Capítulo 91: A encantadora guifei dá à luz
— Majestade, os Operativos Especiais da Anbu têm um relatório de que os três países entraram secretamente em contato com ministros da corte e prepararam grande quantidade de ouro e prata para serem enviados às residências desses ministros. Além disso, estive rastreando espiões na Cidade Imperial provenientes de diversos países. Os Operativos da Anbu já estão vigiando essas pessoas e aguardam suas ordens. — Anhui relatou à Imperatriz as informações obtidas pelos agentes da Anbu. Desde que os emissários dos três reinos adentraram Qianhe, seus subordinados já haviam marcado aqueles com intenções evidentemente maliciosas.
— Muito bem. Mas não ajam precipitadamente, apenas continuem observando. Zhen quer ver até onde esses indivíduos ousam ir. Hmph, os três reinos… ainda que se unam, Zhen não tem medo! — Ela sabia que a razão pela qual esses países enviaram emissários era o receio de que ela atacasse os três reinos e, por isso, queriam testar a real força de Qianhe. Contudo, de qualquer forma — fosse paz temporária ou guerra —, logo após o retorno desses homens, o conflito seria inevitável. Os agentes da Anbu haviam enviado os últimos relatos dos países e os preparativos militares vinham se intensificando cada vez mais. Uma grande guerra era inevitável, e Qianhe Liyou também sentia que a situação atual estava caótica demais, o que certamente acabaria em conflito. Bem, sendo assim, ela não seria complacente. Já que a guerra era inevitável, pouco importava quem a começaria. Ela não se importava com esse tipo de reputação.
— Sim, mas… o que faremos com aqueles ministros? — Embora a maioria dos ministros não aceitasse tais presentes, ainda havia alguns gananciosos por riquezas que os recebiam. Essas transações, embora realizadas em particular, não afetavam fundamentalmente Qianhe. Porém, eram demonstrações claras de deslealdade e, entre os culpados, havia muitos ministros oriundos de terras estrangeiras. Parecia que, apesar de talentosos, ainda não conseguiam esquecer o país de origem. Felizmente, esses indivíduos não ocupavam cargos importantes e ainda estavam sob investigação.
No início, a Imperatriz desejava recrutar talentos, e pessoas sábias do mundo inteiro acorriam ao império uma após a outra. Embora o senhor Li e o senhor Long os selecionassem cuidadosamente, era impossível eliminar por completo a presença de espiões. Afinal, espiões existiam em todos os lugares, e era provável que houvesse entre os ministros cujos cargos haviam sido trocados. Por isso, a Imperatriz já havia ordenado que os Operativos da Anbu monitorassem os indivíduos suspeitos — e, no fim, eram justamente esses os problemáticos.
— Para quê se preocupar em lidar com isso agora? Continuem monitorando. E agora, mandem alguém avisar Li Yao, Long Xizhao e os demais que, se forem realmente ministros confiáveis, aceitarão o que quer que os outros ofereçam como presentes. Quando a guerra começar, esses fundos podem ser trocados por alimentos e nossos soldados terão mais algumas refeições. Por que não aceitar? — Ela não se importava com a quantia em si, mas sabia que a guerra exigia vastos recursos financeiros e materiais. Agora que estavam sendo oferecidos, mesmo que fosse pouco, ainda era melhor que nada. Então, não havia razão para recusar!
Anhui ficou um tanto surpreso com a ordem da Imperatriz, mas compreendia a importância do dinheiro. Contudo, desde os tempos antigos, quando é que uma imperatriz encorajou seus súditos a aceitar subornos? Não seria um precedente perigoso? Embora hesitasse por um instante, o pensamento passou rapidamente. As ordens da Imperatriz seriam cumpridas integralmente.
— Sim, este subordinado irá agora mesmo!
— En, pode ir.
Anhui recebeu a ordem e partiu. Assim que saiu, viu um servo correndo em sua direção e se dirigindo a Fengying:
— Este servo saúda o Chefe Fengying. Chefe, a encantadora guifei está prestes a dar à luz, e o Médico Imperial já foi chamado. — O servo fazia parte dos novos designados para servir à guifei encantadora.
Desde que a guifei encantadora retornara ao Palácio Yaoyu, seu tratamento voltara a ser o de uma consorte do palácio, e muitos mais atendentes estavam a seu serviço agora.
