Capítulos 43 a 45


 Capítulo 43: O Retorno de Feng Xue

Qianhe Liyou partiu, deixando Anhui e Sang Zixin para trás. Sang Zixin ficou parado, atônito, observando a silhueta da Imperatriz desaparecer à distância. Enquanto isso, Anhui lançou a ele um olhar gélido — uma expressão assassina passou por seu rosto. Ele queria matar. Porque aquela pessoa poderia colocar a Imperatriz em risco. Ele não queria a existência de nada que ameaçasse a segurança dela, especialmente alguém que poderia envenená-la a qualquer momento. Mas ele sabia que não podia agir. A Imperatriz certamente tinha seus motivos para mantê-lo por perto, e ele não ousaria desobedecer às ordens dela.

— Esse da-ren, se Sua Majestade não precisar de mais nada, este servo se retirará — disse Sang Zixin ao notar o olhar que o outro lançava sobre ele. Baixando a cabeça de forma constrangida, começou a se afastar.

Da-ren: forma honorífica usada para oficiais do governo ou pessoas de alto escalão.

— Como o macho de estimação favorito da Imperatriz, mesmo sendo um servo, você é servo dela, não meu. Não rebaixe sua própria posição! — A expressão "macho de estimação" podia parecer uma posição humilhante e insignificante, mas tudo dependia de quem era a dona. Sendo a Imperatriz, mesmo que ele não tivesse status, já era considerado uma honra. Anhui não permitiria que ele desvalorizasse esse papel tão facilmente.

Sang Zixin levantou os olhos surpreso para aquele homem à sua frente, mas não conseguiu decifrar qualquer emoção naquele rosto frio. Apenas guardou silenciosamente as palavras do outro no coração.

Depois de dizer isso, Anhui não permaneceu. Em alguns flashes sombrios, ele desapareceu dos olhos de Sang Zixin. Este, assustado, prendeu a respiração. Supôs que o homem era um guarda oculto designado para proteger a Imperatriz. Crescendo no palácio imperial, ele naturalmente sabia que membros da família imperial sempre eram protegidos por guardas ocultos. Pensando bem, achava que, se tivesse artes marciais tão boas quanto aquele jovem, provavelmente nunca mais seria intimidado.

Na manhã seguinte, Qianhe Liyou abriu os olhos, como se nunca tivesse dormido. Seus olhos estavam escuros e profundos, mas incrivelmente lúcidos. Ao seu lado, Luo Weiqing ainda dormia, com os cabelos espalhados entre os lençóis. No momento em que Qianhe Liyou se moveu levemente, acabou tocando Weiqing, que abriu os olhos devagar. Uma sombra escura pairava diante de seu rosto, até que o rosto de Qianhe Liyou surgiu em sua visão.

— Imperatriz… — disse Luo Weiqing, tentando se sentar, surpreso. Mas antes que pudesse se erguer completamente, Qianhe Liyou o empurrou de volta e selou suas palavras com um beijo.

— Durma mais um pouco, zhen vai para a corte… — Qianhe Liyou enfim terminou o beijo, antes que Luo Weiqing se asfixiasse com sua paixão. Vendo o semblante tímido dele, o canto de sua boca se curvou levemente.

Ela havia retornado e dormido ao lado dele depois de sair na noite anterior. Tirara sua túnica externa e a deixara de lado. Ao se levantar, pegou a veste e, antes que pudesse amarrar o cinto, sentiu um par de mãos gentis atrás de si, ajudando-a a prendê-lo. O toque ainda trazia um leve traço de seu perfume.

— Imperatriz, este consorte vai ajudar a vestir Vossa Majestade — disse Luo Weiqing apressado, vestindo um casaco por cima e depois arrumando com cuidado as roupas da Imperatriz.

As roupas foram rapidamente ajustadas, e Qianhe Liyou segurou a mão dele que se retirava, depositando um beijo leve sobre ela:

— Descanse. Zhen virá te ver quando tiver tempo.

— Que Vossa Majestade também cuide da própria saúde — respondeu Luo Weiqing, abaixando o queixo, contente com aquela rara demonstração de carinho.

Qianhe Liyou não disse mais nada, mas estendeu a mão e acariciou o ferimento no pescoço de Weiqing. Eram suas marcas de mordida, sempre no mesmo lugar. Prova de que aquele homem era dela.

Luo Weiqing se encolheu levemente, levantando o olhar, mas seus olhos estavam cheios de ternura.

