Capítulos 85 a 87


 Capítulo 85: A Reunião do Harém – Parte II

Com a ordem da Imperatriz, o atendente estava prestes a se levantar enquanto amparava Murong Xuanhe. Embora ele estivesse embriagado, ainda mantinha certa consciência. Quando foi apoiado, empurrou o atendente com descontentamento. Mesmo com os olhos bem fechados, ainda possuía muita força. Em um momento de descuido, o atendente deixou que ele se soltasse e Murong Xuanhe caiu no chão de forma instável. Por sorte, Sang Zixin, que estava sentado ao lado, estendeu a mão a tempo, e ele conseguiu evitar uma queda desastrosa. O atendente ficou um pouco assustado e imediatamente ajudou Murong Xuanhe a se levantar. Com a ajuda de um servo do palácio, os dois o escoltaram de volta aos seus aposentos.

Depois dessa pequena comoção, somada às três taças de vinho anteriores, todos já estavam com os rostos rosados e, após mais algumas mordidas de comida, começavam a se sentir meio satisfeitos.

— Não fiquem só olhando. Depois de tanto vinho, comam um pouco dos pratos. — Luo Weiqing, como Consorte Real, naturalmente tinha o direito de tomar a frente. Vendo que todos haviam mal tocado na comida e já estavam embriagados, embora não soubesse quais eram as intenções da Imperatriz, ainda assim incentivou todos a comerem mais um pouco, para evitar que caíssem de vez na embriaguez por obra das maquinações dela. Se alguém bebesse demais, não seria bom se isso se espalhasse na manhã seguinte.

Todos assentiram e pegaram os hashis para comer. Liyou ergueu as sobrancelhas e observou a cena à sua frente. Um leve sorriso se escondia no canto dos lábios. Também provou um dos pratos, mas o gosto em sua boca não era dos melhores — era como mastigar cera. O cheiro de sangue era mais estimulante para ela, e seus olhos percorreram novamente a multidão, vagando de pessoa em pessoa, mas com um leve traço de sede de sangue e crueldade em seu olhar.

Sentindo o olhar perverso dela, os consortes abaixaram as cabeças de forma constrangida, sem ousar encará-la. Aquele olhar parecia consumir tudo, dando a sensação de que eles eram apenas cordeiros diante de um lobo sedento por sangue.

— Já que todos estão reunidos hoje, Zhen tem apenas uma coisa a anunciar. Decidi conceder a Anhui o título de Consorte Imperial Ying (Sombra). A partir de agora, todos serão uma família, e Zhen espera que possam se dar bem.

Anhui não esperava que a Imperatriz fosse anunciar algo assim em tal ocasião. Todos os olhares se voltaram para ele, deixando-o sem reação. Não sabia como responder e apenas se levantou, atônito, olhando para os olhos da Imperatriz, como se implorasse por ajuda.

— Anhui, tem algo a dizer a todos? — Ela não esperava que ele fosse eloquente ou refinado, mas em uma ocasião como essa, ele precisava dizer algo, em vez de deixá-la falar por ele.

— Sim… — Diante da ordem da Imperatriz, ele não teve escolha senão concordar. Pensou por um momento e disse:

— Imperatriz e vossas senhorias, Anhui sabe que vem de origens humildes e não é digno do favor da Imperatriz. Mesmo assim, ela não desprezou Anhui e ainda permitiu que eu jantasse com vossas senhorias. Isso é uma bênção que só poderia vir após muitas gerações de cultivo. Só espero poder servir bem à Imperatriz no futuro.

Não era incomum que a Imperatriz concedesse um título a alguém. Mas esse consorte era um pouco especial — afinal, era apenas um guarda-costas. No entanto, a ordem da Imperatriz era um decreto imperial, e ninguém podia desobedecer. Além disso, por mais que alguém estivesse descontente em seu coração, de que adiantava? E, na verdade, nem era que estivessem completamente relutantes — era que os sentimentos em seus corações eram complicados demais para serem explicados em poucas palavras.

Os consortes ficaram em silêncio, mas fizeram o máximo para ajustar suas expressões e aparentar que aceitaram calmamente o que aconteceu. A Imperatriz e seus consortes já tinham algumas suposições em mente. Desta vez foi Anhui. Estimava-se que, da próxima, seria o pequeno príncipe do Reino Sang ou Feng Xue.

Como Consorte Real e governante do harém, era natural que Luo Weiqing tomasse a palavra nesse momento:

— Anhui, os consortes da Imperatriz não são como pessoas comuns. Felizmente, você já está bem familiarizado com o palácio. Mas, se houver algo que não entenda, pode vir falar comigo.