— É mesmo? Vou informar à Imperatriz imediatamente. — Feng Ying ficou radiante e foi correndo dar a notícia, enquanto Anhui seguiu seu caminho após testemunhar a cena. A guifei encantadora estava prestes a ser promovida e isso causava inveja em muitos. Anhui torcia para que desse à luz em segurança.
— Prestes a dar à luz… vamos, Zhen quer ver com os próprios olhos. — Liyou hesitou por um momento antes de decidir ir ver.
Quando Liyou chegou, a criança ainda não havia nascido e os atendentes a impediram de entrar. Quando um homem estava dando à luz, naturalmente, mulheres não podiam estar presentes. Liyou aguardava do lado de fora e, ao ouvir gritos dilacerantes vindos de dentro, franziu o cenho.
— É realmente tão doloroso assim? Não haverá perigo, certo?
— Aaaah… — Um novo grito agudo ecoou. A voz de Situ Hongyu soava rouca. Cada vez que ele gritava, Liyou franzia ainda mais o cenho e, de repente, se arrependeu de ter permitido que Anhui tivesse um filho. Que tipo de criança era essa? Para causar tanta dor e até colocar uma vida em risco… Ela não deveria ter permitido!
— Ah! — Assim que Liyou pensou nisso, outro grito irrompeu de dentro, cada vez mais alto. Isso lhe causou um impulso incontrolável de invadir o quarto.
— O que está acontecendo? Entrem e vejam por Zhen! — Liyou agarrou um atendente e o empurrou para dentro. Mas ninguém retornava, deixando-a ansiosa.
Liyou sempre fora calma, mas agora demonstrava ansiedade. Pensara que não se importaria, mas ali, ouvindo os gritos daquele homem, percebia que não era tão insensível quanto imaginava. Estava impaciente.
— Si-sim, este servo vai agora mesmo! — O atendente entrou apressado e logo voltou correndo:
— Majestade, o Médico Imperial disse que a niangniang está em trabalho de parto difícil e que é extremamente perigoso!
Antes que ele terminasse de falar, outro atendente saiu correndo:
— Majestade, o senhor Yun mandou perguntar… se, em caso de emergência, deseja salvar a criança ou… — O servo hesitou nas últimas palavras, mas todos ali já compreendiam o que ele queria dizer.
O rosto de Liyou ficou sombrio e ela disse com frieza:
— Presunçoso! Do que está falando? Entre agora e diga a eles que, seja a consorte ou a criança, Zhen quer ver ambos vivos. Não permitirei qualquer acidente, entenderam?
Não só o atendente que fizera a pergunta, como todos ali, estremeceram com o tom gélido da Imperatriz. O servo correu de volta imediatamente, e o pátio mergulhou em silêncio. Luo Weiqing, que acabara de chegar às pressas, também se assustou com a fúria da Imperatriz, mas logo reagiu e perguntou, preocupado:
— O parto não está indo bem?
Como consorte imperial, era natural que viesse ver o primeiro filho da Imperatriz. Mas jamais esperava encontrar Liyou tão furiosa.
— Vai ter que correr bem. Não aceitarei o contrário! — Liyou não virou o rosto. Fitava intensamente a porta fechada. Os gritos de dor vindos de dentro já estavam roucos e enfraquecidos.
Passou-se um quarto de hora, e a voz se tornava cada vez mais fraca. Se não fosse pela audição apurada de Liyou, talvez ela nem a percebesse. Mas aquele lamento frágil apertava seu coração.
Finalmente, quando Liyou não aguentava mais e estava prestes a invadir o quarto, ouviu-se um choro alto e poderoso — o bebê finalmente nascera. Ao escutar os choros da criança, Liyou não pôde mais conter-se. Sentiu que jamais teria tal paciência novamente. Já havia suportado demais. No futuro, se seus homens quisessem ter filhos, ela definitivamente não esperaria do lado de fora novamente.
— Ah, Imperatriz, niangniang… niangniang está… está morrendo! Por favor, salve Sua Majestade! — O atendente que sempre acompanhava a guifei encantadora correu até a entrada assim que a Imperatriz entrou e ajoelhou-se, implorando desesperadamente.
— Majestade, esta ministra é inútil, por favor, perdoe-me! — A Médica Imperial Yun Yangrong ajoelhou-se, com expressão de frustração. Havia feito tudo que podia, mas o parto já era algo perigosíssimo e essa guifei em especial teve um parto difícil. Já era sorte terem salvo a criança.
