Capítulo 131
— Esse garoto é um candidato perfeito a ser um troll da internet. Antes, eu só achava que ele servia para o exército. Vocês já sabiam disso? — O comandante do exército Liao olhou para Hu Zhenghao e Li Wen. Ambos assentiram.
— Quanto tempo você consegue prender a respiração? — perguntou.
— Mais ou menos o mesmo tempo que o Li Wu — respondeu Hu Zhenghao.
Li Wen balançou a cabeça. — Eu não consigo aguentar tanto tempo assim.
— Vocês precisam treinar mais. Só ler livro não basta — o comandante do exército Liao deu um tapinha na cabeça de Li Wen. — Também tem que ter um corpo forte.
Boas perspectivas, e eram vários assim. Não podiam deixá-los ir embora.
O comandante já planejava dar um treinamento sério para esses garotos no verão.
— Hahaha, hoje eu sou o chefe! Vocês têm que me chamar de mano! — Li Wu ainda curtia a alegria de ter ganhado o título de “chefe”.
— Hmm, ambição não tem idade — elogiou o comandante Liao, olhando as crianças ainda pulando animadas na água, com os olhos brilhando ainda mais.
— Mãe, vamos ficar aqui esta noite para descansar. Dirigir direto é perigoso — disse Shen Xianjun, parando o carro.
— Mãe, eu também estou cansado. É difícil descansar direito no carro — Qin Nian falou.
— Tá bom — Yang Yufen assentiu.
Shen Xianjun foi reservar dois quartos.
Yang Yufen logo dormiu, mas Qin Nian saiu do quarto.
— O que foi?
Ao ouvir o barulho, Shen Xianjun saiu imediatamente.
— Mãe está dormindo, mas eu ainda não tô cansada. Pensei em organizar as coisas que escrevi nesses dois dias.
— Então vai lá e arruma. Eu e Yuanjie vamos ficar aqui fora. Ele acabou de dizer que quer pegar alguma coisa para comer.
Shen Xianjun voltou para dentro.
— Quando foi que eu disse que queria comer alguma coisa?
Liao Yuanjie, que não tinha perdido a conversa do lado de fora da porta, provocou Shen Xianjun com um olhar de quem sabe das coisas.
— Quer comer agora? Aqui, eu te pago.
Shen Xianjun tirou algum dinheiro próprio, pensou um pouco, devolveu dez yuans e deu cinco para Liao Yuanjie.
— Vai lá.
Liao Yuanjie pegou o dinheiro. Também não estava muito cansado. Pensava que iriam dirigir a noite toda, mas, para surpresa dele, pararam para descansar.
— Cunhada, vou pegar alguma coisa para comer — Liao Yuanjie se despediu antes de sair.
Qin Nian reprimiu um sorriso. A porta ainda estava aberta. Embora Shen Xianjun tivesse falado baixo, a distância não era grande.
— Ahem, tem uma mesa aqui dentro. Você pode usar. Eu fico fora.
— A gente é casado. Entra e senta. Não me incomoda, desde que a porta fique aberta — Qin Nian disse, já sentando na mesa.
Shen Xianjun pigarreou e entrou para sentar.
Depois de um tempo, Liao Yuanjie voltou carregando comida.
— Trouxe isso pra vocês. Está bem gostoso.
— Obrigada.
Qin Nian arrumou a comida e olhou o relógio. Realmente já estava ficando tarde.
Partiram cedo no dia seguinte. Com as estradas livres durante o dia, dirigiram mais rápido, chegando à cidade pouco depois das duas da tarde. Quando chegaram ao condomínio residencial, as crianças ainda não tinham acabado a escola.
— Como vocês chegaram tão rápido?
Tia Wang saiu ao ouvir as vozes e viu o grupo de Yang Yufen voltando.
— Não podemos atrasar o trabalho das crianças. Vou voltar depois para conversar. Primeiro precisamos ir para casa e ajeitar as coisas.
Yang Yufen sorriu em resposta.
— Tá bom, tá bom.
Tia Wang não demorou nem tentou segurar ninguém. Depois de ver Yang Yufen e os outros irem para casa, ela se virou e voltou para preparar o jantar.
— Mãe, descanse. Eu vou cuidar da arrumação — disse Shen Xianjun enquanto carregava tudo para dentro da casa. Vendo Yang Yufen prestes a começar a trabalhar, ele falou rápido.
— Mãe, Xianjun e eu vamos cuidar disso.
Qin Nian também apressou-se a falar. Pelo caminho, ela entendeu por que sua sogra não ficara mais tempo na cidade natal deles. Ela disse que era porque se preocupava com as crianças, mas na verdade não queria atrapalhar o trabalho delas.
Mesmo assim, a longa viagem de ônibus era difícil até para alguém jovem como ela, imagina para uma mulher da idade da sogra.
— Vocês dois cozinhem e arrumem a casa um pouco. Eu vou cuidar das galinhas no galinheiro atrás — disse Yang Yufen.
Ela estava um pouco cansada, mas depois de tanto tempo sentada no ônibus, realmente não queria se deitar ainda. Mexer-se um pouco faria bem.
