Capítulos 94 a 96


 Capítulo 94: Mudanças

— Irmão Yu, o Jing’er é realmente adorável demais. Olha só como ele fica me encarando e sorrindo! O que será que ele está pensando agora? — A voz infantil e animada só podia pertencer a Murong Xuanhe. No Palácio Imperial, não havia ninguém com uma voz assim, senão ele.

— Jing’er está pensando: “Por que esse gege na minha frente é tão divertido? Tão mais fofo do que eu...” — respondeu Situ Hongyu com um tom de evidente contentamento.

— Que nada! Como eu poderia ser mais fofo do que um bebê? Além disso, como eu posso deixar esse pequeno tesouro me chamar de gege? Isso bagunça toda a hierarquia! — protestou Murong Xuanhe, inconformado. Por que todo mundo o tratava como uma criança? Até permitiam que um bebezinho o chamasse de gege... Isso era mesmo demais!

— Hehe — Situ Hongyu apenas sorriu, sem rebater. No entanto, suspirou em silêncio. Pensara que jamais teria visitas no Palácio Imperial novamente. No fim das contas, já seria bom se não o odiassem ou o tratassem como inimigo. Mas, no passado, houvera o Consorte Real que cuidara dele mesmo com os erros de outrora. Depois, vieram as visitas sinceras de An guifei, calorosas ao ponto de tocar o coração. Tudo isso o havia comovido profundamente.

Do lado de fora da porta, Liyou ouvia escondida, satisfeita com a harmonia entre os dois.

— Quem disse que não? Você parece mesmo uma criança — disse ela ao entrar, em tom de brincadeira. Para ela, Murong Xuanhe tinha sim cara de menino. No máximo, era só um pouco mais velho que o bebezinho.

— Majestade, está aqui! Este consorte saúda a Imperatriz... Mas por que também está dizendo isso? Majestade, este consorte não parece uma criança! — Murong Xuanhe primeiro sorriu, animado com a chegada da Imperatriz, mas logo fez um beicinho amargo ao ouvir suas palavras. Até ela dizia isso... Que irritante.

— Este consorte presta reverência à Imperatriz — disse Situ Hongyu, já acostumado com a presença dela. Todos no palácio sabiam o quanto a Imperatriz amava seu filho e o quanto era afeiçoada a ele. Sempre que podia, vinha visitá-lo.

Liyou apenas acenou com a mão, sinalizando que não era necessário tanta formalidade, e foi direto até o berço para ver o bebê. O pequeno parecia mudar um pouco a cada dia. As sobrancelhas e os olhos estavam cada vez mais delicados, lembrando muito seu pai. Parecia destinado a se tornar um homem muito bonito.

— Jing’er já mamou? — perguntou Liyou, com preocupação.

— Sim, este consorte o alimentou há pouco — respondeu Situ Hongyu. Jing’er era bom de garfo — ou melhor, de leite. Quando sentia fome, olhava para você com aqueles olhos brilhantes e cheios de pena, como se soubesse falar. Mas o mais estranho era que ele nunca chorava, nem gritava, nem fazia escândalo. Apenas sorria, com aquele rostinho fofo e iluminado. Qualquer um que o visse acabava se encantando.

Liyou assentiu e esticou o dedo, colocando-o perto da mãozinha do bebê. O pequeno imediatamente agarrou o dedo dela e sorriu, fazendo-a sorrir também.

— Majestade, gosta mesmo de crianças, não é? Jing’er é muito adorável.

Murong Xuanhe observava da lateral, cheio de inveja. Também queria muito ter um bebê.

— Você ainda é uma criança, pare de fantasiar — disse ela, já adivinhando o que Xuanhe estava pensando. Mas isso realmente era um tanto incômodo. Como um mero menino podia ficar pensando nessas coisas?

Atacado pelas palavras da Imperatriz, Murong Xuanhe calou-se, sentindo-se um pouco injustiçado. Não pôde deixar de resmungar em silêncio: Eu obviamente não sou uma criança! Não sou!

Quanto mais pensava, mais triste ficava. Não conseguia entender por que todos o viam como um menino. Estava casado com a Imperatriz, mas ela ainda o tratava como uma criança... Como isso podia ser?

Murong Xuanhe, inconformado, observava a Imperatriz brincando com o bebê. Com um olhar determinado, correu até ela, abraçou-a e... deu-lhe um beijo!