Liyou ignorou o pedido de perdão de Yun Yangrong e sequer olhou para o atendente desesperado. Dirigiu-se diretamente à cama. Deitado ali, estava Situ Hongyu, com o rosto pálido e exausto, ofegando.
— A criança… — Situ Hongyu sentia sua vitalidade se esvaindo. Sabia que estava morrendo, mas não tinha arrependimentos. Se a criança nascesse com segurança, tudo teria valido a pena. Uma pena não poder vê-la crescer…
— Niangniang, é um pequeno príncipe! Veja como ele é adorável. Você precisa segurá-lo… precisa vê-lo crescer com seus próprios olhos… — Qingzhou, seu atendente, chorava enquanto segurava o príncipe recém-nascido.
— Qingzhou… cuide bem do pequeno príncipe… e… nesses últimos dias… obrigado… cof, cof… não chore mais… cof, cof… — Situ Hongyu levantou a mão com dificuldade para acariciar o rosto da criança. Suas palavras finais foram balbuciadas. Se não fosse por Qingzhou, que cuidou dele todo esse tempo no Palácio Frio, talvez nunca tivesse visto esse bebê. Era sinceramente grato.
— N-não, niangniang! Isso é o mínimo que Qingzhou deveria fazer! Não diga isso… Você precisa viver e cuidar do príncipe comigo… O príncipe imperial não pode viver sem você…
Um leve e belo sorriso surgiu no rosto de Situ Hongyu. Ele virou o olhar para a Imperatriz ao lado da cama, um súplica sutil em seus olhos.
— Majestade… este consorte lhe implora… cof, cof… cuide bem da criança… que ela possa crescer em segurança… cof, cof… este consorte… se desculpa…
A morte fazia as pessoas pensarem no passado. Ele sabia o que havia feito de errado. Amava seu filho tanto… e como os outros também não amariam os seus? Aquelas vidas inocentes que ele tirou eram seus pecados.
— Esta criança será cuidada por você pessoalmente. Ninguém a cuidará melhor do que alguém que arriscou a vida para dá-la à luz. — Liyou aproximou-se da cama. Enquanto falava, seus olhos adquiriram um tom dourado-sangue, exalando uma estranha aura. Situ Hongyu estava morrendo. Tinha perdido muito sangue e toda sua energia. Já estava à beira da morte — mas ela podia salvá-lo. A técnica para trazer alguém de volta à vida era proibida, exigia uma enorme quantidade de mana.
Liyou mordeu os dedos médios de ambas as mãos e, usando uma técnica de manipulação, uma névoa vermelha de sangue surgiu. Liyou moveu-se lentamente com aquela névoa, envolvendo Situ Hongyu por completo.
Então, ela lançou no ar esferas de sangue cristalizadas, que haviam se condensado, e as fez entrar na boca de Situ Hongyu. Ele estremeceu por inteiro — e desmaiou.
Capítulo 92: O Príncipe Imperial
Situ Hongyu despertou por causa do calor; sentia o corpo todo febril e queria acordar, mas estava fraco. Abrir os olhos parecia uma tarefa quase impossível.
— Eu não morri...? Então isso é o submundo?
— Niangniang, a senhora não pode morrer. A Imperatriz disse que estaria bem e que acordaria em três dias. Mas já se passaram três dias e por que ainda está inconsciente? Niangniang, acorde logo. O Jovem Mestre está esperando ansiosamente pela senhora todo esse tempo — Qingzhou vinha cuidando de Situ Hongyu por três dias e três noites, sem descanso. Depois que a Imperatriz partiu naquele dia, ordenou que ele cuidasse bem de Situ Hongyu, pois ele despertaria em três dias. No entanto, esse tempo já havia passado e niangniang ainda não acordara. Ele estava sem saber o que fazer.
— Niangniang, acorde logo...
Situ Hongyu adormeceu novamente, mas aquela voz familiar ao seu lado parecia cada vez mais nítida. Soava como Qingzhou... mas como ele poderia estar ali? Talvez estivesse ouvindo coisas...
Só que aquela voz soava cada vez mais real... Depois de muita luta, Situ Hongyu finalmente conseguiu abrir os olhos. Qingzhou exclamou surpreso:
— Niangniang, a senhora acordou! Ainda está se sentindo mal? Vossa Majestade, Qingzhou estava morrendo de preocupação!
