Capítulo 31 – A Conspiração Mudou (2)
Quando Ye Mu acordou algumas horas depois de adormecer, levou alguns momentos piscando antes de se lembrar do que aconteceu depois de sua farsa de cortar a língua de Mo Linyuan, cobrindo o rosto de vergonha e constrangimento!
Naquela época, cortar um pedaço da própria carne não significava nada para ela. Ela chegou a levar dois tiros de uma vez, mas ainda assim conseguiu andar com as próprias pernas e completar a missão que lhe fora dada. E, ainda assim, na noite passada... ela fechou os punhos, frustrada.
— A noite passada foi uma vergonha!
— Você acordou! — exclamou Mo Linyuan de repente, surpreendendo Ye Mu. Era apenas o amanhecer, e só havia os dois no quarto. Imediatamente, Ye Mu sentou-se, mas uma dor aguda atravessou seu braço. Seu rosto se contorceu em agonia. Ela estava fraca.
— Aqui. — disse Mo Linyuan, oferecendo um copo d’água. — Beba.
Assentindo, Ye Mu bebeu a água com avidez, sem perceber o quanto estava sedenta até a água finalmente matar a sede que ela negligenciava.
— Como você está se sentindo? — perguntou ele, a preocupação estampada no rosto.
Naquela hora, Ye Mu inicialmente quis dizer que estava bem. Perdera pouco sangue, afinal. Ainda podia aguentar. Mas também...
— Não é essa a hora ideal para me aproximar de Mo Linyuan? — pensou. — Esta é uma boa oportunidade!
Decidida, seus lábios tremiam enquanto ela sussurrava com dor:
— Dói, muito! — arfou, lágrimas se formando no canto dos olhos. — Está tão dolorido... parece que estou morrendo.
Ela falou com fraqueza e esperou pela reação de Mo Linyuan.
Admitia que não causara boa impressão nele, mas faria o máximo para mudar sua visão sobre ela.
Como previsto, o olhar dele endureceu, e ele assentiu compreensivo.
— Espere aqui — disse — vou buscar analgésicos.
Como Ye Li decidira não matá-lo e mandou sua escolta depois que sua língua supostamente fora cortada, ele não poderia pedir remédios para dor — afinal, era um mudo. E não dariam a ele...
— Não, espere! Espere! — exclamou Ye Mu, endireitando-se. — Está tudo bem, é só um ferimento de carne, nada perigoso. Na verdade, seria mais perigoso para você sair agora. As pessoas podem perceber que sua língua não foi cortada.
Mo Linyuan ficou ainda mais preocupado ao ouvir que ela se preocupava mais com a segurança dele do que com a própria.
— Não se preocupe, posso pedir ajuda ao Xiaolang para isso.
Mas o rosto de Ye Mu caiu ao ouvir o nome de Xiaolang...
— Ainda não conte ao Xiaolang — disse ela. — Vou avisá-lo em breve, mas a partir de agora, você é um mudo.
Mo Linyuan a fitou, surpreso de leve. Achava que ela confiava facilmente, e que era por isso que fora tão gentil com ele. Mas talvez estivesse enganado?
Por que, então, essa gentileza havia sido direcionada a ele?
Isso fez o coração de Mo Linyuan acelerar, mas ele rapidamente reprimiu o pensamento. Pensamentos assim não eram bem-vindos, mas ele não podia evitar. Sentia-se feliz diante daquela possibilidade.
— Ainda assim, sua lesão—
— Está tudo bem — respondeu ela com um sorriso tranquilizador. — Quando todos acordarem, pedirei para alguém pegar os remédios com Ye Li. Ficarei bem. É só que...
Ela pensou que era uma pena terem levado o tesouro.
Como se lesse seus pensamentos, Mo Linyuan disse:
— Vou encontrar mais tesouros para você, eu juro.
Atônita, Ye Mu ficou atenta a cada palavra que Mo Linyuan dizia...
— Para ser honesto, sou o príncipe herdeiro do País Mo, mas fugi de lá — admitiu ele. — E um dia voltarei trazendo para você uma montanha de ouro dez vezes maior! — continuou, em discurso apaixonado. — Mas agora, vou cumprir meu papel como seu próprio mudo. Você tem minha mais profunda gratidão pela noite passada, senhorita.
Capítulo 32 – O Início do Mapa da Fronteira da Cidade (1)
Ele se ajoelhou em um joelho, agradecendo a ela reverentemente. Ye Mu, por sua vez, sentiu um alívio ao ver que ele finalmente lhe revelara sua verdadeira identidade. Isso só significava que ele confiava nela o suficiente para compartilhar uma informação tão importante.
A gratidão dele também significava que ela estava um passo mais perto do mapa da fronteira da cidade.
— Não preciso de uma montanha de ouro e prata — sorriu Ye Mu, mas logo disse: — Mas vejo que você é sincero — disse ela, maliciosamente — Que tal o seguinte: no futuro, se você conseguir algo que não tenha utilidade para você, pode me dar isso.
Sorrindo para ela, Mo Linyuan assentiu com sinceridade.
— Mas o que você tem em mente, especificamente? Talvez eu possa oferecer meus serviços para ajudá-la a encontrar mais rápido.
Ele podia ter fugido do País Mo, mas ainda tinha algumas pessoas em quem confiava. Originalmente, planejava fugir e voltar assim que escapasse da família Ye, mas agora...
Ele não estava com tanta pressa para partir.
