Capítulo 73: O Estrategista Militar do Império Sang
Depois que Feng Xue terminou de falar, ele aguardou a resposta de sua Mestra, mas seus olhos acabaram captando acidentalmente a imagem de outra figura na cama. Ele já sabia do homem que vinha acompanhando sua Mestra recentemente, mas não esperava que aquele homem estivesse tão próximo dela. E ser tão favorecido por ela... isso o deixava profundamente enciumado.
— Mestra, não importa o que aconteça, Feng Xue jamais vai desistir! — Feng Xue levantou levemente a cabeça e mais uma vez declarou sua determinação. Mesmo que fosse rejeitado todas as vezes, ele não desistiria!
Ao ouvir aquelas palavras teimosas de novo, Liyou não sentiu dor de cabeça nem incômodo como antes — pelo contrário, sentiu um leve carinho e tranquilidade. Não pensava mais em refutá-lo. Dava pra imaginar que, com a teimosia daquela pequena raposa, de nada adiantaria falar demais.
Anhui também acordou quando Feng Xue apareceu, mas quis evitar o outro. No entanto, foi puxado por Liyou e permaneceu deitado ali, quieto, fingindo estar em sono profundo para evitar constrangimentos entre todos. Ao ouvir as palavras de Feng Xue, naturalmente entendeu o significado. Suspirou suavemente em seu coração e se perguntou o que era o amor — em um mundo onde se tratava o amor como questão de vida ou morte. Mesmo para seres não humanos, essa tribulação do amor não era nada fácil de superar...
— Acorde-o. — Se não quer desistir, então não desista. Ela não queria que ele desistisse agora.
— Entendido. — Nenhuma resposta era melhor do que uma rejeição direta. Feng Xue conteve suas emoções e tentou acordar o homem em seus braços.
O homem abriu os olhos lentamente e, após um momento de confusão, seu olhar se tornou imediatamente vigilante. Rapidamente puxou um punhal de sua manga e o cravou em direção a Feng Xue!
Feng Xue ficou um pouco atordoado. Não esperava uma reação tão agressiva. Vendo que a lâmina estava prestes a perfurar seu coração, um clarão negro passou e Liyou já havia desviado o punhal com força. Num piscar de olhos, ela se moveu até o homem, agarrou-o pelo pescoço com extrema rapidez e o arrancou dos braços de Feng Xue!
A expressão de Liyou naquele momento era extremamente implacável — nada da gentileza de antes, nem mesmo a frieza habitual estava presente. Sua expressão sanguinária fazia parecer que ela era uma mensageira do inferno. A aura assassina que a envolvia fazia qualquer um estremecer!
Anhui e Feng Xue ficaram chocados com a transformação de Liyou. Era a primeira vez que viam Liyou tão assustadora. Naquele momento, realmente acreditaram que ela era uma zumbi sedenta por sangue! Zumbis eram conhecidos por sua crueldade e ausência total de humanidade. Sempre pensaram que isso era exagero das lendas. Afinal, olhando para Liyou, não parecia ser assim... mas agora, com ela parecendo um rakshasa sanguinário, um arrepio percorreu seus corações!
— Quer morrer, é? — A voz de Liyou parecia vir das profundezas do inferno gelado. Ela estava furiosa. Alguém teve a ousadia de tentar ferir uma de suas pessoas, bem na sua frente. Isso era imperdoável!
O homem, ainda preso pelas mãos de Liyou, exibia uma expressão de puro terror. Seu rosto empalidecia à medida que a força no pescoço aumentava. Ele se debatia, tentando desesperadamente se soltar daquele aperto fatal.
Mas a mão de Liyou apertava cada vez mais, e seu olhar permanecia gélido e assassino. Ninguém ali duvidava que ela estava prestes a esganar o homem até a morte.
— Imperatriz, a senhora realmente pretende estrangulá-lo? — Anhui se recompôs e falou em tom calmo. É claro que ele não impediria a Imperatriz de matar alguém desse tipo, mas queria que ela tomasse uma decisão com a mente fria. Aquele homem era o estrategista militar do Império Sang. Seria um desperdício matá-lo assim tão rápido.