Liyou, claro, percebeu que ele vinha em sua direção e se assustou. Mas, com Jing’er nos braços, não dava para desviar. Então apenas o envolveu nos braços e estava prestes a perguntar o que ele pretendia. De repente, viu o rosto dele se aproximando, tenso, até sentir algo suave sobre os lábios.

Isso é um beijo? — pensou ela por um instante. Mas logo descartou a ideia. Seria mais correto dizer que foi uma mordidinha do que um beijo.

— Se está bravo, não precisa morder Zhen, sabia? — disse ela, afastando Murong Xuanhe com um sorriso travesso, os olhos cheios de malícia.

O rosto dele ficou vermelho como pimenta. Tentou mover os lábios para falar algo, mas acabou virando as costas e saindo correndo.

— Hahahaha... — O riso alegre de Liyou ecoou atrás dele, fazendo-o correr ainda mais rápido.

— Majestade? — chamou Situ Hongyu, hesitante. Liyou conteve o riso e voltou seu olhar interrogativo para ele.

— Se Vossa Majestade continuar zombando assim do Xuanhe, ele vai acabar ficando triste — disse ele, sem saber se a Imperatriz entendia os sentimentos de Xuanhe. Mas, por ele ter vindo visitá-lo, era claro que era uma boa pessoa, de coração simples. Não queria vê-lo magoado.

— Oh? E por que diz isso?

— Xuanhe gosta de Vossa Majestade... E também é seu consorte. Mas a senhora o trata como uma criança. Como ele não ficaria triste? — Quantas pessoas já não foram feridas pelo amor? Poucos conseguem manter o coração aberto, e esse tipo de dor geralmente vem justamente de quem mais se ama.

Liyou franziu o cenho. Ela entendia o que Hongyu dizia, mas sempre optara por ignorar. Para ela, Murong Xuanhe era apenas um garoto — adorável, inocente. Gostava dele, sim, mas era impossível vê-lo como um homem. Ele era mesmo como uma criança. No entanto, se estava triste por isso...

Liyou sentiu-se um pouco aborrecida.

— Por que diz isso para Zhen? Que vantagem você ganha com isso?

Situ Hongyu ficou surpreso. Então, será que só podia dizer algo se tivesse a ganhar?

— Majestade, está menosprezando este consorte. Que vantagem eu ganharia com isso? Só não quero ver uma pessoa tão simples ficar triste... Mas acho que este consorte falou demais. Vossa Majestade é a Imperatriz. Como poderia se preocupar com a felicidade de um consorte?

Situ Hongyu manteve as costas eretas do começo ao fim. Sabia que seu tom fora ruim, sua postura, ríspida. Com certeza ofendera a Imperatriz. Mas não conseguia deixar de dizer o que pensava.

Diante da atitude provocadora dele, Liyou apenas ergueu as sobrancelhas. Não se irritou, mas achou a situação interessante. Esse Enfeitiçante guifei podia ser bem direto. Após alguns dias de contato, notara que ele era uma pessoa bastante voluntariosa, de temperamento difícil, que avaliava os fatos como eram. Isso combinava com o que se lembrava do antigo Enfeitiçante guifei — espalhafatoso, impetuoso, queimando como uma chama selvagem. Agora, embora a chama estivesse contida, sua essência permanecia.

— Então diga, o que Zhen deve fazer para que ele não fique triste? — O tom despreocupado indicava que talvez ela se importasse com Xuanhe... ou talvez tivesse se interessado subitamente pelo consorte à sua frente.

O Consorte Imperial ficou sem saber o que responder, mas percebeu algo estranho no modo da Imperatriz. Pensando que talvez ela realmente se importasse com Murong Xuanhe, respondeu após refletir:

— Este consorte não é An guifei, então não pode adivinhar o que ele pensa. Mas, sob meu ponto de vista, An guifei simplesmente gosta da Imperatriz. Se Vossa Majestade puder tratá-lo como trata os outros consortes, ele já ficaria muito feliz.

No harém, as pessoas já não eram mais tão gananciosas. Queriam apenas um pouco mais de atenção em algumas noites. O que mais poderiam esperar? A Imperatriz era fria, e havia três mil no harém. Quem ousaria esperar ser o único em seu coração? Ele mesmo, tolo, já achara que havia sido esse único.

— O mesmo tratamento... E você? Acha que está sendo tratado como os demais consortes? — Liyou voltou a conversa para o Enfeitiçante guifei, com um olhar profundo.

