Capítulos 46 a 48


 Capítulo 46: Apreciando o Som da Cítara no Jardim

No silêncio de Luo Yu, Sang Zixin sentou-se tremendo, o mais distante possível dos outros dois. Ele abaixou a cabeça com cautela, sem ousar tocar nos hashis.

— Comam... — Qianhe Liyou pegou seus próprios hashis e sinalizou para que todos começassem a comer. Primeiro, ela colocou uma fatia de carne de ganso cozida no caldo na tigela de Luo Yu. — Coma mais.

— En. — Luo Yu assentiu, os olhos cheios de ternura, e começou a comer com elegância. Do outro lado, Qianhe Liyou apenas o observava, sem tocar na comida, apenas tomando chá.

Sang Zixin abaixou a cabeça e segurou sua tigela com força, tentando se encolher o máximo possível. Não queria atrapalhar as duas pessoas que estavam comendo. Se pudesse escolher, realmente não gostaria de estar sentado ali — sempre sentia que sua presença era supérflua e desnecessária.

— You’er, você não vai comer? — Depois de dar algumas mordidas, Luo Yu começou a notar o comportamento estranho de Qianhe Liyou.

— Não estou com fome. — Aqueles pratos não a atraíam. Comparados às pessoas à sua frente, não tinham o menor apelo. Se fosse para comer de verdade, ela escolheria ele… ou então aquele aperitivo jovenzinho ao lado também serviria…

— Mesmo que não esteja com fome, ainda deveria comer um pouco. Tomar muito chá faz mal ao corpo. — Enquanto falava, Luo Yu pegou um pedaço do frango embebido em vinho e olhou para ela com um olhar persistente e determinado, indicando que ela deveria comê-lo.

Qianhe Liyou suspirou. Realmente não gostava daquele tipo de comida, mas diante do olhar tão esperançoso de Luo Yu, não teve escolha senão engolir o pedaço de frango obedientemente.

Luo Yu sorriu satisfeito, seu sorriso era como a geada derretendo sob o sol de inverno — frio e deslumbrante. Quando Qianhe Liyou viu aquele sorriso, sentiu que aquele pedaço de carne ao menos havia valido a pena...

Após o almoço, Luo Yu e Liyou tomaram mais um bule de chá perfumado. Luo Yu se levantou, pronto para partir, não querendo atrapalhar mais os assuntos de estado de You’er.

— Não tem nada urgente acontecendo. Vamos dar um passeio pelo jardim imperial. — Ela estava lendo quando Luo Yu chegou, e como não havia pressa nos assuntos da corte, estava de bom humor.

— Está bem. — Naturalmente, Luo Yu aceitou, e os dois saíram juntos do Pavilhão Qin. Sang Zixin os seguia de perto, e Feng Ying e os demais atendentes vinham logo atrás, sem ousar ultrapassá-los ou interromper.

Ao entrarem no jardim imperial, o som melodioso de uma cítara ecoava entre a paisagem natural. Com sua audição aguçada, Qianhe Liyou imediatamente reconheceu o som como sendo de Li Qujun — era uma melodia animada e vívida. Ela se lembrava bem daquele som, afinal, raramente escutava cítaras, e a de Li Qujun tinha um estilo bastante único.

— Essa música me soa familiar. You’er sabe quem está tocando? — Luo Yu perguntou suavemente, mas havia um brilho de compreensão em seus olhos. Ele obviamente já sabia de quem se tratava. Afinal, poucas pessoas no palácio sabiam tocar cítara, e o estilo leve e despretensioso era inconfundível.

— Luo Yu também gosta dessa música? — Enquanto caminhavam, conversavam tranquilamente em direção à origem da melodia. Logo avistaram Li Qujun, sentado em um pavilhão frio, com um braseiro ao lado. A estação já era final de outono, e o clima estava gélido. Ficar muito tempo ao ar livre facilmente causaria um resfriado.

