Capítulos 40 a 42


 Capítulo 40: Envenenamento Premeditado

Os enviados do Império Sang foram detidos e escoltados para fora do palácio pelos guardas imperiais. Durante a corte matinal, Qianhe Liyou havia feito uma declaração tão gelada que fez todos sentirem um medo interno profundo. Depois disso, seu olhar ficou ainda mais frio e gélido ao encarar os enviados como se eles já estivessem mortos. Só depois de vê-los desmoronarem no chão, ela ordenou que os guardas imperiais os levassem para fora do palácio e os enviassem à embaixada.

Na corte imperial, após um silêncio sufocante, uma série de arranjos emocionantes começou a ser feita, inflamando o coração de todos. Das tropas ao sustento do povo, da propaganda às estratégias, da honra e desonra de um país ao florescimento de uma nacionalidade — embora Qianhe Liyou não tenha falado muito, cada palavra deixava espaço para as imaginações mais selvagens. Toda a estrutura imperial assemelhava-se a uma divisão militar, uma máquina de guerra funcional e operante que começava a se erguer.

Cada pessoa se agitava com um fogo interno e inquietação, correndo para fazer os devidos preparativos e aguardando…

— Imperatriz, eles estão se movendo.

— Fale. — Anhui havia desaparecido por um tempo, então ela já imaginava que algum novo desenvolvimento havia ocorrido. Anhui ainda estava encarregado da Anbu, a divisão de operações secretas, e era responsável por lhe fazer relatórios.

— Eles subornaram os homens que este subordinado já havia posicionado previamente e se infiltraram secretamente no palácio para se encontrar com Sang Zixin. Entregaram a Sang Zixin um sachê de veneno, planejando envenenar Vossa Majestade. Além disso, também pretendem roubar os mapas de distribuição militar. — Quando Anhui pronunciou a palavra "veneno", uma intenção assassina fria brilhou em seus olhos. Qualquer um que quisesse matar a Imperatriz deveria morrer!

— Qual foi a reação de Sang Zixin? — Qianhe Liyou não se surpreendia que o outro lado quisesse sua vida. Ela estava mais interessada em saber como Sang Zixin reagiria a essa situação e esperava que o pobre coitado fizesse algo ainda mais lamentável. Caso contrário, ela deixaria de sentir pena dele. O destino de todos está em suas próprias mãos e escolhas, não em algo predestinado pelos Céus.

— No início, ele ficou em silêncio e não aceitou. Depois, recusou, mas o outro lado ficou furioso com a recusa. Parece que já tinham preparado algum tipo de droga há muito tempo para controlar Sang Zixin e forçaram-no a engolir um veneno que se manifestará em sete dias. Ameaçaram dizendo que, se ele não completasse sua missão nesse prazo, morreria envenenado. O homem que este subordinado colocou para monitorar Sang Zixin secretamente relatou que sua reação foi um tanto estranha na hora. Primeiro, ele entrou em pânico, mas depois caiu em um silêncio anormal. Sem dizer nada, Sang Zixin deixou que aqueles dois indivíduos fizessem suas ameaças e promessas. Por fim, após levar dois tapas, Sang Ziling fez mais algumas ameaças verbais e então partiu. Provavelmente acreditam que Sang Zixin aceitou. Afinal, todos têm medo da morte…

Anhui não queria desprezar a natureza humana, mas já tinha testemunhado sujeira e escuridão demais. Vivendo neste mundo, há realmente muitas pressões externas que forçam as pessoas a agirem contra a própria vontade. Quantas pessoas não se comprometem? Neste mundo, havia gente demais com medo de morrer…

— Muitos têm medo da morte, mas isso não significa que traiam sua própria vontade só para sobreviver. Anhui, continue enviando pessoas para monitorar os movimentos deles. Zhen quer ver o tamanho da onda que esses dois ou três peixinhos podem causar.