Desde que saíra do Palácio Frio, ele parecia ter se tornado outra pessoa. Já não disputava, não exigia, não lutava. Se não fosse por preocupação com o filho, pareceria que nada mais o importava.

Situ Hongyu ficou surpreso com a pergunta. O que a Imperatriz queria ouvir dele?

— Este consorte não entende o que Vossa Majestade quer dizer... Mas não acha que haja algo errado. Está muito satisfeito com a situação atual. — Uma pessoa precisa aprender a se contentar. No passado, ele não entendera essa verdade, e por isso se metera em tantos problemas.

Liyou olhou-o profundamente, com olhos cheios de indagação. Nunca gostara do antigo Enfeitiçante guifei — aquele que agitava o harém, arrogante e sem limites depois de receber favores. Aquilo a enojava. Mas agora, esse consorte discreto e satisfeito com o pouco despertava nela uma ponta de compaixão. No fim, tudo fora causado por ela. Ela quem cortara suas asas, impedindo-o de querer voar novamente.

— Envie alguém para avisar Fengying, se precisar de algo. Especialmente quanto ao Jing’er. Zhen irá embora agora — disse Liyou, um pouco abatida, sem vontade de continuar ali, lamentando a mudança daquele homem.

Ao sair do Palácio Yaoyu, encontrou Anhui à espera. Ele achava inapropriado acompanhar a Imperatriz para dentro — afinal, também era consorte — e apenas aguardava do lado de fora.

Sempre que a Imperatriz saía do Palácio Yaoyu, parecia feliz. Mas dessa vez, estava diferente. Parecia imersa em pensamentos, com um toque de melancolia. Pensando na cena de An guifei chorando e correndo para fora, Anhui perguntou, preocupado:

— Majestade, há algo que a deixou descontente?

— Nada — respondeu ela. Não estava descontente, apenas achava que aquele homem era mesmo difícil de compreender. Isso a deixava um pouco irritada. — Zhen quer cavalgar. Acompanhe-me.

— Sim — respondeu Anhui, sem questionar mais nada. Caminharam juntos em direção ao campo de caça. Mas, ao se aproximarem do perímetro, encontraram Luo Yu, vestindo túnica prata-branca.

Luo Yu e Liyou se encararam — um com frieza e distância, a outra com serenidade e calma.

— Este consorte saúda a Rainha Mãe.

Os mestres não falaram nada, mas os servos, como subordinados, não podiam se omitir. As saudações partiram de ambos os lados, uma após a outra, obrigando os dois a desviar o olhar.

— Levantem-se — disseram os dois, em uníssono, como se tivessem combinado. E, inevitavelmente, trocaram outro olhar.

**

Capítulo 95: Advertência

Embora Liyou não sentisse necessidade de dizer nada, ainda assim deu dois passos à frente e chamou suavemente:

— Pai.

Luo Yu permaneceu em silêncio, e Liyou não disse mais nada, já se preparando para partir. No entanto, naquele instante, uma pessoa surgiu diante de sua vista — o Grão-Duque de Nanping, Xiao Yuwei!

Muitas coisas haviam acontecido recentemente — a eclosão da guerra, as dinâmicas políticas entre os diversos reinos, o nascimento de Jing’er — e por isso, ela quase esquecera da existência dessa pessoa. Ao ver aquela mulher novamente no Palácio Imperial, Liyou sentiu uma repulsa sem razão aparente, mas escondeu bem suas emoções, apenas lançou um olhar à intrusa e logo desviou o olhar. Permaneceu ali, imóvel, esperando que Xiao Yuwei se aproximasse e prestasse reverência.

Xiao Yuwei não parecia ter imaginado que a Imperatriz estaria ali e ficou atônita por um momento antes de correr às pressas, ajoelhar-se e prestar seus respeitos:

— Saudações à Imperatriz, que Vossa Majestade tenha vida longa.

Liyou não respondeu nem permitiu que ela se levantasse. Apenas olhou para Luo Yu, que permanecia ao lado, com um olhar frio.

Sem saber o porquê, Luo Yu de repente sentiu culpa, como se tivesse feito algo errado. Mas ele não havia feito nada — apenas encontrara alguém que mal podia ser considerado um amigo.

Liyou se retirou com sua comitiva sem dizer uma única palavra, deixando para trás um Luo Yu em silêncio e sua própria comitiva. Xiao Yuwei ergueu o olhar e observou, com as sobrancelhas franzidas, a figura da Imperatriz se afastando.