Vendo isso, os dois não a impediram e rapidamente guardaram as coisas antes de começar a cozinhar.
— Vou buscar as crianças — disse Shen Xianjun depois de terminar o último prato e tirar o avental.
— Tá — Qin Nian assentiu.
— Mãe, vou passar na casa da professora um pouco. Xianjun vai buscar as crianças — Qin Nian avisou a Yang Yufen enquanto se dirigia ao galinheiro.
— Tá bom. Leve esses ovos com você e, aproveitando, liga para o chefe da equipe para avisar que chegamos bem — disse Yang Yufen enquanto terminava de limpar o galinheiro e entregava a cesta de ovos antes de continuar o trabalho.
— Entendi — respondeu Qin Nian, carregando a cesta enquanto saía. O professor Wen estava em casa lendo jornal e pareceu surpreso ao ver Qin Nian.
— Pensei que vocês iam ficar vários dias. Por que voltaram tão cedo?
— Minha sogra se preocupou com o nosso trabalho e não quis atrapalhar. Nem entramos em casa antes de irmos prestar respeito no túmulo. Ela só ficou uma noite. Se não tivéssemos parado para descansar no caminho, talvez tivéssemos chegado de manhã — explicou Qin Nian, colocando os ovos com cuidado na cozinha.
— Não precisa se apressar tanto. Não querem se desgastar — disse o professor Wen, servindo um copo d’água para ela.
— Xianjun e Yuanjie se revezaram ao volante, então não foi tão ruim. Professor, e a casa? — perguntou Qin Nian.
O professor Wen assentiu.
— Ontem tivemos a confirmação. O dono está disposto a vender, e fica perto daqui — bem ao lado da escola média recém-construída. Quando vocês trouxerem o registro de domicílio, poderão cuidar da papelada — contou.
— Muito obrigada, professor. Quando o senhor estará disponível? — perguntou Qin Nian, ansiosa para adiantar as coisas.
— Depois de amanhã. Vou levar vocês para ver. Amanhã é bom que descansem bem — respondeu o professor, entendendo a urgência dela.
Qin Nian assentiu. Tinha algumas coisas para resolver no dia seguinte — já organizara alguns dados técnicos importantes e precisava que o professor ajudasse a arranjar alguém para escrever tudo, para que pudesse ser aplicado logo nos experimentos.
— Pai! A vovó e a mamãe voltaram, né? — Li Wu chamou animado ao ver Shen Xianjun. Justo quando ele assentia e ia dizer algo, os gêmeos se deram as mãos e saíram correndo, sem esperar por ele.
— Vovó! Vovó! — as vozes deles chegaram à casa antes mesmo deles entrarem. Yang Yufen saiu, e as duas crianças correram para seus braços.
— Vovó, por que você voltou tão cedo? Sentimos tanta saudade!
Li Wu estava tomado pela empolgação, e Li Wen abraçava Yang Yufen com força.
Yang Yufen acariciou gentilmente as cabeças das duas crianças.
— A vovó disse que só ia ficar fora uns dias e voltaria logo. Ela sente muita falta de vocês. Vamos lavar as mãos. Sua mãe também vai chegar logo.
Yang Yufen levou as crianças para lavar as mãos, quando Li Wu de repente lembrou.
— Ah não, a gente não esperou o mano Zhenghao!
Yang Yufen ficou momentaneamente sem reação com as palavras dele; ela também não tinha pensado nisso. Não só o Zhenghao — e Wang Xing?
Enquanto Yang Yufen ainda refletia, Li Wu falou.
— Tá tudo bem. O mano Zhenghao com certeza sabe que a gente veio atrás dele. Vovó, o Wang Xing foi levado pelo pai porque os avós maternos tiveram uma emergência. Ele ainda não voltou.
Hoje na escola, sem o Wang Xing por perto, todo mundo estava entediado.
Capítulo 132
Yang Yufen não esperava que tanta coisa acontecesse em apenas alguns dias longe de casa.
Naquele momento, Shen Xianjun e Hu Zhenghao chegaram à porta.
— Vovó Yang.
— O Zhenghao chegou! Vai lavar as mãos e se preparar para o jantar.
— Tá!
Hu Zhenghao largou a mochila e foi lavar as mãos.
— O irmão do Wang Xing talvez não volte por mais uns quinze dias. Os pais dele tiraram duas semanas de folga — compartilhou Hu Zhenghao.
— Quinze dias? É muito tempo! — suspirou Li Wu.
Qin Nian voltou, e a família jantou junta.
— Vocês dois levam as crianças para passear. Eu vou visitar a tia Guixiang.
Yang Yufen colocou as coisas que Changshun dera em uma cesta.
— Cuidado, mãe.
Qin Nian respondeu rápido.
— Vovó, posso ir com você?
Li Wu não queria desgrudar da avó, que tinha acabado de voltar.
— Comporte-se, querido. A vovó já volta logo. Terminem o dever de casa primeiro.
Yang Yufen recusou com delicadeza. As crianças já não tinham muito tempo com os pais e logo o casal ficaria ocupado de novo — não fazia bem para a harmonia familiar.
— Tá... mas volta cedo, vovó.
Li Wu soltou a mão com relutância.
