reconciliado?
…
Quando Liyou teve certeza de que os emissários enviados pelos três reinos haviam concluído a entrega dos presentes, finalmente lhes concedeu uma audiência no salão do trono.
Os emissários dos três reinos totalizavam centenas de pessoas, mas Liyou permitiu que apenas um representante de cada comitiva comparecesse à audiência. Assim, havia apenas três pessoas em pé no centro do salão.
— Chu Rong, emissário do Reino Zhongli, saúda a Imperatriz de Qianhe. Que Qianhe prospere para sempre!
— Wu Siduo, emissária do Reino Nan, saúda a Imperatriz de Qianhe. Que Qianhe prospere para sempre!
— Jia Duoluo, emissário do Reino Yingjia, saúda a Imperatriz de Qianhe. Que Qianhe prospere para sempre!
Os emissários finalmente puderam ver com os próprios olhos a aparência de Qianhe Liyou, e estavam visivelmente excitados. Mesmo enquanto realizavam suas saudações, não podiam evitar lançar olhares curiosos à Imperatriz, ansiosos para ver a mulher que os fizera esperar tanto tempo.
Liyou não se incomodou com os olhares dos três, deixando-os fitar à vontade. Ao mesmo tempo, não pôde evitar o pensamento de que todos eles vinham com missões secretas. A Seção Anbu havia consumido muitos recursos humanos e materiais, mas ainda assim não conseguira descobrir os objetivos específicos desses emissários. Foi por isso que ela adiou a audiência até não ter mais escolha.
— Zhen irá visitar o jovem Príncipe Imperial em breve. Se os três emissários têm algo a dizer, falem logo. — Ela já vira truques demais e estava farta disso.
Os três ficaram surpresos. Era a primeira vez que encontravam uma Imperatriz tão direta. Mas essa franqueza também indicava uma coisa: ela era extremamente arrogante.
Obviamente, a atitude de Liyou desagradou os três, mas, por representarem seus respectivos países, nenhum deles era tolo. Por mais insatisfeitos que estivessem, sabiam que deviam conter-se. Por isso, ninguém disse uma palavra. Não que não tivessem o que dizer — apenas queriam que algum dos outros tomasse a iniciativa primeiro.
Uma vez que foram convocados juntos, naturalmente haviam chegado a um entendimento tácito. Talvez nem eles mesmos soubessem disso com clareza. Era possível que apenas os governantes dos três reinos estivessem cientes, mas cada emissário possuía sua própria missão e não causaria a ruína de seu país por um simples impulso.
Liyou observou suas reações e bufou com desdém. Embora a Seção Anbu não tivesse descoberto as missões, ela, Li Yao e Long Xizhao já haviam feito suas suposições — e não eram muitas as possibilidades!
A guerra era inevitável, e isso parecia ser o consenso entre todas as nações. Todos, inclusive Qianhe, aguardavam a oportunidade certa. Precisavam de uma justificativa, uma ocasião que provocasse a batalha. Ao mesmo tempo, todos se preparavam para inclinar a balança da guerra a seu favor.
E, por isso, os emissários haviam vindo com tal propósito. Os métodos podiam diferir, mas o resultado seria o mesmo.
Como ninguém se manifestava, Liyou perdeu a paciência. Levantou-se e olhou para os três:
— Já que nenhum tem algo a dizer e já viram Zhen, Zhen não perderá mais tempo aqui. Estão dispensados...
— Majestade, espere um momento! Esta emissária ainda tem algo a declarar! — Wu Siduo, do Reino Nan, pareceu ser a mais ansiosa entre os três. Afinal, seu reino fazia fronteira com Qianhe e, no caso de uma guerra, seria o primeiro a entrar em confronto.
Se fosse o antigo Qianhe, o Reino Nan não teria receio. Mas agora, por alguma razão, a Imperatriz de Qianhe, antes desprezada por todos, havia mudado completamente. De uma figura promíscua e fraca, transformara-se numa soberana sábia, elogiada por todos — uma heroína nacional que destruíra o Império Sang com um sorriso nos lábios. Com um Qianhe tão poderoso, como não temer?
Liyou parou, mas não deu sinal de que se sentaria novamente. Olhou de cima para baixo para a emissária do Reino Nan, exalando uma arrogância imponente. Wu Siduo ficou sem palavras.
