CApítulos 22 a 24


 Capítulo 22: Culpando Qin Ning

Qin Ning se sentia injustiçado, mas não podia dizer isso em voz alta, tampouco reclamar. Só lhe restava permanecer de pé, com o semblante pálido, mas a postura ainda ereta e altiva. Aquela era a primeira vez que a Imperatriz falava com ele em um tom tão zangado, e ele ficou sem palavras, abalado com o surto de Qianhe Liyou.

— Imperatriz, isso não é culpa de Qin Ning, é desta Princesa Imperial…

— Cale a boca! Quando zhen está disciplinando meu consorte, um estranho pode interromper? Se não tem mais nada a dizer, ajoelhe-se. — O tom calmo de Qianhe Liyou já exalava morte. Essa tola realmente queria ofendê-la ali mesmo? Ainda ousava falar e implorar?

— Sim, esta irmã imperial se retira, esta irmã imperial se retira! — Qianhe Zongya se encolheu diante da aura assassina que emanava da Imperatriz e não ousou dizer mais uma única palavra. Retirou-se da Sala Imperial com passos leves, quase fugindo.

— Qin Ning, por que seu olhar parece dizer que você não tem culpa alguma nisso? — Assim que Qianhe Zongya se retirou em silêncio, Qianhe Liyou voltou a fixar o olhar naquele homem altivo diante dela.

Qin Ning permaneceu calado. Sentia sinceramente que não havia feito nada de errado, mas percebia a raiva silenciosa da Imperatriz aumentando a cada segundo. Ainda assim, não conseguia apresentar explicações: sua mente estava em branco, sua boca, muda. Nunca havia sentido que a Imperatriz possuía uma presença tão avassaladora. Sua aura exigia respeito e submissão — e medo. Um temor lento foi se instalando no coração de Qin Ning. Se não fosse por seu orgulho nato que o sustentava, talvez ele já não tivesse coragem nem para continuar em pé.

— Encontro às escondidas, fazer alguém vir pedir para zhen te libertar… Qin Ning, você não tem vergonha na cara? — A forma de pensar de Qianhe Liyou era extremamente teimosa, e carregava valores bastante conservadores. Para ela, Qin Ning lhe pertencia e não deveria ter contato algum com outras mulheres. Muito menos prometer um encontro em particular, mesmo que fosse para recusar alguém. Isso simplesmente não era permitido — e o pior: a rejeição tinha sido um desastre completo, forçando-a a lidar com o assunto. Para Qianhe Liyou, Qin Ning estava errado. Naturalmente, ele deveria sentir vergonha, admitir sua culpa e ajoelhar-se pedindo perdão. Mas Qin Ning insistia que estava certo, que não havia feito nada de errado — e isso deixava Qianhe Liyou furiosa!

Ela já havia chegado a uma conclusão: se Qin Ning não fosse capaz de admitir seu erro, então ela o faria entender que o código legal da nação incluía também as regras e os deveres da família!

— Eu recusei! Eu não fiz nada que te desonrasse! — O tom agressivo da Imperatriz e suas palavras cortantes deixaram Qin Ning visivelmente abalado. Ele não conseguiu se conter e soltou essa frase, tentando se justificar ao menos um pouco. E, com isso, um nó desconfortável que há dias pesava em seu peito voltou a apertar.

Naquela época, Qin Ning havia aceitado a proposta da soberana suprema do país, a Imperatriz Qianhe Liyou, sob a suposição de que havia salvado sua vida, e que ela retribuiria essa dívida. Para ele, entrar no palácio era apenas uma forma de escapar das confusões externas — e, mais ainda, uma recompensa justa pela vida que salvara. No entanto, no dia da revolta no palácio, a Imperatriz havia conquistado o respeito de toda a corte com uma habilidade marcial tão impressionante que o deixou em choque. Com apenas alguns movimentos, ela recuperou o controle da situação com facilidade, mergulhando Qin Ning em dúvidas e insegurança.

Era inevitável: ele começou a pensar que talvez tivesse sido enganado desde o início. Aquele ato de salvamento… teria sido tudo uma encenação? Um teatro para que a Imperatriz pudesse tomá-lo como consorte? Afinal, com aquele nível de força, ela jamais teria precisado de ajuda. E então… com que intenção e mentalidade ela o aceitou naquele tempo?