O som cessou, e Li Qujun se levantou para cumprimentá-los:

— Esta concubina saúda a Imperatriz, saúda o Rei Viúvo.

— Pode se levantar. Está tocando cítara aqui fora, tome cuidado para não adoecer. — Qianhe Liyou deu dois passos à frente, com um leve tom de preocupação na voz.

— Agradeço o cuidado de Vossa Majestade. Esta concubina tomará mais cuidado da próxima vez. — Li Qujun havia decidido tocar fora por um impulso. Gostava da paisagem e do clima, mas acabou encontrando a Imperatriz e o Rei Viúvo por acaso.

— Toque mais uma, zhen quer ouvir. — Qianhe Liyou segurou a mão de Luo Yu e sentou-se, sinalizando para que Li Qujun retomasse.

O som da cítara de Li Qujun era extremamente relaxante. Suas melodias prezavam pela leveza e doçura. A canção "Primavera em Yangchun" fazia os ouvintes sentirem-se como se estivessem entrando na estação das flores — vibrante e cheia de vida...

— Muito bom. — Ao fim de mais uma música, Qianhe Liyou aplaudiu levemente.

O rosto de Li Qujun corou e ele sorriu envergonhado:

— Que bom que a Imperatriz e o Rei Viúvo gostaram.

— Foi realmente muito bom. Os seus súditos têm todos talentos e características únicas, You’er. — Luo Yu conhecia cada pessoa no harém. Já havia investigado seus dados, identidades, históricos, personalidades e até gostos. Mas só havia passado os olhos por essas informações, nunca havia se aprofundado — não tinha levado ninguém ali realmente a sério.

Mas agora… parecia diferente. Depois de entrar em contato direto com essas pessoas, começou a formar suas próprias impressões e opiniões sobre elas.

Qianhe Liyou se surpreendeu por ouvir tal comentário de Luo Yu, e um sentimento estranho surgiu em seu coração. Li Qujun também ficou surpreso. Primeiro olhou para Qianhe Liyou com um olhar atordoado, depois ficou envergonhado, abaixando a cabeça sem saber como reagir. Aquele semblante tímido o tornava adorável.

— Imperatriz, Rei Viúvo, vossas excelências gostariam de ouvir mais uma música? Esta concubina pode tocar mais uma peça? — Li Qujun quebrou o breve silêncio. Ao ver Qianhe Liyou assentindo, ele movimentou os dedos com destreza sobre a cítara, iniciando uma nova melodia...

Dessa vez, Qianhe Liyou não escutou por toda a tarde — o clima estava realmente muito frio para permanecer do lado de fora por tanto tempo. Ela própria não se importava, mas Luo Yu e Li Qujun não resistiriam por muito tempo. Após mais duas músicas, ela notou que Li Qujun começou a tremer e o mandou de volta para seu palácio. Também acompanhou Luo Yu até o Pavilhão Luoxian e só partiu depois do jantar.

Dois dias depois, o rosto de Sang Zixin estava cada vez mais pálido. Ele tossia de forma contida, o corpo se agitava após cada crise de tosse e ele claramente enfraquecia a cada momento...

O veneno dentro dele finalmente havia se espalhado. Qianhe Liyou podia ouvir claramente sua respiração dolorosa e forçada, mas muito contida — como se ele temesse perturbá-la.

— Se estiver se sentindo mal, vá descansar. — Depois de aguentar por meia manhã, Qianhe Liyou não suportou mais e ordenou friamente.

— Agradeço à Imperatriz por sua bondade. Este servo está bem e ainda pode servi-la. — Seu tempo estava se esgotando e ele não podia desperdiçar o pouco que restava.

— E acha que pode me servir desse jeito? Com um corpo que pode desabar a qualquer momento? Quer que os outros pensem que estou te maltratando? — O que ele estava pensando? Ela havia lhe dado inúmeras oportunidades para envenená-la, mas ele não fizera nada. Em vez disso, o veneno no próprio corpo havia se espalhado. Aquela aparência sofrida e miserável... mesmo sem dizer nada, ela podia sentir. Então será que ele...