— Qingzhou... — Situ Hongyu teve certeza de que não estava sonhando, nem imaginando coisas. Era mesmo Qingzhou ali com ele.
— Niangniang, Qingzhou está aqui e sempre estará. Está se sentindo bem? Quer um pouco de água? Vou buscar um copo agora mesmo. — Surpreso e agitado, Qingzhou correu para pegar um copo d’água e o levou com cuidado até os lábios de Situ Hongyu. Aos poucos, ele recuperou um pouco de força e, com certa dúvida, perguntou:
— Qingzhou, eu... eu não morri?
Ele realmente achou que havia morrido. Não era que tivesse desistido de viver, mas sentiu a vida esvaindo-se do corpo com tanta força que pensou não aguentar mais. E, no entanto, ainda estava vivo. Em meio às lembranças confusas, parecia se recordar do que a Imperatriz lhe dissera...
Qingzhou ficou surpreso com a pergunta e, por um instante, pareceu hesitar. Logo depois, assumiu uma expressão estranha.
— O que foi? O que pensou agora? — Crescendo ao lado de Qingzhou, Situ Hongyu conhecia cada expressão dele e, é claro, notou aquela estranheza no rosto do servo.
— Niangniang, este servo não sabe exatamente o que aconteceu... Mas acredita que foi a Imperatriz quem salvou a senhora. Três dias atrás, depois do parto, a senhora perdeu muito sangue... Este servo achou... achou que era o fim. Mas a Imperatriz usou sua força para salvá-la. Este servo não entende muito bem o que houve, só lembra que uma névoa preta e vermelha envolveu a senhora... E então a Imperatriz disse que cairia em coma por três dias. Ou seja, acordaria justamente hoje. — Qingzhou nunca vira nada parecido e teve dificuldade para descrever a cena, mas fez o possível para explicar à encantadora guifei.
Situ Hongyu ficou atônito por um tempo. Naturalmente, também estava confuso. Era compreensível, porém, imaginar que só estava vivo graças a algum método misterioso usado pela Imperatriz...
Então foi ela quem o salvou... Mas por quê? Ela não desejava sua morte? Ainda assim, foi ela quem o tirou do Palácio Frio... e compreendeu seu desejo de ter um parto seguro e tranquilo. Afinal, mesmo um tigre, por mais cruel que seja, não devora seus próprios filhotes. A criança em seu ventre era, afinal, sangue da família imperial. Mas por que salvá-lo agora?
Situ Hongyu não conseguia entender. E quanto mais pensava, mais seu coração se enchia de mágoa. Ele sentia que cometeu muitos erros no passado, feriu pessoas inocentes. A Imperatriz, tão grandiosa, com um vasto harém... nada disso dizia respeito a eles. Na época, apoiado no favor da Imperatriz, feriu muitos injustamente. Mas depois pagou o preço. As palavras ditas por ela se concretizaram. De consorte favorecido no harém, tornou-se consorte pecador banido para o Palácio Frio — caiu do céu ao inferno em um único dia. Aqueles que o bajulavam antes viraram-lhe as costas. Guardas de baixo escalão o humilhavam. Faltava comida, não conseguia nem controlar a temperatura do quarto. Sua vida era miserável. Talvez, se não estivesse grávido, já teria perdido a vontade de viver há muito tempo.
— Niangniang, em que está pensando? Está... ainda guarda rancor da Imperatriz? Na verdade, este servo acredita, sente que a Imperatriz não é tão impiedosa com a senhora. Na hora, este servo viu uma expressão aflita em Sua Majestade como nunca antes... — Qingzhou hesitou, mas queria mostrar ao seu mestre que talvez a Imperatriz ainda se importasse. Não queria vê-lo tão solitário e triste.
— Como poderia culpar a Imperatriz? Já deixei o passado para trás. Qingzhou, não tente me consolar. Depois de tudo que vivi, acha que ainda sou tão mesquinho?
— Que bom que pensa assim. Qingzhou estava com medo de que Vossa Majestade estivesse infeliz. Niangniang, ainda sente algum desconforto? Quer que chame o médico imperial?
— Só estou um pouco cansado, mas não estou mal. Qingzhou, e o bebê? Posso vê-lo? — Ao pensar em seu filho, Situ Hongyu exibiu uma expressão suave, cheia de ternura.