— Majestade Real, tem certeza de que a vida no palácio está satisfatória? — Após a partida da Imperatriz, Xiao Yuwei se levantou e perguntou, com uma pontada de preocupação na voz. Ao mesmo tempo, lançou um olhar para Luo Yu, com um traço de aflição e tristeza.

Ela gostava de Luo Yu há muito tempo.

— Isso não tem nada a ver com você. Yuwei, você não deveria ter voltado à cidade. — Ele ainda se lembrava de que, por causa da aparição inesperada de Xiao Yuwei da última vez, Liyou perdera o controle. Mas agora, ela não dissera nada. Será que ela realmente não se importava mais com ele?

Esse sentimento de inquietação em seu coração se tornava mais forte com o passar do tempo. Toda vez que via a expressão indiferente de Liyou, uma sombra escura se formava em sua mente, fazendo-o sentir que a distância entre os dois crescia cada vez mais.

— Não deveria ter vindo? Esta ministra também sente que não deveria ter vindo, mas não consigo controlar meu coração. Yu’er, você realmente acredita que eu não deveria estar aqui? — O nome que tantas vezes murmurara em seu coração finalmente escapou de seus lábios, e Xiao Yuwei sentiu como se um peso fosse tirado de seus ombros. Se a vida no palácio não era agradável, ela não se importaria em tirá-lo de lá, mesmo que isso significasse fazer inimigos no mundo inteiro!

— Presunçosa! Como se atreve a me chamar assim? — Luo Yu se irritou com a intimidade desmedida de Xiao Yuwei. Embora a considerasse uma amiga, ela não deveria chamá-lo daquele jeito. Um nome tão íntimo, saindo da boca dela, era simplesmente ultrajante!

— Yu’er, Yu’er… e daí se eu te chamar assim? Sou insolente, sim, mas tudo isso é por sua causa. Se você estivesse vivendo bem no palácio, talvez eu conseguisse reprimir esses sentimentos no meu coração. Mas você não está feliz. Por que se forçar a permanecer neste palácio gelado e sem afeto? Você pode vir comigo, sob os vastos céus — qualquer lugar é melhor que aqui! — Xiao Yuwei deu alguns passos apressados à frente, como se quisesse segurar a mão de Luo Yu. Ele recuou, olhando-a friamente.

— Grão-Duquesa de Nanping, bengong está cansado. Pode se retirar agora. — O tom gélido de Luo Yu transbordava raiva. Desta vez, ele estava verdadeiramente furioso. Nunca imaginara que uma pessoa que sempre considerara amiga tivesse tais intenções para com ele. Isso o deixava enojado!

Chocada com a frieza e o distanciamento no tom de Luo Yu, Xiao Yuwei hesitou por um momento e não ousou se aproximar mais. Ainda assim, insistiu com relutância:

— Pense com calma. Há algo neste lugar que o prende? O mundo lá fora é vasto. Se você quiser, posso levá-lo para qualquer lugar…

— Basta. Bengong não quer ouvir mais nada. — Luo Yu realmente não conseguia mais suportar aquelas palavras. Sem esperar que ela se retirasse, virou-se com um gesto brusco e saiu, furioso!

Desolada diante da decisão firme de Luo Yu, Xiao Yuwei arrastou os pés para fora do palácio, cabisbaixa — mas foi detida por uma sombra no caminho!

— Sua Majestade disse que, pelas palavras que você acabou de dizer, seria suficiente para exterminar as nove gerações do seu clã. Qual é o status do Majestade Real? Como ousa alimentar desejos vãos por ele? Se ainda deseja manter seu título de Grão-Duquesa de Nanping, saia imediatamente da cidade imperial e nunca mais volte. Se a Imperatriz a vir novamente neste palácio, as consequências não serão do seu agrado! — Após transmitir a mensagem da Imperatriz, Anhui desapareceu, deixando apenas Xiao Yuwei parada ali, coberta de suor frio!

Ela sabia que as palavras da Imperatriz não eram brincadeira. Mas como poderia simplesmente aceitar aquilo e ir embora?