Como Luo Weiqing havia convidado todos os presentes hoje, naturalmente aprovava e aceitava a presença deles. Embora parecesse que o status de Anhui não fosse adequado para entrar no harém, isso era uma questão trivial para a Imperatriz. Luo Weiqing era astuto e jamais diria algo que pudesse desagradar a ela.

— Sim, agradeço ao Consorte Real. — As pessoas no harém admiravam muito o caráter de Luo Weiqing, e Anhui também. No passado, quando a encantadora guifei fazia o que bem queria, o Consorte Real havia protegido todos a cada passo. Agora que a guifei havia sido banida ao Palácio Frio, o Consorte Real era quem presidia o harém. O harém estava em paz e ninguém sofria injustiças. Tudo isso era mérito do Consorte Real.

— Não há de quê, isso é obrigação de bengong. Majestade, seria apropriado que o Consorte Imperial Ying ficasse com o Palácio Canghe? O ambiente lá é gracioso e único. É uma pena que esteja vazio há tanto tempo. Se ele gostar, que seja concedido a ele.

Anhui olhou para a Imperatriz. Embora ela tivesse dito mais cedo, naquela tarde, que queria se casar com ele e conceder-lhe um título, ele ainda não sabia, devido ao seu status especial, se deveria mesmo largar tudo e entrar no palácio como consorte. Ou, como a Imperatriz havia sugerido, talvez fosse apenas um consorte nominal, sem precisar viver no harém como os outros. Anhui não sabia, e não teve mais chance de perguntar. Com o Consorte Real falando, restava apenas ver como a Imperatriz responderia.

— Amanhã, pode levar Anhui para dar uma olhada. Se ele gostar, pode morar lá. Todo consorte deve ter seu próprio palácio, e você poderá viver no Palácio Imperial a partir de agora. Anhui já tinha uma residência no palácio, mas aquela era destinada à Anbu, não era realmente um lar. Ter um lugar só dele é bom para cultivar um senso de pertencimento.

— Sim, Anhui obedece. — Era apenas um lugar para viver, pouco importava se gostava ou não. Mas… o que significava ter uma família? Ele realmente poderia considerar esse imenso harém como uma família?

— Anhui, o que Zhen lhe disse naquele dia ainda é válido. Pode continuar fazendo o que faz agora. Zhen não lhe concedeu o título com intenção de restringi-lo. Apenas queria que você... — Liyou olhou para todos à frente e continuou com seriedade: — E todos vocês aqui, este harém não é uma prisão. Não preciso manter um bando de homens infelizes como reféns. Apenas digam a Zhen o que querem fazer, mas pensem bem... o que é que realmente querem.

As expressões na multidão variavam bastante, e Liyou percebeu cada uma delas. Não disse mais nada, apenas pegou sua taça e bebeu mais uma vez, com as intenções sombrias em seus olhos abismais se tornando ainda mais intensas.

— Por que a Imperatriz diz isso? Como este consorte e os outros poderiam ver este palácio como uma prisão? Hehe, o tratamento aqui é bem melhor do que o de uma prisão. — Qin Ning realmente surpreendeu a todos com uma única frase, e os rostos de todos mudaram completamente. Até a expressão de Liyou esfriou.

Luo Weiqing olhou para Qin Ning com certa preocupação. Por que a Consorte Nobre Ning sempre fazia algo preocupante? Não era como se ele não conhecesse o temperamento da Imperatriz. Que vantagem havia em provocá-la?

— Melhor do que uma prisão? Parece que está bastante satisfeito. — Qin Ning, ah, Qin Ning… por que você não consegue se comportar? Sempre precisa provocar? Talvez ficasse infeliz se não provocasse? E quanto à provocação de Qin Ning, Liyou não deixou por menos. Além de um pouco irritada, estava até intrigada. Afinal, poucos ali ousavam falar com ela daquela forma. Qin Ning era diferente. Ela ainda se lembrava da primeira vez que o viu — ele ficou à sua frente querendo protegê-la. Na verdade, ele tinha um temperamento puro e genuíno, apenas não sabia se expressar bem, e era reservado demais.

Qin Ning ficou atônito com a pergunta leve, mas séria, de Liyou. Seus olhos se encheram de raiva! Satisfeito? Como poderia estar satisfeito? O único motivo pelo qual entrou no palácio foi porque queria uma vida tranquila, longe das disputas mundanas. Não queria mais ser moeda de troca. Tudo estava indo tão bem, mas, de repente, tudo mudou. A Imperatriz já não admirava ou respeitava a vida que ele levava antes. Em vez disso, parecia dificultar tudo. Isso o fazia se sentir impotente, perturbando sua vida e complicando seus sentimentos. Ele já não conseguia olhar para ela com indiferença, nem viver alienado como antes. Ele havia mudado, e essa mudança até o surpreendia.