— Sim! — Mesmo se a Imperatriz não tivesse ordenado, ele não deixaria essas pessoas escaparem tão facilmente. Jamais permitiria que alguém ferisse a Imperatriz... Ele ainda se lembrava de que, no dia da rebelião tumultuada, estava fora da cidade imperial em uma missão. Quando soube do golpe, quis oferecer sua vida como desculpa. Como líder da Anbu, se não havia sido capaz de descobrir tal conspiração, então qual era o sentido de sua existência? Na época, pensou que, se algo tivesse acontecido com a Imperatriz, mesmo que fosse apenas um ferimento, ele estaria disposto a pagar com a própria vida. Jamais levaria uma existência indigna e degradante. Mas, os céus foram justos e não apenas a Imperatriz sobreviveu ilesa, como também demonstrou uma proeza marcial e inteligência extraordinárias. Não só suprimiu a rebelião com facilidade, como também fez com que todos sob os céus reconhecessem sua posição inabalável como Imperatriz. Assim que teve a oportunidade, investigou completamente os acontecimentos ligados à rebelião. Ela havia ocorrido, primeiro, por ter sido abrupta demais e, segundo, porque o agente secreto designado para investigar Situ Changqin teve sua identidade descoberta e foi morto antes de poder reportar. Por isso ele não havia recebido nenhuma informação, e quando os outros agentes notaram as mudanças, Anhui estava fora da capital, impedindo-os de notificá-lo a tempo…

Quando voltou às pressas, só teve tempo de lidar com os desdobramentos. Depois de resolver tudo, ajoelhou-se diante da Imperatriz e pediu punição. Mas a Imperatriz ignorou seu pedido e apenas ordenou que reorganizasse o sistema de comunicação da Anbu. Ela não impôs nenhuma punição, o que o deixou ao mesmo tempo tocado e culpado…

Qianhe Liyou fez um gesto com a mão para que Anhui se retirasse. Ele assentiu e se escondeu nas sombras para tratar de assuntos logísticos, retornando silenciosamente ao Estudo Imperial para continuar protegendo a Imperatriz. Pouco tempo depois, Sang Zixin retornou, já vestido com novas roupas. Seu rosto estava um pouco sombrio e abatido, mas fora isso, nada parecia fora do comum.

— Onde você foi? — perguntou Qianhe Liyou em um tom casual. Ele vinha servindo-a pessoalmente nos últimos dias. Embora ela soubesse exatamente no que ele havia se metido, ainda assim queria provocá-lo um pouco.

— Este servo... Este servo caiu sem querer e foi se banhar e trocar de roupa. Demorou um pouco mais do que o esperado. Por favor, castigue como Vossa Majestade achar melhor.

Ao ouvir a resposta, Qianhe Liyou ergueu as sobrancelhas e parou de questionar. Sang Zixin sentiu-se aliviado ao ver que a Imperatriz não pretendia continuar com o interrogatório… Claro que havia mentido, mas essa não era sua verdadeira intenção. Foi apenas o único método que conseguiu pensar no momento e, de qualquer forma, só precisava sustentar a história pelos próximos dias…

Como se tivesse lembrado de algo, uma tristeza sutil surgiu nos olhos de Sang Zixin.

Durante toda a tarde, Qianhe Liyou passou o tempo lendo os memoriais dos oficiais. A maioria era relacionada ao Império Sang, enquanto o restante tratava de assuntos nacionais em diversas partes do império. Por exemplo, o sul havia sido severamente afetado por inundações e muitos cidadãos estavam desabrigados. No norte, o banditismo corria solto, muitos mercadores haviam sido capturados e roubados. Além disso, no sudeste, surgiram piratas e muitos pescadores e comerciantes sofreram com isso. Qianhe Liyou fazia anotações nos memoriais — escrevendo nas margens quem da corte imperial era mais adequado para lidar com cada questão.

— Imperatriz… — Feng Ying entrou com uma tigela de algo que ela não sabia do que era feito.