Ao ouvir as palavras de Anhui, os olhos de Liyou piscaram levemente, e ela afrouxou o aperto. Mesmo assim, os olhos do homem reviraram e ele ficou à beira da morte.
Nesse momento crítico, Liyou soltou completamente o pescoço do homem, que caiu no chão, segurando o pescoço e tossindo violentamente. Já não tinha mais a postura feroz e orgulhosa de antes.
Liyou não sentia nenhuma piedade. Achava que ele merecia. Deu dois passos à frente e ficou diante dele. O homem recuou, encolhido de medo. Mas, como se lembrasse de algo, conteve o medo e ergueu o rosto pálido, dizendo com a voz trêmula:
— Cof, cof... você... cof... quem é você?
— Você não tem o direito de me fazer perguntas. E quanto ao que eu quero saber de você... — Liyou fez uma pausa proposital e um sorriso sinistro se formou nos cantos de sua boca, um sorriso capaz de congelar a espinha. — Pode ficar em silêncio... se acha que vai aguentar!
Ela não pretendia torturá-lo para arrancar informações. Na verdade, queria recrutar a inteligência do estrategista militar do Império Sang. E mesmo que ele não tivesse atacado Feng Xue, ela ainda assim o teria admirado por sua reação rápida e instintiva. Mas tentar ferir alguém dela, bem diante dos seus olhos? Isso não passaria impune. Ele precisava aprender a lição e assumir as consequências!
Naquele instante, Liyou estava fria e impiedosa. Dito isso, ela agarrou o homem pelos cabelos e o arrastou porta afora! Feng Xue e Anhui ficaram paralisados, observando. O homem, sendo puxado pelos cabelos, se arrastava no chão em desespero, tentando aliviar a dor. Nunca em sua vida tinha passado tanta vergonha.
Os guardas fora da porta se curvaram quando viram a Imperatriz sair. Eram soldados suicidas, designados exclusivamente para proteger a Imperatriz, inclusive no palácio.
— Esse homem é o estrategista militar do Império Sang. Levem-no para um bom interrogatório. Sem piedade. Se morrer, morreu! — Ela não se importava com dados sobre demografia ou população do Império Sang. O que a interessava era o homem em si — alguém muito habilidoso com estratégia militar. Mas havia tantos talentos no mundo... a perda de um não significava nada.
A aura assassina embutida nas palavras de Qianhe Liyou fez o homem tremer por inteiro. Seu rosto estava pálido, suas roupas desalinhadas. Mesmo assim, ele cerrou os lábios e a encarou com raiva. Liyou devolveu o olhar com desprezo, soltou seu cabelo e deixou os guardas levá-lo. Em seguida, voltou para o interior da residência sem hesitar.
— Mestra, a senhora está com raiva? — perguntou Feng Xue, ansioso. A cena de agora pouco o havia chocado.
— Não. — Por que estaria com raiva? Só estava... insatisfeita.
— Não? Mas a senhora parece furiosa. Me desculpe. Eu não esperava que ele fosse reagir tão rápido e acabar te irritando. Feng Xue vai ser mais cuidadoso da próxima vez. Por favor, não fique brava, tá bom? — A aparência furiosa de sua Mestra era assustadora. Ele jamais queria ver aquilo de novo.
— Já disse que não estou com raiva. E... você precisa, sim, ser mais cuidadoso no futuro. Se acabar se machucando, então pare de fazer as coisas por mim! Não preciso de gente ao meu redor que nem consegue cuidar de si mesmo!
Ao ouvir isso, Feng Xue inicialmente achou que ela estava o desprezando por ser inútil, por ter falhado em algo tão simples. Mas, depois de pensar melhor, percebeu claramente a preocupação nas palavras dela.
— Mestra... a senhora está preocupada comigo? — Feng Xue perguntou surpreso, com alegria evidente no rosto.
— Para de falar besteira. E da próxima vez, não fique parado feito um alvo fácil. Como um demônio raposa, não sente vergonha de reagir de forma tão burra assim? — Se ela evitasse Feng Xue novamente, aquele pequeno demônio idiota faria outra besteira. Não queria admitir se se importava ou não — todos pertenciam a ela. Naturalmente, os protegeria. Não queria vê-los feridos. Era tão difícil de entender?