Quando finalmente se recompôs, ela prosseguiu, visivelmente inquieta:
— Majestade, esta emissária vem propor uma aliança matrimonial com um Príncipe Imperial de vosso país, em nome de Sua Majestade, a Imperatriz do Reino Nan. Ouvimos dizer que os príncipes de Qianhe possuem talento, aparência, caráter e sabedoria incomparáveis. Nossa Imperatriz deseja estreitar os laços entre nossos reinos por meio dessa união e espera que Vossa Majestade aceite tão nobre proposta.
Afinal, todos temem a morte — e um governante, ainda mais. Atualmente, corriam rumores de que as artes marciais da Imperatriz Qianhe eram insondáveis, quase sobre-humanas. Quem ousaria enfrentá-la? Estima-se que nem mesmo o mais bem guardado dos palácios seria proteção suficiente. O temor não era pelo exército de Qianhe, mas pela espectral Imperatriz de Qianhe. Onde há fumaça, há fogo. Para uma família imperial, o valor da própria vida é supremo.
A expressão de Liyou se fechou. Com as lições aprendidas com o Império Sang, será que esses idiotas não haviam aprendido nada?
— Imperatriz de Qianhe, por favor, não interprete mal esta proposta. Sua Majestade, a Imperatriz do Reino Nan, fez apenas uma sugestão. Alianças matrimoniais existem desde tempos antigos. Se um príncipe de vosso império se casar com a soberana de nosso reino, isso não desonraria Qianhe, certo? — Ao notar a mudança no semblante de Liyou, a emissária do Reino Nan apressou-se em explicar. A proposta do Império Sang havia se tornado motivo de escárnio, é claro. Agora, ao menos, eles ofereciam ao príncipe o título de Consorte Real — já era bastante honra. Ser consorte de um trono estrangeiro, não era isso uma tentação?
Os outros dois emissários claramente não esperavam que Wu Siduo tivesse esse propósito. Seus olhares mudaram, como se estivessem diante de uma traidora.
Mas Wu Siduo os encarou com calma, achando que agira com discrição. Mal sabia ela que Liyou percebera cada movimento. Seus sentidos estavam muito além dos de uma pessoa comum — truques como esses não escapavam de seus olhos. Mas ainda assim, ela não conseguia prever qual era a real intenção do Reino Nan. Estariam tentando agradar os dois lados? Ou seria uma armadilha?
Ao pensar nos Príncipes Imperiais, Liyou se lembrou de dois jovens que vira recentemente. Não era nada absurdo que um Príncipe estivesse desocupado. Afinal, um homem também deve se casar.
— E qual Príncipe Imperial a Imperatriz de seu país deseja desposar? — Liyou pareceu animada, recostou-se despreocupadamente no Trono do Dragão e perguntou com gentileza.
A emissária do Reino Nan sorriu ao perceber a reação da Imperatriz. Sabia que o plano de sua soberana estava funcionando. Endireitou-se e respondeu com firmeza:
— Como disse nossa Imperatriz, Vossa Majestade pode escolher quem achar mais adequado. Seja quem for, ela aceitará de bom grado.
— Oh, sendo assim, Zhen precisará pensar bem. Afinal, ainda há dois ou três príncipes à espera de casamento.
— Sim, tal questão exige consideração cuidadosa. Esta emissária e nossa Imperatriz compartilham da mesma intenção. Esperamos que Vossa Majestade escolha um candidato com ponderação. Afinal, isso pode afetar o futuro dos dois reinos. — O semblante de Wu Siduo transparecia triunfo, como se acreditasse ter vencido na diplomacia.
Liyou refletiu. Seria isso uma distração para encobrir outros planos? Ou uma tentativa de baixar sua guarda? De qualquer modo, estratégias como essa eram inúteis. Diante do poder absoluto, truques não têm valor.
— E os outros dois emissários, algo a declarar?
— Imperatriz de Qianhe, esta emissária veio parabenizá-la e também convidá-la a visitar nosso país. A guerra terminou e reina a paz. Nossa Imperatriz deseja que Vossa Majestade participe do Banquete Real de Zhongli. A cerimônia semicenal acontecerá dentro de um mês, com a presença de todos os reinos — será uma oportunidade de estreitar laços entre nossas nações. — A cada cinquenta anos, o Reino Zhongli realizava uma cerimônia grandiosa, à qual os líderes de diversos países eram convidados.