Qianhe Liyou levantou os olhos e olhou para Feng Ying com um olhar inquisitivo, sinalizando que ela podia falar.

— O Consorte Real enviou uma tigela de sopa de ginseng. Diz-se que foi feita pessoalmente pelo Consorte Real. Ele disse que era para lembrar Vossa Majestade de não se cansar demais com o trabalho e lembrar de descansar.

— Deixe aí então. — Ela sempre achou esse tipo de coisa uma pena. A sede de sangue de um zumbi raramente era voraz. Eles não tinham apetite por comida comum e, aqui, 99% dos homens sabiam cozinhar — o que, para ela, era uma pena.

Sobre esse assunto, Feng Ying também se sentia um pouco confusa. O apetite da Imperatriz parecia ser extremamente pequeno. Às vezes, se não fosse por seu lembrete, a Imperatriz nem se lembraria de comer. Ocasionalmente, uma xícara de chá bastava para o dia inteiro, como se a Imperatriz não precisasse se alimentar. No começo, pensava que a Imperatriz tinha pouco apetite, mas depois passou a se preocupar se o corpo dela aguentaria. Até agora, nada havia acontecido com a saúde da Imperatriz, e só então Feng Ying se sentiu aliviada.

Feng Ying se retirou e Qianhe Liyou e Sang Zixin ficaram novamente sozinhos no cômodo.

— Venha aqui. — Vendo Sang Zixin de pé ao lado, com os olhos cheios de inveja, Qianhe Liyou achou aquilo engraçado. Ela sentia que sabia exatamente do que aquele homem estava com inveja…

— Imperatriz, quais são as ordens de Vossa Majestade? — Sang Zixin se aproximou obedientemente.

— A sopa, beba. — Além do mais, ela não gostava mesmo. Não seria desperdício dar a ele. Com aquela aparência magra e lamentável, ele realmente precisava de mais nutrientes.

— Ah… isto, isto são boas intenções do Consorte Real, este servo não ousa beber. — Sang Zixin balançou a cabeça com força. Como poderia beber a sopa feita pessoalmente pelo Consorte Real? Aquilo era carinho dele…

— Vai desafiar um decreto? — Ela achava essa frase especialmente útil, não importava para quem fosse dirigida.

— … — Desta vez, Sang Zixin realmente não conseguiu responder. As palavras “desafiar decreto” eram algo muito sério!

Tremendo, Sang Zixin pegou a tigela de sopa quente e tomou um gole com cuidado. Estava deliciosa. Nunca havia provado uma sopa tão boa. Não conseguiu evitar e olhou para a Imperatriz mais uma vez, encontrando o olhar dela. Seu coração disparou de susto e ele quase derrubou a tigela.

— Im-Imperatriz, esta sopa está deliciosa… deve… não deve estar envenenada… — Sang Zixin murmurou, estúpido.

— Veneno? Você acha que zhen mandou você provar veneno? — Ao ver que sua boa intenção havia sido transformada em fígado e pulmão de burro*, Qianhe Liyou finalmente entendeu o significado desse ditado.

*N/T: Expressão chinesa que significa tratar boas intenções como más intenções.

— Não foi? — Sang Zixin perguntou, ainda mais estúpido. Se não era para verificar se havia veneno, por que a Imperatriz lhe daria a sopa preparada pessoalmente pelo Consorte Real?

— Você… — Ele não era apenas um coitado, era um cabeça de vento! Qianhe Liyou conteve-se para não dizer isso em voz alta, mas havia uma pitada de irritação em seus olhos. — Coisinha lamentável, você já bebeu a sopa toda. Se estava ou não envenenada, levaria alguns dias para descobrir. Se ainda estiver vivo daqui a alguns dias, considere que não estava.

Essas palavras não podiam chegar aos ouvidos de Luo Weiqing, senão ele ficaria com o coração partido. Mas, ao pensar em pessoas como Sang Ziling, que envenenaram esse pobre coitado… ela queria ver até onde ele iria. Ele realmente a envenenaria?