Nos últimos dias, Qin Ning refletiu sobre essa questão incontáveis vezes, mas a resposta final só lhe trouxe ressentimento. Quanto mais pensava, mais se sentia um bobo — um brinquedo nas mãos da Imperatriz. Que salvador tolo e ridículo ele havia sido!

— Imperatriz, me conceda o divórcio! — Qin Ning era uma pessoa extremamente orgulhosa. Depois de se sentir feito de palhaço e ainda ser repreendido injustamente por ações que considerava corretas, ele não suportou mais. Sua paciência havia se esgotado. E, de propósito, deixou de lado qualquer formalidade, nem mesmo se referindo a si como “este consorte”. Só queria provocar a Imperatriz até o ponto em que ela mesma pedisse o divórcio!

— O que você acabou de dizer? Tem coragem de repetir?! — Qianhe Liyou ficou realmente furiosa desta vez. Sua voz carregava um tom sombrio, e uma aura aterrorizante começou a emanar de seu corpo. Parecia envolta por uma névoa negra invisível — essa era a aura demoníaca de um zumbi. Normalmente, ela a mantinha reprimida dentro de si. Mas quando suas emoções se descontrolavam, aquela energia escapava, formando uma camada invisível, uma espécie de filme protetor.

— …Sua Majestade, já que tudo isso foi só um jogo para você, então já brincou o suficiente. Eu fui enganado por tanto tempo… fui mesmo estúpido. Pode me dispensar agora! — Ele preferia morrer a ser tratado como um palhaço, um brinquedo que qualquer um podia manipular!

— Que jogo? Quando foi que zhen te tratou como um brinquedo? — As palavras confusas de Qin Ning deixaram Qianhe Liyou sem entender absolutamente nada. No entanto, ela conteve sua raiva e resolveu perguntar claramente, buscando uma explicação.

— Como não foi? Você obviamente possui habilidades marciais excepcionais, e ainda assim me usou para te salvar. Agora, eu sei de tudo. Ainda quer mentir para mim? Vai continuar com esse jogo? Ou pretende manter esse teatro até conseguir me ter de verdade? — tomado pela raiva, Qin Ning foi tomado também por uma ousada sensação de alívio. As palavras escaparam sem filtro, sem se preocupar com formalidades. Ao observar a expressão sombria da Imperatriz, teve ainda mais certeza de que seu palpite estava certo. E essa certeza o golpeou psicologicamente mais uma vez. Seu corpo tremia levemente, e sua expressão piorava a cada segundo.

Qianhe Liyou franziu o cenho. Não tinha uma explicação clara para dar em resposta àquela acusação. Mas isso não era motivo para que aquele homem falasse com tanta arrogância!

— Qin Ning, zhen nunca tratou isso como um jogo, nem te enganei. É melhor se acalmar. Zhen te dá três dias. Pense bem. Zhen gosta de homens obedientes. Se você não for capaz disso, zhen satisfará o seu desejo e te concederá o divórcio! — Qianhe Liyou sempre achou que homens eram problemáticos, mas havia aceitado a responsabilidade que lhe fora atribuída. Se ele queria pensar que havia sido enganado e desejava ir embora, isso até combinava com os sentimentos dela. Por que ela o impediria?

O temperamento explosivo de Qianhe Liyou aos poucos foi se dissipando, dando lugar à sua habitual frieza apática e indiferença. De repente, era como se nada daquilo tivesse mais a ver com ela — ela era mesmo volúvel demais.

Qin Ning sentiu como se um balde de água fria tivesse sido despejado sobre sua cabeça. Abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Sua mente girava, confusa e embaçada, enquanto as palavras da Imperatriz ecoavam sem parar em seus ouvidos: “satisfarei seu desejo e te concederei o divórcio”.

Divórcio… Divórcio…

— Niangniang, Niangniang, o que houve?

(Niangniang é um termo comumente usado por servos, atendentes do palácio e oficiais da corte ao se referirem a uma consorte imperial ou Imperatriz, indicando um status de alta nobreza.)