— Se sentir qualquer desconforto, me avise. A Imperatriz ordenou que eu cuidasse bem de Vossa Majestade. O Príncipe Imperial está dormindo. Vou trazê-lo para que possa vê-lo, ele é muito fofo. — Com um sorriso, Qingzhou se dirigiu ao berço e pegou o bebê adormecido com cuidado.
Com esforço, Situ Hongyu se sentou e olhou para o bebê com atenção. Aquele era seu filho. Que bom... ainda podia vê-lo.
— Niangniang, deseja segurá-lo para ver melhor? — Qingzhou levou o bebê até ele e perguntou suavemente.
— En. — Situ Hongyu recebeu o bebê com extremo cuidado. Ao sentir aquele corpinho pequeno e quente em seus braços, foi tomado por uma vontade súbita de chorar. Agradeceu aos Céus por ainda poder tocar seu filho e por ter a chance de vê-lo crescer pouco a pouco.
— Niangniang, a Imperatriz ordenou que fosse informada assim que acordasse. Devo enviar alguém agora para avisá-la? — Qingzhou lembrou-se da ordem e sentiu que a Imperatriz talvez tivesse algo importante a dizer.
— ...Já que é ordem da Imperatriz, vá. — O olhar de Situ Hongyu se escureceu. A criança nascera e era hora de estabelecer algum entendimento entre eles. Se sua memória não falhava, a Imperatriz quis matá-lo no começo — e só não o fez por causa da criança. Agora que ela o salvara... será que voltaria a querer sua morte?
Situ Hongyu não era tolo. Sabia interpretar algumas coisas. Mas não podia prever como a Imperatriz o trataria dali em diante — e quanto ao filho...
Qingzhou mandou um mensageiro avisar a Imperatriz e pediu aos atendentes que trouxessem tônicos restauradores para Situ Hongyu. Depois de bebê-los, ele parecia muito melhor — o rosto mais rosado, o corpo mais disposto. Nem parecia alguém que acabara de dar à luz. O próprio Hongyu se sentia estranhamente revigorado, sem nenhum cansaço.
— A Imperatriz chegou!
— Esta consorte saúda Vossa Majestade! Vida longa à Imperatriz! — Situ Hongyu ajoelhou-se diante de Liyou, ainda se referindo a si mesmo como consorte, pois apesar de tê-lo trazido de volta ao palácio, a Imperatriz ainda não o havia perdoado por seus crimes.
— Levante-se. — Liyou entrou no quarto e seus olhos percorreram o ambiente até pousarem no berço refinado. A criança ainda dormia profundamente. Ela se aproximou, olhando com atenção.
— Há quanto tempo está dormindo?
— Respondendo à Imperatriz, o pequeno Príncipe dorme há mais de uma hora. Logo deve acordar. — Vendo o interesse da Imperatriz, Qingzhou respondeu prontamente.
Liyou lançou mais alguns olhares e estendeu a mão para acariciar suavemente o rosto do bebê. Sentiu a pele macia e cor-de-rosa sob seus dedos — tão suave que não resistiu e tocou mais uma vez.
O bebê, como se sentisse os toques, abriu lentamente os olhos brilhantes. Dizem que os olhos mais puros do mundo são os das crianças — límpidos, sem máculas.
Ao vê-lo acordar, Liyou se sobressaltou por um instante e olhou ansiosamente para Qingzhou:
— Venha ver, ele acordou.
Ela só o havia tocado de leve, como pôde acordar tão rápido? Tomara que não comece a chorar...
Os olhos do bebê deixaram Liyou um pouco desconcertada. Temia que qualquer movimento seu pudesse assustar a criança e fazê-la chorar.
Qingzhou correu até o berço, e Situ Hongyu logo o seguiu. Os três adultos se reuniram ao redor da criança, que parecia um pouco confusa com tanta atenção, olhando de um lado para o outro. Mas, felizmente, não chorou.
— O pequeno Príncipe deve estar com fome. Este servo vai buscar leite fresco para ele. — As crianças do harém não eram amamentadas no peito, e sim com leite de cabra ou outros tipos. Assim que Qingzhou saiu, restaram dois adultos ansiosos diante do berço.
— Vossa Majestade veio aqui para dizer algo a esta consorte? — Situ Hongyu perguntou diretamente. Tanto fazia perguntar antes ou depois, então resolveu fazê-lo no próprio tempo.