Qianhe Liyou estava um pouco curiosa…

***

Capítulo 41: Testando Zixin

Os olhos de Sang Zixin se arregalaram de surpresa e, como se tivesse pensado em algo, sua expressão revelou pânico. Ele estava atualmente envenenado e não sobreviveria por mais de sete dias. Se o veneno se manifestasse, e se a Imperatriz associasse sua morte a essa tigela de sopa, ele não estaria incriminando injustamente o Consorte Real? Pensando nisso, Sang Zixin empalideceu, seu rosto delicado perdendo toda a cor de medo. Não importava se ele morresse, mas arrastar outros com ele seria um crime hediondo!

Quando Sang Zilin o encontrou e fez tal pedido, ele soube que seus dias de tranquilidade haviam acabado. Além disso, Sang Zilin o envenenou para intimidá-lo e forçá-lo a obedecer. Ele estava apavorado na época, tomado pelo pânico e sem saber como reagir. Mas, quando Sang Zilin lhe deu um tapa violento e ele viu o brilho cruel e impiedoso nos olhos do outro, Sang Zixin despertou de seu estupor. A menos que morresse, nunca escaparia das garras dessas pessoas. Ele não podia se preocupar com elas, mas sua identidade era um segredo que não poderia ser revelado. Se a Imperatriz descobrisse quem ele realmente era, seu fim não seria muito melhor que uma morte por veneno — e além disso, ele não queria morrer nas mãos da Imperatriz. Após tão pouco tempo convivendo com ela, embora ainda temesse o que viria, seu coração já estava...

Talvez não fosse amor gravado nos ossos e entalhado no coração[1], mas seu coração havia, pouco a pouco, se deixado ocupar pela Imperatriz. Ele gostava da Imperatriz...

— Do que você tem medo? — Puxando a figura assustada para junto de si, Qianhe Liyou forçou Sang Zixin a olhá-la. Seus olhos negros e profundos eram como um redemoinho sem fundo, que atraía e enfeitiçava quem os encarasse.

— N-não é nada... — Sang Zixin estava rígido e robótico. Estava extremamente nervoso, mas seus pensamentos giravam freneticamente, buscando uma forma de não implicar o Consorte Real. Era um assunto grave os enviados do Império Sang tentarem envenenar a Imperatriz. Ele precisava contar a verdade à Imperatriz antes de morrer, para que os inocentes não fossem envolvidos, e também para alertá-la sobre as tramas ocultas.

Qianhe Liyou não quis continuar pressionando, já que parecia que aquele pequeno e miserável sujeito já estava ponderando por si. Ela apenas esperou que ele tomasse a iniciativa.

— A sopa de ginseng estava gostosa? — Qianhe Liyou mudou rapidamente de assunto.

— Estava. — Sang Zixin respondeu com honestidade.

— Você sabe prepará-la? — Apesar de o tratamento dado ao príncipe ter sido absolutamente lastimável e miserável, ele ainda assim crescera no palácio. Saber algo assim não era impossível.

Como era de se esperar, Sang Zixin abaixou a cabeça, envergonhado, e timidamente esclareceu:

— Este servo só sabe preparar alguns pratos simples... não são muito saborosos. — No passado, quando sentia fome, ia pessoalmente à cozinha em busca de algo para comer. Às vezes era maltratado pelos atendentes do palácio, e com frequência não conseguia matar sua fome.

— Se quiser, pode aprender na Cozinha Imperial. — Ela não se importava de lhe dar uma chance de envenená-la, fosse no chá ou na comida.

— Sério?... Uh, ainda assim não tenho vontade de aprender... sou estúpido... — Como poderia aprender a cozinhar em tão pouco tempo? No máximo, ele viveria por mais alguns dias, qual seria o sentido de aprender algo agora?

— Como quiser. Zhen está com sede, vá preparar um bule de chá quente.