Um brilho estranho surgiu nos olhos de Liyou. Com tantos soberanos reunidos, quem sabe quantos voltariam com vida?
— Nesse caso, Zhen considerará o convite.
A emissária de Zhongli recuou, pensativa sobre os propósitos do Reino Nan. No entanto, recordou-se do que sua Imperatriz lhe dissera: “Não importa o que aconteça, cuide dos assuntos de seu próprio reino. Trate os outros dois como se não existissem.” Havia certa sabedoria nessas palavras — talvez sua Imperatriz soubesse mais do que aparentava sobre os planos do Reino Nan. Pensando nisso, sentiu-se mais tranquila. Afinal, se Qianhe e o Reino Nan realmente se aliassem, as consequências seriam desastrosas.
— Imperatriz, esta emissária veio prestar homenagem, mas como todos sabem, nosso país é famoso por suas belezas. Para parabenizá-la por suas grandes conquistas, nossa Imperatriz pediu que lhe entregássemos os presentes mais requintados. Por favor, aceite-os. — O Reino Yingjia era conhecido por seus belos homens, e a comitiva trouxera dezenas deles, todos criteriosamente escolhidos…
— Oh, sendo assim, Zhen terá que examiná-los com mais atenção… —
Capítulo 99: Ternura Implícita
Aviso: Estou fazendo a continuação através apenas do MTL, desculpem qualquer mudança de termos, darei meu melhor, a tradução do inglês foi abandonada e só a o MTL e Chinês.
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— Majestade, o presente do enviado está aguardando fora do palácio. Se Vossa Majestade desejar, pode convocá-los imediatamente, e poderá ver o que quiser. — Todos sabiam que o Imperador Qianhe era ávido por beleza, e que havia muitas mulheres belas no harém. Desta vez, haviam acertado em cheio na escolha...
Pelo olhar do mensageiro, Li You entendeu o que ele estava pensando, mas, na verdade, esses três enviados a surpreenderam. Exceto pelo convite de Zhongliguo, os outros dois países estavam sendo excessivamente amigáveis — ora enviando presentes, ora propondo alianças matrimoniais. Dar presentes assim... seria isso uma retirada estratégica para avançar depois?
— Feng Ying, vá receber os presentes. Apenas providencie para que entrem no harém. — Ela não tinha interesse algum em ver aqueles homens. Os homens do próprio harém não podiam se aproximar, mas ela também não recusaria presentes de outros. Não sem motivo.
— Sim. — Feng Ying dirigiu-se ao mensageiro. — Senhor mensageiro, este servo irá conduzi-lo.
Os enviados da Dinastia Yin Jia acharam aquilo um tanto estranho, mas não podiam recusar. Nesse momento, Liyou disse:
— Já que os três enviados concluíram suas apresentações, desejo visitar o príncipe. Assim, retiro-me.
Assim que terminou de falar, não deu chance para que ninguém respondesse, levantou-se e deixou o salão.
Liyou não estava enganando ninguém; nem sequer se deu ao trabalho de inventar uma desculpa. Saiu diretamente rumo ao Palácio Demônio Yu, pois realmente pretendia ver o pequeno príncipe. Aquela criaturinha adorável ocupava quase todo o seu pensamento.
— Jing’er, veja quem está aqui: é a mãe imperadora. — A criança parecia mudar a cada dia, mas a maior transformação de Qian Hejing era o sorriso — cada vez mais radiante, conquistando todos ao redor. Qualquer pessoa que visitasse o pequeno príncipe não conseguia deixar de se encantar por ele.
E o menininho parecia entender o que os adultos diziam. Ao ver Liyou, abriu um sorriso e estendeu a mãozinha gordinha na direção dela, querendo ser pego no colo.
Liyou atendeu ao seu desejo e acolheu aquele corpinho delicado nos braços.
— Jing’er, se você continuar sempre tão fofo assim, vai conquistar muitas mulheres no futuro.