Yang Yufen saiu com a cesta. Qin Nian conferiu o dever dos meninos enquanto Shen Xianjun limpava a mesa.
A loja de macarrão ainda estava aberta quando Yang Yufen chegou. Gui Xiang chamou rapidamente a sobrinha para substituí-la.
— O Changshun pediu para eu trazer isso para você. As crianças estão esperando em casa, então volto outra hora para conversar.
Yang Yufen entregou os itens. Gui Xiang assentiu, guardou tudo e voltou ao trabalho. Só tarde da noite, depois de fechar, limpar e preparar o dia seguinte, Gui Xiang finalmente abriu o pacote.
Dentro, dois conjuntos de roupas — claramente feitos para ela e para o marido pela nora mais velha.
Quando escolheram a esposa do filho mais velho, procuraram alguém capaz, de família unida, em quem pudessem confiar nos momentos difíceis.
Gui Xiang estava prestes a guardar as roupas — as velhas ainda serviam para o dia a dia, guardaria as novas para depois — quando sentiu algo no bolso.
Tirou uma carta e um maço bem dobrado de dinheiro e vales de mantimentos.
Gui Xiang sabia o suficiente de caracteres para ler a carta. Ao terminar, as lágrimas escorriam pelo rosto. Ela as enxugou, guardou o dinheiro com cuidado e sentiu a tristeza aliviar.
Dinheiro — tudo se resumia a dinheiro. A pobreza era a raiz de tudo.
Gui Xiang respirou fundo, com o coração mais leve ao entender as dificuldades do filho.
Yang Yufen voltou para casa bem quando as crianças terminaram o dever.
— Vovó, você voltou tão cedo! Pode fazer macarrão frio para a gente amanhã? Por favor? Por favor?
Li Wu largou a mão de Shen Xianjun animado e correu para os braços de Yang Yufen.
— Claro, claro! Macarrão frio amanhã. E você, Li Wen? O que gostaria que a vovó fizesse?
— Eu gosto de tudo que a vovó cozinha.
Li Wen se encostou em Yang Yufen.
— Vovó, aprendi algumas frases novas. Posso recitá-las para você?
Li Wen piscou para ela, ansioso.
— Claro! Vovó adora ouvir você recitar.
Yang Yufen sorriu, levando as crianças sob a grande árvore banyan, onde ouviu suas recitações e as observou brincar.
— A mãe disse para a gente passar tempo com as crianças, mas elas nem se grudam na gente — disse Shen Xianjun, um pouco com ciúmes. — Elas ficam grudadas na vovó.
— Foram criadas pela mãe. A gente não fez muita coisa por elas, então claro que são mais próximas dela. Se for para pensar, devíamos agradecer por a mãe cuidar tão bem delas.
Qin Nian adorava a cena, embora sua mente divagasse para a máquina de lavar em casa. Precisariam comprar mais coisas — quando tivessem a casa, veriam quanto dinheiro sobrava.
Perdida em pensamentos, não percebeu Shen Xianjun falando ao seu lado.
Sem resposta, ele ficou em silêncio.
— Preciso voltar para o instituto amanhã. Depois de amanhã, vamos a um lugar juntos.
Qin Nian falou abruptamente, e Shen Xianjun assentiu.
— Pode ser.
Na manhã seguinte, Yang Yufen preparou cedo o macarrão frio.
— Mãe, posso cuidar disso se quiser.
Shen Xianjun se ofereceu para ajudar, mas Yang Yufen o dispensou.
— Vai lá, pega uns tomates e pepinos para as crianças. E tira aquelas damascos amarelos — não vão durar muito. As crianças podem comer no caminho.
Yang Yufen se ocupou na cozinha, fritando ovos e preparando o macarrão. O caldo foi servido quente — comer algo muito gelado logo de manhã não fazia bem.
— Uau! Vovó, cheira muito bem! Vou escovar os dentes agora mesmo!
Li Wu entrou correndo na cozinha, abraçou Yang Yufen e saiu disparado para se lavar.
Li Wen, já fresquinho, ficou obediente ao lado de Yang Yufen, esperando para ser servido antes de se sentar feliz para comer.
Shen Xianjun se serviu, sugando a tigela com tanto entusiasmo que as crianças, sem perceber, aceleraram a própria refeição.
Qin Nian já estava mais à vontade depois desses dias, não comia mais tão cautelosamente como quando chegara. Ainda assim, Yang Yufen sempre enchia o prato dela, deixando Qin Nian cheia.
— A comida da mãe é boa demais. Voltei há pouco e já engordei.
Qin Nian tocou a bochecha.
— Talvez um pouco, mas combina com você.
Shen Xianjun olhou para ela e respondeu sem pensar. Qin Nian parou a mão por um segundo e acelerou o passo em silêncio.
— Diretor Hu, preciso de algumas pessoas confiáveis. Compilei alguns materiais — coisas que precisamos com urgência. Usei meu próprio método de taquigrafia para deixar as anotações concisas e eficientes.
— Entendi. Em que área é isso? Vou designar as pessoas certas.
Depois que Qin Nian explicou as necessidades, o diretor Hu reuniu uma equipe rápido e até providenciou um escritório exclusivo.
