Capítulo 52: Os Campos de Caça Imperiais
Os pequenos campos de caça ficavam localizados na parte sudeste do palácio. Embora todos os chamassem de “pequenos”, na realidade, não eram nada pequenos. Ocupavam uma área extremamente vasta, quase do mesmo tamanho que o próprio palácio. Tecnicamente, esses campos de caça não pertenciam de fato ao Palácio Imperial, mas eram um terreno natural de caça, e a parte sudeste era formada por um enorme precipício, que se erguia por milhares de metros de altura. Podia-se considerá-lo uma barreira geográfica natural.
Como Yun Tailing estava presente no momento, Qianhe Liyou o levou consigo, enquanto Fengying e os demais a acompanhavam logo atrás. Os campos de caça, de repente, tornaram-se bastante animados.
— Saudações à Imperatriz! Vida longa à Imperatriz, vida longa à Imperatriz! — O guarda encarregado da vigilância dos campos de caça imediatamente saudou a comitiva.
— Onde estão os cavalos? — Qianhe Liyou ignorou o guarda e perguntou diretamente a Long Xizhao.
Long Xizhao lançou um olhar de interrogação ao guarda, que respondeu com muita esperteza:
— Este servo já preparou tudo. A Imperatriz e Long da-ren desejam montar agora?
— Naturalmente. Vá buscar os cavalos.
— Sim, este servo irá agora mesmo, uh… — O guarda hesitou, como se quisesse dizer algo.
— O que foi? Fica nesse vai-não-vai... Se tem algo a dizer, diga logo. — Long Xizhao também notou o comportamento estranho do guarda e perguntou com certo desagrado.
— É que… é o seguinte… o guifei Ning também está atualmente no campo de caça. Deseja que este servo o chame?
Dessa vez, Long Xizhao não ousou responder. Apenas olhou para a Imperatriz em busca de orientação.
— Não é necessário. Apenas traga os cavalos. — Qin Ning? Fazia um tempo que ela não o via. A última vez deveria ter sido quando ele caiu na água. Fora isso, não o havia encontrado mais.
— Sim, este servo irá agora mesmo.
Os guardas rapidamente trouxeram dois cavalos, um preto e outro branco, ambos com membros fortes e aparência vigorosa. No entanto, os animais estavam visivelmente agitados. Qianhe Liyou olhou para Long Xizhao com um ar divertido — ainda não tinha visto essa mulher agir de verdade.
Notando o olhar da Imperatriz, Long Xizhao comentou:
— Imperatriz, esses cavalos foram recém-capturados, e seu temperamento ainda está um pouco selvagem. Mas, não importa o quão ferozes ou indomáveis sejam, nas mãos da Imperatriz, certamente se tornarão obedientes. Qual dos cavalos agradou a Vossa Majestade?
Qianhe Liyou não respondeu. Apenas avançou. Os guardas ainda tentaram conter os cavalos, pois ambos estavam inquietos e explosivos, com medo de que pudessem ferir a Imperatriz, mas foram rapidamente impedidos com um gesto da mão dela. Então, para surpresa geral, os dois cavalos pararam com a inquietação e se tornaram subitamente calmos. No entanto, esse silêncio não durou muito — todos ficaram boquiabertos ao ver que os dois animais começaram a tremer, parecendo extremamente assustados!
— Querida Oficial Long, esses cavalos são realmente obedientes. — Qianhe Liyou virou-se com uma voz inocente, mas o sorriso sombrio em seus olhos exalava uma aura maliciosa e um charme assustador. Todos que viram a cena ficaram momentaneamente atordoados.
— Sim… extremamente obedientes… — Long Xizhao assentiu, quase sem vida. A Imperatriz era realmente belíssima, de um modo que deixava as pessoas boquiabertas. Não era de se espantar que os homens do palácio estivessem todos encantados por ela, perdidamente apaixonados. Se ela mesma fosse um homem, provavelmente também se apaixonaria pela Imperatriz.