Feng Xue se sentiu um pouco injustiçado. A situação tinha sido totalmente inesperada. Ele estava completamente desprevenido e quase foi esfaqueado à queima-roupa. Nem teria tido tempo de reagir, mesmo se quisesse.
— Vá descansar. O quarto ao lado está desocupado. — Enquanto os sentimentos nos olhos de Liyou mudavam, ela de repente percebeu uma expressão passando pelo rosto de Anhui. Ao lembrar da indulgência dos dois no meio da noite, não conseguiu evitar de dizer aquilo.
— …Sim. Feng Xue se retira. — Claro que ele não queria sair, mas sabia que não era hora de ser teimoso. Então se retirou em silêncio.
Liyou e Anhui ficaram sozinhos no quarto. Liyou se aproximou da cama e se sentou, falando baixinho:
— Descanse. Já está tarde da noite.
Anhui assentiu, puxou o cobertor e, timidamente, esticou a mão para segurar a dela — o gesto era bem claro. Os olhos de Liyou suavizaram um pouco. Toda a frieza de antes já havia desaparecido. Ela segurou a mão de Anhui e se deitou ao lado dele. Anhui ainda estava um pouco envergonhado e não se movia muito, mas Liyou virou-se e o abraçou, fechando suavemente os olhos.
Sentindo o hálito quente dela em seu ombro, Anhui quase chorou. O calor que ele esperava há tanto tempo finalmente havia chegado. Como não se emocionar? Ele não sabia quanto tempo aqueles dias durariam, nem se a Imperatriz um dia se cansaria dele. Só sabia que, naquele momento, estava incrivelmente feliz.
Enquanto os dois descansavam, havia uma pessoa, em algum lugar dali, que passou a noite inteira acordado, vivenciando a experiência mais dolorosa de sua vida.
Poder-se-ia perguntar: quanto tempo dura uma noite? Ele nunca achou que uma noite pudesse ser tão longa. Mas agora... parecia interminável. Não fazia ideia de quando o amanhecer chegaria.
Na Prisão Celestial da guarnição, dois soldados suicidas estavam torturando um prisioneiro para arrancar uma confissão. Mas, mesmo após aplicar quase todas as punições conhecidas, o homem não dizia uma única palavra. A dor intensa quase o fez morder os próprios lábios, e sua boca estava tão cheia de sangue que causava pavor em quem olhava. Mesmo assim, ele se recusava a falar. Ainda que desmaiasse e voltasse a si, não havia uma parte sequer de seu corpo que estivesse intacta.
— Se continuar em silêncio, não nos culpe por usar métodos especiais. As ferramentas de tortura desta prisão parecem cruéis, mas são apenas as básicas. Se não cooperar, não reclame do que virá a seguir. — A soldada responsável pelo interrogatório era especialista nesse tipo de tarefa. Só queria cumprir a missão dada pela Imperatriz. As ferramentas comuns da Prisão Celestial — chicotes, ferros em brasa, tornos e agulhas de aço — já bastavam para lidar com pessoas normais. Mas o estrategista do Império Sang era extremamente teimoso. Se ele continuasse assim, ela não hesitaria em recorrer a outros métodos...
***Capítulo 74: Café da Manhã para Três
— Feng Xue saúda a Mestra — Feng Xue segurava o café da manhã nas mãos e, após se curvar para fazer suas saudações, colocou o desjejum sobre a mesa ao lado e disse, em um tom cauteloso: — Mestra, Feng Xue percebeu que a senhora não trouxe nenhum atendente com você. Já que Feng Xue está hospedado aqui, ele servirá a senhora. A General Jiang ordenou que estes pratos fossem preparados. Inicialmente, ela queria convidá-la para comer com ela, mas Feng Xue pensou que a senhora provavelmente preferiria um ambiente mais tranquilo, então trouxe tudo para cá… está tudo bem assim?
Feng Xue temia que sua iniciativa desagradasse a Mestra, mas havia tomado essa decisão após muita ponderação. A Mestra não era uma pessoa comum e, na verdade, nem gostava de comer esse tipo de comida comum.