— Sim, este servo vai agora mesmo.

Logo, Sang Zixin voltou, com as mãos segurando um bule de chá. Ele serviu o chá com extremo cuidado e cautela na xícara, e a colocou diante de Qianhe Liyou.

O olhar de Qianhe Liyou passou por ele uma vez, e então ela pegou a xícara...

Sang Zixin ainda mantinha a cabeça baixa, seu corpo imóvel. No entanto, Anhui, que vinha observando tudo discretamente desde as sombras, já não aguentava mais e quase pulou para fora... o chá podia estar envenenado, mas ele não podia impedi-la. A Imperatriz claramente entendia que havia um risco naquele chá, mas ainda assim parecia querer bebê-lo. O que a Imperatriz estava pensando? Anhui remoía sua ansiedade e confusão em silêncio, aguardando o próximo movimento da Imperatriz.

Qianhe Liyou, ao sentir a tensão óbvia vindo da direção de Anhui, lançou um olhar frio para o local onde ele estava escondido. Seu aviso fora claro. Em seguida, ela lentamente levou a xícara aos lábios e tomou um gole do chá fumegante... não estava envenenado, ela tinha certeza disso.

Depois do jantar, Qianhe Liyou foi até o palácio do Consorte Real, Luo Weiqing. Luo Weiqing também acabara de jantar, e naquele momento estava deitado na cama, lendo tranquilamente um livro. Estava vestido como quem estava prestes a dormir, mas ao ouvir o relato do atendente do palácio, levantou-se rapidamente e foi receber Qianhe Liyou na entrada.

— Saudações à Imperatriz. Sua Majestade já jantou?

Depois de tantos dias de convivência, o relacionamento entre Luo Weiqing e Qianhe Liyou tornara-se bastante íntimo, suas palavras repletas daquelas trivialidades que se trocam em uma família comum.

— En, acabei de comer, vim ver você. — Qianhe Liyou agitou levemente as mangas enquanto falava, dispensando todos os atendentes, inclusive Sang Zixin, que a seguia de perto.

Luo Weiqing lançou um olhar a Sang Zixin, intencional ou não, mas nada disse. Apenas serviu uma nova xícara de chá para Qianhe Liyou e sentou-se calmamente ao lado dela.

— Imperatriz, Vossa Majestade tem trabalhado duro estes dias. Este consorte não pode compartilhar seus fardos ou preocupações, mas apenas espera que Vossa Majestade cuide de sua saúde. — A guerra estava prestes a eclodir novamente. Naturalmente, a Imperatriz andava extremamente ocupada, o que deixava Luo Weiqing angustiado só de pensar.

— Não se preocupe, zhen está bem. — Qianhe Liyou colocou sua mão sobre a de Luo Weiqing de forma reconfortante, acariciando-a suavemente com seus dedos pálidos e esguios...

Luo Weiqing corou de vergonha e baixou o olhar...

— Weiqing... — Qianhe Liyou se inclinou levemente, sussurrando no ouvido de Luo Weiqing.

Luo Weiqing levantou o rosto surpreso e deu de cara com os olhos escuros de Qianhe Liyou... era a primeira vez que a Imperatriz o chamava pelo nome. Aquela ternura tão suave fazia com que ele quisesse se entregar a esse calor por toda a eternidade.

— Aguente só um pouco... — Após dizer isso, os caninos afiados de Qianhe Liyou apareceram, e sua cabeça se enterrou no pescoço de Luo Weiqing. A refeição verdadeira havia começado... Ela estava com saudades do gosto dele...

Quando Luo Weiqing ouviu as palavras da Imperatriz, ainda não havia se recuperado do choque anterior, mas ao sentir os movimentos seguintes da Imperatriz, apenas fechou os olhos em silêncio, permitindo que a dor em seu pescoço aumentasse enquanto seu sangue era lentamente sugado. Cerrou os punhos com força, sem ousar fazer nenhum outro movimento para não incomodar a Imperatriz.