— Querida Oficial Long, volte à realidade. Esse par de cavalos é seu. São muito obedientes. — Ela não queria esse tipo de cavalo. Cavalos eram animais espiritualmente sensíveis, e mesmo que ela escondesse sua aura, eles ainda a sentiriam. Era instinto animal, assim como o dela, que instintivamente buscava sangue. Por isso, cavalos comuns, ao encontrá-la, nem sequer conseguiam se manter de pé. Já não mereciam ser chamados de cavalos “de elite”. Ela não queria mais gastar seu poder com cavalos — o resultado era sempre o mesmo: morte.
— Isso… Se a Imperatriz não gostou de nenhum, tudo bem. Este oficial ordenará que continuem procurando… — Por mais ingênua que fosse, era impossível não perceber que havia algo estranho naquela situação. E, sinceramente, ela não se considerava tão ingênua assim.
— Está bem, vá testar os cavalos. Zhen quer dar uma volta. — Sentia algo estranho nas profundezas da floresta e queria investigar.
Long Xizhao ainda queria dizer algo, mas Qianhe Liyou já havia partido, e Yun Tailing a acompanhava desde o início. Só restava observá-los desaparecer entre as árvores.
— Bem, isso… Yun guiren… o que pensa disso? — Long Xizhao olhou para Yun Tailing, um pouco sem saber o que fazer. Aquela Imperatriz estava mesmo dificultando a vida dela. Não só não esperou que Long Xizhao saísse, como ainda deixou um homem ali — e mais que isso, seu próprio concubino! A Imperatriz não temia que, vendo riquezas, surgissem más intenções? Bah, bah, bah… Que tipo de pensamento era aquele?!
— Long da-ren, pode ir montar seu cavalo. Não se preocupe comigo. — Yun Tailing sorriu com tranquilidade, aliviando o constrangimento de Long Xizhao. Após uma breve reverência, dirigiu-se aos dois cavalos obedientes. Na verdade, era um tanto rude a forma como a Imperatriz o deixara ali sozinho, mas Yun guiren demonstrava uma serenidade e elegância que faziam parecer que estava tudo certo. Long Xizhao achou melhor não incomodá-lo mais.
Enquanto isso, Qianhe Liyou já havia se embrenhado nas profundezas da floresta e, de repente, parou.
— Anhui, vá informar a Anbu e selecione imediatamente os que possuem habilidades médicas. Zhen precisa deles.
— Este subordinado deve ir agora mesmo? — Anhui hesitou. Se deixasse a Imperatriz sozinha, não haveria mais ninguém para protegê-la. Ainda estavam nos campos de caça e, se houvesse algum perigo…
— Pode ir. Zhen ficará bem. — Qianhe Liyou entendeu os pensamentos dele e o tranquilizou.
Anhui ainda hesitou por um momento, mas acabou se retirando, deixando Qianhe Liyou sozinha para seguir pela floresta. A cada passo, a mata ficava mais silenciosa. Os animais se escondiam nas sombras, imóveis, nada ferozes. Qianhe Liyou não os incomodou. Após cerca de trinta minutos, ela finalmente encontrou o motivo que a atraiu até ali: Qin Ning empunhava uma longa espada e enfrentava uma criatura negra, semelhante a uma mistura de cervo com cavalo! E foi esse animal estranho que chamara sua atenção desde o início.
Qianhe Liyou não tentou esconder sua presença, então ambos — homem e criatura — notaram sua chegada ao mesmo tempo.
Os olhos de Qin Ning se arregalaram de surpresa. Ele mal podia acreditar no que via — a Imperatriz ali, naquele momento? E a reação do animal foi ainda mais peculiar. Seus olhos, negros como tinta, tinham um brilho humano: medo, dúvida, cautela… Uma expressão quase pensante, que dava a impressão de que ali havia mais do que um simples animal — havia sabedoria.
Embora o animal parecesse temer Qianhe Liyou, ele também a encarava com firmeza, sem recuar, mas sem avançar. Isso despertou o interesse dela. Não sabia o que aquela criatura era, nem que nome dar a ela.
— Venha aqui. Não vou te machucar. — disse Qianhe Liyou com um tom sombrio que deixaria qualquer um confuso.