— Situ Hongyu, não precisa mais se referir a si como consorte pecador. Se Zhen permitiu seu retorno ao palácio, significa que Zhen não buscará mais pelos erros do passado. Zhen só quer que cuide bem de seu filho e viva como quiser. Você ainda é consorte de Zhen. E esta criança, um príncipe de Zhen.
Nos últimos dias, ela pensara bastante em Situ Hongyu e na criança. Sentia que o momento atual era o mais adequado. Contanto que Hongyu não fizesse nada que não pudesse tolerar, permitiria que ele e o filho vivessem em paz no palácio. O bebê era branco, delicado e adorável — e ela havia se afeiçoado a ele. Não queria que fosse injustiçado. Queria que crescesse feliz e em segurança.
— ...Esta consorte agradece a Vossa Majestade por tamanha graça imperial! — Mil sentimentos misturados. Com poucas palavras, a Imperatriz havia decidido tudo por ele. Sentia-se grato, mas também com o coração apertado.
Capítulo 93: Corte Imperial
Naquele dia, Liyou permaneceu todo o tempo ao lado da encantadora guifei, observando enquanto Qingzhou alimentava o bebê com leite. Depois de brincar um pouco com a criança, finalmente partiu. Achava aquela pequena vida extremamente miraculosa, por isso naturalmente passava a lhe dar mais atenção.
Nos dias seguintes, Liyou visitava o bebê a cada dois ou três dias. Embora a criança não pudesse se comunicar e apenas olhasse ao redor com olhos brilhantes, ainda assim era adorável. Liyou sentia que estava viciada na maciez da pele daquele serzinho, sempre querendo acariciar seu rosto gordinho e tenro.
— Majestade, já decidiu um nome para a criança? — O bebê já havia nascido há mais de dez dias, mas ainda não possuía um nome. Situ Hongyu pretendia esperar que a Imperatriz levantasse o assunto espontaneamente, mas esperou e esperou, e ela parecia ter se esquecido. Assim, não teve escolha senão lembrá-la.
— Nome? Ah, essa coisinha ainda não tem um nome, não é? — Ao ouvir sobre nomear o bebê, Liyou também ficou surpresa, claramente não esperava por essa pergunta.
Situ Hongyu exibiu um leve sorriso. Era raro ver a Imperatriz em tal estado de confusão. O motivo pelo qual Situ Hongyu havia recebido o título de guifei encantador era por sua aparência sedutora e fascinante. Não era exagero chamá-lo de joia coroada do mundo. E isso era ainda mais evidente quando sorria — aquela aura cativante fazia com que os outros não conseguissem sequer encará-lo diretamente!
Liyou ficou atônita por um momento, e foi a primeira vez que achou o sorriso de Situ Hongyu tão encantador. Ao contemplá-lo, ficou ligeiramente confusa.
— Majestade, por favor, dê um nome a seu filho. — Sem saber que seu sorriso deixara a outra atordoada, Situ Hongyu olhava amorosamente para o filho. Agora, toda a sua atenção estava voltada para a criança. Mesmo que Qingzhou alegasse que ele poderia reconquistar o favor da Imperatriz aproveitando-se de suas visitas diárias, ele não se deixou influenciar. Sabia que a Imperatriz havia mudado — o olhar dela sobre ele não era mais de posse ou desejo, mas sim indiferente, como o de um estranho. Como poderia lutar por afeto com uma Imperatriz assim...?
Hehe, os seres humanos realmente não sabem valorizar o que têm. A Imperatriz já o favorecera muito, mas ele sempre se sentirá insatisfeito, pois sabia que ela o amava por sua aparência. Mas agora, nem mesmo sua aparência conseguia mais atraí-la. No entanto, sentia que isso já não importava, e seu coração finalmente se acalmara. Não viveria mais em constante ansiedade como antes. Pensava que talvez fosse melhor viver assim pelo resto da vida.
— Nome... Você tem alguma sugestão boa? — Liyou não sabia que nome escolher.
— Se possível, este consorte gostaria de usar o caractere "Jing", de tranquilidade, retirado da frase "estabelecer a paz". — Na verdade, ele já havia pensado muitas vezes sobre o nome da criança, e no fim ainda acreditava que o caractere "Jing" era o mais adequado. Implicava que, se alguém pudesse viver uma vida calma e pacífica no palácio imperial, já seria uma grande bênção.