— Ah… — Qin Ning despertou de seu transe, acordado por uma voz familiar. Ao olhar ao redor, percebeu que havia retornado inesperadamente aos seus próprios aposentos — o Palácio Ning Qing.

— Niangniang, o que houve? Por que está tão pálido? Aconteceu alguma coisa?

Ao ouvir aquelas palavras cheias de cuidado e preocupação, Qin Ning ergueu o rosto e olhou para Fanghua, sua criada pessoal, balançando a cabeça levemente. Seu coração estava tomado por uma dor tão profunda que não conseguia pronunciar nenhuma palavra.

— Estou cansado. Pode se retirar. Vou descansar agora.

A Imperatriz ia se divorciar dele. Haha… a Imperatriz ia se divorciar dele. A Imperatriz a quem ele nunca dera atenção, nem importância, estava realmente prestes a se divorciar dele. Aqueles olhos frios o encararam como se o desprezassem, e aquela aura assassina que escapou sem querer o atravessou, ferindo-o no mais fundo de seu coração. A Imperatriz que ele sempre admirou havia se tornado tão impiedosa — e ainda repetia que queria se divorciar dele!

Muito bem, se vai mesmo me divorciar, então que faça isso de uma vez. Como se fosse possível eu sentir qualquer apego por essa governante confusa e incapaz!

— Fanghua, arrume algumas coisas. Pegue tudo o que eu trouxe comigo quando entrei no palácio. Traga tudo. Quanto a esses objetos extras, não quero nem um grão disso! — Ele já não pretendia mais esperar os três dias. Iria partir agora mesmo!

**

Capítulo 23: Qin Ning Suplica para Partir

— Imperatriz, Ning guifei arrumou algumas bagagens e está aguardando do lado de fora, pedindo uma audiência com Vossa Majestade, dizendo... dizendo... — Ai, Ning guifei havia voltado em menos de meia hora. Feng Ying pensou que ele tivesse refletido e voltado para pedir perdão à Imperatriz. Quem poderia esperar por isso…

Guifei: Consorte Imperial de mais alto posto abaixo da Imperatriz (equivalente ao Consorte Real neste livro).

— O que ele disse? — Qianhe Liyou já sentira que a expressão do homem não estava certa quando ele saiu de forma tão descuidada. Ela não acreditava que aquele homem arrogante voltaria para admitir um erro!

— Ning guifei disse... ele está pedindo que Vossa Majestade emita um decreto para que ele possa deixar o palácio! — Ah, por que os assuntos do palácio imperial não podiam dar uma trégua sequer? Todos achavam que Ning guifei era o mais sensato e razoável do harém, mas era inesperado que fosse, na verdade, o menos tolerante. Inacreditável.

— Ótimo, muito bom! — Com essas duas palavras, a cadeira de madeira sob Qianhe Liyou explodiu, desintegrando-se instantaneamente em cinzas. Ela se levantou de repente e saiu.

Do lado de fora, Qin Ning estava ajoelhado no chão. Aquela cena familiar fez Qianhe Liyou se lembrar do dia em que Situ Changqing se rebelou. O homem à sua frente, embora ajoelhado, ainda mantinha sua postura altiva.

— Imperatriz, por favor, envie o decreto — assim que a Imperatriz apareceu, Qin Ning foi direto ao ponto, sem rodeios.

Qianhe Liyou encarou o homem diante dela, sua raiva anterior desaparecendo sem deixar vestígios. Seus olhos escuros ganharam uma profundidade sombria e então ela instruiu Feng Ying, que estava ao seu lado:

— Zhen aprova essa decisão. Deixe Qin Ning sair do palácio.

Depois de emitir o decreto imperial, Qianhe Liyou voltou para o Palácio Qin, deixando para trás Feng Ying, que mantinha uma expressão de pena, e Qin Ning, de rosto pálido.