— Este consorte deseja sair do Palácio Imperial para dar uma volta, está bem? — Sabia que o pedido jamais seria concedido, mas ainda assim perguntou. E nem era que quisesse sair de verdade, apenas queria provocar a Imperatriz mais uma vez. Queria ver o que ela faria com ele. Já não bastava ter sido jogado no lago e do penhasco? Será que agora ela o mataria?

Qin Ning decidiu que, já que a Imperatriz não gostava mais dele e agora tinha novos favoritos, não suportaria mais isso. Embora os encontros passados estivessem gravados em sua mente, ele era o tipo de pessoa que se recusava a admitir derrota. Jamais cederia, jamais abaixaria a cabeça diante dela.

— Só quer sair para dar uma volta? — Liyou suspirou em seu coração, sentindo-se um pouco impotente. Não sabia o que Qin Ning estava pensando, mas parecia que ele estava apenas sendo impulsivo, sem considerar as consequências. Estava muito confusa sobre o motivo de tamanha imprudência da parte dele.

— Sim. — Qin Ning também sentia que estava sendo impulsivo demais, mas, diante da situação, não conseguia manter a calma.

— Muito bem. Já que Zhen disse isso, será efetivo imediatamente. Se quiser sair do palácio, pode sair a qualquer momento. Este palácio não é uma gaiola, e não quero manter ninguém preso à força! — Se alguém não queria ficar, ela naturalmente não o forçaria. Desprezava a ideia de manter um homem à força.

Todos notaram a expressão chocada de Qin Ning. Talvez os demais estivessem igualmente surpresos. O palácio era vasto como o mar — ninguém jamais havia cogitado realmente a possibilidade de sair. Mas a Imperatriz concedeu o pedido de Qin Ning. O que isso significava?

— Embora possa sair, Zhen lhe concedeu essa graça. Se quiser voltar, pode retornar a qualquer momento. — Dessa vez, ela havia aprendido. Não queria ter que ouvir novamente que Qin Ning havia tentado suicídio fora dos portões. Não tinha tempo de sair correndo para salvar ninguém toda hora.

— Pode voltar...? — Qin Ning ficou confuso. O que significava deixá-lo sair, então?

— Certamente!

***

Capítulo 86: O Reencontro do Harém – Parte III

— Caso contrário? Você acha que se Zhen permitir que você deixe o Palácio Imperial, eu vá me divorciar de você? Não se esqueça de que nunca houve uma consorte divorciada no Harém Imperial desde os tempos antigos. O destino de uma consorte sem o favor do imperador é apenas morrer no Palácio Frio. — O Palácio Imperial não era um lugar onde se podia entrar e sair à vontade, especialmente para as consortes do harém. Uma vez que entrassem, mesmo que morressem, só poderiam morrer ali dentro. No entanto, Liyou não se importava necessariamente com essas regras. Essas regras haviam sido feitas por outros, mas o que ela estava disposta a fazer era o que realmente importava.

Naturalmente, Qin Ning estava ciente dessa realidade, e por isso se sentia ainda mais confuso. Por que a Imperatriz permitiria que ele saísse do Palácio? Seria mesmo porque ele havia feito tal pedido?

— Vossa Majestade, esta consorte também pode sair do Palácio para dar uma olhada? — Os olhos de Li Qujun brilharam intensamente. A vida no palácio era entediante demais, e ele havia crescido fora do Palácio Imperial. Embora, como homem, não tivesse tantas oportunidades de explorar o mundo exterior, ele conseguia, de vez em quando, fazer um passeio. Desde que entrou no palácio, esperava pelo dia em que poderia dar um passo para fora novamente e visitar mestres renomados de qin, além de coletar partituras para aprimorar sua arte.

— Para que você quer sair do Palácio? — O mundo exterior não estava exatamente em paz, e a dinastia estava em guerra com outros países. Qin Ning tinha habilidades marciais como forma de proteção, mas Li Qujun não.

— Esta consorte sempre desejou visitar mestres renomados de qin e espera poder aprender mais. — Li Qujun observava atentamente a expressão da Imperatriz, sentindo apreensão no coração. Afinal, esse pedido era de fato ousado, e ele jamais o faria em outra ocasião.

Liyou olhou para Qin Ning, depois para Li Qujun e, por fim, para todas as consortes que a encaravam com expressões variadas. Ela ponderou por um momento e disse:

— Alguém mais deseja sair do Palácio para um passeio?