— Vossa Majestade, este subordinado já transmitiu sua mensagem à Duquesa de Nanping. — A Imperatriz havia partido momentos antes, mas não fora longe. Ficou escutando toda a conversa entre os dois. Naquele momento, seu corpo exalava uma assustadora intenção de matar. Anhui não teve dúvidas de que, se não fosse pelo autocontrole de Liyou, ela teria matado a Grã-Duquesa ali mesmo. Mas, no fim, a Imperatriz escutou pacientemente e apenas pediu a Anhui que desse o aviso — suas verdadeiras intenções, ocultas.

— Vamos. Vamos cavalgar. — Neste momento, Liyou já não sentia mais raiva, mas sabia que, se não tivesse escutado pessoalmente a recusa evidente de Luo Yu, teria matado aquela mulher no ato. Ela abrira mão de Luo Yu, mas isso não significava que permitiria que outros tentassem levá-lo. Ele pertencia a ela!

— Entendido.

Quando Liyou e sua comitiva chegaram aos campos de caça, viram algumas figuras familiares. Com Anhui sendo elevada a Consorte Imperial, os enviados dos três reinos e o nascimento do filho da Guifei Encantadora, muitas coisas haviam acontecido no palácio recentemente. Por isso, a saída de Qin Ning e das outras consortes fora adiada, e Liyou também vinha visitando a Guifei com mais frequência — mal vira mais alguém. Inesperadamente, encontrou-os ali.

Qin Ning, Li Qujun, Sang Zixin e Luo Xingchen — esses quatro estavam cavalgando juntos. No entanto, exceto por Qin Ning, os outros três eram claramente novatos, agarrando-se às crinas de seus cavalos sem ousar se mover.

Qin Ning foi o primeiro a notar a presença da Imperatriz e imediatamente desmontou para prestar reverência. Isso, porém, deixou os outros três em apuros. Queriam descer, mas não ousavam se mover de repente — o que era bem diferente quando se estava montado!

Li Qujun foi o que aprendeu mais rápido entre os três. Apesar do nervosismo, forçou-se a desmontar. Sang Zixin era mais tímida e não teve coragem de se mexer, olhando nervosamente para a Imperatriz. Luo Xingchen tentou descer do cavalo, mas tropeçou e caiu em direção ao chão.

— Ah... — Antes que pudesse gritar, Luo Xingchen se sentiu acolhido por um abraço suave.

— Cuidado. Com você assim, como Zhen pode ficar tranquilo deixando-o sair do palácio? — Ao ver Luo Xingchen em perigo, Liyou correu imediatamente e o segurou. Sentiu um leve perfume de jasmim exalando dele — um aroma extremamente agradável.

— Im-Imperatriz, Vossa Majestade... — Luo Xingchen ficou tão nervoso que perdeu a fala. Estava sendo abraçado pela Imperatriz? Só de pensar nisso, corou até a raiz dos cabelos.

— Por que está gaguejando? Está com medo? — Sem saber o que ele estava pensando, Liyou achou que ele havia se assustado e passou a mão por seus cabelos como gesto de conforto.

Luo Xingchen jamais sentira tamanha gentileza da parte da Imperatriz. Por um momento, pensou estar sonhando. Ela estava mesmo falando com ele?

— Ficou mesmo apavorado? — Vendo que Luo Xingchen não respondia, Liyou acenou diante de seus olhos novamente. Ele não havia caído de verdade nem se machucado, então devia estar bem.

Luo Xingchen finalmente reagiu e, num piscar de olhos, afastou-se do abraço da Imperatriz e ajoelhou-se bruscamente no chão:

— Este consorte saúda Vossa Majestade e agradece pela graça de ter sua vida salva!

Se a Imperatriz não o tivesse segurado, ele provavelmente teria virado uma alma pisoteada sob os cascos dos cavalos.

— Está tudo bem, ainda bem que não se machucou. Levante-se. — Vendo que Luo Xingchen estava bem, Liyou suspirou aliviada. Embora achasse que aquilo não era nada assustador, tinha ficado genuinamente aflita com a expressão vazia dele. Costumava parecer melancólico — provavelmente era do tipo sensível — e não era de se estranhar que ficasse assustado.

— Obrigado, Vossa Majestade! — Luo Xingchen tentou se levantar, mas de repente sua visão escureceu e ele perdeu as forças nas pernas.

Felizmente, Liyou o segurou novamente. Isso fez com que ela percebesse que ele não parecia estar muito saudável.