O olhar do animal parecia perdido e desconfiado, seguido por um momento de análise. Qianhe Liyou manteve-se parada, com calma e serenidade, permitindo que o observador a estudasse. Qin Ning também mantinha os olhos no animal, mas teve a sabedoria de não interromper — já havia presenciado as habilidades da Imperatriz antes, e sabia que aquele bicho não conseguiria feri-la.
Finalmente, o animal se moveu. Caminhou devagar e cautelosamente até Qianhe Liyou, parando a cerca de um metro de distância.
Dessa vez, foi Qianhe Liyou quem se aproximou. A criatura estremeceu, mas não recuou. Um sorriso travesso surgiu no rosto belíssimo da Imperatriz, que, lentamente, colocou a mão sobre o dorso do animal…
— Que coisinha adorável… Qual é o seu nome? — Ela não sabia que tipo de criatura era aquela, mas com certeza não era um ser comum. Caso contrário, não possuiria tal nível de inteligência ou sabedoria.
Naturalmente, o animal não respondeu. É claro que Qianhe Liyou sabia disso, então continuou:
— Eu vou te dar um nome. Que tal Mo Ling? Escuro como tinta, uma alma tranquila e sem pressa. Gosta desse nome?
Embora soubesse que o animal não poderia falar, acreditava que ele a entenderia. E, de fato, ele reagiu: assentiu lentamente com a cabeça, como se estivesse concordando. Esse gesto provocou um leve traço de satisfação na expressão de Qianhe Liyou.
— Esta concubina saúda a Imperatriz. — Agora que a situação parecia resolvida, Qin Ning finalmente se pronunciou.
Capítulo 53: Cavalgando Mo Ling com Agilidade
Qin Ning a cumprimentou, e Qianhe Liyou, naturalmente, não ignoraria mais sua presença. No entanto, ela não olhou diretamente para ele, apenas assentiu com a cabeça, mantendo os olhos fixos no animal que havia nomeado de Mo Ling.
Sentindo-se ignorado, o olhar distante de Qin Ning carregava um traço de ressentimento, mas logo desapareceu. Ele endireitou ainda mais as costas, sem querer demonstrar nenhum sinal de embaraço.
— Imperatriz, este consorte se retira! — Ele obviamente havia se tornado uma presença desnecessária ali, então por que deveria continuar?
Qin Ning era uma pessoa extremamente orgulhosa. Mesmo sendo homem, seu status, sua origem familiar, seus talentos e habilidade em artes marciais eram todos excepcionais. Sua arrogância era respaldada por mérito, e nunca ninguém havia desprezado sua existência antes. Mesmo quando agia com indiferença ou arrogância, era sempre perseguido, sempre o centro das atenções — nunca havia sido negligenciado. Isso incluía até mesmo a Suprema Imperatriz. Mas ele nunca se importara antes. Só que agora que havia começado a se importar, aquele olhar já não estava mais voltado para ele — a Imperatriz o tratava com mais indiferença do que ele próprio jamais demonstrara, sem dizer uma só palavra, fazendo-o experimentar o verdadeiro significado do desprezo!
Qianhe Liyou apenas acenou com a mão, indicando que Qin Ning podia ir embora, e começou a examinar a pelagem de Mo Ling. Aquela pelagem era simplesmente a melhor possível: preta e lustrosa, macia e delicada ao toque.
— Mo Ling, seja bonzinho... — Qianhe Liyou acariciou suavemente sua cabeça e, em seguida, pulou para o dorso do animal com movimentos elegantes e fluidos.
Mo Ling se agitou por um momento, mas logo se acalmou, permitindo que Qianhe Liyou montasse em suas costas. Obviamente, ele havia reconhecido a existência dela. Animais eram espiritualmente sensíveis e respeitavam naturalmente os fortes.
Qin Ning já havia deixado o local, mas ainda podia ouvir vagamente as palavras de Qianhe Liyou. Isso fez surgir um forte sentimento de ciúmes em seu coração. Estava com ciúmes de uma besta — quem acreditaria nisso?