Todos os presentes se entreolharam, mas ninguém respondeu. Feng Xue, Anhui e Yun Tailing já eram bastante livres em suas rotinas e não tinham dificuldade em sair do Palácio. Naturalmente, não havia necessidade de levantar essa questão neste momento. Luo Weiqing, como Consorte Real, também não teria tais desejos. Era alguém que se contentava com o ordinário e, além disso, não achava a vida no Palácio tediosa ou entediante. Como Imperatriz, Liyou também tinha muitas responsabilidades e não se importava muito com o mundo fora do Palácio. Quanto aos dois restantes, Sang Zixin e Luo Xingchen, sempre foram do tipo reservado e silencioso. Esse silêncio, na verdade, era um modo de ignorarem a própria existência. Especialmente Sang Zixin, que sempre achava que não era digno de participar de ocasiões como essa. No entanto, era uma rara chance de ver a Imperatriz, então ele não teve escolha senão comparecer.

— É possível sair do Palácio, mas para garantir a segurança de vocês, Zhen enviará Guardas das Sombras para protegê-los. Vocês são consortes de Zhen, nenhum acidente pode acontecer! — A visão de mundo no Palácio era limitada demais, e ela acreditava que vivenciar o mundo exterior ampliaria os horizontes desses homens. Assim como Feng Xue havia crescido, essas pessoas ainda precisavam amadurecer.

— Agradeço à Vossa Majestade pela graça imperial! — Li Qujun ajoelhou-se para agradecer, tão surpreso e alegre que seus sentimentos ficaram evidentes em sua fala. Se no passado seu afeto pela Imperatriz era porque ela era sua esposa, seu céu, e alguém a quem ele estava disposto a obedecer e se entregar, agora, seus sentimentos por ela continham calor, admiração e estavam repletos de afeto e adoração. Ele não sabia quando isso havia mudado, mas a Imperatriz já não parecia mais tão assustadora, e sua sombra havia há muito se alojado em seu coração.

Li Qujun sempre soube que a Imperatriz preferia sua forma de tocar qin em relação aos outros. Talvez, sem seu qin, ele sequer fosse notado por ela. No passado, ele odiava tocar. Depois de entrar nesse profundo Palácio, sentiu-se como um pássaro com as asas cortadas, que não podia mais voar livremente. Mas agora, ele se sentia feliz por ter se casado com uma mulher tão digna. Ele a admiraria de verdade, a obedeceria, respeitaria e amaria — e se tornaria alguém que pertencia a ela.

— Pequeno coitado, você pode ir junto com o Nobre Consorte Li e também com o Nobre Consorte Luo. Vocês três podem sair juntos. Zhen enviará alguém para protegê-los. No entanto, durante a guerra, é melhor manterem um perfil discreto. — Segundo suas investigações, Sang Zixin havia permanecido dentro do Palácio Imperial do Império Sang por toda a vida e nunca havia saído. Embora talvez ele não sentisse desejo pelo mundo exterior, ainda assim seria benéfico vivenciá-lo. As experiências das pessoas se enriquecem conforme seus horizontes se ampliam. Quanto a Luo Xingchen, Liyou não compreendia muito bem por que ele sempre parecia tão melancólico. Em sua opinião, Luo Xingchen era um candidato mais adequado para sair e relaxar do que Qin Ning. Portanto, já que outros sairiam, quanto mais gente, melhor.

Sang Zixin, chamado de "pequeno coitado" pela Imperatriz, estava na verdade bem diferente de seu antigo eu. Talvez fosse por causa da vida tranquila no Palácio e pela ausência de agressões, ele já não precisava mais viver com medo. Seus traços nobres se tornaram ainda mais nítidos e harmônicos. Seu rosto, tão redondo quanto pérolas e tão liso quanto jade, agora possuía três partes de delicadeza, três partes de graciosidade e três partes de fragilidade. Aquela aparência lastimável que ele tinha antes desaparecera, e isso deixou Liyou bastante satisfeita.

Ao ouvir o que a Imperatriz disse, Sang Zixin não soube como reagir. Raramente tinha opiniões próprias e tampouco desejos ou expectativas. O mundo fora do palácio era estranho demais. Será que ele poderia mesmo sair e ver com os próprios olhos?

Por outro lado, os lábios de Luo Xingchen se moveram, como se quisesse dizer algo, mas sob o olhar atento de Liyou, ele não disse nada. Já que a Imperatriz havia pedido que ele saísse do Palácio para dar uma olhada, então ele sairia. No fim das contas, não importava onde estivesse.