Qianhe Liyou teve um pensamento. Seria possível que aquele pequeno e patético servo já tivesse tomado uma decisão?

— Você foi envenenado? — Agora que havia compreendido o que ele pretendia, não queria perder mais tempo. Não era uma sádica, não gostava de ver pessoas ao seu lado sofrendo tanto. Mesmo que aquilo não doesse, ainda assim a deixava desconfortável.

— Envenenado? Este servo... este... cof, cof... — Sang Zixin se assustou e tentou se explicar, mas acabou tossindo violentamente, cuspindo um jorro de sangue fresco!

— Não minta! Já chegou a esse estado e ainda quer esconder? É um tolo? — O tom de Qianhe Liyou era severo, mas seus movimentos, gentis. Ela tocou levemente entre as sobrancelhas de Sang Zixin e um raio de luz negra apareceu. Sang Zixin imediatamente sentiu um grande alívio, mas antes que pudesse reagir, foi assustado pela voz fria e firme da Imperatriz. Ajoelhando-se, disse:

— Imperatriz... este servo... este servo não sabe do que Vossa Majestade está falando...

— ...Sang Zixin, você realmente não sabe?

***

Capítulo 47: Confessando Tudo

— Sang Zixin... você realmente não sabe?

— Ahn! Vossa Majestade, como soube do meu nome verdadeiro?! — Quando Sang Zixin ouviu seu nome real saindo da boca da Imperatriz, seu coração quase parou de bater. Sempre acreditara que esse segredo estava bem guardado... Como a Imperatriz sabia? — Imperatriz, desde quando sabe?

— Hmph, se zhen não soubesse sua verdadeira identidade, acha mesmo que teria permanecido no Palácio Imperial? — Na época, ela nem planejava escolher ninguém. Se não fosse pelo fato de o outro ser um espião de outro país, o que atiçou seu interesse, e ela permitiu que ele ficasse... então esse homem realmente acharia que ela era uma mulher vulgar qualquer!

A condição de Sang Zixin havia acabado de melhorar, mas seu rosto recém-recuperado empalideceu instantaneamente enquanto ele se ajoelhava no chão, tremendo por inteiro, com os olhos cheios de desespero. Então era isso. Agora tudo fazia sentido — o tratamento que a Imperatriz lhe dera, tudo explicado. Ela sabia de sua identidade desde o começo... E ele, tolo, acreditara ter escondido bem. Ridículo.

— Sou um espião enviado pelo Império Sang. Se quiser me matar ou arrancar minha carne como punição, deixarei tudo ao encargo da Imperatriz.

Matar ou torturar? Se ela realmente quisesse fazer isso, teria mesmo esperado até agora?

— Onde está o sachê de veneno que Sang Ziling lhe deu? — Ela não queria mais rodeios.

Dessa vez, Sang Zixin ficou tão surpreso que sequer soube como reagir — finalmente entendeu tudo com clareza. A Imperatriz sabia de tudo há muito tempo, e ele... ele era apenas um brinquedo ridículo com o qual se divertia.

— Joguei fora. — Ele tinha enterrado aquilo em algum lugar no Jardim Imperial. Afinal, era veneno; não podia simplesmente descartá-lo de qualquer maneira.

— E quanto ao veneno que resta em seu próprio corpo? — Ela não ficou surpresa com a resposta anterior.

Sang Zixin ficou em silêncio. Será que ela queria mesmo que ele dissesse que não temia a morte e que, mesmo após muito lutar internamente, decidira que jamais envenenaria a Imperatriz? Ele não queria que ela soubesse disso — muito menos ver o olhar de desprezo em seu rosto!