Atrás de Qin Ning, o olhar de Qianhe Liyou finalmente se voltou para ele, mas tudo o que viu foi uma silhueta distante.
— Mo Ling, existe um ditado que diz que o caráter de uma pessoa determina seu destino. Me pergunto se você também pensa assim?
Mesmo que Mo Ling entendesse esse comentário, como um animal, ele não poderia responder. Qianhe Liyou não esperava por uma resposta. Ela apenas desviou o olhar e se moveu suavemente, começando a se concentrar em controlar Mo Ling.
A velocidade de Mo Ling aumentava cada vez mais, parecendo finalmente ultrapassar a do próprio vento. Qianhe Liyou parecia completamente integrada ao animal — uma sintonia perfeita entre pessoa e criatura. Sempre que a intenção de Qianhe Liyou mudava, Mo Ling parecia captar imediatamente e se movia conforme sua vontade, num fenômeno quase milagroso.
Eventualmente, essa dupla em disparada chegou, sem perceber, até o precipício que delimitava os limites do campo de caça. Vendo-se em perigo iminente, Mo Ling relinchou e parou bruscamente na beira do abismo.
— Tsk tsk, coisinha atrevida, você tentou me assustar de propósito — Qianhe Liyou deu um tapinha na cabeça de Mo Ling, repreendendo-o suavemente.
Mo Ling, com uma expressão desafiadora e teimosa, balançou a cabeça para os lados e deu mais um passo em direção ao penhasco…
— Vai continuar, é? Então vamos ver quem morre primeiro, você ou eu — Ao ver as ações daquele bichinho, ela sabia que ele estava tentando ameaçá-la. Mas, em vez de se irritar, achou a situação bastante divertida. Mesmo que o penhasco tivesse o dobro da altura, não faria diferença se ela caísse. Mas já fazia muito tempo que não vivia uma experiência como essa…
— Pode ir brincar agora, depois eu venho te encontrar.
Qianhe Liyou desceu das costas de Mo Ling e deu-lhe alguns tapinhas, indicando que ele estava livre para ir. Mas Mo Ling parecia relutante, andando em círculos ao redor dela e se recusando a partir.
— Vá, eu vou te procurar depois.
Mo Ling finalmente partiu após as palavras de segurança de Qianhe Liyou, mas ela logo percebeu que havia mais alguém ali. Essa presença familiar… Qin Ning?
Não parecia que ele a havia seguido, senão ela certamente teria percebido antes. Provavelmente ele havia chegado ali antes dela, mas isso não tinha mais nada a ver com ela. Só queria fazer uma coisa agora.
Qianhe Liyou fechou os olhos e, sob o som ofegante e surpreso de Qin Ning, pulou do penhasco!
Qin Ning não podia acreditar no que via, mas o que testemunhara era real. Com seus reflexos relâmpago, ele se lançou imediatamente após ela, tentando agarrá-la, mas a velocidade com que Qianhe Liyou caía era muito maior. Depois de despencar por dezenas de metros, ele conseguiu agarrar sua mão, mas era como tentar segurar um objeto em queda livre. Os dois caíram juntos por mais uns dez metros. Em meio ao pânico, Qin Ning avistou uma árvore crescendo entre as pedras logo abaixo e ficou eufórico. Com uma explosão de energia e fôlego, agarrou-se firmemente a um dos galhos. Mas, para sua decepção, o galho apenas retardou temporariamente a queda — antes que pudesse comemorar, ele se partiu sob a força dos dois corpos.
Qianhe Liyou olhou para Qin Ning com certo espanto. Ela havia considerado muitas possibilidades, mas jamais esperava que ele fosse pular atrás dela. Não entendia o que se passava pela mente dele naquele momento, mas viu que ele segurava firmemente sua mão. Sentiu que deveria dar a ele uma chance de se explicar…
Qianhe Liyou percebeu o momento certo e estendeu a outra mão — a que não estava sendo segurada por Qin Ning — e agarrou uma pedra que se projetava da encosta. A energia oculta em sua palma permitiu que segurasse com firmeza, e os dois ficaram balançando no ar de forma bastante arriscada.