Ninguém se opôs, e as sugestões de Liyou foram naturalmente aceitas. Os pratos na mesa já estavam um pouco frios e Liyou encorajou todos a comerem mais. Ela tomou mais duas taças de vinho sozinha e, embora todos estivessem comendo, seus olhos, sem querer, se voltavam para ela com frequência. O ritmo com que Liyou bebia começou a preocupar a todos, e no fim, foi Luo Weiqing quem não aguentou mais e disse baixinho:

— Vossa Majestade, não beba tanto, fará mal à sua saúde.

Liyou sorriu levemente. Mesmo que tomasse mais alguns barris, seu corpo não sofreria. Mas ao ver a expressão preocupada de todos, achou tudo aquilo engraçado. Ainda assim, o vinho não era fraco, e ela já começava a se sentir leve como uma pluma.

— Não se preocupem com Zhen, comam mais. — Depois de dizer isso, Liyou tomou mais uma taça de vinho. Todos não tiveram tempo de reagir ou dizer algo, e só puderam assistir a tudo impotentes.

Liyou pousou a taça vazia, olhou ao redor e um sorriso travesso apareceu em seu rosto:

— Zhen está curiosa para ver como vocês todos ficam quando estão bêbados...

Aqueles homens já eram deslumbrantes, mas agora que ela estava embriagada, a cena parecia ainda mais encantadora aos seus olhos. E ela percebeu que estava um pouco alterada, e seu olfato havia se aguçado. O aroma emanado por aqueles ao seu redor a fazia se sentir faminta novamente, mesmo tendo acabado de se alimentar. Sabia que não estava realmente com sede, mas aqueles perfumes eram tão tentadores que ela mal conseguia conter seus desejos.

As palavras de Liyou fizeram as orelhas de todos corarem, e sentiram que havia um tom de sedução em sua fala. Tamanha ambiguidade fez suas imaginações dispararem.

O banquete continuou envolto por essa atmosfera ambígua até o fim. Liyou bebeu mais algumas taças de vinho, e embora seu rosto estivesse apenas levemente corado, sua expressão se tornara cada vez mais lasciva. Ela, no entanto, não disse mais nada, e isso fazia os demais corarem com os corações acelerados. Após o jantar, todos tomaram chá juntos. Liyou apenas observava a cena com um sorriso no rosto, deixando que conversassem sobre trivialidades até o horário de xushi (entre 19h e 21h), quando então todos se retiraram.

— Vossa Majestade... vai dormir com esta consorte esta noite? — Luo Weiqing não conseguiu evitar o constrangimento ao ver que todos já haviam partido, mas a Imperatriz não demonstrava qualquer intenção de sair.

— Você quer que Zhen fique aqui? — Liyou já sabia a resposta em seu coração, mas ainda assim queria ouvi-la da boca de Luo Weiqing.

— É uma bênção para esta consorte poder servir à Imperatriz. Naturalmente, esta consorte espera que Vossa Majestade possa permanecer aqui. — Embora se sentisse um pouco envergonhado ao dizer isso, aquelas eram palavras sinceras.

A Imperatriz estava mudando cada vez mais, e isso o fazia se aprofundar cada vez mais nesse sentimento, sem conseguir se libertar da prisão do amor.

Liyou sorriu e puxou Luo Weiqing para um beijo profundo. O cheiro de álcool deixou Luo Weiqing atordoado. Ele também havia bebido muito e, naquele momento, já se sentia um pouco tonto. Mas a Imperatriz havia bebido ainda mais, e ele não sabia se ela estava confortável ou não... Mesmo sendo beijado, Luo Weiqing não conseguia evitar esses pensamentos.

— Distraído? Estar distraído nesse momento é um crime que merece punição. — Liyou percebeu o estado distraído de Luo Weiqing e disse isso com um leve sorriso.

— Vossa Majestade... seria melhor beber menos no futuro. O cheiro de vinho no seu hálito faz esta consorte se sentir meio embriagada... — Luo Weiqing confessou, com o rosto corado.

— Ficar bêbado é melhor. Fica-se mais atraente assim. — Liyou beijou o canto dos lábios de Luo Weiqing, o desejo em seus olhos se acendendo aos poucos. Enquanto conversavam, ela o guiava lentamente para a cama...

Logo após a meia-noite, Liyou abriu os olhos lentamente. Luo Weiqing já dormia profundamente, mas ela não conseguia dormir. O álcool ainda corria em seu corpo e, embora aquele corpo fosse originalmente de um humano comum, após fundir-se completamente com ele, havia mudado pouco a pouco com a influência de sua energia espiritual. Os resquícios de álcool não se dissipavam, e mesmo depois de mais de duas horas, ela ainda se sentia quente e inquieta, o que a impedia de descansar.