— En. Anhui, se estiver com fome, venha comer com a gente — Liyou não se importou com a iniciativa de Feng Xue e chamou Anhui para se sentar, mas Feng Xue ainda permanecia de pé, com cautela ao lado.
Liyou ergueu as sobrancelhas e disse:
— O que foi? Não quer se sentar?
Ao ouvir as palavras de Liyou, Feng Xue sorriu alegremente. Sentou-se com cuidado e olhou para Liyou com um par de pupilas prateadas puras; a emoção e a alegria em seus olhos estavam escancaradas.
O café da manhã entre os três foi bastante silencioso. Liyou bebeu apenas uma xícara de chá do início ao fim. Ela já havia tomado seu verdadeiro café da manhã mais cedo naquela manhã, e aquelas comidinhas variadas eram simplesmente intragáveis para ela.
Feng Xue também não gostava muito daquelas iguarias, mas ainda havia Anhui presente. Depois de trabalhar duro a noite toda, ele estava verdadeiramente faminto. A princípio, manteve-se muito contido, mas nenhum dos dois comia: um bebia chá, o outro bebia água. Por mais contido que estivesse, começou a se sentir constrangido...
— Vossa Majestade, Jovem Mestre Feng Xue... vocês conseguem até mesmo pular refeições assim? — Anhui não pôde deixar de perguntar, um pouco envergonhado. Tudo bem se eles não quisessem comer, mas o olhar da Imperatriz recaía sobre ele o tempo todo, propositalmente ou não. Normalmente, ele ficaria muito feliz por ter a atenção da Imperatriz, mas agora só conseguia sentir vergonha. O sorriso nos olhos dela era óbvio demais... parecia que estava rindo dele...
— Não se preocupe conosco, apenas coma — Liyou disse casualmente, dando um gole no chá.
A expressão de Anhui se contraiu. Por que sentia como se a Imperatriz estivesse zombando dele? Mas, mesmo sabendo disso, não havia nada que pudesse fazer.
Anhui colocou os hashis de lado e disse para Liyou:
— Imperatriz, este subordinado está satisfeito. Se a senhora já terminou, então este subordinado irá recolher tudo.
Embora ainda sentisse um pouco de fome, era melhor não continuar comendo naquele momento.
— Nada disso, coma mais — Liyou rejeitou intuitivamente a proposta de Anhui. Ao olhar para ele, percebia que ele ainda não estava satisfeito. Como poderia deixá-lo com fome? Ainda havia muitas tarefas a cumprir naquele dia. Ela se sentiria desconfortável se Anhui continuasse com o estômago vazio.
Anhui se sentia injustiçado por dentro. Eles não comiam e ficavam só olhando para ele. E mesmo assim, não comer não era uma opção? A Imperatriz estava claramente zombando dele! Mas, se não comesse, seria considerado desobedecer ordens?
Vendo a hesitação de Anhui, Liyou não disse mais nada. Apenas pegou seus hashis e colocou um pouco de comida no prato dele:
— Coma.
Dessa vez, era impossível para Anhui recusar. Mas, de repente, sentiu que talvez estivesse pensando errado. Embora a Imperatriz olhasse para ele com aquele ar de provocação enquanto comia sozinho, aquela frase não tinha a intenção de deixá-lo constrangido... era por preocupação...
— Coma até ficar satisfeito, ainda há muito o que fazer — vendo que Anhui ainda estava paralisado, Liyou teve que dizer mais algumas palavras. Refletindo sobre isso, Anhui concluiu que devia ser mesmo isso, e seu coração se aqueceu de repente. Começou a comer com os hashis.
Durante esse tempo, Liyou o observava devorar a comida ferozmente e naturalmente serviu-lhe uma xícara de chá.
— Coma devagar, um adulto assim não deveria engasgar — Por que esse homem às vezes parecia uma criança? Liyou sentia que estava vendo um outro lado de Anhui.
Força, resistência — essa fora sua primeira impressão sobre ele. Complexo de inferioridade, teimosia, lealdade, submissão — essas eram as características que ela havia percebido ao conviver com ele. E agora, havia um traço de tolice nesse Anhui puro, e ele parecia exatamente como uma criança...