Qianhe Liyou tocou de leve a ferida, e Luo Weiqing foi surpreendido ao ser puxado para um abraço quente. Num piscar de olhos, foi deitado de novo na cama, enquanto Qianhe Liyou o cobria com o edredom, assentindo suavemente. Com um sorriso malicioso, ela se afastou, deixando para trás um Weiqing zonzo de felicidade. Embora ainda estivesse cansado, não conseguia mais dormir.

Na Corte Imperial, os ministros discutiam acaloradamente há tempos sobre como lidar com os emissários do Império Sang. Alguns sugeriam prendê-los de imediato, enquanto outros diziam que executá-los causaria uma guerra entre os dois países e que o melhor seria libertá-los. Só quando Qianhe Liyou interveio e ordenou que os enviassem embora imediatamente é que as disputas cessaram. Em seguida, os ministros passaram a debater os próximos assuntos, sem contestar a ordem anterior da Imperatriz.

Depois disso, Qianhe Liyou também abordou questões como a fome, os bandidos nas montanhas, assaltos, além dos piratas marítimos, mobilizando a Marinha de Defesa de Fronteira. Excetuando esses tópicos menores, quase todo o restante da audiência foi dedicado à guerra iminente — uso de tropas, possibilidades de batalhas entre os países, estratégias, o bem-estar do povo e outros assuntos militares. A cada ponto debatido, surgiam discussões acirradas entre os ministros, mas Qianhe Liyou não interrompia ninguém e apenas observava em silêncio.

No fim, todos chegaram a um impasse e pararam de falar, voltando-se para a Imperatriz.

— Acabaram as brigas? — disse Qianhe Liyou com voz fria. Na verdade, ela achava até interessante assistir àquelas discussões. Aprendia bastante com isso... Embora vivesse há dezenas de milhares de anos, seu conhecimento não era absoluto. Seu entendimento sobre aquele império e as políticas da corte vinha principalmente das memórias da antiga Qianhe Liyou, além de suas próprias deduções. Naturalmente, havia coisas que ainda desconhecia. Como, por exemplo, os diversos ministros que haviam sido negligenciados pela antiga 'Qianhe Liyou' e agora reassumiam funções — com isso, ela aprendia muitas coisas novas.

— Este ministro está em pânico — disseram alguns, cabisbaixos.

— A corte está dispensada. Guerra não é apenas discutir soldados e estratégias no papel. Façam o que deve ser feito e cuidem dos detalhes depois... — Após a última guerra, a vitória veio fácil demais e aqueles homens não sentiam “dor”. Os mortos no campo de batalha viravam apenas números em relatórios. Aqueles ministros jamais compreenderiam o verdadeiro horror da guerra, por mais que se falasse de sangue. Nunca haviam pisado num campo ensanguentado — ela mesma, inclusive.

— Sim, este ministro obedece.

Quando a audiência da manhã terminou, Qianhe Liyou pretendia ir até o Palácio Fengqing visitar Luo Weiqing, mas parou no caminho, dispensando todos com um gesto.

— Apareça — disse calmamente para o vazio.

O ar pareceu distorcer-se, e uma figura de branco imaculado materializou-se diante dela. Era Feng Xue, com seus longos cabelos brancos ondulando levemente no ar. Naquele momento, uma palavra surgiu na mente de Qianhe Liyou — um sonho.

— Mestra, Feng Xue retornou — disse ele, com um toque de alegria entre as sobrancelhas e um brilho de felicidade nos belos olhos cinzentos.

Qianhe Liyou examinou Feng Xue com um olhar surpreso. Sentia que ele estava diferente. Já não era mais o homem perdido no prostíbulo, afogado em desespero e dor. Agora, havia algo nele que era indescritível e encantador. Estava mais maduro…

— Feng Xue, você está diferente… — Ela inicialmente queria dizer que ele havia crescido, mas afinal, aquele pequeno demônio raposa já tinha mais de trezentos anos. Soaria estranho. Por isso, trocou suas palavras por “diferente”.

***

Capítulo 44: O Crescimento de Feng Xue

— Mestra, a senhora acha que Feng Xue melhorou ou não? — O sorriso no rosto de Feng Xue se tornou mais evidente, com um leve toque de expectativa, uma expressão que claramente implorava por elogios.

Qianhe Liyou achou aquilo bastante divertido. Ela havia dito apenas uma frase, algo que nem mesmo podia ser considerado um elogio, e o rabinho da pequena raposa já estava abanando mais animado.