Ninguém que entrasse no instituto de pesquisa era bobo. Qin Nian espalhou suas anotações manuscritas e desenhou símbolos no quadro enquanto falava. Uma sala improvisada foi criada.
Perguntas surgiram, respostas foram dadas, discussões fluíram — o dia passou voando. Até o almoço foi rápido no escritório.
Shen Xianjun não entendia muito, mas ouviu com atenção.
Seu olhar ficou preso em Qin Nian, absorvida no trabalho, a luz do sol se pondo iluminando seu rosto.
Uma batida na porta o fez despertar.
— Diretor Hu, o que o traz aqui?
— Só vim ver o progresso de vocês. Como estão?
O diretor Hu olhou para Qin Nian.
— Todos são brilhantes — disse — entendem tudo na hora.
Qin Nian sorriu calorosamente.
— A camarada Qin é impressionante. Ela explica cada dúvida com detalhes e nos deu tantas ideias novas, esclarecendo muita confusão.
Os pesquisadores não cansavam de elogiá-la — o dia fora incrivelmente esclarecedor.
Capítulo 133
— Parece que vocês dois se dão muito bem. Continuem com o bom trabalho. Em breve, vamos selecionar mais pessoas para participar do treinamento, e esperamos que todos possam progredir juntos.
O Reitor Hu estava muito satisfeito.
— Já está ficando tarde. Assim que terminarem a discussão, descansem cedo. A saúde é a base de tudo.
Dizendo isso, o Reitor Hu se despediu. Qin Nian olhou para o relógio e percebeu que já havia passado da hora das crianças voltarem da escola.
Ela rapidamente encerrou a conversa, marcou a próxima reunião para o dia seguinte e voltou para casa com Shen Xianjun.
— Tia, quando as crianças entrarem de férias, vou levá-las comigo e trago de volta quando as aulas começarem de novo.
Em casa, as crianças já haviam jantado e faziam a lição de casa. Hu Jun e o Comandante Liao estavam na casa de Qin Nian.
— Confio as crianças a você. O que devemos preparar para elas? — perguntou Yang Yufen com cautela.
— Só algumas trocas extras de roupa. Não se preocupem com o resto, tia.
Hu Jun respondeu com um sorriso. As férias estavam próximas, e sua mãe já havia mencionado isso antes. Ele estava levando a sério.
Após as instruções diretas do Comandante Liao, Hu Jun também achava que essas crianças precisavam ser cultivadas desde pequenas para aproveitarem ao máximo seus talentos.
— Mãe, Comandante... Irmão.
Shen Xianjun se surpreendeu um pouco ao vê-los e imediatamente prestou continência.
— Chega disso. Pode me chamar de tio. Não sou mais seu comandante. Você se saiu muito bem, e seus filhos são promissores também. Crie-os direito!
O tom do Comandante Liao era solene, mas logo pensou em seu filho mais novo. Enquanto os filhos dos outros já estavam correndo por aí, o dele ainda se recusava a sossegar — um verdadeiro problema.
— Xianjun, agora que está trabalhando com o Yuanjie, converse com ele sobre os benefícios do casamento. Veja quando ele vai finalmente se casar. Não tenho grandes exigências — só alguém disposto a formar uma família. Não ligamos para os antecedentes da mulher, desde que passe na triagem política.
— Sim, senhor! — Shen Xianjun assentiu prontamente.
Os olhos de Hu Jun brilharam brevemente, mas logo sentiu um pesado tapa no ombro.
— Yuanjie está sob seu comando agora. Como superior, preste atenção também à vida pessoal dele. Estabilizar-se primeiro vai ajudá-lo a se concentrar melhor no trabalho.
— Pode deixar, vou organizar alguns encontros sociais e garantir que ele participe.
— Ótimo, ótimo! Bom, já fiquei tempo demais por aqui. Hora de voltar. Irmã Yang, estou indo. Comandada Qin, até logo.
O Comandante Liao se despediu de Yang Yufen, e o grupo o acompanhou até a porta.
Hu Jun reiterou os planos das férias das crianças com Qin Nian e Shen Xianjun.
— Então vamos incomodar você, irmão. Estive bem ocupada ultimamente. Embora meu orientador tenha dito que eu poderia trabalhar de casa, acho que o instituto é mais adequado. Assim que resolver algumas tarefas aqui, o Xianjun pode voltar ao serviço. Mantê-lo aqui seria um desperdício de talento.
Qin Nian explicou seus planos.
— Entendido. Vou informar os superiores.
Hu Jun, inicialmente, queria dar mais tempo ao casal. Mas a relação entre eles era respeitosa e distante — talvez fosse melhor assim, já que não interferia no trabalho.
Yang Yufen escutava em silêncio. Sua nora logo estaria atolada de trabalho novamente, mas era algo importante e não deveria ser impedida. Além disso, ela já tinha dois netos — aquilo bastava. A geração mais jovem encontraria seu próprio caminho.
Enquanto isso, as crianças, já com a lição feita, começaram a se cutucar e provocar.
— Irmão mais velho, o acampamento militar é divertido?
— É divertido, mas você tem que aguentar firme.
Hu Zhenghao inclinou a cabeça, pensativo.