Feng Xue observava tudo de lado, com uma inveja indescritível em seu coração. Já conhecia essa ternura da mulher havia muito tempo. Desde que ela o salvara, ele entendera que a ternura dela não estava nas palavras doces ou em gentilezas. A ternura dela se revelava no cotidiano — era calor e afeto que precisavam ser sentidos com o coração...
Ele já havia recebido um pouco dessa ternura, mas ansiava por mais. Não porque fosse ganancioso, mas porque esse tipo de ternura era viciante. Não conseguia evitar sentir falta desse calor, mas não importava se não pudesse recebê-lo agora. Sua vida era longa, e ele persistiria até o dia em que ela o aceitasse!
Após o café da manhã, Liyou mandou chamar o conselheiro militar capturado por Feng Xue. Todos esperaram cerca de um quarto de hora e o responsável por extrair a confissão apareceu com um homem coberto de sangue, em péssimo estado. As sobrancelhas de Liyou se ergueram, mas ela não disse nada. Apenas acenou com a mão para que soltassem o conselheiro militar, que caiu no chão.
— O que vocês descobriram? — Ela estava curiosa sobre esse estrategista.
— Respondendo à Imperatriz, a identidade deste homem é Sang Ziyan, o quinto príncipe do Império Sang. Ele também atua como conselheiro militar do exército do Império Sang. A família real do Império Sang tem uma tradição... — O soldado responsável por interrogar repetiu, ponto por ponto, as informações fornecidas por Sang Ziyan. — Além do segredo da família real, também conseguimos algumas informações sobre o exército deles, que serão bem úteis nesta guerra.
— En. Podem ir descansar — Ao ver os ferimentos do príncipe, Liyou sabia que seus soldados não haviam descansado a noite toda, então dispensou os responsáveis pela confissão, deixando o homem moribundo no chão.
Esse era o terceiro príncipe do Reino Sang que ela conhecia. Cada príncipe era muito diferente, assim como suas personalidades. Mas, em sua opinião, ainda preferia a gentileza frágil de Sang Zixin. Ele podia ser delicado, mas também sabia perseverar.
O homem caído no chão se mexeu, seus olhos meio abertos e muito fraco. Mas, ao ver Qianhe Liyou, seus olhos brilharam de repente — e logo se apagaram. Do que ele estava esperando? Aquela era a Imperatriz da Dinastia Qianhe, sua inimiga, e ele havia sido completamente humilhado por ela!
— Hmph, odeia zhen? — O olhar de Liyou percorreu o corpo de Sang Ziyan dos pés à cabeça, observando que não havia um único osso intacto. Parecia que ele tinha resistido por bastante tempo...
Ao ouvir as palavras de Liyou, Sang Ziyan levantou a cabeça com esforço, uma expressão de dor estampada no rosto pálido:
— Se quiser me matar ou arrancar minha carne, faça como bem entender. Já caí em suas mãos, não espero voltar vivo!
Cada palavra que dizia lhe causava uma dor extrema. Para evitar que mordesse a língua e cometesse suicídio, havia sofrido muito...
— Morrer é fácil demais. Zhen não quer ver você morto tão cedo. Que tal enviá-lo para fora dos portões do Desfiladeiro Yuling e mostrar ao povo do Império Sang como seus conselheiros militares foram reduzidos a esse estado deplorável? — Muitas pessoas temem a morte, mas há outras que não têm esse medo. No entanto, não ter medo da morte não significa não ter medo de mais nada.
— Um soldado pode ser morto, mas não desonrado! Já contei tudo que sei! Por que continuar me humilhando?! — Sang Ziyan não entendia por que estava sendo tratado daquele jeito. Se fosse apenas para extrair informações, aquilo não era necessário. Era uma humilhação deliberada. Será que tinham algum rancor pessoal contra ele?
A mente afiada de Sang Ziyan não conseguia entender, mas sentia que havia algo estranho.
Quando Liyou ouviu a pergunta, não sentiu necessidade de responder. Ela só queria humilhá-lo — ele, que quase machucou Feng Xue!
Feng Xue, por sua vez, pensou com cuidado e um brilho de surpresa surgiu em seus olhos:
— Mestra... foi por minha causa?