— Por que está tão fraco? Deixe que o médico imperial o examine quando voltarmos. Tome mais tônicos nutritivos. Caso contrário, é melhor não sair do palácio. Sendo criado aqui esse tempo todo, quem sabe como lidará com o mundo lá fora? — Ele era leve como uma pluma, lembrando-lhe Lin Daiyu, da obra Sonho do Pavilhão Vermelho, conhecida por sua fragilidade física e melancolia. Ver aquilo fez o coração de Liyou apertar — como se nesse palácio nem comida decente houvesse.

Luo Xingchen ainda estava assustado, e depois da queda, ficou tão emocionado que não conseguiu se firmar. Quando a escuridão nos olhos se dissipou, ouviu a voz cuidadosa e repreensiva da Imperatriz, aquecendo seu coração.

— Vossa Majestade... está preocupada com este consorte? — Luo Xingchen abriu os olhos brilhantes e perguntou, comovido.

— Que bobagem. Não sabe cuidar de si mesmo? — Liyou franziu a testa e lançou um olhar gélido ao cavalo, que começou a tremer de medo, quase desabando.

— Suas bestas, se tivessem mesmo feito meu consorte cair, esperem só pra ver o que Zhen faria com vocês! — Embora ameaçar cavalos soasse estranho, foi extremamente eficaz. Os animais pareceram entender e começaram a balançar suas enormes cabeças como quem pede desculpas.

Alguns dos atendentes por perto ficaram pasmos com a cena. Luo Xingchen quis dizer algo, mas um relincho cortou o ar. A montaria de Liyou, Mo Ling, correu velozmente com uma aura tão imponente que os demais cavalos começaram a tremer, sem ousar respirar.

— Travessa. — Olhando para Mo Ling, que tentava se enroscar nela e afastar Luo Xingchen, Liyou lhe deu um tapinha suave e sorriu de leve. — Vamos, Zhen vai te levar para cavalgar. — Liyou segurou Luo Xingchen nos braços e subiu diretamente em Mo Ling. Depois de dar um leve tapinha em sua cabeça, Mo Ling partiu em disparada, levando os dois consigo.

***

Capítulo 96: Olhos como Estrelas

Mo Ling era muito veloz, mas mesmo estando montado em suas costas, não se sentia o menor solavanco, tornando o passeio extremamente confortável. Ainda assim, aquilo era estímulo demais para Luo Xingchen. Por sorte, as mãos ao redor de sua cintura lhe transmitiam uma sensação de segurança e calor, fazendo-o se sentir seguro e acolhido. Nunca havia agido com tanta ousadia em sua vida — e nunca havia se sentido tão próximo da felicidade.

Aos poucos, Luo Xingchen se acostumou com aquela velocidade que competia com o vento e passou a observar os arredores. Sua expressão melancólica foi se suavizando, e em seus olhos surgiu um brilho leve de alegria, cintilando como as estrelas.

— Majestade, olhe, aquela árvore antiga ali… que maravilha! — Luo Xingchen avistou de repente uma árvore milenar de aparência mística e exclamou, virando-se parcialmente para olhar Liyou. E naquele momento, Liyou também o olhava — e viu aqueles olhos brilhantes… tão belos...

Impulsivamente, Liyou beijou aqueles olhos semelhantes a estrelas. Foi um beijo suave, aparentemente sem intenção, mas que trouxe consigo uma sensação estranha, pairando entre os dois.

Liyou se surpreendeu com seu próprio gesto. Havia o beijado — e o fizera de forma tão natural. Sem pensar.

— Você tem um par de olhos muito bonito. Deveria sorrir mais. — Mo Ling diminuiu a velocidade, e Liyou comentou com admiração. Mas era uma pena… o sorriso dele era ainda mais raro do que aqueles olhos que brilhavam como as estrelas.

Luo Xingchen ainda não havia se recuperado do beijo repentino. Ao ouvir o elogio da Imperatriz, sentiu-se tonto.

— Impe... Imperatriz… Majestade… — murmurou, nervoso. Por que a Imperatriz dizia algo tão constrangedor de repente? Ele não sabia como reagir. Mas… será que ele realmente ficava bonito sorrindo?

— En? O que deseja dizer? — Liyou viu o jeito tímido de Luo Xingchen e suavizou o tom. Sempre temia que, se elevasse a voz, poderia assustar o homem em seus braços. Ele era sensível demais, e sua constante melancolia fazia com que os outros hesitassem em se aproximar.

— Este consorte agradece o elogio da Imperatriz… mas este consorte não é assim tão bom. — Era a primeira vez que recebia um elogio da Imperatriz.