— E você, o que acha? — Qianhe Liyou respondeu com outra pergunta, seu olhar enigmático não revelava nenhuma pista sobre o que realmente pensava.

— Mestra, Feng Xue se esforçou muito para cumprir a missão que me foi dada e trouxe o Jovem Mestre Yun de volta em segurança. Não pode ser que a senhora ache que Feng Xue agora é inútil, não é? — O sorriso alegre de Feng Xue foi substituído por uma expressão sofrida e bajuladora, o rosto repleto de queixa, como se se sentisse injustiçado.

— Feng Xue, você fez muito bem. — Qianhe Liyou não era alguém mesquinha com elogios, e só estava brincando com a pequena raposa antes. Ver como ele desejava tanto um simples elogio a divertia ainda mais.

— Obrigado pelo elogio, Mestra! — Feng Xue sorriu radiante, sua aura fria e pura parecia ter se dissipado, o ar sedutor e encantador também desaparecera, como o derretimento precoce da neve no inverno — não tão intenso, mas sim acolhedor e cheio de significado.

Qianhe Liyou sentiu que precisava reavaliar aquela pequena raposa e, ao mesmo tempo, reconsiderar o poder transformador do campo de batalha. Em tão pouco tempo, ele havia mudado tanto — era realmente impressionante.

— Conte-me sobre suas experiências nesse tempo. Zhen gostaria de ouvir. — Ela passou a ficar curiosa sobre o que ele havia vivenciado durante sua ausência.

— Mestra, o que a senhora quer saber? Desde que Feng Xue partiu, estive obedientemente protegendo o Jovem Mestre Yun e, além disso, quando a guerra entre os dois impérios eclodiu, também fui até a linha de frente para ajudar com algumas coisas. Não deixei de cumprir minhas responsabilidades. — Feng Xue explicou tudo com seriedade, achando que sua Mestra queria verificar se ele havia cumprido corretamente sua missão.

— Fale sobre outra coisa, algo que tenha testemunhado. Teve algo que mais te marcou?

— Algo inesquecível… — Feng Xue pareceu mergulhar em uma lembrança. — O que mais me marcou foi a batalha de cerco ao posto avançado. O exército do Império Sang atacou ferozmente com diversos equipamentos de cerco e destruição de fortalezas. Muitos dos nossos soldados ficaram feridos, mas os que restaram não tinham tempo nem para retirar os feridos das muralhas para tratamento. Os soldados que conseguiam ser levados eram encaminhados a tendas improvisadas, deixando os médicos militares tão ocupados que mal conseguiam respirar. Naquela época, o Jovem Mestre Yun também estava lá. Ele estava tão atarefado que nem sequer teve tempo de limpar o sangue do próprio rosto, cuidando sozinho de mais de dez soldados com ferimentos graves e críticos. Um dos casos mais sérios foi de um soldado que teve ambas as mãos decepadas, o corpo inteiro encharcado de sangue. Os gritos e lamentos que vinham das tendas me fizeram sentir como se estivesse no inferno. Foi a primeira vez que vi algo tão horrível desde criança. Foi pior até do que quando estive naquele lugar… durante aqueles dias no bordel, eu achava que vivia o maior sofrimento do mundo. Sempre pensei que era o ser mais miserável e digno de pena. Mas, ao ver aqueles soldados e ouvir seus lamentos angustiantes, percebi que minhas dores já faziam parte do passado, e que eu realmente deveria deixá-las para trás. O mundo é imenso e há tantas coisas que eu não compreendo… como a guerra. É cruel, e dezenas de milhares de vidas desaparecem num piscar de olhos.

Às vezes, as pessoas são muito ignorantes, enxergam apenas a si mesmas. Cada ação que tomam e pensamento que têm está sempre ligado ao próprio umbigo. Ele era assim no passado. Embora sua vivência tenha sido mesmo dolorosa, havia muitas pessoas passando por sofrimentos ainda piores.

— Eu costumava pensar que os humanos eram frágeis. Como um demônio, meu corpo naturalmente tem mais resistência física que os humanos. Mas ao ver aqueles soldados, mesmo quando ficaram fisicamente incapacitados, ainda assim insistiam em empunhar a espada. Mesmo cobertos de sangue dos pés à cabeça, se recusavam a cair. A força deles me comoveu profundamente e me encheu de admiração. Também espero conseguir fazer o mesmo. Não importa o que aconteça, quero viver com firmeza e persistência, sem desistir ou me render. Eu… quero me tornar um novo Feng Xue!