Ele também havia pensado sobre esse assunto. No fim das contas, concluiu que a Imperatriz devia estar praticando algum tipo de arte marcial que exigia sangue humano. E, na verdade, ele estava muito feliz por ter sido escolhido pela Imperatriz.

O cheiro penetrante de sangue ainda era incrivelmente delicioso, fazendo Qianhe Liyou lamber os lábios com satisfação. No entanto, seus movimentos tocaram inadvertidamente o pescoço de Luo Weiqing, e a sensação naquele momento fez o corpo inteiro de Luo Weiqing estremecer.

— Está com medo? — Qianhe Liyou naturalmente percebeu o pequeno movimento de Luo Weiqing e perguntou em um tom levemente aborrecido.

— N-não é isso... este consorte só está... — Quanto a esse assunto inominável, como poderia ele dizer em voz alta? Ele teria mesmo que dizer que era porque a Imperatriz o havia tocado sem querer?

Qianhe Liyou vinha observando em segredo as emoções e expressões de Luo Weiqing. Ao lembrar de suas ações, ela quis ir direto ao ponto e não conseguiu conter um sorriso malicioso:

— Você sentiu?

— Imperatriz... — A voz suave de Luo Weiqing era tímida, e seu queixo já estava tão baixo que parecia querer desaparecer.

Qianhe Liyou achou graça. Usando as mãos, ergueu delicadamente o queixo de Luo Weiqing e beijou seus lábios. Ela gostava da sensação que Luo Weiqing lhe causava, e também sabia que Luo Weiqing gostava de seus beijos, até esperava por algo mais...

— Weiqing, zhen... quer você. — Ela não considerava isso uma mentira, mas essa frase vinha mais de um senso de responsabilidade. Ele esperava tanto por isso, e ela já não conseguia mais recusá-lo. Agora, era o momento perfeito...

Fazer com que Luo Weiqing se tornasse verdadeiramente dela... essa ideia não era nada ruim.

Luo Weiqing ficou atônito, mas tímido. Ele esperou por tanto tempo e finalmente ouviu essa frase...

***

Capítulo 42: Palácio Su Fengqing

Qianhe Liyou puxou Luo Weiqing, conduzindo-o até a cama. As duas figuras se sobrepuseram e caíram juntas. Um beijo suave pousou no rosto de Weiqing, fazendo com que ele ficasse cada vez mais vermelho. Suas respirações aos poucos se sincronizaram e se entrelaçaram, indistinguíveis uma da outra.

Luo Weiqing se viu completamente submerso no olhar profundo de Qianhe Liyou, entregando-se por completo aos movimentos dela, sem conseguir esconder a alegria no seu olhar tímido e cheio de expectativa.

De repente, a mão de Qianhe Liyou parou, e seus olhos varreram friamente a direção da janela.

— Saia.

Há pouco, enquanto sugava o sangue, ela não havia percebido a presença de Anhui. Mas agora, ela não precisava de ninguém ali!

Luo Weiqing foi despertado pelo tom gelado da voz de Qianhe Liyou. Ao entender o sentido daquelas palavras, sentiu uma pontada de tristeza no coração e se apressou, nervoso, para se levantar.

— Zhen não estava falando com você, não tenha medo. — Percebendo o pânico de Luo Weiqing, Qianhe Liyou continuou a acariciá-lo com a mão e tocou suavemente sua cabeça, sua voz assumindo um tom gentil.

— …Tem alguém aqui? — Perguntou Luo Weiqing obedientemente, ainda com o coração um pouco inquieto. Seus olhos se voltaram na direção que a Imperatriz havia encarado, mas ele não viu nada.

— Não é nada. Era apenas um guarda sombrio, mas ele já se foi. Vamos continuar... — Ela não se importava que alguém a visse fazer esse tipo de coisa, e inicialmente tinha a intenção de ignorar a existência de Anhui. Afinal, ela sequer o avisara enquanto sugava o sangue. No entanto, agora ela estava ofegante e obviamente abalada emocionalmente. Não queria ser incomodada nesse momento.