— Imperatriz, este consorte sabe que há coisas que não deveria dizer, mas ainda assim se atreve a perguntar… Vossa Majestade realmente quer que Ning guifei morra? — Yun Tailing havia escutado tudo claramente lá de dentro. Ele sabia que não deveria se intrometer. Seus princípios sempre indicaram que a melhor e única forma de agir era proteger a si mesmo. Mas ele não conseguiu se conter. Como alguém tão orgulhoso quanto Qin Ning poderia suportar tal humilhação e simplesmente partir… Se ele estivesse certo, a primeira coisa que Qin Ning faria ao deixar o palácio seria cometer suicídio!

Como médico, ele não conseguia suportar ver isso acontecer diante de seus olhos.

— O que você quer dizer com isso? — Qianhe Liyou se confundiu com a intervenção de Yun Tailing.

— Vossa Majestade não sabe? Pessoas orgulhosas e de autoestima elevada como Ning guifei, ao serem repudiadas pela Imperatriz, naturalmente não quereriam continuar vivendo. Este consorte teme que Ning guifei já tenha se preparado para tirar a própria vida ao pedir esse decreto!

Ele já não se importava se a Imperatriz não sabia disso de verdade ou estava apenas fingindo não se importar. Ele já havia dito o que precisava, e esperava que a Imperatriz o impedisse a tempo, por consideração aos sentimentos antigos. Melhor ainda, desejava que estivesse errado, que Ning guifei não estivesse tão determinado a tomar uma decisão tão fatal.

Ao ouvir a explicação de Yun Tailing, a expressão de Qianhe Liyou mudou, seus olhos se tornaram ainda mais profundos, um brilho dourado lampejando na escuridão do olhar. O silêncio caiu repentinamente, e num piscar, sua figura desapareceu, enquanto seguia o rastro de Ning guifei.

Desde os tempos antigos até o presente, mesmo que nunca tivesse se envolvido completamente com o mundo real, ela ainda compreendia algumas de suas nuances. Ela havia se esquecido temporariamente de que, para pessoas desta época, a palavra "divórcio" carregava um peso imenso — especialmente para alguém tão orgulhoso.

Quando Qianhe Liyou finalmente vislumbrou a figura de Qin Ning, ele já havia colocado um pé para fora do portão do palácio. Atrás dele, sua serva, Fanghua, o seguia de perto — aquela que o servia desde criança. Qianhe Liyou não se apressou em alcançá-lo, preferindo esconder-se rapidamente num canto, observando em silêncio.

— Fanghua… — Qin Ning acabara de cruzar o imenso portão pesado do palácio. Ele se virou suavemente e chamou sua criada com uma voz muito baixa.

— Jovem Mestre, o que deseja dizer? — Fanghua estava tão ansiosa que mal conseguia fazer perguntas. Ela o servia desde criança e sabia que ele era naturalmente reservado e frio. Como poderia suportar tal humilhação? Principalmente agora, olhando mais atentamente para o rosto de seu mestre — sua expressão estava estranha. O olhar calmo de Qin Ning lhe dava uma sensação de pavor profundo, como a calmaria antes da tempestade prestes a explodir.

— …Cuide de si mesma. Encontre alguém bom para se casar… — Os olhos sombrios de Qin Ning encararam a criada com doçura, e ele acariciou levemente a cabeça de Fanghua — um gesto que parecia carregar infinita saudade e ternura…

Fanghua ficou primeiro com um olhar tímido, mas logo sua expressão se contorceu, tomada pela dúvida, e então pareceu perceber algo. Olhou para seu mestre, chocada, e perguntou com a voz trêmula:

— Mestre, não assuste esta serva… esta serva não vai se casar, esta serva ainda quer servir o Mestre…

— Não precisa. Encontre alguém para casar e leve uma vida comum. Não seja como eu… — As palavras de Qin Ning se perderam no ar. Ele se virou para o portão imponente do palácio, mas parecia não estar realmente olhando para ele. Seu olhar parecia atravessar aquela barreira, mirando algo desconhecido à distância. Seus olhos se perderam em pensamentos, tingidos de melancolia, enquanto uma neblina os cobria. O mais chocante, porém, era que, por trás daquela melancolia, havia um toque de determinação.