Como não conseguia dormir, levantou-se. Liyou cobriu Luo Weiqing com o edredom, vestiu uma roupa qualquer e desceu da cama. Havia uma serva do lado de fora dos aposentos, que se apressou em fazer uma reverência ao vê-la sair, mas foi interrompida pelo olhar de Liyou.

— Não precisa. Zhen vai apenas dar uma volta.

A serva assentiu nervosamente e não ousou sequer respirar até que a Imperatriz desaparecesse de vista.

Embora já fosse primavera, as noites ainda estavam um pouco frias. Liyou refletia. Já fazia mais de meio ano que estava ali. No passado, meio ano passaria num piscar de olhos. Mas agora, parecia que muitas coisas haviam acontecido nesse período. A encantadora guifei, a abdicação, Luo Yu, o caos da guerra, Anhui, Feng Xue... várias sombras passaram por sua mente, deixando marcas indeléveis. Pensando bem, as experiências desses seis meses pareciam mais ricas do que as de mil anos atrás. Não pôde evitar um suspiro. O tempo era realmente algo extraordinário. Não podia ser medido por sua duração, mas sim pela vivência. Há coisas que você nunca pode imaginar como é sentir, até que as vivencie. Assim como agora, tudo o que ela tinha era algo que jamais havia previsto. E esse sentimento era ainda mais maravilhoso e inefável — algo que palavras não conseguiam descrever...

***

Capítulo 87: Concedido o Título de Concubino Imperial

Liyou pensou em muitas coisas diferentes e foi tomada pela emoção. A brisa fresca da noite acalmava seu estado de irritação, e ela estreitou levemente os olhos. Encostou-se no tronco da árvore, sentindo-se um pouco sonolenta.

Embora ainda houvesse algumas luzes acesas no palácio durante a escuridão da noite, ele estava desprovido de pessoas. Liyou fechou os olhos e ampliou o alcance de sua audição. Parecia conseguir ouvir um leve ronco, mas o que predominava era o som dos insetos e da brisa. Em seu estado sonolento, Liyou pensou no que dissera durante o banquete. Ela havia dito a Anhui para tratar o palácio como um lar, mas quem sabia quantos anos de solidão e desolação esse vasto palácio havia suportado? Havia ali um forte cheiro de sangue, e incontáveis almas clamavam em agonia. As lutas entre esses seres humanos eram mais sanguinárias e ferozes do que as dos zumbis, tudo por causa de uma única palavra: desejo.

Este Palácio Imperial não era um lugar para se viver, tampouco era o lar da Imperatriz. Ele apenas representava a autoridade suprema da corte imperial, decidindo vida e morte, o ápice da glória e do esplendor. Pergunte a qualquer um: quantas pessoas conseguiam enxergar além do encanto do poder?

Pensando nisso, Liyou sorriu com os olhos ainda fechados. O sorriso era calmo e despreocupado, e no meio da noite, o sorriso dessa zumbi não causava inquietação, mas sim uma sensação de conforto e tranquilidade. Seria isso um pequeno milagre?

Mas não havia ninguém para apreciar o sorriso de Liyou. A luz da lua caía espessa, e Liyou interrompeu seus devaneios e adormeceu encostada no tronco da árvore, deixando que a brisa dissipasse o álcool. Seu corpo relaxava.

...

Sob a expectativa da nação, finalmente chegou uma boa notícia das linhas de frente. Mu Qingwan liderou pessoalmente 150.000 soldados para se encontrar com os 100.000 soldados de Jiang Hanyang. Levaram apenas três dias para conquistar a fronteira do Império Sang. Sob a liderança dos dois, os 250.000 soldados marcharam rumo à cidade imperial do Império Sang. No caminho, conquistaram três cidades de uma só vez, com um ímpeto imparável. Todos no Império Sang ficaram chocados. Dizia-se que, ao ouvir a notícia, a Imperatriz do Império Sang ficou tão furiosa que matou três oficiais de uma só vez e ameaçou ir pessoalmente ao campo de batalha para ver o quão poderosa era de fato a tropa de Qianhe.

Liyou ouviu tais boas novas do fronte no salão imperial, com uma expressão serena no rosto. Dava às pessoas a impressão de que tudo havia acontecido como esperado, o que fez com que todos os ministros presentes a admirassem ainda mais. Agora, a imagem de Liyou na mente desses ministros era digna da mais profunda reverência.

— Majestade, nosso exército já penetrou profundamente no Império Sang. Qual será o próximo plano de Vossa Majestade? — Li Yao, que sempre fora calma, estava um pouco empolgada desta vez. Embora a guerra ainda não tivesse terminado e muitas coisas fossem incertas, Li Yao acreditava que o desfecho da guerra não traria grandes surpresas. Mas agora, era preciso considerar como lidar com tudo depois da guerra, como a questão da tomada dos territórios do Império Sang!