Ele sabia que sua Mestra se importava com ele, mas nunca imaginou que fosse tanto, a ponto de punir alguém que nem sequer havia conseguido machucá-lo... Feng Xue se perguntava: seria mesmo por ele?
— Hmph. Zhen nunca permitirá que alguém machuque os meus na minha frente. Vocês pertencem a zhen, ninguém mais tem o direito de tocá-los! — Uma verdade simples. Liyou não via nada de errado nisso. Para ela, era assim que o mundo deveria funcionar.
Ao ouvir isso, os primeiros sentimentos de Sang Ziyan não foram ódio ou arrependimento, mas inveja. Se alguém estivesse disposto a protegê-lo daquela forma, ele não teria mais nenhum desejo na vida.
Tanto Feng Xue quanto Anhui ficaram profundamente tocados, mas, com estranhos por perto, era inconveniente expressar qualquer sentimento. Em vez disso, apenas olharam para Liyou com olhos emocionados.
— Se querem me condenar, não se preocupem com os motivos. Se vocês são capazes de sequestrar alguém no meio da noite com esse tipo de artimanha sombria, então vão impedir a outra parte de revidar? Que lógica é essa no mundo?! — Sang Ziyan sentia inveja, mas também injustiça. Ele estava estudando a guerra no acampamento militar, quando sua visão escureceu e não soube mais de nada. Quando acordou, já estava num lugar estranho. Nem precisou perguntar para saber que aquilo não era boa coisa. Claro que queria agir primeiro — e agora isso era culpa dele?
— Zhen tem essa lógica — Liyou não falava por falar. Ela era assim: dominadora. Que lógica havia no mundo? Se ela achava que algo estava certo, então estava. Por que deveria se importar com a opinião dos outros?
Sang Ziyan estava furioso. Não conseguia entender como a Imperatriz de Qianhe podia ser tão irracional. Seria verdade o rumor de que ela era lasciva, tirânica e cruel? Não, não, esse rumor era falso. Mesmo ele, que só havia se encontrado com ela duas vezes, podia perceber o quão implacável ela era. Mas também percebia o quanto ela se importava com as pessoas ao seu redor — alguém assim não podia ser tão cruel como diziam os boatos...
— Faça o que quiser comigo! — Diante de uma pessoa tão autoritária, era inútil resistir. E ele já não tinha mais forças. Gastou quase toda a energia que lhe restava para dizer essas palavras, enquanto sentia o corpo ficando cada vez mais fraco, a visão escurecendo... as sombras ao redor começavam a se embaralhar, como se estivesse à beira de perder a consciência...
— Hmph! — Na verdade, Liyou só queria assustá-lo. Por que se daria ao trabalho de humilhar um homem? A punição da noite anterior já bastava.
— Feng Xue, leve esse homem até Jiang Hanyang. Ela cuidará disso daqui para frente.
— Entendido!
***Capítulo 75: Sondando em Todas as Direções
No mesmo dia, depois que Feng Xue levou Sang Ziyan embora, Liyou e Anhui começaram a inspecionar o Passo Yuling, desde os guardas da guarnição na fronteira até o povo comum. Liyou passou um dia observando e refletindo, mas sentiu que aquela guerra realmente não era algo bom. Não apenas desperdiçava mão de obra e recursos, como deixava muitas famílias na miséria e sem lar. A dor causada pela guerra não era só de uma geração, mas essa tristeza perduraria por três gerações. Havia muitas pessoas na fronteira que haviam perdido seus entes queridos — pais que perderam filhas, maridos que perderam esposas, crianças que perderam as mães, entre outras tragédias. Alguns jovens vigorosos entravam na batalha, e depois dessa guerra anormal, apenas incontáveis órfãos seriam deixados para trás.
— Anhui, se os Anbu Black Ops precisarem de pessoal, comece por esses órfãos. — Durante a guerra, esses órfãos costumavam ser as vítimas mais inocentes. Seus pais haviam morrido e, sem ninguém para cuidá-los, muitos morriam de fome ou congelavam até a morte. Muitas vidas desapareciam antes mesmo de entenderem o que era viver.
— Entendido, Majestade. Deseja que este subordinado recolha mais órfãos para treinamento? — Com a força atual dos Anbu Black Ops, não seria difícil acolher todos esses órfãos.