— Majestade, está provocando Jing’er de novo. Como ele poderia saber como será no futuro? Vai que fica tão feio que ninguém queira se casar com ele? — Situ Hongyu balançou a cabeça. Não queria que o filho fosse um destruidor de corações. Se não fosse por essa aparência excessivamente encantadora... talvez ele não tivesse passado por tantas coisas. O imperador não o teria levado para o palácio, e ele nunca teria se tornado concubino demoníaco...
Aparência, às vezes, era um fardo. Ele só queria que o filho tivesse uma vida tranquila, sem experimentar extremos de alegria e sofrimento como ele mesmo.
— Mesmo que meu imperador fosse feio, não ficaria sem se casar. Por que, acaso você deseja que seu filho não consiga uma esposa? Ou está sem confiança na nossa aparência?
— O concubino apenas falava por falar. Vossa Majestade não deve levar a sério. Só acho que uma aparência comum já é o suficiente. Ser chamativo demais não é bom. — Situ Hongyu acariciou o rostinho do bebê. Não é que ele não quisesse o melhor para a criança; apenas agora compreendia o que realmente importava.
— Isso é um tipo de iluminação? — Li You pousou o olhar sobre Situ Hongyu. Ele havia mudado muito. Embora, às vezes, ela lamentasse que essa mudança tivesse apagado um pouco do brilho ousado que ele tinha antes, no geral, sentia-se satisfeita. Esse Hongyu mais contido lhe transmitia paz.
— O concubino apenas tem expectativas. — Situ Hongyu olhou para a criança sorridente, e a expectativa transparecia em cada traço de sua expressão.
— Eu também tenho. — Li You olhou para o pequeno em seus braços, compartilhando do mesmo desejo que Hongyu.
— Majestade, Irmão Yu, no que estão pensando? Contem para Xuanhe ouvir. — A voz suave e agradável de Mo Rong Xuanhe se intrometeu, e logo ele surgiu diante de Liyou com um sorriso puro, totalmente infantil.
Li You sentiu uma leve dor de cabeça. Essa era quase uma reação automática sempre que via Mo Rong Xuanhe — especialmente depois do que Situ Hongyu lhe dissera na última vez. Ela não queria ferir os sentimentos dele, mas também não iria se forçar. Por isso, só de vê-lo, já se sentia exausta.
Situ Hongyu sorriu e olhou para Liyou, claramente deixando que ela respondesse. Ela lançou-lhe um olhar de advertência, mas não estava irritada — apenas resignada.
— Estamos esperando que nossas crianças cresçam tão adoráveis quanto você. — Era verdade. Apesar de achar que Murong Xuanhe fosse um pouco bobo e lhe causasse dores de cabeça, ele merecia uma vida alegre, ainda que distante dela para evitar mágoas. Mesmo morando no palácio e passando por alguns momentos desagradáveis, sua natureza inocente lhe permitia esquecer rancores. Alguém assim certamente saberia encontrar a própria felicidade.
— Oh, está bem, o concubino aceita. Se é para ser adorável, que seja. De qualquer forma, isso é um elogio para o concubino. — Murong Xuanhe franziu o narizinho de maneira fofa e levemente ressentida, irresistivelmente encantador, o que arrancou risos de Situ Hongyu e até de Qianhe Liyou.
— Hehe, segure Jing’er para mim, tenho que resolver umas coisas. — Li You colocou o bebê nos braços de Murong Xuanhe e saiu do Palácio Demônio com um sorriso nos lábios.
— Majestade, este servo já acomodou todas as pessoas enviadas pela Dinastia Yin Jia no Palácio Pulu. Há mais alguma instrução? — Feng Ying, depois de arrumar os “presentes”, voltou apressado.
— Façam com que vigiem aqueles homens. Não deixem que circulem livremente. — Ela aceitara receber aqueles homens, mas isso não significava que permitiria que fizessem coisas que não deveriam.
— Sim! — Nem precisava que o imperador ordenasse, pois ela já havia tomado essa providência. Já instruíra os atendentes do palácio a ficarem de olho em cada movimento daqueles indivíduos. Não podia haver erros. A intenção por trás do envio deles era tão óbvia que quase lhe dava vontade de rir. O nosso imperador já não é mais aquele monarca lascivo de antes... agora o imperador...
O olhar de Feng Ying pousou discretamente sobre seu soberano. Comparado a imperadores comuns, o atual poderia ser descrito como de coração puro e poucas ambições — e isso ainda a surpreendia.