— Por que você pulou? — Ele poderia ter morrido por causa disso. Ela não achava que ele tivesse cogitado tal possibilidade.
— Você tá maluca? Se você não tivesse pulado, eu não teria pulado atrás! Essa é a pergunta que eu deveria te fazer! O que você tá tentando fazer, não quer mais viver?
Qin Ning nunca havia se sentido tão fora de controle. Até esqueceu que aquela pessoa diante dele era a incomparável Imperatriz, Sua Majestade. Ele simplesmente não conseguia entender por que alguém pularia de um penhasco como um louco!
— Vamos dizer que eu esteja louca e resolvi pular. Mas isso quer dizer que você também tá louco? — Ela nunca tinha visto Qin Ning daquele jeito antes. O Qin Ning que conhecia era sempre arrogante e indiferente. Era a primeira vez que via ele perder completamente a compostura. E, curiosamente, achava que esse Qin Ning parecia muito mais humano — não mais uma estátua de gelo, fria e desagradável.
— Sim, estou louco. Louco o suficiente pra ter pulado pra tentar te salvar. E agora, feito um idiota, aqui estou, pendurado, conversando com você desse jeito. Qianhe Liyou, me diz: você não quer mais viver? Você é uma Imperatriz digna, mas de repente pula de um penhasco! Se você não está louca, então o louco sou eu!
— Tsk tsk, chamando a Imperatriz pelo nome diretamente… Isso é rebeldia. Qin Ning… hahaha… ver você assim realmente deixa zhen feliz.
— Você… você tá completamente fora de si! Tá maluca de verdade! — Qin Ning sentia que também estava prestes a enlouquecer.
Nesse momento, um brilho dourado passou pelos olhos de Qianhe Liyou, e ela mexeu as mãos de forma deliberada, como se estivesse prestes a perder o apoio da rocha. Os corpos dos dois, suspensos no ar, balançaram com o movimento.
Qin Ning finalmente recuperou a calma e começou a encarar a situação extremamente perigosa em que os dois se encontravam naquele momento.
— O que a gente faz agora? — Eles não podiam voar, nem alcançar o chão. Podiam despencar a qualquer momento. O que fazer?
— Você quer subir ou descer? — O que podia ser feito? Naturalmente, se não fosse subir, então era descer.
— Claro que quero subir… Ah! Você pulou de propósito, não foi? Mas por quê? Você tentou se matar? Mas isso não faz sentido! Ou você pulou porque sabia que não ia te acontecer nada? Seu nível em artes marciais é tão alto assim?
Depois de se acalmar, Qin Ning finalmente deixou seu cérebro voltar a funcionar normalmente e começou a racionalizar os motivos que levaram a Imperatriz a saltar do penhasco. Mas, por mais que pensasse, só chegava a uma conclusão: a Imperatriz havia pulado voluntariamente — e quanto ao motivo, só ela mesma saberia.
— Não se preocupe. Apenas aproveite essa sensação! — O sorriso voltou ao rosto de Qianhe Liyou, e então os dois começaram a despencar rapidamente no ar.
Capítulo 54: Amor Secreto Sob o Precipício
A velocidade do vento, a sensação de queda livre rumo à morte, inúmeras imagens passando pela mente — e, naquele momento, Qin Ning pensou em muitas coisas. Por um instante, achou que não seria tão ruim morrer daquele jeito. Afinal, ele ainda tinha a incomparável Imperatriz para lhe fazer companhia. Não seria exatamente uma perda ao morrer.
— Ei, abra os olhos. — A altura do precipício pareceu um tanto decepcionante. Ela já havia alcançado o fundo antes mesmo de sentir alguma coisa, e o fundo do abismo a decepcionou ainda mais. Era só pedra e mato, carniça e ossos mortos. Podia-se dizer que não havia absolutamente nenhuma paisagem. Além disso, exalava um cheiro desagradável, que estimulava seu olfato sensível.
Ao ouvir a voz zombeteira ao pé do ouvido, Qin Ning foi abruptamente despertado de seus pensamentos e olhou, surpreso, para a pessoa que estava ao alcance da mão.