— …En. — Luo Weiqing assentiu docemente, com os olhos tímidos demais para encarar a mulher à sua frente.

Qianhe Liyou soltou uma risada maliciosa, um som atrevido. Um beijo profundo quase sufocou Luo Weiqing, e o prelúdio da noite havia começado. Aqueles sons ambíguos se prolongaram por muito tempo. Quando Luo Weiqing finalmente não conseguiu mais reprimir seus gemidos envergonhados, Qianhe Liyou passou a rir ainda mais maliciosamente.

— Zhen gosta da sua voz. Não esconda. — Disse Qianhe Liyou ao pé do ouvido de Luo Weiqing, com uma voz incomumente baixa e abafada, extremamente sedutora.

Apesar de Luo Weiqing ser muito tímido e envergonhado, ele queria que a Imperatriz se sentisse feliz. Suportando a vergonha com a cabeça baixa, isso apenas fez com que Qianhe Liyou intensificasse ainda mais seus movimentos ousados.

O interior do aposento estava úmido, mas do lado de fora, era solitário e desolado…

Anhui sentiu como se tivesse sido atingido por um balde de água gelada ao ouvir a voz fria da Imperatriz. Ficou paralisado por um instante e, instintivamente, recuou. Permaneceu na varanda do lado de fora dos aposentos, deixando o vento frio soprar, até que todo o seu corpo se tornou gélido como um bloco de gelo.

Como guarda sombrio, era claro que ele deveria estar sempre ao lado de sua mestra para garantir sua segurança. No entanto, sua mestra, sendo a Imperatriz, naturalmente estaria envolvida com assuntos românticos como aquele. Ele deveria estar preparado para testemunhar isso, mas havia se confundido por um momento, e por isso fora expulso por sua mestra — sua reputação como guarda sombrio fora por água abaixo.

Além disso, mesmo agora, seu coração não conseguia se acalmar. Às vezes, ele sentia uma dor pesada e incômoda, e em outras, parecia até estimulado e excitado. Seu coração continuava acelerado, o que o deixava ansioso, especialmente ao lembrar da cena de sua mestra segurando aquele homem — uma imagem que permanecia viva em sua mente, despertando ao mesmo tempo timidez e inveja.

Inveja... Haha, Anhui achou que estava sendo ridículo. Homens como ele estavam sempre no auge, tinham mais poder do que qualquer mulher e um status que incontáveis pessoas invejavam. Podia decidir entre a vida e a morte com uma única ordem, mas mesmo tendo tudo isso, ainda era uma pessoa solitária.

Não é que não houvesse mulheres dispostas a se casar com ele, mas todas elas só viam seu status e poder. Se sua identidade e posição fossem deixadas de lado, ele jamais conseguiria se casar com aquele rosto desfigurado — não importava o quanto de poder tivesse acumulado. Além disso, ele havia conquistado esse poder com muito esforço e dor. Como pessoas comuns poderiam aceitar alguém como ele? Seria bom se pelo menos não o odiassem.

E com todos esses sentimentos dolorosos, Anhui se viu invejando o Consorte Real. Ele nem ao menos pensou muito sobre isso — já fazia tempo que compreendia os próprios sentimentos. Não sabia exatamente quando começou, mas o olhar que dirigia à Imperatriz já não era apenas de respeito e admiração. Agora, era um misto de afeto e amor indescritíveis.

Ele gostava da Imperatriz — gostava de sua frieza e força, da camada de calor e doçura que se escondia por trás daquele gelo. Gostava de seu jeito dominador, capaz de controlar toda a corte imperial com poucas palavras. Gostava do sorriso malicioso que ela mostrava só para ele, da gentileza que exalava quando o provocava e da sensação que ela lhe causava. Ele jamais confessaria seus sentimentos, mas estava disposto a permanecer ao lado dela e dar tudo de si. Tudo o que queria era que ela lhe desse um sorriso — um sorriso leve e caloroso.