Um brilho cortante refletido da lâmina de uma longa espada passou pelo pescoço de Qin Ning num instante. Uma gota, duas gotas. O brilho ofuscante do sangue escorrendo pela lâmina até o chão…

Qin Ning abriu os olhos abruptamente, e o rosto sombrio de Qianhe Liyou pairava sobre ele. Os dois dedos de Qianhe Liyou estavam pinçando a ponta da espada, e ela havia parado os movimentos de Qin Ning com facilidade.

— Imperatriz, você e eu não temos mais nenhuma relação. Por favor, solte minha espada! — Qin Ning tentou puxar a lâmina das mãos dela, mas descobriu que não conseguia movê-la nem um milímetro. A irritação tomou conta de seu corpo novamente ao lembrar de como fora enganado sobre as habilidades marciais da outra parte, e seu rosto se tornou cada vez mais sombrio. Naturalmente, seu tom não foi nem um pouco cortês.

— Zhen não se divorciou de você. Apenas permiti que saísse do palácio. Como isso poderia significar romper todos os laços? — Qianhe Liyou era uma pessoa que sempre cumpria suas palavras e definitivamente não faria nada contraditório ou hipócrita. Mas, às vezes, até mesmo um zumbi precisava ser flexível.

Havia um traço de malícia na aura fria que emanava do corpo de Qianhe Liyou. Qin Ning, que estava mais próximo, naturalmente não deixou de perceber essa sutil oscilação. Ficou tão atônito e surpreso que teve que admitir: a Imperatriz à sua frente não era mais a mesma de antes. Ela agora era uma verdadeira Imperatriz, não mais possuindo aquela cabeça oca e atitude tirânica que ele mais desprezava. A pessoa diante dele era como uma espada de sangue milenar, com uma energia espiritual feroz e perversa vazando como se pudesse destruir o mundo a qualquer momento.

— Você... canalha! — Qin Ning não sabia o que dizer naquele momento. A Imperatriz não havia dito diretamente que se divorciaria dele, nem havia enviado documentos de separação, mas havia consentido em deixá-lo sair do palácio. Isso não deixava evidente sua intenção? Mas esse comportamento descarado da Imperatriz o deixou sem palavras!

— Atrevido. É assim que se dirige a zhen? Zhen é sua esposa, sua Imperatriz, seu céu. Se você for esperto o suficiente, deve entender que existe um limite para o orgulho. Zhen não quer humilhar o seu orgulho, e você não deveria querer dar essa oportunidade a zhen. Eu tenho maneiras de fazer você não ser mais tão orgulhoso assim!

— Você! — Qin Ning não se conformava. Ele não tinha medo da morte, então como poderia temer aquelas ameaças?

— Está insatisfeito? Quer experimentar esses métodos agora? Então, por qual deles devo começar? É melhor inutilizar sua força marcial primeiro? Ou romper os tendões e ligamentos do seu corpo? Ou então, zhen pode usar outro método... despir você e entregá-lo a um dos guardas. Zhen poderia simplesmente castrá-lo para que não fosse mais um homem, ou lhe dar um remédio que te deixe excitado, até que tenha que implorar para que eu cuide de você. Qin Ning, diga você — qual desses métodos prefere? Deixe zhen pensar em mais alguns interessantes...

**

Capítulo 24: Orgulho que Não se Engole

Qin Ning cerrou os dentes, tentando controlar as emoções que rugiam dentro de si. Ele realmente não queria ceder, muito menos baixar a cabeça. Mas havia ouvido claramente as palavras da Imperatriz — e não conseguiu evitar levá-las a sério. Sabia que ela era plenamente capaz de cumprir o que dizia. Aquilo não era apenas uma provocação vazia. A antiga Imperatriz também havia tratado aqueles que a ofenderam da mesma forma cruel. Só nunca imaginou que um dia ela faria isso com ele. Pensando bem... ele sempre foi orgulhoso demais, achando que...

— Então me mate de uma vez! — Qin Ning preferia morrer a ser humilhado. Jamais daria a essa mulher a chance de tratá-lo daquela forma.

— Tolo! Se zhen diz que você não pode morrer, então você não vai morrer. E mesmo se morrer... acredite ou não, zhen tem meios de trazer você de volta! — A voz de Qianhe Liyou ecoava com uma aura de malícia, sombria e dominadora. Suas palavras exageradas eram tão carregadas de autoridade que ninguém ali ousava duvidar. Mesmo o absurdo que dizia fazia sentido na boca dela.