— A vovó Yang vai ter que costurar camadas extras nas calças, senão vocês vão acabar com o bumbum de fora.
— Hã? Por quê?
Li Wu ficou curioso.
— Você vai descobrir na hora.
Hu Zhenghao respondeu com uma expressão misteriosa.
Li Wen, no entanto, abaixou a cabeça, pensativo.
— Irmão... isso quer dizer que não vamos ver a vovó por muito tempo?
Li Wu congelou ao ouvir aquilo — puxa vida! Nem tinha pensado nisso.
— Vocês já são grandinhos e ainda agarrados à vovó o dia todo. Ficam brincando de arminha o tempo inteiro — que tal verem armas de verdade? Tem tanque e canhão também. Querem andar de tanque?
Hu Jun apareceu e entrou na conversa, capturando imediatamente a atenção de Li Wu.
Os dois meninos ficaram fascinados com a descrição de Hu Jun — parecia tão incrível que mal podiam esperar para subir num tanque. Só de imaginar já se sentiam invencíveis.
Na manhã seguinte, algo incomum: Qin Nian saiu de casa carregando uma bolsa. A Professora Wen já a esperava do lado de fora.
— Sogra? O que a senhora está fazendo aqui?
Shen Xianjun ficou confuso.
— Nian, você não contou pro Xianjun?
A Professora Wen percebeu na hora o tom do genro.
— Tive receio que o Xianjun contasse pra mamãe, então preferi não falar. Mas você vai descobrir já, já — disse Qin Nian, se voltando para Shen Xianjun, que não insistiu mais.
Os três subiram em suas bicicletas e logo chegaram perto da nova escola secundária construída.
— Por que vieram hoje? Ainda estamos organizando tudo — está uma bagunça — comentou o dono da casa.
— Minha filha veio dar uma olhada. Se estiver tudo certo, podemos assinar a transferência hoje mesmo.
A Professora Wen sorriu com gentileza, e o rosto do proprietário se iluminou ainda mais.
— Que ótimo! Por favor, entrem. Esse deve ser seu genro? Sua filha já é linda, e o genro tão alto e forte. Que família abençoada!
Qin Nian examinou o lugar com cuidado. Era parecido com a antiga casa de sua família, e como os donos cuidaram bem do imóvel — que nunca ficou vazio —, a casa, embora antiga, ainda era sólida.
Ela assentiu para a Professora Wen.
O pátio ficava em um canto sossegado, bem ao lado da escola, mas longe da rua principal — o que facilitava muito o acesso.
— Esses móveis são todos antigos, e não temos como levá-los. Ficam para vocês — se não gostarem, podem usar como lenha — disse o dono rapidamente, com medo de perder a chance. Sua família estava emigrando e, embora tivesse outros interessados, todos recuaram por causa do preço. Vender por muito menos doía no coração.
— Trinta e dois mil é muito caro. Pode abaixar um pouco?
— Sinceramente, não dá pra baixar mais. Que tal trinta e um mil e oitocentos? Número auspicioso — prosperidade e tudo mais — sugeriu o dono, após pensar um pouco.
— Fechado.
Qin Nian assentiu. Na verdade, só estava testando — a Professora Wen já tinha dado uma estimativa antes.
— Ótimo! Tenho toda a documentação pronta. Se for conveniente, podemos finalizar agora mesmo.
O proprietário ficou animadíssimo. Ao ver que Qin Nian concordou, correu para pegar a escritura do imóvel.
— Sogra, Nian, já temos casa na cidade. Por que comprar outra? E trinta mil... eu...
Shen Xianjun hesitou, constrangido por não ter o dinheiro. Aceitar que a sogra pagasse era ainda mais embaraçoso.
— Estou comprando para a mamãe. Já trouxe o dinheiro — disse Qin Nian.
Shen Xianjun ficou atônito. Mamãe? Com certeza ela não queria dizer a minha mãe...
De repente, Shen Xianjun teve a estranha sensação de estar se precipitando — não, não, isso está esquisito demais.
Sem coragem de perguntar mais, Shen Xianjun seguiu junto até o cartório, observando Qin Nian sacar seu registro de residência.
Capítulo 134
— Por favor, registre a casa neste nome — sim, o proprietário deve ser este aqui.
Qin Nian apontou para a página com os dados de Yang Yufen, e então entregou os comprovantes que havia preparado junto com o pagamento.
Os olhos de Shen Xianjun se arregalaram — não apenas pelo dinheiro, embora, bem… o valor também fosse de cair o queixo. Ele havia se casado com um verdadeiro tesouro de ouro!
A Professora Wen observava tudo em silêncio enquanto a papelada era concluída.
— Tenho aula à tarde, vou indo agora.
— Vá com cuidado, Professora Wen.
Qin Nian acenou para a sogra, despedindo-se.
Shen Xianjun engoliu seco e esperou até estarem sozinhos para perguntar:
— Esposa, por que você comprou uma casa pra mamãe? E uma tão cara assim. Se estivermos apertados de espaço, eu posso solicitar moradia também.