Perdido, hesitante, sofrendo, surpreso, despertando, determinado. Essas emoções diversas passavam uma a uma pelo rosto de Feng Xue, como se estivesse completando uma transformação.

Qianhe Liyou observava silenciosamente aquela transformação, com um leve brilho de admiração nos olhos. As pessoas ao seu redor — inclusive ela mesma — estavam mudando sem perceber. Mas isso era algo natural da vida. Seria mais estranho se alguém permanecesse o mesmo, a não ser que vivesse completamente isolado do mundo exterior, como ela estava acostumada…

— Sejam seres humanos ou outras raças com personalidades únicas, o ditado que diz que todos os seres são iguais, às vezes, faz bastante sentido. — Qianhe Liyou de repente disse algo cheio de significado. Sob o vasto céu, existiam muitas raças neste mundo: humanos, fadas, espíritos, fantasmas, deuses e demônios. Ela conhecia muitas delas, mas talvez existissem ainda mais que desconhecia. Cada uma tinha suas próprias características, e suas existências possuíam significado.

— A senhora acha mesmo que todos os seres são iguais? — Feng Xue olhou surpreso para a mulher à sua frente, a quem chamava de Mestra. Ela era uma Imperatriz suprema e inatingível, insondável e imprevisível. Ele nem sabia ao certo se ela era humana ou algo além disso. Como não se surpreender ao ouvir tais palavras saírem da boca de alguém como ela?

— Igualdade não significa que todos possuem os mesmos direitos. Refere-se ao ciclo do carma: cada ser possui um destino dentro desse mundo misterioso e insondável de causa e efeito.

— A senhora quer dizer que os bons são recompensados e os maus são punidos? — Esse ciclo causal… seria isso mesmo?

— Não. — Qianhe Liyou respondeu sem hesitação e negou diretamente.

Feng Xue ficou boquiaberto.

— Então… qual é o sentido?

— Significa… que você ainda precisa de mais sabedoria e vivência. Mesmo que já tenha se cultivado como um espírito raposa, ainda é apenas uma pequena raposa. — Os maus são punidos? Ela nunca se considerou uma boa pessoa. Mas isso significava que era má e que receberia punição? Esse ciclo cármico que ela descrevia não era algo tão simples. Esse tipo de entendimento exigia muita bagagem emocional e iluminação espiritual, algo semelhante ao nirvana. Ela achava que, embora essa pequena raposa tivesse amadurecido, ainda havia um mundo inteiro de crescimento pela frente.

— Feng Xue não é jovem… Feng Xue tem mais de 300 anos… — Ninguém ali era mais velho que ele, então por que ela continuava chamando-o de pequena raposa? Feng Xue se sentia insatisfeito por dentro, mas, por alguma razão, seu rosto corou e suas reclamações soaram docemente manhosas.

Qianhe Liyou não ouviu os protestos murmurados de Feng Xue. Seu olhar vagou à distância e repousou sobre uma árvore próxima. Com um tom levemente profundo, ela disse:

— Diga ao seu amigo para tomar cuidado com os venenos. Eu não quero que acidentes aconteçam…

A serpente dourada não era uma espécie comum. Claro, ela não se referia apenas ao fato de a serpente ter se tornado um espírito. O corpo original daquela serpente era nada menos que o Monarca das Serpentes Douradas Espirituais!

O Monarca das Serpentes Douradas era extremamente venenoso e também lascivo. Bastava um traço de seu veneno para causar consequências inimagináveis. Não havia antídoto, exceto… aquela forma específica de neutralizar. Ela não queria acidentes desagradáveis no Palácio Imperial.

— Sim, Xiao Jin entende. Ele sempre foi muito cauteloso. Mestra, Feng Xue pode continuar a servi-la ao seu lado? Ou tem outras tarefas para mim? — Tanto ele quanto Xiao Jin entendiam o poder real do veneno e sempre trataram a questão com muito cuidado. Mas o que mais o preocupava agora era sua própria situação. Ele havia cumprido sua missão e retornado. Não sabia o que sua Mestra lhe reservaria a seguir. Pelo menos, esperava que ela não quisesse mandá-lo embora de novo…

— Pedirei a Fengying que prepare um lugar para vocês dois viverem. Podem residir dentro do Palácio Imperial, mas não venham me incomodar à toa.