Após receber a ordem, Feng Ying se retirou, e Li You voltou para o Salão de Estudos Imperiais.
Lá, Li You escreveu várias cartas em sequência e pediu a Anhui que as entregasse às pessoas do Anbu, enviando-as a diversos lugares. Entre os destinatários estavam Li Yao e Long Xizhao, que ainda estavam atarefados após a guerra, e o general Lin Tong, responsável pela guarnição das pradarias de Gamma.
— Anhui, venha cá. Sente-se comigo. — Assim que voltou de entregar as cartas, ele foi puxado pelo imperador para sentar-se no trono junto dela.
— Majestade, a atitude daqueles três reinos é muito estranha. — Anhui segurou a mão de Liyou. Ao recordar o comportamento das três delegações na corte naquele dia, não conseguia deixar de sentir que havia algo suspeito. Mas como as missões diplomáticas já estavam ali, parecia que apenas os soberanos de cada país tinham conhecimento do que realmente se passava — nem mesmo o Anbu conseguia descobrir nada.
— Eu sei. Também achei estranho. Mas, por mais esquisito que seja, os objetivos possíveis são sempre poucos. Não se preocupe.
— Certo... no fundo, este servo confia em Vossa Majestade. — As mãos que segurava eram as mesmas que governavam o mundo, carregando um poder que ninguém poderia igualar. Mas não era esse poder que o atraía, e sim a tolerância que essas mãos transmitiam — uma tolerância que guardava, oculta, uma ternura embriagante.
— Tolo... — Essa ternura oculta, nem mesmo Li You talvez tivesse consciência dela. Mas era uma doçura real, carregada de compaixão e de algo que tocava o coração...
Dez mil anos de vida não significavam, necessariamente, ter visto e aprendido tudo sobre o mundo. Pelo menos, ela não estava acostumada a lidar com as pessoas de forma cautelosa. No mundo dela, tudo era direto — zumbis eram sanguinários, e ninguém os consideraria benevolentes. De fato, aquele era um mundo cruel, sem hipocrisia, onde o poder decidia tudo. Lutava-se pelo que se queria, sem concessões, e jogava-se fora o que não servia — mesmo que fosse uma vida humana. E, ainda hoje, ela não discordava dessa lógica.
Mas, ao conviver com essas pessoas, descobriu que, por mais cruel que alguém fosse, não conseguia ser cruel com quem a amava.
Eles foram bons para ela. Ela percebeu isso pouco a pouco, sem pressa. No início, não deu muita importância. Mas, quando se viu mudando — deixando de ser tão igual a si mesma por causa daquele amor —, ficou surpresa. A mudança era grande. O poder daquele sentimento também. Afinal, como outra coisa poderia transformar uma zumbi de dez mil anos?
Ao pensar nisso, Li You sorriu, meio sem jeito:
— Anhui, você acha que eu mudei?
— O que Vossa Majestade quer dizer com isso? — Ele foi pego de surpresa pela pergunta. Mudado? O que significava aquilo?
— Quero saber se acha que estou diferente de antes. Não falo de muito tempo atrás, mas das mudanças deste último ano. — Comparada à Liyou de antes, a transformação era enorme.
Dessa vez, Anhui entendeu o sentido. Fitou o rosto do imperador e recordou-se de tudo o que haviam vivido nesse período.
— Majestade, acho que todos mudam com o tempo. Claro que a senhora também. Quer que eu diga qual é, para mim, a sua principal mudança?
— E qual seria?
— Vossa Majestade ficou mais gentil que antes. Essa é a mudança! — Ele sorriu ao dizer isso. Se tivesse de definir, para ele a transformação mais marcante era essa: gentileza. E era algo que vinha sentindo com força da parte dela.
— Gentil? Eu? — Li You repetiu, surpresa. Anhui dizer que ela era gentil... soava tão estranho...
— A senhora não acha? Eu acho, sim. — Ele assentiu com firmeza.
Li You ficou em silêncio, observando o rosto dele, aquele olhar ansioso por um reconhecimento. Pensou na “gentileza” que ele dizia ver nela, lembrou de tudo o que viveram juntos nesse tempo... e soltou um suspiro suave:
— Anhui... você é mesmo um tolo...
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