— Essa é minha forma de agradecer à mamãe. Ela se dedicou muito esses anos todos nos ajudando a cuidar das crianças — e vai continuar ajudando. Com uma casa só dela, ela nem vai pensar em voltar pro campo.
Qin Nian deu um tapinha animado na bolsa e já pensava em passar numa loja para comprar um pato assado — mamãe certamente ia adorar. Aquela noite merecia comemoração.
Shen Xianjun observava o rosto alegre da esposa e coçou o nariz. De repente, entendeu por que sua mãe mimava tanto Qin Nian. Se fosse eu, também mimaria.
Mas agora ele mesmo estava feliz. Sua esposa tratava sua mãe como se fosse dela, sem nenhum atrito entre as duas. Que homem não invejaria tamanha sorte?
Casar era maravilhoso. Ia comprar um maço de cigarros pro seu antigo superior quando voltasse — não, pensando bem, cigarro estava difícil de encontrar. Melhor uma garrafa de licor. Dinheiro pra isso ele tinha.
Shen Xianjun deu um tapinha no bolso.
Quando voltasse ao serviço, ia atormentar Yuan Jie todos os dias pra ele se casar logo. Casamento era bom demais!
— Ah, e de agora em diante, fora a parte da mamãe, minha mesada vai toda pra você. Só me deixe um dinheirinho de bolso por mês.
Shen Xianjun pensou um pouco antes de falar.
Trinta e dois mil — não tinha como ele arranjar essa quantia. Teria que pagar aos poucos.
— Tudo bem, mas o dinheiro da casa foi minha forma de homenagear a mamãe. Daqui pra frente, sua mesada pode ser poupada ou entregue a ela — use como apoio pra casa.
Diante das palavras de Qin Nian, Shen Xianjun pensou se não devia aceitar mais missões. Só a mesada não bastava.
— Por que está matando outro frango?
No quintal, a Tia Wang apareceu para uma visita e viu Yang Yufen depenando outra ave.
— As crianças vão sair de férias e vão viajar com o tio. Se eu não matar o frango agora, não dou conta sozinha. Melhor preparar enquanto todos ainda estão aqui, antes que o calor estrague tudo.
Yang Yufen despejava água quente para escaldar as penas, sorrindo.
A Tia Wang caiu na risada.
— Você, que não tem coragem nem de matar um frango pra si, agora não consegue comer um sozinha? É só porque é muito apegada às crianças. Onde já se viu faltar comida onde elas vão estar? Ainda mais com o tio cuidando.
— Você sabe e mesmo assim precisa dizer? Trouxe umas coisas do interior — depois passo aí pra você provar.
Yang Yufen separava as penas para secar.
— Ótimo! As uvas estão maduras — vou trazer uns cachos pras crianças. E vim mesmo foi pra bater papo. Já me acostumei com a algazarra das crianças. Agora que a Miaomiao tá na escola, os dias estão quietos demais. E você, que sumiu esses dias…
A Tia Wang puxou um banquinho e se sentou ao lado de Yang Yufen.
— A irmã Liu tá doente. Que tal irmos visitá-la amanhã?
— Do nada ficou doente?
Yang Yufen parou de limpar o frango.
— Caiu. Os ossos já estavam frágeis. No começo, tentou aguentar firme, achando que um vinho medicinal resolveria. Mas depois de dois dias, a dor ficou tão forte que nem conseguia levantar de madrugada. Foi aí que percebeu que era sério.
— Tudo bem, vamos lá amanhã. Já estava estranhando o portão fechado todas as vezes que passei.
Yang Yufen assentiu.
— E os filhos dela?
— Já são grandinhos — os mais velhos cuidam dos menores. O caçula foi pra casa da avó materna. Parece que a lesão foi feia. Vai ficar acamada por um bom tempo.
O rosto da Tia Wang ficou sério. Na idade delas, era difícil não pensar no que poderia acontecer caso ficassem doentes e sem poder se mover.
— Ficar acamada não é a única possibilidade. Mesmo que precise de bengala ou cadeira de rodas, se ainda puder se locomover, dá pra levar. Em que hospital ela está?
Yang Yufen não era tão pessimista assim. Afinal, Ershun e o pai tinham ficado em péssimo estado e mesmo assim voltaram a andar normalmente.
— Hospital Popular Número Três.
Quando Qin Nian e Shen Xianjun voltaram, as crianças ainda não tinham chegado da escola. O cheiro vindo da cozinha fez Qin Nian ir direto pra lá.
— Mamãe, voltamos.
— Bem-vindos. Tem sopa de feijão-mungo na sala — vão lá tomar um pouco.
Yang Yufen estava ocupada abrindo a massa.
— Mãe, a Qin Nian tem algo pra te contar. Deixa que eu continuo aqui.
Shen Xianjun lavou as mãos e assumiu o lugar dela.
Yang Yufen limpou as mãos e seguiu Qin Nian para fora da cozinha.
— Mamãe, isso é pra você.
Qin Nian entregou a escritura da casa.
— O que é isso? Você que devia guardar os documentos da família.
Yang Yufen sorriu ao ver a escritura, achando que era só um papel qualquer.
— Mãe, abre e dá uma olhada.
Qin Nian insistiu, e Yang Yufen pegou o documento. Já que a nora pediu, pelo menos daria uma olhada com atenção.