Mas isso... Anhui só podia imaginar em sua mente, repetidas vezes. Só podia se lembrar em silêncio, e por mais forte que fosse seu sentimento, não podia contar a ninguém. O mais ridículo era que ele próprio sentia que seus sentimentos eram uma espécie de blasfêmia. Não ousava se vincular a alguém de um status tão alto. Em vez disso, só suplicava por um vislumbre daquele brilho repulsivo nos olhos da Imperatriz. Mas naquele momento, ele não conseguia conter suas emoções tumultuadas e sentia inveja do homem nos braços da Imperatriz. Desejava ser ele no lugar.

Anhui não sabia quanto tempo ficou perdido nesses pensamentos, mas de repente sentiu que alguém havia se aproximado. Seu coração deu um salto, e ele reagiu reflexivamente com um soco. No entanto, a outra pessoa desviou com facilidade, e num instante, Anhui percebeu que seu corpo não conseguia mais se mover. Então, uma voz fria ressoou atrás dele:

— Tamanha vigilância... Parece que você é, na verdade, um guarda sombrio bem incompetente.

— Imperatriz, este subordinado foi negligente. Que Vossa Majestade puna como achar melhor. — Assim que a Imperatriz falou, Anhui percebeu que havia recuperado o controle do corpo e imediatamente caiu de joelhos. A habilidade marcial da Imperatriz era realmente insondável. Ela escapara de seu ataque com tanta facilidade e conseguiu imobilizá-lo no ato, apesar de suas defesas elevadas. Ele sequer sabia que técnica havia sido usada. Aquilo havia sido realmente incrível — e o fez lembrar da cena estranha que acabara de testemunhar no palácio do Consorte Real. A Imperatriz parecia... sugar o sangue do Consorte…

— Você pode se retirar a qualquer momento. Zhen não restringe sua liberdade. — Ainda assim, agora há pouco, sua vigilância estava baixa demais, e ela não conseguia decifrar o que se passava em sua mente, a ponto de ele perder completamente a calma que costumava ter.

O corpo inteiro de Anhui enrijeceu em choque, e ele permaneceu ajoelhado no chão, sem saber o que dizer. Embora soubesse que a Imperatriz não estava o culpando — e que suas palavras deixavam isso claro —, para ele, aquilo era de fato negligência. Se, em vez da Imperatriz, tivesse sido um assassino que se aproximou, as consequências teriam sido catastróficas.

— Levante-se. — Ela pensou que, mesmo sem dizer mais nada, Anhui entenderia sua intenção.

Anhui se levantou em silêncio, seguindo Qianhe Liyou com uma ponta de dúvida no coração. A Imperatriz acabara de estar com o Consorte Real, hmm... aquilo... Por que não ficar lá para passar a noite? Anhui se recusava a admitir, mas seus pensamentos tinham um leve sabor amargo.

Anhui seguiu a Imperatriz para fora do pátio e viu Sang Zixin, que esperava obedientemente do lado de fora da entrada.

— Imperatriz. — Ao ver Qianhe Liyou, Sang Zixin correu até ela. Embora estivesse um pouco confuso, ainda assim se alinhou obedientemente atrás da Imperatriz.

Qianhe Liyou olhou para as duas figuras que a seguiam. O motivo de ter saído era justamente para dispensá-los. Caso contrário, eles ficariam ali a noite toda.

— Podem ir descansar. Voltem amanhã de manhã. — Qianhe Liyou se virou e entrou no quarto de Luo Weiqing. Ao ver que ele havia adormecido, aproveitou o momento para avisá-los. Ela não tinha a menor intenção de sair dali. Pensou que, nas circunstâncias em que estavam, se ela realmente fosse embora e Luo Weiqing não a visse pela manhã, ele ficaria profundamente triste.


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