— "Jing", que significa paz... É um bom nome. Se gosta, usaremos esse. — Liyou pensou em um dos significados do caractere e achou-o bastante apropriado, então concordou.
Situ Hongyu assentiu e chamou suavemente o filho:
— Jing’er, de agora em diante você se chamará Qianhe Jing. Este pai imperial espera que, tal como seu nome, você possa crescer em paz e segurança. — Este era seu único desejo agora.
— Sim. Zhen* não permitirá que ninguém o machuque. — Liyou respondeu com seriedade ao lado. Em relação àquela criança, nutria sentimentos inexplicáveis, ele lhe era familiar. O nascimento do menino dissipara sua ideia de não permitir que Anhui e os outros tivessem filhos. Laços de sangue — por mais dolorosos que fossem — ainda assim eram preciosos. E mesmo que houvesse perigos, ela estaria presente e não deixaria que nenhum mal os atingisse.
— Majestade, obrigado. — Com a garantia da Imperatriz, sentia-se mais tranquilo. O harém estava muito mais pacífico agora, o que aliviava grande parte de suas preocupações.
— Isto é o mínimo que Zhen deve fazer.
O nascimento do Primeiro Príncipe Imperial não causou grande comoção. Afinal, em tempos de guerra, o povo e os ministros ainda se preocupavam com os conflitos militares. Além disso, os emissários enviados pelos três reinos estavam cada vez mais ousados, fazendo gestos simbólicos e enviando carroças cheias de presentes aos ministros da corte imperial.
Entretanto, pareciam ter notado que alguns ministros apenas aceitavam os presentes, mas não tomavam nenhuma atitude prática. Ainda podiam continuar com os presentes, mas, depois de mais de dez dias, a maioria desses emissários passou a ter apenas um pedido: desejavam encontrar pessoalmente a Imperatriz Qianhe e saber quais eram suas intenções. Assim, esse pedido passou a acompanhar os presentes. Alguns ministros que haviam recebido sugestões de Liyou apenas diziam que a Imperatriz estava feliz com o nascimento do Príncipe Dragão e não tinha tempo para recebê-los no momento. No entanto, alguns ministros, que haviam recebido presentes demais e não conseguiam recusar, passaram a levantar o pedido abertamente na corte.
— Majestade, os emissários dos três reinos estão aqui há muitos dias. Estaria disposta a recebê-los ao menos uma vez? Afinal, representam a vontade de seus respectivos reinos. Se Vossa Majestade não os receber, isso não poderia afetar negativamente a situação geral?
Quem disse isso foi Zhang Lan, a vice-ministra dos Ritos. Ela era considerada uma recém-promovida em uma posição poderosa. Originalmente pertencia ao Império Zhongli e estava na lista da divisão secreta Anbu. Aceitara subornos de milhares de taéis de ouro, além de incontáveis presentes e tesouros.
— Que efeito terá se Zhen não os receber? Zhang Lan, diga a Zhen. — Liyou perguntou com voz calma e inalterada, embora um brilho gélido tenha surgido em seus olhos. Receber presentes era prática antiga. Quantos ministros realmente tinham "as mangas soprando ao vento", livres de qualquer corrupção? Mas havia limites — que tipo de presente e que tipo de pedido se aceitava ou não. Era preciso ter princípios. Ela podia permitir que os ministros recebessem presentes, mas se fizessem algo estúpido em troca, não deveriam culpá-la por não lhes dar mais oportunidades no futuro.
— Majestade, as trocas entre nações são muito sensíveis, especialmente em tempos de guerra. Qualquer detalhe pode desencadear um conflito em larga escala. Além disso, os três reinos procuraram Vossa Majestade juntos, o que certamente tem um propósito. Se Vossa Majestade não os receber, podem interpretar como hostilidade da corte imperial. Se isso for comunicado aos seus reinos, poderá resultar em guerra...
Ao ouvir os conselhos de Zhang Lan, surgiu um traço de desprezo nos olhos de Liyou.
— Quanto a isso, Zhen irá considerar.
Claro que ela não temia que isso causasse a tal guerra. Mas nunca teve a intenção de ignorar os emissários indefinidamente. O motivo de esperar esses dias era apenas observar o que fariam e quais seriam suas intenções. Agora que já dava para entender melhor a situação, naturalmente os receberia — e veria o que diriam diante dela.