— Isto… isto… por que esse nome parece tanto com o meu?
Yang Yufen tocou a linha onde estava escrito o nome da proprietária — três caracteres.
— Sim, mamãe. Esse é meu presente pra você. A esposa do Professor Wen comentou como você gosta de mexer com madeira. Esse quintal é espaçoso, e embora a casa não seja tão grande quanto a antiga, é aconchegante. Fica no beco perto da escola nova, então vai ser prático quando o Dabao e o Erbao começarem a estudar lá. E também não fica longe do nosso conjunto residencial.
Qin Nian explicou tudo com calma.
— Na minha idade, pra que preciso de casa? Mexer com madeira só faz sujeira.
Yang Yufen resmungava, mas os dedos não paravam de passar por cima do próprio nome na escritura.
— Mãe, você já comprou coisas pra mim — por que eu não posso fazer o mesmo? A senhora nem chegou aos sessenta ainda. Em alguns anos, quando Dabao e Erbao estiverem no ginásio, vamos estar ocupados demais, e eles ainda vão precisar da sua ajuda. Além disso, a senhora sempre disse que o dinheiro dá segurança.
— Ai, minha filha… sou muito abençoada. Com o preço que estão as casas hoje em dia… Toma, deixa eu te dar o dinheiro. Mas vou aceitar essa gentileza, sim.
Yang Yufen segurava as lágrimas. Quando se casou, a casa velha e caída tinha sido reconstruída com as próprias mãos, tijolo por tijolo — e nem assim seu nome aparecia na escritura. Mas como Shen Xianjun era filho único, a casa acabava sendo dele. Ela sempre viveu daquele jeito.
— Mãe, eu disse que é seu. Fique com ela. Amanhã, eu te levo pra conhecer o lugar. O antigo dono ainda não se mudou completamente, então vai levar mais uns dias pra desocupar tudo.
— Não precisa ter pressa. Já combinei com a Tia Wang de visitar a Irmã Liu amanhã. Quando você tiver tempo, me leva lá.
— Combinado, mãe. Fique com isso — vou buscar as crianças.
Qin Nian estava com medo de que a sogra tentasse dar o dinheiro de volta, então inventou uma desculpa e saiu rapidinho.
Yang Yufen ficou olhando para a escritura nas mãos, enxugando uma lágrima.
Ter um filho tem mesmo seu valor… Ele havia lhe trazido uma nora maravilhosa.
Capítulo 135
— Mãe, o que achou? Minha esposa não é maravilhosa? — Shen Xianjun não conseguiu conter o sorriso ao ver a mãe entrar na cozinha.
— Hmpf, é claro que minha nora é maravilhosa. Se você ousar fazer algo pra magoar a Nian, cuide bem das suas pernas! E não é porque ela se casou com você que virou uma boa pessoa — ela sempre foi boa. Inteligente, dedicada, uma bênção na vida de qualquer um. Foi você quem teve sorte, então baixa essa bola.
Yang Yufen pegou uma concha de água e começou a lavar o rosto.
— Mãe, por que a senhora é tão dura com o próprio filho? Eu não sou tão ruim assim...
— Hmpf, até esterco acha que não fede. Não tem um pingo de autocrítica? Você é militar, vive fora de casa. Sabe quanto sua esposa teve que aguentar sozinha?
Com medo de te preocupar, ela nem deixou eu vir ajudar. E se eu realmente não tivesse vindo? Quanto sofrimento ela teria passado, grávida e sozinha? Você acha que o Dabao e o Erbao teriam nascido em segurança?
E as fofocas? O povo teria apunhalado ela pelas costas. Com toda a capacidade que tem, poderia ter ajudado muita gente, mas por sua causa, o brilho dela apagou.
Você tem seu dever como soldado, mas e ela? Sua esposa — sem laços de sangue, sem a mínima proteção da sua parte — por que deveria sacrificar tanto? Já pensou no quão perto você esteve de perder tudo?
As palavras de Yang Yufen caíram como uma tempestade. No fundo, ela temia que toda aquela felicidade fosse apenas um sonho frágil. Sempre que ficava sozinha, a inquietação batia.
Shen Xianjun abaixou a cabeça, em silêncio. Eu não fui um bom filho. Nem um bom marido. Muitas daquelas coisas jamais tinham passado pela sua cabeça.
— Vai cozinhar logo.
Yang Yufen respirou fundo, devolveu a concha ao pote de água e saiu da cozinha.
Quando Qin Nian voltou com as crianças, não encontrou a sogra. Apenas o marido, em silêncio, cozinhando, claramente abatido.
— O que houve?
As crianças estavam na sala principal fazendo a lição de casa.
— Me desculpa. Eu não fui um bom marido. Te deixei passar por tantas injustiças e dificuldades.
O pedido de desculpas pegou Qin Nian desprevenida.
— Não foi tão ruim assim. Depois que a mãe veio, ela me ajudou bastante, sempre me defendendo. Eu não sofri tanto. Eu entendo seu dever e sua missão. É só que...
Qin Nian mordeu o lábio. Se a mãe dele não tivesse vindo... talvez eu tivesse perdido tanta coisa.