— Faça o melhor possível, mas não os trate de forma diferente só porque são órfãos. Não machuque pessoas com boas intenções. Eles não precisam da nossa piedade. — O tom de Liyou parecia um pouco indiferente, mas o significado por trás de suas palavras era extremamente pragmático. Nenhuma razão servia como justificativa para a decadência, e muitas pessoas alcançavam o sucesso por seus próprios esforços, não pela compaixão dos outros.
Anhui assentiu. Ele entendia esses motivos, pois também havia chegado até ali por seu próprio mérito, e a piedade dos outros apenas o deixava mais constrangido — não ajudava sua vida em nada.
Ambos saíram para uma inspeção vestidos de maneira comum e usando véus. Ainda assim, no Passo Yuling, que parecia um tanto desolado em meio ao caos da guerra, os dois atraíam olhares. No entanto, o local estava fortemente vigiado. Embora houvesse pessoas andando pelas ruas, todas falavam baixo e agiam com cautela. Mesmo que Liyou e Anhui chamassem alguma atenção, ninguém ousaria fazer algo indevido naquele momento.
Mas o fato de as pessoas não quererem causar problemas não significava que a cidade em guerra não tivesse nenhum. Liyou e Anhui estavam indo em direção a um acampamento de refugiados quando viram uma briga estourar entre os refugiados. Na verdade, não era bem uma briga. Para ser preciso, estavam espancando alguém. Três mulheres batiam em um homem que segurava uma criança nos braços. O homem estava encolhido no chão, protegendo a criança, enquanto as três mulheres o chutavam e xingavam.
— Droga, alguém que se vende também quer disputar comida com a gente? Vá embora com seu filho bastardo, sua vadia imunda... — uma das mulheres xingou o homem caído, e suas palavras grosseiras eram realmente difíceis de ouvir.
Ao ouvirem isso, Anhui franziu a testa, mas Liyou permaneceu parada, com o rosto inexpressivo. Havia muitos curiosos assistindo à cena, então Liyou e Anhui não chamaram tanta atenção.
— Uma prostituta e seu bastardo... só de estarem vivos já é um desperdício de comida. Era melhor que morressem logo, são imundos demais. — Outra mulher concordou, com um olhar extremamente desprezível. — Hmph, morrer seria pouco. Deviam nos servir enquanto estão vivos. Esse homem até que tem um rostinho bonito, comeu nossa comida esse tempo todo, não seria um desperdício não aproveitá-lo? — acrescentou a última mulher com um sorriso perverso, estendendo a mão para arrancar as roupas do homem.
Alguns homens desviaram o olhar, constrangidos. Algumas mulheres saíram, entediadas. Mas a maioria ficou, rindo e zombando.
Embora Anhui estivesse visivelmente incomodado, ele não agiu. Apenas desviou o olhar e fitou Liyou, esperando suas ordens, sem saber o que ela estava pensando.
Mas Liyou também ponderava. Ela não queria sentir pena dos fracos, e embora aquele homem estivesse claramente sendo humilhado, não sentia compaixão. Na verdade, sentia respeito por ele. Aquele homem tinha tenacidade. Protegia firmemente a criança nos braços e até mesmo aquele pequeno pedaço de pão cozido na mão da criança. Era seu desejo de viver, sua coragem de sacrificar tudo por quem amava. Só não sabia por quanto tempo mais ele conseguiria resistir. Suas roupas estavam rasgadas e o corpo cheio de cicatrizes. Pelas marcas, não era a primeira vez que passava por aquilo.
A guerra havia feito muitas pessoas perderem suas casas. Apesar das muralhas da cidade, pedras em chamas eram lançadas por catapultas, destruindo construções. Jiang Hanyang havia reunido os refugiados e fornecido comida, abrigo, roupas e transporte. Mas em tempos de guerra, a comida era escassa, e os refugiados recebiam apenas o suficiente para não morrer de fome. Uma boca a mais era uma porção a menos para alguém. Por isso, naturalmente, viam os outros com hostilidade — especialmente alguém como aquele homem, um prostituto. Mesmo em tempos de paz, já eram discriminados e humilhados.