— Próximo plano? Ministra Li ainda não compreende as intenções de Zhen?

Liyou e Li Yao trocaram olhares, seus olhos se encontrando no ar, o significado evidente.

— Esta ministra compreende e obedece. Irei providenciar tudo imediatamente!

A Imperatriz era extremamente dominante, e o que dissera na corte imperial naquele dia havia chocado o mundo. Desde que a batalha começou e já havia obtido resultados tão impressionantes, não havia chance de a Imperatriz recuar. Mesmo ao imaginar, com o temperamento da Imperatriz, era certo que ela levaria essa guerra até o fim, se necessário. Mesmo que o Império Sang buscasse discutir tratados de paz, o resultado provavelmente não seria animador. Mas esse pessimismo era algo reservado apenas ao Império Sang. Após essa guerra, a Dinastia Qianhe se tornaria famosa em todos os cantos, e sua Imperatriz seria conhecida como um mito, uma lenda. O Império Qianhe se tornaria o mais prestigioso entre os cinco grandes países!

— Muito bem, apenas lembre-se dos arranjos que fez. Não enfraqueça o prestígio e a reputação de Qianhe.

Na guerra contra o Império Sang, ela definitivamente faria com que eles pagassem o preço. Se iniciava uma guerra, ela arcaria com as consequências. Ela não era alguém faminta por guerra, mas, uma vez começada, tudo o que viesse depois não caberia ao Império Sang decidir.

— Sim, esta ministra compreende!

Com as palavras da Imperatriz, ela agora podia agir com liberdade!

Liyou olhou para Li Yao com satisfação. Quem dizia que era difícil ser Imperatriz? Pelo menos para ela, era muito fácil. Tinha pessoas que a ajudavam em tudo, grande ou pequeno, e só precisava tomar uma decisão de vez em quando. Havia sempre alguém para executar sua vontade de forma eficiente. Quanto à questão da autoridade dos oficiais, ela não se preocupava. Ficava feliz e tranquila por poder empregar pessoas em quem confiava.

Após a dissolução da corte imperial, os assuntos relativos ao Império Sang foram apenas brevemente discutidos. Especulava-se que, ao saber disso, o povo do mundo acharia cômico ou surpreendente.

Além da guerra com o Império Sang, outro assunto foi abordado na corte: Liyou anunciou que Anhui receberia o título de Concubino Imperial. Muitos não sabiam quem era Anhui, e Liyou não revelou sua identidade. Por causa disso, Anhui se tornou o consorte mais enigmático na mente de todos. Desde os tempos antigos, a corte e o harém estavam intrinsecamente ligados. Cada novo integrante no harém representava a ascensão de uma nova família. Sempre foi assim. Não era de se estranhar que os oficiais se preocupassem tanto com os assuntos do harém.

Mas, independentemente do que pensassem, o fato de Anhui se tornar Concubino Imperial já estava decidido. O Ministério dos Ritos já estava preparando a cerimônia, e Anhui foi arrastado pelos criados para mandar fazer suas novas vestes, tão ocupado que nem teve tempo de ver a Imperatriz o dia inteiro. Apenas após o jantar teve um tempo livre e correu para vê-la imediatamente.

— Anhui, como estão os preparativos? — Liyou sentiu a aproximação de Anhui e sabia que ele havia estado ocupado com esses assuntos. O Ministério dos Ritos também viera lhe fazer algumas perguntas, mas ela os despachou dizendo para seguirem o protocolo.

— A Imperatriz quer ouvir a verdade? — Anhui apareceu, parando ao lado, com um leve traço de irritação no rosto, geralmente inexpressivo.

— O quê, está descontente? — Ao ver sua expressão, Liyou se divertiu. Havia muitas regras no palácio. Ela imaginava que Anhui havia sido jogado de um lado para o outro o dia inteiro.

— Não é que este subordinado esteja descontente, é só que...

Seja lá o que dissesse, não cairia bem. O dia agitado de hoje o fazia valorizar as missões que costumava cumprir antes, mas também não podia dizer que estava realmente infeliz. Na verdade, sentia algo doce. Cada vez que fazia algo, estava um passo mais próximo da Imperatriz.

Pensando nisso, a leve irritação em seu coração se dissipou, e ele não se sentia mais incomodado.

— Majestade, este subordinado não tem conseguido estar ao lado da Imperatriz nos últimos dias. Deseja que eu envie outra pessoa?

— Enviar outra pessoa? Anhui, já esqueceu o que Zhen te disse aquele dia? Eu não preciso de proteção alguma. A não ser que seja você, não aceitarei nenhum tipo de proteção.