— Ha, tolo! — Mesmo que Sang Zixin não dissesse nada, ela sabia exatamente o que ele pensava. Esse pobre coitado havia decidido estupidamente esperar pela morte. Ela nem sabia o que dizer. Ele era bondoso ou só um completo idiota?

— Sim, este servo é tolo e nunca foi esperto. Mas o que mais poderia fazer? Envenenar Vossa Majestade me garantiria mesmo o antídoto? — Sang Zixin sentia-se profundamente injustiçado. Diante daquela escolha, o que ele poderia fazer? Desde o início, não havia escolha alguma.

— É claro que conseguiria, por que não o fez? — Ao ver a expressão tão abatida e magoada de Sang Zixin, ela achou que ele encaixava ainda mais na imagem de “pobrezinho”.

— ... — Ao ouvir a pergunta da Imperatriz, o coração de Sang Zixin apertou ainda mais. Por que ela perguntou aquilo? Claro que não a envenenaria. Mesmo que fossem apenas estranhos, ele não faria mal a ela — quanto mais a ela.

Desde pequeno, além de seu pai, apenas essa pessoa foi capaz de lhe dar um pouco de calor e afeto. Mesmo que tal afeto viesse acompanhado de brincadeiras insuportáveis e provocações, se pudesse escolher, preferia ser o bobo da corte e permanecer ao seu lado. O resto não importava, desde que recebesse um pouco de calor... já era o suficiente.

— Por que não responde? — Diante do silêncio, Qianhe Liyou achou estranho, especialmente ao observar o rosto de Sang Zixin. Começou a suspeitar que havia algo ali que ela ainda não entendia.

O rosto de Sang Zixin mudou de cor várias vezes após a pergunta — primeiro, empalideceu; depois, corou. Após hesitar por um bom tempo, parecia ter tomado uma decisão e respondeu, fraco:

— A Imperatriz trata este servo muito bem... este servo jamais poderia feri-la. — Como não tinha muito tempo de vida, resolveu aproveitar a chance para dizer o que sentia. Cerrou os dentes e continuou: — Este servo é muito grato à Imperatriz. Embora não tenha vindo para cá por vontade própria, agradeço àqueles que me enviaram. Eles permitiram que eu vivesse aqui uma vida tão tranquila e feliz. E, acima de tudo, permitiram que eu conhecesse alguém que me trata tão bem...

Sang Zixin olhou para a Imperatriz, e a tal pessoa "boa" de quem falava era obviamente ela. Agora era a vez de Qianhe Liyou se espantar…

Boa com ele? Ele estava mesmo falando dela? Ela o tratava bem? Duvidava seriamente! Mas... os olhos e as ações dele a faziam crer que sim, era dela que ele falava.

— Sang Zixin, a pessoa que você disse que foi boa com você... essa pessoa é zhen? — Qianhe Liyou achou melhor confirmar.

Sang Zixin assentiu levemente e explicou:

— Em minha memória, apenas meu pai foi gentil comigo. Mas ele já faleceu há muito tempo... E a senhora me tratou bem. Embora, por fora, pareça um pouco... um pouco... — ele gaguejou — a senhora trata bem seus súditos, e este servo pôde ver isso claramente.

— E de onde tirou a ideia de que zhen é uma boa pessoa? — Ela realmente não se considerava uma boa pessoa. De onde ele tirou isso?

— Vossa Majestade nunca bateu ou xingou este servo. Nunca puniu sem motivo, até me deu sopa para beber... permitiu que eu comesse à sua mesa. E além de tratar bem este servo, também trata bem os outros, como o Rei-Dowager, o Consorte Real e as demais pessoas do harém.

Nos últimos dias que passara com a Imperatriz, ele realmente sentira isso. Apesar de parecer fria, era uma pessoa muito gentil. Nunca ficava irritada, nem punia empregados sem razão. Ela era diferente de todas as pessoas que ele conhecera até então.