— Estamos... bem? — O fundo de um precipício sem fim... teria sido tudo apenas uma alucinação? Qin Ning duvidava da realidade do que havia vivido. Levantou a cabeça com desconfiança, mas tudo o que viu foram nuvens enevoadas — e então teve que aceitar que realmente haviam chegado ao fundo do abismo. E mesmo depois de pular, saíram ilesos. Era verdadeiramente milagroso.
— Não faça perguntas idiotas, isso não combina com você. — Vendo Qin Ning olhando para o céu, Qianhe Liyou concluiu que até mesmo pessoas inteligentes tinham seus momentos de burrice.
— Você... — Qin Ning ouviu o tom de zombaria da Imperatriz e, naturalmente, quis retrucar, mas ao lembrar-se da identidade dela, as palavras que chegaram à ponta da língua foram engolidas abruptamente. De repente, ajoelhou-se com força no chão:
— Este consorte é culpado. A Imperatriz pode punir como desejar!
Ele havia sido idiota. Do contrário, por que pensou que aquela mulher queria se suicidar? Por que pulou para salvá-la? Se não fosse um tolo, não estaria ali sendo ridicularizado por ela naquele momento. Não só tinha sido idiota... tinha se tornado um completo imbecil!
— Culpado? E qual seria o crime? — Tsk, tsk... admitir um erro de forma tão pouco convincente, sem um pingo de sinceridade. Mas ela não estava com raiva — na verdade, achou divertido.
— Desrespeitar a superior, falar de forma imprópria e intrometer-se nos assuntos alheios! — De qualquer forma, já tinha dito e feito tudo o que devia — e o que não devia. Não havia mais do que ter medo. Se a Imperatriz quisesse puni-lo, que punisse. Ele nunca teve medo dela antes, e não teria agora. Na pior das hipóteses, perderia a vida. Mesmo se morresse, Qin Ning não voltaria a se curvar diante dela!
A insatisfação no tom de Qin Ning era óbvia, e sua expressão passava de fria a orgulhosa e resoluta. Mesmo ajoelhado, sentia-se que ele não estava se rendendo. Qianhe Liyou observou tudo e perguntou:
— Está com raiva, por quê?
Ela é quem havia sido repreendida, e mesmo assim não tinha dito nada. Então por que ele estava com raiva? Qianhe Liyou simplesmente não entendia...
Qin Ning ficou ainda mais furioso. Ela ainda tinha a ousadia de perguntar por que ele estava com raiva? Aquela pergunta repentina — queria matá-lo de raiva?
— Como este consorte ousaria estar com raiva! — retrucou, tenso. Claro que estava indignado. Mas era só raiva de si mesmo, por ter sido tão tolo!
— Um homem hipócrita e contraditório. Mas não importa. Temos todo o tempo do mundo para conversar aos poucos. — No passado, ela jamais se interessara tanto pelas vidas dos outros. Mas depois de vir para este mundo, quanto mais interagia com aquelas pessoas, mais percebia que prestava atenção nas emoções delas. Às vezes parecia novidade, outras vezes, interessante. Além disso, já não se surpreendia com isso. Ela podia controlar tudo — menos os corações das pessoas. O coração humano era imprevisível e a vida era volúvel. As pessoas eram complexas por conta de seus pensamentos, e fazia milênios que ela não tinha contato tão profundo com esses sentimentos. Agora, todas aquelas pessoas pertenciam a ela. Queria saber o que pensavam — e achava que isso era um direito seu.
Qianhe Liyou disse isso e encontrou uma pedra limpa para se sentar. Ainda era cedo, e ela não estava com pressa de voltar. Embora a paisagem ali não fosse nada agradável, devido à passagem do tempo, o ar estava impregnado de morte — e havia um leve cheiro de sangue, o aroma favorito de zumbis.
Qin Ning permaneceu ajoelhado no chão, sentindo-se meio perdido. A atitude casual da Imperatriz fazia parecer que ela havia ido até ali para passear, e não dava a mínima para a provocação em seu olhar. Ela não se irritava, nem o repreendia — o que acabava aliviando bastante sua insatisfação. Pensou um pouco e então se levantou, apenas permanecendo ali parado, observando o ambiente ao redor.