O homem continuava agarrado à criança, mas o desespero em seu olhar só aumentava. Quando alguém tentou tirar a criança à força, ele disse, com tristeza:
— Deixem-me colocar a criança no chão, e farei o que quiserem.
As três mulheres riram perversamente.
— Devia ter obedecido desde o começo. Sempre temos que perder tempo com você. Se quer viver, seja esperto e suma com esse seu filho bastardo!
Com dificuldade, o homem se levantou, ignorando os insultos. Enrolou a criança num trapo e a deixou num templo ali perto, voltando silenciosamente.
As poucas roupas rasgadas que ainda restavam em seu corpo foram facilmente arrancadas pelas mulheres diante da multidão.
Em plena luz do dia, sem nenhum tipo de pudor. O homem parecia acostumado àquilo. Apenas fechou os olhos, sem reagir, como se fosse um pedaço de madeira, permitindo que fizessem o que quisessem.
Liyou observava friamente, sem intervir, sem se indignar. Era impossível adivinhar o que ela pensava ou faria a seguir.
Anhui permanecia atrás dela, com a cabeça levemente baixa, ignorando aquela cena difícil de assistir. Embora não soubesse o que a Imperatriz planejava, sentia que ela não devia estar tão indiferente diante daquilo.
Depois de umas sete ou oito mulheres, ninguém mais se aproximou. Afinal, nem todos tinham coragem de fazer algo tão desprezível. O homem, deitado no chão, lentamente abriu os olhos. Ao perceber que ninguém mais vinha, forçou um sorriso fraco, sentou-se com esforço e caminhou em direção ao lugar onde havia deixado a criança. As pessoas por quem passava — homens e mulheres — imediatamente se afastavam, como se ele fosse a peste, como se fosse tão sujo que não podiam nem olhar.
O homem claramente percebia esses olhares, mas continuava caminhando em direção à criança, sem demonstrar reação alguma. Um grupo de crianças de sete ou oito anos começou a atirar pedras nele, rindo:
— Homem mau, nem roupa usa! Homem ruim, vamos bater nele!
As pedras doíam, e ele franzia o cenho a cada impacto. Mas não reagia, nem olhava para os pequenos. Agia como se não fosse com ele.
Passo a passo, caminhava com dificuldade, como se estivesse tomado por uma dor indescritível. Ainda assim, não soltava um som sequer. A criança parecia estar dormindo, nem mesmo os barulhos de antes a haviam acordado. Segurava inconscientemente o pão, que já havia tocado o chão e tinha pequenas pedras grudadas.
O homem pegou a criança no colo e se encostou à parede. O movimento pareceu feri-lo em algum lugar. Ele franziu a testa, mas não gritou. Apenas acariciou a criança com suavidade, com um sorriso fraco, dizendo:
— Fique tranquilo, durma mais um pouco. Papai vai limpar o pão e você come quando acordar.
Enquanto falava, tirou o pão da mão da criança, que mesmo dormindo, segurava com força. Foi preciso um certo esforço para soltá-lo. Ele então limpou cuidadosamente os pedregulhos, soprou o pão algumas vezes e o colocou de volta nas mãos da criança. Depois, se encostou à parede e fechou os olhos, exausto.
Quanto a esse comportamento, ninguém mais prestava atenção. Após o que aconteceu, todos pareciam ter voltado à apatia habitual. Sentaram-se em silêncio, cuidando das próprias coisas. Ninguém se importava com a situação daquele homem.
Liyou ainda estava parada ali, quieta. E Anhui, vendo que ela não se movia, permaneceu ao seu lado.
Cerca de trinta minutos depois, a criança acordou. Tinha por volta de três anos. Embora não fosse muito esperta ainda, já entendia algumas coisas. Abriu os olhos e disse que estava com fome. O homem imediatamente apontou para o pão na mão da criança e disse:
— Bobinho, você está segurando o pão e ainda diz que está com fome? Vá, coma logo, assim não sentirá mais fome.
A voz do homem era muito gentil, incrivelmente suave — como o amor mais terno de um pai por seu filho.
— Papai, você também come, come o pão. — A criança sorriu, e seu sorriso era incrivelmente adorável. Estendeu o pão para o pai, querendo que ele comesse primeiro…
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