Esse pobre coitado era realmente inocente. Se só com isso já achava que ela era boa... então, se ela o tratasse realmente bem, ele entregaria o coração na hora, não?

Entregar o coração... Qianhe Liyou de repente pensou nessa possibilidade. Observou cuidadosamente a expressão de Sang Zixin e viu que ele estava corado, parecendo um tanto constrangido. Talvez ele realmente tivesse esse tipo de sentimento...

— Você gosta de zhen? — Qianhe Liyou nunca foi de medir palavras. Sempre dizia o que vinha à mente, especialmente em situações assim.

Os olhos de Sang Zixin se arregalaram, seu rosto ficou ainda mais vermelho e ele ficou sem saber o que responder.

— Responda zhen! — Mesmo que a expressão já fosse resposta o suficiente, ela ainda queria ouvir a palavra dita com todas as letras. E ela odiava essa palavra, então precisava investigar isso a fundo.

— Imperatriz, alguém como Vossa Majestade... todos os homens não gostariam de você? Este servo sabe que é de origem baixa, um cidadão do Império Sang, indigno até de gostar de Vossa Majestade... Por que a senhora me pergunta isso? — A Imperatriz era extremamente bela. Seu porte era imponente, dominante, elegante, nobre, capaz. Aos olhos dele, ela era uma existência perfeita. Como não admirá-la?

— E isso é o que significa gostar de alguém? Pobrezinho, você... — Era mesmo tolice. Só porque se apaixonara por ela, preferia morrer a envenená-la? Se isso não era burrice, então o que era? Mas, vendo seu estado tão miserável, ela não teve coragem de chamá-lo de “idiota”. — Levante-se. Zhen convocará um Médico Imperial para eliminar o veneno. Você vai ficar bem, mas não seja tolo desse jeito de novo.

Ela havia injetado sua energia espiritual no corpo dele, suprimindo temporariamente o veneno violento. Mas, para eliminá-lo por completo, seriam necessários outros métodos. Não sabia se o veneno no corpo do pobre coitado era fácil de remover. Se o Médico Imperial não conseguisse, ela usaria seu próprio sangue.

O que um zumbi mais prezava era seu sangue, pois era ali que sua energia espiritual residia — especialmente a essência espiritual que corria pelas artérias. Essa essência era capaz de dissolver e purificar qualquer tipo de veneno, por isso ela não estava preocupada com o veneno no corpo do pobrezinho.

Do começo ao fim, ela nunca pensou em deixá-lo morrer — especialmente depois de ouvir aquelas palavras. Mas, agora que ouvira aquilo... como ela deveria arranjar o lugar dele?

***

Capítulo 48: Oscilações de Humor

O veneno administrado a Sang Zixin por Sang Ziling não era considerado extremamente tóxico. Embora pudesse ser fatal, o antídoto era fácil de ser preparado. Qianhe Liyou ordenou que chamassem o Médico Imperial, que diagnosticou a situação e escreveu uma receita. Ele afirmou que, desde que o remédio fosse tomado e a saúde fosse cuidadosamente restaurada, nada grave aconteceria. Qianhe Liyou mandou que preparassem o remédio.

— Imperatriz, como pretende lidar com este servo? — Após todos se retirarem, Sang Zixin ajoelhou-se novamente, com uma expressão um tanto tímida, mas contendo um traço de teimosia. — Na verdade, não há necessidade de a Vossa Majestade se incomodar em desintoxicar este servo. Este servo foi enviado como espião pelo Império Sang e, quando cheguei aqui, já estava preparado para morrer. Esse é o meu destino inevitável. Não há razão para tanto esforço.

— Quem disse que você pode morrer? — Quanto ao pessimismo de Sang Zixin, Qianhe Liyou conseguia compreender um pouco, mas ela não entendia por que ele estava sempre com a morte na cabeça. Isso a fez se sentir um tanto impotente.