— Então o que você quer? Que eu me ajoelhe aos seus pés e suplique pra que me aceite? Que eu abandone minha personalidade e deixe você fazer o que quiser comigo? Pois saiba que isso é impossível. Qual é o sentido de viver sem dignidade?! — A Imperatriz avançava, passo a passo, pressionando. Pânico misturado com choque, ansiedade e dúvida empurravam o orgulho de Qin Ning até o limite da ruptura. Ele já não conseguia se conter, e sua voz rouca explodiu com uma dor profunda e impotente.

Ser forçado a esse ponto por uma mulher que ele tanto desprezava o envergonhava. E o pior era a frieza com que ela o tratava. Todos diziam que a Imperatriz havia mudado completamente sua atitude em relação ao Encantador Guifei, mas ele jamais imaginou que seria tratado da mesma forma. Aqueles olhos frios e impassíveis lhe davam a sensação de que ela o detestava. Mas o que, afinal, ele havia feito de tão errado?

Zhen deixou você partir com sua liberdade intacta, mas você preferiu desistir de viver. Acha mesmo que isso é orgulho? Isso é só burrice. Qualquer escolha teria sido melhor que essa. Escolher a morte é o caminho mais covarde. Sendo direta, zhen despreza esse seu comportamento. Zhen não vê orgulho nenhum em você, apenas estupidez.

Em muitos casos, morrer parece mais fácil do que viver. Mas para alguém orgulhoso e teimoso como Qin Ning, algumas poucas palavras não bastariam para convencê-lo.

Zhen vai encontrar um lugar pra te fazer recuperar o juízo. — Qianhe Liyou estendeu os braços, envolvendo a cintura de Qin Ning. Com um salto leve, ela se lançou no ar com ele nos braços, voando em direção ao Lago Jinpo, nos Jardins Imperiais. Qin Ning tentou se soltar, mas não conseguiu se livrar daqueles braços. E antes que pudesse reagir, sentiu-se despencar do céu, caindo em queda livre. Após alguns segundos no ar, seu corpo atingiu a superfície do lago gelado!

Qianhe Liyou flutuava no ar de forma estranhamente serena, observando friamente a figura que ela havia lançado na água. Qin Ning sabia nadar, mas tinha engolido água ao cair de forma tão abrupta. Emergindo rápido, rompeu a superfície e olhou atônito para a figura pairando sobre ele.

— Está com a mente mais limpa agora? — A voz de Qianhe Liyou ecoou como um trovão vindo dos Nove Céus, gelada, sem nenhum traço de emoção.

— Você... você... — Qin Ning já não sabia o que dizer. Sua voz tremia, só conseguia repetir "você"...

Zhen detesta quem faz escândalo e age por impulso. É melhor você se comportar, zhen...

Qianhe Liyou subitamente interrompeu a fala e olhou para o horizonte. Um grupo de pessoas se aproximava apressadamente, carregando um perfume familiar...

— Lá vem o Rei Consorte Ancião...

— Huang’er, o que está acontecendo aqui? — Logo cedo, Luo Yu havia recebido um relatório de um atendente do palácio sobre os acontecimentos na Sala Imperial. A princípio, ele não quis se envolver. Mas ao saber que a Imperatriz havia permitido que Ning Guifei deixasse o palácio, usou sua sabedoria e intuição emocional para deduzir o que Qin Ning provavelmente escolheria. Embora não se importasse muito com a vida de Qin Ning, não podia ignorar o impacto que isso teria sobre a reputação da Imperatriz. Por isso, correu até lá — e chegou justamente a tempo de ver Qianhe Liyou flutuando friamente sobre o lago.

Zhen está apenas disciplinando um consorte desobediente. Não se preocupe. — Qianhe Liyou ainda não conseguia chamá-lo pelo título honorífico de “Pai Real”.

Ao ouvir a explicação da Imperatriz, Luo Yu então avistou Qin Ning, se debatendo no lago cristalino. Por um momento, sua expressão — sempre contida — vacilou, revelando surpresa. Ao lado dele, um atendente do palácio sussurrou os detalhes em seu ouvido. Finalmente, Luo Yu entendeu tudo que havia acontecido.