Na sala, o som inocente das crianças preenchia o ambiente — cutucões, risadinhas, mãos ocupadas com os cadernos, bocas que não paravam.
— Pai, mãe, o jantar tá pronto? Tô morrendo de fome!
Li Wu entrou na cozinha como um foguete, quebrando o silêncio.
— Tá quase. Já terminaram a lição? Se sim, limpem a mesa e chamem a vovó pra comer.
Shen Xianjun respondeu de prontidão.
— Oba! Hora do jantar! Eu vou chamar a vovó!
Li Wu comemorou e saiu correndo. Shen Xianjun rapidamente tirou o refogado da panela, adicionou uma concha de água e começou a cozinhar os noodles.
Yang Yufen voltou com ovos recém-recolhidos. Ia verificar de manhã quantos mais conseguiria pegar — queria levar alguns para a irmã Liu.
No hospital, Yang Yufen já conhecia os corredores da ortopedia como a palma da mão. Após perguntar à enfermeira o número do quarto, encontrou a tia Liu em poucos minutos.
Dentro do quarto, tia Liu se esticava perigosamente para alcançar algo. Estava sozinha.
— Cuidado, cuidado!
Yang Yufen correu até ela quando a viu quase cair da cama.
— O que você tá fazendo aqui?
— Vim te visitar, ué. Você queria pegar água?
Yang Yufen a segurou com firmeza, pegou água do garrafão térmico e entregou à amiga.
Depois de alguns goles, tia Liu parecia um pouco melhor.
— A cuidadora não apareceu hoje — vai saber por quê. As enfermeiras estavam tão atarefadas que pensei em me virar sozinha. Não parecia longe, mas quase caí.
Tia Liu forçou um sorriso, mas os olhos denunciavam o amargor.
— Já comeu?
— Já sim. Meu filho trouxe o café da manhã antes de ir trabalhar.
— Se essa cuidadora é tão irresponsável, troque ela. E por que não chamou a enfermeira?
Tia Wang se sentou ao lado da amiga. Fazia só alguns dias, mas tia Liu já estava visivelmente mais magra.
Notando que o soro estava quase acabando, Yang Yufen chamou a enfermeira. Mesmo após a troca, a cuidadora continuava sumida.
Inicialmente, Yang Yufen só pretendia fazer uma visitinha, mas diante da situação, ela e tia Wang decidiram ficar — e não arredaram o pé.
Perto do meio-dia, Yang Yufen comprou noodles em uma lanchonete próxima e levou de volta pro quarto. Estavam quase terminando quando a cuidadora finalmente apareceu — uma mulher rechonchuda, nos seus trinta e poucos anos, com cara de quem não movia uma palha.
— Ah, a vovó já comeu? Foi mal, aconteceu um problema lá em casa.
O pedido de desculpas soava completamente vazio.
— Não precisa mais. Pode ir embora.
A voz de tia Liu foi firme.
— Vovó, como assim? Foi seu filho que me contratou! Se você me mandar embora, não devolvo o dinheiro.
— Você... você...!
Tia Liu ficou furiosa.
— Nem encosta! Esses ovos são pra ela, não pra você.
Yang Yufen encarou a mulher, que além de discutir sem vergonha alguma, ainda tentava pegar os ovos que haviam levado.
— Se são pra vovó, eu levo pra cozinhar pra ela.
Falou como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Levar pra casa, isso sim. Alimentar sua família enquanto deixa sua patroa com fome? Que audácia.
— Com fome? Vovó, não exagera! O médico disse que ela precisa de comida leve. E de manhã as enfermeiras cuidaram dela. Só me atrasei um pouco — pra quê tanto drama? Vocês tão manchando minha reputação!
Yang Yufen segurou firme a cesta. Quando a mulher viu que não ia conseguir pegar nada, bateu na própria perna e começou a se lamentar alto.
— Como uma pessoa assim pode cuidar de doentes?
Yang Yufen franziu o cenho. Tia Wang apertou o botão de chamada.
— Ei, o que vocês estão fazendo?
A mulher ficou nervosa ao ouvir o som do botão.
— Está incomodando a paciente. Na nossa idade, não podemos arriscar confusão. Deixa os médicos resolverem.
Tia Wang segurou a mão da amiga, transmitindo calma.
— Vocês são demais!
Yang Yufen pegou os pertences e os afastou do alcance da mulher. Logo, uma enfermeira apareceu.
— O que está acontecendo aqui?
— Essa mulher está perturbando o repouso da paciente — disse tia Wang.
— Eu sou a cuidadora que o filho dela contratou! Essas duas velhas querem me expulsar!
— Eu não quero ela. Sumiu a manhã inteira, me deixou com fome e ainda tentou pegar minhas coisas.
A enfermeira, já ciente da situação, assentiu. Também não tinha visto a cuidadora o dia todo.
— Por favor, se retire. Está atrapalhando o descanso da paciente.
Resmungando, a mulher finalmente saiu, mas não sem soltar umas pragas pelo caminho.
— Francamente, é melhor procurar outra cuidadora. Ela até tem força, mas nunca foi atenciosa.
Comentou a enfermeira antes de sair.
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