Levou cerca de um quarto de hora até que Qin Ning percebesse que estavam basicamente em uma armadilha. Dois lados levavam a penhascos íngremes e faces rochosas, enquanto os outros dois estavam bloqueados por pedras acumuladas. Não havia saída alguma. Para cima, para baixo, para frente, para trás, esquerda, direita — das seis direções possíveis, cinco estavam bloqueadas. A não ser que escalassem o caminho pelo qual haviam caído, não havia outra maneira. E essa suposta única saída era mais difícil do que subir ao céu.
Qin Ning concluiu que não conseguiria sair dali com sua própria força. Então não pôde deixar de olhar para Qianhe Liyou, que havia se sentado tranquilamente, de olhos fechados, acalmando seu pânico crescente. A expressão despreocupada dela o deixou com inveja, como se tivesse tocado uma corda enterrada bem fundo em seu coração, relembrando eventos do passado...
Desde criança, crescera sob os olhares atentos e expectativas dos outros. Da aparência ao talento, da habilidade à linhagem, todos o admiravam e o perseguiam. Mas quem compreendia sua dor e solidão? O destino predestinado de se tornar um boneco descartável do clã? Não podia escolher o que gostava, nem expressar suas preferências — sequer tinha voz em seu próprio casamento. Seu futuro estava firmemente controlado pelas mãos do clã, esperando para ser sacrificado a qualquer momento.
Ele estava insatisfeito, não queria se curvar ao destino. Então agarrou uma oportunidade. E essa oportunidade veio na forma da pessoa à sua frente. Não sabia se aquele acontecimento fora um acidente ou se tudo havia sido previamente arranjado. Salvou-a e fez um contrato com ela. Ela pensou que, se esse era o futuro que ele escolheu, ele não se arrependeria de qualquer forma. Sua família, naturalmente, não recusaria tal arranjo, e ele ficou eufórico por poder entrar no palácio. Desde então, nunca se arrependeu. A Imperatriz era desavergonhada, licenciosa, tirânica, irritadiça e cruel. Quanto mais a observava, mais decepcionado ficava. Apenas levava uma vida tranquila no palácio, com paz de espírito — mas agora tudo havia mudado. Ele já não conseguia viver aquela vida pacata e monótona, porque seu coração já não conseguia se acalmar. Tudo o que conseguia pensar era naquela pessoa à sua frente. Havia raiva e ressentimento, dúvidas e suposições — e uma profunda relutância em ficar sozinho...
Todos esses sentimentos o deixavam profundamente confuso. Por isso ia todos os dias aos campos de caça, correndo desenfreadamente, tentando acalmar o turbilhão de emoções. Mas não esperava encontrar justamente a pessoa que mais desejava ver ali — e que algo assim aconteceria.
Ai... Tudo estava predestinado pelos céus. Então, quanto mais se tenta fugir, mais impossível se torna escapar? Ele queria controlar seu próprio destino — mas descobriu que estava se afundando cada vez mais, incapaz de se libertar. Mas... quantas pessoas nesse mundo realmente conseguiam controlar o próprio destino? Pensando nisso, o olhar de Qin Ning sobre Qianhe Liyou se encheu ainda mais de inveja. Pensava que só aquela pessoa à sua frente era capaz disso — fazer o que quisesse. Mesmo presa naquele beco sem saída, ainda parecia despreocupada, como se nada pudesse afetá-la, como se tudo estivesse sob seu controle. Isso era realmente invejável.
— Já viu o bastante? — Mesmo sem abrir os olhos, ela podia sentir aquele olhar carregado de sentimentos pairando sobre seu corpo.
Qin Ning desviou o olhar invejoso, suspirou e balançou a cabeça. Não queria dizer nada naquele momento, apenas desejava encontrar um canto tranquilo. Pensando nisso, Qin Ning também encontrou um lugar limpo, deitou-se e fechou os olhos…
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