Ela não precisava de ninguém para protegê-la, e Anhui devia saber disso. Por que ainda se preocupava em perguntar?

— Este subordinado não esqueceu as palavras da Imperatriz. Mas nestes dias, talvez este subordinado não consiga protegê-la adequadamente, e com a guerra contra o Império Sang, precisamos das informações da Anbu. Este subordinado teme atrasar assuntos importantes.

— Não se preocupe. Zhen confia em você.

Liyou acalmou Anhui com uma única frase. Aquela palavra de confiança fez com que Anhui se sentisse tão tocado que ficou sem palavras.

— Anhui, venha cá. Estas são informações reunidas pela Anbu. Você deve fazer com que alguém as prepare devidamente. Não deixe que os enviados do Império Sang perturbem o povo do país de Qianhe.

A Anbu havia enviado um relatório dizendo que muitos agentes haviam sido despachados pelo Império Sang para assassinar ministros de Qianhe e roubar segredos. Junto com os espiões infiltrados em Qianhe, o estrago que poderiam causar não era pequeno.

— Sim, este subordinado já fez os preparativos necessários. Assim que os comandos forem dados, todos os espiões registrados serão capturados. Quanto aos enviados do Império Sang, hmph, este subordinado fará com que sequer consigam pisar em solo do Império Qianhe!

De acordo com o relatório secreto, a estúpida Imperatriz do Império Sang havia emitido uma ordem sigilosa, dizendo que fariam tudo ao seu alcance para destruir Qianhe e que, se houvesse uma oportunidade, a Imperatriz de Qianhe deveria ser morta a todo custo! Como Anhui poderia deixar que fizessem mal à Imperatriz? Jamais perdoaria essas pessoas — elas nem poderiam sonhar em ver como era Qianhe Liyou!

Anhui estava tomado por uma aura silenciosa e assassina, o que surpreendeu Liyou. Esse era o homem que ela conhecera no início. Calmo e capaz, com um ar letal oculto, como uma adaga pronta para ser desembainhada a qualquer momento.

— Anhui, com essa aparência... você realmente parece uma pessoa diferente. É verdadeiramente impressionante.

Anhui ficou surpreso por um momento, e sua aura assassina se dissipou. Ele não compreendia o que a Imperatriz acabara de dizer. Como assim, diferente?

— Não percebe? Essa aparência sua agora há pouco era como uma adaga afiada e sedenta de sangue, à espera do momento certo para ser sacada. Anhui, você é um homem corajoso. Como isso não seria impressionante?

Traços dele já estavam gravados em sua mente. Seu olhar frio, sua timidez, suas inseguranças — tudo nele permanecia em sua memória. A partir de agora, ele seria completamente dela, pois ela o havia escolhido!

O rosto de Anhui ficou vermelho escuro, e ele ficou um pouco sem reação diante das palavras da Imperatriz. Ele realmente não sabia como era visto aos olhos dela e não imaginava que teria uma avaliação tão alta em seu coração. Ele sinceramente não achava que fosse tão bom quanto a Imperatriz dizia.

— Majestade, este subordinado realmente não é tudo isso... realmente não...

— Não, você é sim. Só não percebe. Anhui, não confia nas palavras de Zhen?

Liyou fez uma expressão séria, fingindo estar muito grave. Pois, se não fosse assim, Anhui certamente não acreditaria.

— Claro que não é isso. Não é que este subordinado não acredite na Imperatriz, mas isso não tem a ver com acreditar...

Anhui também tinha sua teimosia. Ele acreditava que realmente não era tão bom quanto a Imperatriz dizia. Como poderia ser? Era apenas um órfão que ninguém quisera. Se a Imperatriz não lhe tivesse dado essa oportunidade, ele não teria nada do que tem agora. Tudo o que possuía, foi ela quem lhe deu.

— Não, tem tudo a ver. Se você não acredita em Zhen, então não acredita no julgamento de Zhen, e assim, não acredita em si mesmo. Na verdade, você é incrível, e deveria confiar em si mesmo. Anhui, você é realmente incrível.

As últimas palavras de Liyou soaram como um encantamento hipnótico, e sua voz profunda penetrou no coração de Anhui, chegando às profundezas de sua alma.

Você é mesmo tão bom assim...?

Anhui não sabia. Ele realmente não sabia. Mas talvez isso já fosse o suficiente. Afinal, nunca esperara a aprovação de ninguém. E agora, a pessoa que o aprovava era justamente aquela que mais importava para ele. Que mais havia para duvidar? A Imperatriz não era alguém que mentia para agradar. Então... ele escolheria acreditar nela.


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