— Sem morte? Vai me prender? Não! Mesmo que eu morra, recuso-me a ser trancafiado! — Como se uma lembrança terrível tivesse surgido em sua mente, o rosto de Sang Zixin empalideceu e ele balançou a cabeça com força.

— Ninguém quer te matar, e ninguém quer te prender. Se quiser, pode ficar no palácio. Se não quiser esperar até que o veneno seja completamente eliminado, é livre para partir. Ninguém vai te impedir.

— Está dizendo a verdade?

— Está questionando zhen?

— Este servo não ousa. Se o que a Imperatriz diz é verdade, então este servo está disposto a permanecer no palácio e servi-la… — Havia um toque de incredulidade no olhar de Sang Zixin. Ele realmente estava preparado para morrer, mas não conseguia acreditar que poderia ter tanta sorte assim!

— Zhen não precisa dos seus serviços, e você não precisa tomar uma decisão agora. Levante-se, o Médico Imperial trará o remédio em breve. Beba e esqueça tudo o que aconteceu antes. — Talvez ela não devesse ter tantas exigências e nem impor seus próprios pensamentos aos outros. Esse pobre coitado, era melhor lhe dar tempo para pensar com calma.

Sang Zixin sentiu-se subitamente entristecido ao ouvir a recusa da Imperatriz em aceitar sua proposta de servi-la. Queria protestar, mas ao ver a Imperatriz levantar-se e acenar com a mão, visivelmente desinteressada em continuar com o assunto, ele permaneceu em silêncio. Seu coração estava profundamente conflituoso, e tudo o que acontecera naquele dia o havia abalado profundamente. Talvez ele realmente devesse pensar bem sobre tudo aquilo.

Por ora, o problema de Sang Zixin estava resolvido, mas Qianhe Liyou não se sentia nem um pouco aliviada. Pelo contrário, sentia o coração pesado demais, então decidiu dar uma volta do lado de fora...

As quatro emoções humanas — alegria, raiva, tristeza e prazer — não eram desconhecidas para ela, mas sua resposta a elas sempre fora branda, muitas vezes superficial, sem realmente tocar seu coração. Mas no momento, Sang Zixin parecia ter despertado algo dentro dela, e qualquer pequena oscilação emocional fazia crescer uma vontade incontrolável de beber… sua sede por sangue aumentava…

Controle-se! Qianhe Liyou repetiu essas duas palavras em sua mente, tentando se convencer de que precisava manter o controle… mas o impulso sanguinário dentro dela só ficava mais forte e mais intenso. No passado, ela já havia sentido essa sede provocada por emoções fortes, mas nunca estivera tão incapaz de se conter como agora…

Ela precisava urgentemente de sangue e, naquele momento, a única pessoa próxima o suficiente e disposta a aceitá-la…

Anhui! — Qianhe Liyou chamou o nome de Anhui com uma voz rouca e incomumente grave.

Anhui imediatamente surgiu diante de Qianhe Liyou, ajoelhando-se em saudação:

— Imperatriz, tens alguma ordem?

Qianhe Liyou agarrou o pulso de Anhui com força e, sob o olhar surpreso dele, puxou-o para trás de uma árvore próxima, escondendo ambos atrás do tronco…

Anhui, aguente firme. Zhen não gosta de gritos nos seus ouvidos… — Depois de dizer isso, Qianhe Liyou permitiu que suas presas surgissem e cravou com força os dentes no pescoço de Anhui…

Os olhos de Anhui se arregalaram de surpresa, e uma imagem familiar passou por sua mente. A Imperatriz havia feito algo semelhante com o Consorte Real. Refletindo sobre o ocorrido, ele chegou à conclusão de que a Imperatriz provavelmente estava praticando alguma arte marcial de nível avançado e, como consequência, havia desenvolvido um gosto peculiar. Existiam muitas artes marciais perversas espalhadas pelo Jianghu, e ele já ouvira falar delas, por isso não levou muito a sério… A Imperatriz estava sugando seu sangue, ela só estava treinando, certo?