— É bom sorrir mais. Quando estiver com o coração pesado, saia para dar uma volta. Não fique sempre com esse ar de quem sofreu alguma injustiça. — Ela guardava essas palavras há tempos, mas nunca tivera oportunidade de dizê-las.

— Este consorte... é assim? — A alegria no ar foi tomada por uma ponta de tristeza. Luo Xingchen refletiu sobre sua vida no palácio, sem coragem de responder àquela pergunta. Sabia que sim — que ele mesmo era a fonte de sua infelicidade. Não era o vasto palácio que o aprisionava, mas seu próprio coração. Ele sabia disso… mas não conseguia escapar.

— Não? Se ousar dizer que não, Zhen vai te jogar daqui de cima. — Liyou apertou os braços ao redor dele e sussurrou com um tom perigoso em seu ouvido. O corpo de Luo Xingchen enrijeceu ao sentir a respiração da Imperatriz tão próxima. Havia tanto tempo que não ficavam assim... Ele começou a sentir o rosto esquentar e os pensamentos se embaralharem.

— N-não! Por favor, não… — murmurou, acreditando mesmo que a Imperatriz o jogaria.

— Bobo. — Liyou afrouxou o abraço ao redor da cintura de Luo Xingchen para que ele não ficasse tão tenso. Mas, ao ver que ele realmente se assustou, não resistiu a provocá-lo.

Os olhos de Luo Xingchen piscaram e ele percebeu que havia sido alvo da provocação da Imperatriz. Seu rosto corou e ficou visivelmente envergonhado.

Liyou observava a riqueza de expressões no rosto de Luo Xingchen e não pôde deixar de suspirar — ele era mesmo um homenzinho digno de pena.

Ele ficou tão constrangido que parou de falar, mas Liyou não pretendia deixá-lo escapar tão fácil e continuou a sussurrar em seu ouvido:

— Por que ficou tímido, agora não fala mais? Ou está zangado com Zhen? — Ao ouvir a Imperatriz insinuar que ele estava bravo, Luo Xingchen se apressou em negar, desesperado por parecer um idiota que nem sabia mais falar direito.

— Então dê um beijo em Zhen, para provar que não está com raiva. — Liyou envolveu Luo Xingchen com um braço para evitar que ele caísse, e sua mão deslizou lentamente até o pescoço dele. Seu corpo se colava completamente às costas de Luo Xingchen, absorvendo seu perfume e estimulando seus sentidos.

Liyou enterrou o rosto entre o pescoço e o ombro de Luo Xingchen, vagando por ali com ambiguidade. Seus lábios tocavam o pescoço dele — ora de propósito, ora não. Estava tão próxima que podia sentir a tensão súbita de Luo Xingchen.

— Está com medo? — Liyou virou o rosto dele para si, examinando sua reação. Xingchen não ousava erguer os olhos, e apenas abaixou a cabeça timidamente.

— N-não… — Sua voz tremia. Se a Imperatriz não estivesse o segurando, talvez nem conseguisse continuar montado em Mo Ling. Sentia-se sem forças, como se seu corpo todo estivesse fraco.

— Tão obediente… — Liyou lhe deu outro beijo e então o soltou, permitindo que Mo Ling acelerasse novamente.

A brisa levemente fria dissipou um pouco do calor e da atmosfera ambígua que os envolvia. Xingchen permaneceu quieto nos braços de Liyou, o rosto corado sem mudar.

Quando Liyou retornou com Xingchen, todos ainda estavam à espera. Qin Ning ensinava os demais a cavalgar, e Anhui os acompanhava atentamente. Todos saudaram a Imperatriz quando ela voltou.

— Como estão indo? — Liyou perguntou, especialmente aos iniciantes. Comparado ao que havia visto antes, pareciam ter progredido bastante e já conseguiam galopar alguns passos.

— Respondendo à Imperatriz, este consorte é meio tolo e só conseguiu aprender um pouco. — Li Qujun estava suado e cheio de energia. Sempre quisera aprender a cavalgar, e agora que seu desejo se realizara, estava radiante.

— Está feliz, não está? — Ao ver Li Qujun assim, Liyou nem precisava perguntar. Já Sang Zixin, mesmo parado ao lado, com um leve sorriso, deixava transparecer sua alegria. Liyou gostava de ver pessoas assim.