— … Sim. — Embora não fosse exatamente o que esperava, Feng Xue havia aprendido o valor do contentamento e já se sentia imensamente feliz por poder permanecer.

****

Capítulo 45: Uma Saudade Indiferente

Feng Xue e Liu Jin foram acomodados no Pavilhão Lingxue. Não houve nenhum título concedido nem cerimônia oficial, mas quase todos fora do palácio imperial acreditavam que Feng Xue era o novo favorito da Imperatriz, e muitos apostavam que ele seria o próximo candidato ao cargo de consorte imperial. Afinal, Feng Xue possuía uma beleza estonteante — todos sabiam disso —, e um resultado desses não seria inesperado.

Yun Guiren se recuperou da doença e finalmente deu o primeiro passo fora do Palácio Chuyun. Contudo, isso parecia um assunto trivial, e ninguém deu muita atenção.

Guifei: Consorte Imperial de mais alta patente, abaixo apenas da Imperatriz (equivalente ao Consorte Real neste livro).
Guiren: Consorte Nobre, abaixo de Guifei e da Imperatriz (também Consorte Real neste livro).

A Imperatriz passou a noite no palácio do Consorte Real e só saiu quando chegou a hora da corte matinal. O atendente do palácio responsável pela limpeza encontrou a cama completamente bagunçada, e o boato de que o Consorte Real fora favorecido se espalhou como fogo em palha seca por todo o palácio.

O "animal de estimação" masculino, Jovem Mestre Mu, foi convocado pessoalmente pela Imperatriz para servi-la. Diziam que comiam e dormiam juntos, e que a Imperatriz o amava muito. Era quase certo que uma ordem imperial seria emitida em breve, elevando esse "pet" ao posto de concubino.

Apesar da Guifei Sedutora, Situ Hongyu, ter sido banida para o Palácio Frio, a Imperatriz emitiu um decreto imperial ordenando que os Médicos Imperiais estabilizassem o feto e mandou o Chefe da Guarda, Fengying, advertir que ninguém deveria ofender aquela senhora ou seus servos. Caso contrário, a punição seria severa. Isso fez com que todos especulassem que a Guifei Sedutora ainda possuía certa honra e favor, por conta do filho que carregava.

Com tantas ações vindas da Imperatriz, o palácio estava extremamente agitado, com boatos circulando por toda parte. Porém, em contraste com a agitação de fora, os envolvidos diretamente permaneciam em silêncio absoluto — nenhum deles comentou sequer uma palavra sobre os rumores.

Três dias haviam se passado desde que Sang Zixin fora envenenado. Durante esse período, Qianhe Liyou vinha observando-o atentamente, mas não via nada de anormal. Se fosse para apontar alguma diferença, diria que aquele pobre coitado parecia até muito mais feliz, agia com menos cautela, e dava a impressão de alguém que havia acabado de encontrar um tesouro…

Será que ele tinha sido mesmo envenenado? Qianhe Liyou estava muito desconfiada…

— A Rainha-Mãe está chegando…

Qianhe Liyou estava lendo um livro quando ouviu o anúncio. Imediatamente, levantou-se e olhou para a entrada, esperando Luo Yu entrar.

— You’er. — Luo Yu dispensou todos os atendentes e entrou sozinho. Ao ver Qianhe Liyou, seus olhos brilharam levemente com ternura, mas assim que viu Sang Zixin de pé ao lado, aquele brilho desapareceu, dando lugar a uma expressão fria e estagnada.

Esse é o novo favorito? Não parece grande coisa... — Luo Yu comentou em silêncio.

— O que houve? — Qianhe Liyou foi direta. Luo Yu raramente a procurava, então ela naturalmente se aproximou e ficou frente a frente com ele.

— Não houve nada. Eu só posso vir te ver se tiver algum motivo? — Luo Yu rebateu, levemente incomodado. Por que ela precisava perguntar o motivo de sua visita? Ele não podia simplesmente vir vê-la?

— Claro que não. Venha, sente-se. — Qianhe Liyou segurou a mão de Luo Yu com naturalidade e o conduziu até o sofá ao lado. Sang Zixin se aproximou por trás e serviu uma xícara de chá quente para Luo Yu.

— Vossa Majestade, por favor, aceite o chá. — Não era a primeira vez que ele via a Rainha-Mãe, mas era a primeira vez que sentia tão diretamente sua presença: fria, distante, elegante e serena. Mesmo tão próximo, aquele homem fazia parecer que a distância entre os dois era imensa — como entre uma estrela e um grão de poeira.