Jianghu: mundo compartilhado e universo alternativo que reúne artistas marciais e pugilistas no Wulin (武林). Frequentemente usado em romances wuxia e xianxia, esse universo representa um complexo sistema de honra, lealdade, amor e ódio entre indivíduos e seitas.

A dor que se espalhava pelo pescoço de Anhui não significava nada para ele. Sentindo que finalmente compreendia tudo, ele olhou silenciosamente para a cabeça enterrada em seu pescoço. Seu olhar era de ternura incrível e, talvez, nem ele mesmo percebesse isso.

Talvez por estar bastante abalada emocionalmente, Qianhe Liyou demorou mais que o habitual para se alimentar, e o rosto saudável de Anhui gradualmente empalideceu. Ele podia sentir sua força desaparecendo pouco a pouco, mas seus olhos continuavam suaves, sem nenhum sinal de resistência.

Quando as presas de Qianhe Liyou finalmente recuaram e ela lambeu os lábios manchados de sangue com uma expressão satisfeita, notou o rosto pálido de Anhui…

Qianhe Liyou rapidamente soltou as mãos de Anhui, que ela havia segurado com força para conter qualquer movimento. O corpo de Anhui cambaleou, mas ele imediatamente se endireitou e disse, num tom propositalmente calmo e indiferente:

— Imperatriz, se ainda não for o bastante, pode continuar.

Aquilo era uma honra para ele, não importava o motivo da Imperatriz!

— Não vai perguntar a zhen por quê? — Qianhe Liyou sentiu-se curiosa sobre o motivo de Anhui aceitar tão facilmente o que ela fizera.

— Este subordinado não tem qualificação para questioná-la, nem precisa saber o motivo. Se for algo de que gostas, então para este subordinado é uma honra! — Ele não precisava esconder sua lealdade por ela, mas fez questão de esconder o brilho de admiração em seu olhar.

Ao ouvir a resposta de Anhui, um brilho dourado-sangue passou pelos olhos de Qianhe Liyou. Após lançar um olhar profundo a Anhui, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto:

— Se zhen gosta disso, então significa que posso fazer o que quiser com você?

Ele achava que tinha escondido bem aquele olhar, mas o mesmo brilho nos olhos que Luo Weiqing tivera já havia sido notado por ela. E agora ela entendia muito bem o que aquilo significava! "Colhei os botões de rosa enquanto podeis, o tempo, sempre fugaz, voa depressa; e essa flor que hoje sorri, amanhã morrerá." Já que havia se alimentado de seu sangue, ela seria responsável por ele. Esse era o princípio dos zumbis — e também era o princípio dela…

— Claro! — Anhui respondeu sem hesitar! Mesmo que a Imperatriz pedisse que ele morresse, ele o faria sem questionar. Ela era seu céu, suas ordens eram tudo, e esse era o sentido de sua vida!

— Então… se é assim… — Qianhe Liyou beijou os lábios de Anhui com ferocidade. O gosto de sangue em sua boca era tão forte que quase dava para senti-lo no ar. Mas naquele momento, Anhui não reagiu, apenas arregalou os olhos, com uma expressão atônita no rosto. Olhando para o rosto tão próximo do seu, ele não sabia por que algo assim havia acontecido tão de repente…

O beijo de Qianhe Liyou não foi nada gentil. Talvez por ainda estar emocionalmente agitada, ou talvez pelo estímulo da alimentação, mas dizem que quem se farta, também se aquece e deseja… talvez isso também valesse para um zumbi…

O beijo foi dominador, intenso, com gosto de sangue — e capaz de fazer qualquer um estremecer de medo…

Assim que o beijo terminou, Anhui ficou completamente atônito. Quando Qianhe Liyou o soltou, ele apenas levou a mão aos próprios lábios, em um gesto confuso, com um olhar cheio de perplexidade…


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