— Sim! — Li Qujun sorriu abertamente para a Imperatriz, confirmando seus sentimentos.

Liyou deixou o campo de caça com todos, e uma comitiva majestosa seguiu até o Palácio Fengqing do Rei Consorte, onde compartilharam uma refeição antes de retornarem aos próprios aposentos.

Depois de mais de um mês de preparativos, o Império Sang finalmente tornou-se território de Qianhe. Desde a nomeação de funcionários até os decretos oficiais enviados aos outros três países, em percepção e em fato, Sang havia sido incorporado. O nome do país desaparecera da linguagem oficial. As cidades manteriam seus nomes, mas mesmo assim, alguns membros do antigo Império Sang não aceitavam a nova realidade e tentavam minar essa decisão em segredo. Qianhe, por sua vez, reprimiu tais ações, capturando e aprisionando muitos dos rebeldes.

Mas sempre havia peixes que escapavam da rede. O Império Sang existira por muito tempo e o poder acumulado pela família imperial não se dissolveria da noite para o dia. Liyou já havia ordenado uma varredura nacional. Conhecia bem o ditado de que, para arrancar o mato, era preciso tirar a raiz — e não queria ver esses problemas ressurgirem.

Mas sempre há uma chance em um milhão…

A noite estava escura. A lua brilhava e o vento assobiava entre as árvores. Antes da meia-noite, algumas figuras negras passaram rapidamente, evitando os guardas, e se separaram em um pátio pequeno. Alguns correram na direção do quarto da Imperatriz.

Qianhe Liyou percebeu a aproximação desses intrusos no mesmo instante. Quando os assassinos invadiram o quarto para atacá-la, ela já estava preparada e, com poucos movimentos, os neutralizou. Eram sete ao todo, agora imóveis como bonecos na sala de estudos imperiais.

— Majestade, quando estou ao seu lado, sempre me sinto envergonhado. — Anhui estava aflito por não ter detectado os assassinos nem precisar intervir.

— Bobo. Eu não pedi para você ficar ao meu lado para pegar assassinos. Descubra de onde vieram e leve-os embora. — Aqueles não eram os primeiros invasores — Liyou já lidara com vários e começava a se sentir entorpecida com tudo isso.

— Sim. — Anhui se aproximou de um dos homens e retirou sua máscara. — De onde você veio?

— Hmph, apenas nos matem. — O assassino claramente estava preparado para morrer. Aqueles que ousavam invadir o palácio já haviam feito as pazes com a morte.

— Eu sabia que diria isso. Mas mesmo que não fale, já sei de onde vieram. Alguém! Leve-os à Prisão Celeste! — Anhui confiava no sistema de inteligência da Anbu, que se infiltrara nos quatro países. Mas, com o aumento de atentados, começou a perceber que mesmo o sistema mais sofisticado tinha brechas. Havia gente demais no mundo. Coisas demais. Era impossível prever tudo. A única certeza era a gratidão por a Imperatriz ser forte o suficiente para se proteger — ele não conseguia imaginar a vida sem ela.

Os assassinos foram levados, mas o palácio não permaneceu em silêncio por muito tempo. Logo, uma comoção se espalhou e chegou uma nova notícia:

— Relatando à Imperatriz: o Rei Mãe foi sequestrado!

Liyou ficou furiosa. Saiu com o rosto frio e em um sopro chegou ao Palácio Luoxian de Luo Yu. Dois assassinos estavam cercados na entrada e Luo Yu era mantido como refém, com uma linha de sangue surgindo em seu pescoço. A situação era crítica.

— Deixem-nos sair ou o mataremos! — Os assassinos encaravam os guardas com ferocidade, a lâmina encostada na pele de Luo Yu.

Mas nenhuma situação crítica impedia Liyou de salvar quem queria. Assim que chegou, ela avançou sem hesitação — e salvou Luo Yu em um piscar de olhos. Os assassinos ficaram estáticos, paralisados por um feitiço!

Ao ver o sangue no pescoço de Luo Yu, o rosto de Liyou escureceu. Voltou-se para os dois assassinos com uma expressão sombria:

— Vocês o feriram… imperdoável!

Uma névoa negra saiu da palma de sua mão e envolveu os dois, que começaram a gritar. Os lamentos agudos rasgavam o ar…

— Vocês sentirão dor dia e noite. Este é o preço por ferirem quem não deveriam! — Liyou pegou Luo Yu nos braços e voltou voando para seus aposentos…


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