Com isso, Zhang Lan não pôde continuar insistindo. Afinal, só havia recebido os presentes; não havia necessidade de insistir tanto. E quanto a se a Imperatriz os receberia ou não, ela não ousava pressionar. Não era tola a ponto de cair nas artimanhas daqueles emissários. Agia apenas dentro dos limites de sua função. Para tramar de verdade, não tinha coragem de trair a Imperatriz. Zhang Lan então recuou para seu lugar entre as fileiras. Liyou lançou-lhe um olhar e então desviou sua atenção. Ao que parecia, Zhang Lan não era estúpida — e a maioria dos ministros da corte também não. Mesmo aqueles que haviam aceitado presentes sob ordens de Liyou não haviam feito nada que prejudicasse Qianhe, embora tivessem vazado muitas informações sobre os assuntos internos. Com o passar do tempo, o tesouro nacional vazio talvez tivesse que contar com a ajuda dessas pessoas.
Os ministros que haviam recebido os presentes por ordem de Liyou enviaram imediatamente as listas e os próprios presentes ao palácio. Esses eram considerados absolutamente leais a Qianhe. Quanto aos que aceitaram presentes desde o início, mesmo que não tenham feito mal direto, Liyou não facilitaria a vida para eles. Agora que Qianhe estava em guerra, os fundos eram escassos.
— Majestade, como o Príncipe Imperial Jing é o primogênito da nossa dinastia, a Rainha-Mãe instruiu que, em seu centésimo dia de vida, o palácio ofereça sacrifícios aos antepassados. Imperatriz, Vossa Majestade tem alguma outra instrução? — O Ministro dos Ritos perguntou sobre a celebração.
— Façam como a Rainha-Mãe solicitou. — Ao falar de Luo Yu, fazia tempo que não via o homem.
— Entendido.
Não havia mais nada de importante a tratar. Afinal, Li Yao e Long Xizhao não estavam em Qianhe. Ambos estavam tratando de inúmeros assuntos governamentais e militares na Cidade Imperial do Império Sang. Estavam tão atarefados que não haviam conseguido voltar em um mês. Apenas pilhas e mais pilhas de relatórios eram enviados de volta, e Liyou ficava atordoada só de olhar para eles.
— Majestade, membros da família imperial do Império Sang foram escoltados até os portões do palácio. Deseja convocá-los? — Dang Yufei, Ministra da Justiça, estava encarregada da recepção desses indivíduos. Mas quanto aos arranjos, a Imperatriz ainda não havia dado ordens claras, e ela não ousava decidir por conta própria. Afinal, eram membros da família imperial de um império. Mesmo que o império houvesse caído, ainda assim não deviam ser tratados levianamente.
— Uma família imperial tem quantas pessoas? Quer que Zhen receba todos? — Uma família imperial podia ter centenas, se não milhares...
— Majestade, alguns são parentes colaterais e sem importância, mas há vários wangfei e príncipes solteiros. Esta ministra realmente não sabe como proceder... — No passado, uma Imperatriz precisava conter os ministros poderosos. Mas a atual Imperatriz não se preocupava com a distribuição de poder. Qualquer problema que não quisesse resolver pessoalmente, passava aos ministros. No início, todos se sentiam honrados, mas com o tempo, perceberam que tal favor não era tão fácil de se desfrutar. Como ministros, quem ousaria resolver algo por conta própria?
— Príncipes? Está entre eles aquele que veio da última vez? — Ao ouvir "príncipe", Liyou não pôde deixar de se lembrar do arrogante que havia aparecido antes, tão presunçoso quanto um galo de crista em pé.
— Sim, todos os membros da família imperial estão presentes. — Era por isso que Duan Yufei estava com dificuldades. Embora aqueles príncipes imperiais fossem agora prisioneiros de guerra, continuavam orgulhosos, grosseiros e irracionais. Ela não ousava agir sem ordens da Imperatriz. Seus últimos dias não tinham sido nada confortáveis.
— Não há por que pensar demais. Mantenha-os sob custódia e dê a eles o tratamento padrão de prisioneiros de guerra. O Império Sang já não existe mais — eles não são mais membros da realeza. Se ainda houver quem não tenha noção de sua posição e quiser causar problemas, ensine-lhes bem em nome de Zhen. Entendeu o que Zhen quis dizer?
— Sim, esta ministra obedece à ordem! — Com a palavra da Imperatriz, agora podia lidar com a situação livremente!
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