O olhar de Luo Yu pousou novamente em Sang Zixin. Mais uma vez, não viu nada de especial naquele rapaz. Apenas alguém jovem, na idade que combinava perfeitamente com You’er…

Qianhe Liyou percebeu o olhar afiado de Luo Yu, como se estivesse avaliando algo. Não disse nada, apenas assistiu à cena com um leve divertimento.

Luo Yu desviou o olhar, tomou um gole elegante do chá e perguntou devagar:

— You’er, você andou… muito ocupada ultimamente? — Ele queria perguntar por que ela não o procurava há dias, mas achou inapropriado e acabou reformulando a frase.

— Está tudo bem. — Nos últimos dias, além de cuidar dos assuntos da corte, ela vinha se dedicando a observar Sang Zixin. Três dias haviam se passado e ele ainda não demonstrava nenhuma reação suspeita.

— … — Luo Yu sentiu um incômodo estranho com a resposta. Se não está ocupada… então por que não veio me ver? Ou será que todo o tempo livre estava sendo gasto com essas pessoas?

É verdade… eu sou apenas o pai dela. Comparado a mim, estar com esses rapazes jovens deve ser bem mais interessante. Ele sempre desejou ver You’er feliz, mas agora que isso acontecia de verdade… por que sentia esse vazio no peito?

— Isso é bom. Não deixe os assuntos da corte afetarem sua saúde. Cuide-se. — Esse tipo de conselho só poderia vir dele.

— Vou cuidar. O almoço será servido em breve, fique para comer comigo… — Qianhe Liyou percebeu que o humor de Luo Yu estava estranho, mas não sabia o motivo. Decidiu mantê-lo por perto durante a refeição, para ver se ele diria algo.

— Está bem.

Qianhe Liyou lançou um olhar para Sang Zixin. Ele compreendeu o sinal e se retirou alegremente para preparar o almoço. Restaram apenas Qianhe Liyou e Luo Yu na sala.

Ela pegou a mão de Luo Yu e a puxou um pouco mais para perto, atravessando a mesinha de chá. Inclinando-se ligeiramente, o encarou com um olhar penetrante.

— Você não está feliz. Por quê?

— Não estou. — Luo Yu respondeu instintivamente, mas seu olhar se entristeceu, fixo na mão que segurava.

— Não minta. — A voz de Qianhe Liyou ficou mais firme, e seu olhar, afiado.

— Eu não menti… só… You’er não veio me ver. Eu senti sua falta. — Ele pensava que, como pai, sentir falta da filha era algo natural.

Qianhe Liyou ficou em silêncio por um instante, depois sorriu com malícia e soltou a mão dele.

— Se sentir saudades de mim de novo, venha me ver. Não precisa ficar envergonhado.

— Eu não queria atrapalhar enquanto você cuida dos assuntos de Estado… — Luo Yu disse baixinho. Ele vivia naquele palácio há mais de vinte anos. Sabia exatamente o que alguém do harém devia ou não fazer.

— Está tudo bem. — Quanto a Luo Yu, ela sempre teve uma sensação estranha e indefinível. Não sabia ao certo como descrever, mas sabia que gostava de estar com ele.

— Está mesmo tudo bem? — Ele tinha medo que You’er se irritasse com sua presença… Ele não costumava ser assim. Antes, nunca se importava com o que os outros pensavam, jamais diria algo assim. Mas, com You’er, tudo era diferente. Antes, ele apenas se preocupava. Agora, sentia tristeza, solidão…

Isso é mesmo muito estranho.

— Confie em mim. Não duvide das minhas palavras.

— Imperatriz, o almoço está pronto… — Sang Zixin entrou, seguido por vários atendentes carregando a refeição. Após organizarem tudo sobre a mesa, ficou em pé, em silêncio, esperando para servir a Imperatriz e a Rainha-Mãe.

Ambos se sentaram, mas Qianhe Liyou olhou para Sang Zixin.

— Imperatriz… Com a presença da Rainha-Mãe, este servo não precisa se sentar à mesa. Posso servi-los enquanto comem. — Nos últimos dias, ele vinha almoçando com a Imperatriz. Essa honra o deixava inquieto, mas, sabendo que seu tempo era curto, resolveu aproveitar, mesmo que com cautela, esse pequeno momento de felicidade.

— Sente-se. Não me faça repetir.


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