— Huang’er, dar uma lição é só dar uma lição. Não precisa se irritar tanto assim. Desça logo, o Pai Real preparou um pouco de chá verde. Venha acompanhar seu Pai Real para tomarmos um chá juntos. — Desde o dia em que a Imperatriz havia poupado o Encantador Guifei, Luo Yu vinha refletindo cuidadosamente sobre os últimos acontecimentos. Sentia que a Imperatriz havia se tornado realmente outra pessoa. Podia-se dizer que era uma mudança... ou que sua verdadeira personalidade sempre estivera escondida muito fundo. Mas, de qualquer forma, ele estava extremamente satisfeito com a Imperatriz atual. Ela era ousada, corajosa, inteligente, sensata e altamente talentosa nas artes marciais. Não importava o assunto ou habilidade, como pai, ele estava orgulhoso. Aquilo sim era a postura e a presença de uma verdadeira soberana. Ela não havia decepcionado todo o esforço que ele teve ao criá-la e educá-la para se tornar uma boa governante.

Pensando em sua vida solitária e fria, a única coisa que realmente lhe importava era essa filha imperial. Sempre acreditou que criá-la do jeito que criou seria o maior arrependimento de sua vida. Mas jamais poderia imaginar que o mundo daria uma reviravolta tão grande.

Não importava de onde havia vindo essa mudança repentina — ele agradecia aos céus por essa bênção.

Qianhe Liyou entendeu claramente que Luo Yu estava intercedendo em nome de Qin Ning, mas apenas assentiu com a cabeça, descendo do ar até ficar ao lado dele.

Naquele dia, Luo Yu vestia um manto longo branco e dourado, ricamente bordado, que o fazia parecer elegante e nobre. Mas, por ter saído às pressas, seu longo cabelo havia sido preso de qualquer jeito, de forma um tanto descuidada. Ao notar isso, Qianhe Liyou, naturalmente, estendeu a mão para arrumar alguns fios soltos e ajeitar o penteado improvisado...

— Que cheiro bom... — Toda vez que se aproximava de Luo Yu, ela podia sentir um perfume leve e refinado, que a deixava inexplicavelmente contente.

— A-ah, Huang’er, o que está dizendo? — Luo Yu ficou um pouco envergonhado. Os gestos íntimos de sua filha o deixaram sem saber como reagir. Seu corpo, por instinto, quis recuar, mas ele não queria estragar esse raro momento de proximidade entre pai e filha. Por isso, deixou que aquelas mãos permanecessem em seus cabelos, mesmo que seu rosto começasse a corar levemente.

— Vamos, vamos provar o chá. — Qianhe Liyou recolheu a mão como se nada tivesse acontecido e caminhou suavemente dois passos adiante. Ao ver Luo Yu parado, ainda atordoado, ela se virou com naturalidade e entrelaçou seu braço ao dele.

Já fazia muito tempo desde que Luo Yu tivera contato tão íntimo com alguém, então aquele gesto lhe pareceu meio estranho. Quis se desvencilhar do toque suave, mas percebeu que, apesar de pequenas, aquelas mãos eram firmes e fortes. Quando se deu conta de que eram as mãos de sua filha, desistiu de resistir e permitiu que Qianhe Liyou o conduzisse até seu próprio Palácio Luoxian.

Durante o trajeto, nenhum dos dois disse uma palavra sequer. Qianhe Liyou inalava satisfeita o perfume suave que emanava do corpo de Luo Yu, enquanto uma luz incomum circulava por seus olhos profundos. Era como se toda a aura do corpo dele estivesse se fundindo lentamente ao dela...

Atrás dos dois, Qin Ning ficou sozinho no lago, com um olhar extremamente complicado. Quando finalmente chegou à margem, um atendente do palácio correu até ele, preocupado, perguntando se estava tudo bem. Mas, ao se aproximar, Qin Ning simplesmente perdeu o foco do olhar — e desmaiou ali mesmo, vencido por tudo o que havia vivido naquele dia.


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