Relaxando, Ye Mu recostou-se e fez um gesto casual com a mão:
— Não é importante agora — disse. — Só quando você encontrar algo, se encontrar, eu pedirei. Até lá... prometa que não dará isso para mais ninguém, hein!
Mo Linyuan concordou com a cabeça e fez uma reverência.
— Seja o que for que você pedir, eu lhe darei — prometeu. Afinal, ele já devia a ela duas vidas.
— Então está combinado! — ela brilhou para ele, antes de apertar os olhos e olhar para fora. — O amanhecer já está começando, apresse-se, você precisa ir para casa. Mas — segurou sua mão com urgência — lembre-se do seu papel. Você é mudo agora, entendeu?
Mo Linyuan hesitou um pouco. Não queria deixá-la assim, mas sabia que tinha que ir. A criada dela chegaria a qualquer minuto, e as consequências de os dois estarem sozinhos naquele quarto poderiam ser desastrosas, fosse verdade ou não.
Ao vê-la revigorada e descansada após o sono da noite passada, sentiu-se um pouco melhor. Não tão preocupado como antes.
— Claro — respondeu ele. — Descanse bem...
— Sim, claro! — ela disse, apressando-o a sair. — Não se preocupe comigo.
Depois que Mo Linyuan saiu, o sol já havia nascido, derramando sua luz do horizonte sobre a terra. Ele não se sentia cansado, apesar de não ter dormido nada.
Olhando para a porta fechada, ele puxou do bolso um pequeno objeto quadrado, da cor de jade marmorizada. Nele, estavam gravados quatro grandes caracteres que diziam...
A Eterna Dinastia Ye
Era o selo de jade do Imperador.
Nota do Tradutor: Para quem tem curiosidade, o selo imperial de jade se parece com a imagem abaixo:
Mo Linyuan o notara no momento em que Ye Mu acendeu o isqueiro de madeira. Entre as montanhas de ouro e prata, viu algo que estranhamente se assemelhava a um manto de dragão. Quando viu o selo, pegou-o sem dizer uma palavra.
Entregar aquilo ao Imperador de Yue significaria a morte certa da família Ye. E, embora ele não gostasse da maior parte da família Ye...
Ye Mu também era membro daquela casa.
Ele precisava de mais tempo para pensar. Por fim, escondeu o selo novamente dentro das mangas do manto.
Quando Mo Linyuan saiu do quarto, Ye Mu imediatamente tirou um livro debaixo das roupas. Chamava-se “Sutra Supremo do Coração”.
Era isso!
Tocando-o em reverência, Ye Mu gemeu um pouco ao mexer no braço ferido e murmurou baixinho:
— Tive cuidado para não perder você — sussurrou. — Por você, perdi um pedaço da minha carne. Certamente agora você me abençoará para ser uma mestra nas artes marciais! Daquelas indiscutíveis e invencíveis diante de qualquer um.
Alguns dias se passaram, e tudo parecia ter voado.
E nesses dias, Ye Xiaolang esteve bastante calado. Inicialmente, ele atribuía isso ao fato de sua vida ter melhorado. Com bons anfitriões, certamente teria algo pelo qual ansiar no futuro.
Mas em uma noite, seu companheiro teve a língua cortada!
E foi só porque ele não conseguia dormir, então saiu para dar uma volta. E durante esse passeio noturno, esbarrou em alguém com quem não deveria...
Isso fez com que ele entendesse que, um a um, subordinado após subordinado... ninguém estava seguro. Todos seriam mortos como porcos para o abate.
Não importava mais que técnicas Ye Mu lhes ensinasse. Ele já não estava tão animado assim. Mesmo assim, largou sua preguiça anterior e começou a treinar e estudar com diligência.
Mo Linyuan, ele notou, era mais bem treinado que qualquer um deles. Se tivesse ajuda boa, talvez de um instrutor renomado, poderia abrir novas possibilidades. Seu progresso tinha sido saltos e limites além de qualquer um.
Mas a intensidade do treinamento dele preocupava Ye Mu. Ela temia que ele estivesse se esforçando demais. Levando seu corpo até o limite...
Capítulo 33 – O Início do Mapa da Fronteira da Cidade (2)
Os outros também não deveriam ser desprezados. Todos eram tão diligentes. Por isso, ela usou sua influência para levá-los junto com ela à academia estrangeira. Afinal, eles eram seus próprios seguidores. Ninguém duvidaria dela depois de presenciar as aulas que ela dava a eles.
Mas os professores contratados pela família Ye também eram especialistas em suas áreas. Os cursos eram bem ministrados e muitas vezes difíceis de aprender. Muito diferente dos professores particulares que ela contratara.
Ye Li tinha certeza de que seus filhos receberiam apenas o melhor, para prepará-los e moldá-los como príncipes do país.
Será que ele precisava ser tão óbvio ao expor suas ambições? — pensou Ye Mu consigo mesma.
Quando as aulas do dia terminaram, Ye Mu levantou-se com muita dificuldade. Seu corpo estava mole, muito mimado. Isso deixava sua recuperação lenta. Já haviam se passado vários dias, e a dor da lesão ainda ardia com pontadas agudas. Forçando-se a sair da aula, estava decidida a não demonstrar fraqueza.
Ao seu redor, três rapazes — seus irmãos mais velhos. Desde seu primeiro dia, eles não faziam nada além de causar problemas para ela. O dia começava a parecer mais pesado do que ela gostaria.
— Oh, não é a minha dedicada sétima irmãzinha? Se esforçando demais para chegar a algum lugar! — provocou um deles. — Então, me conte, como você convenceu o pai a te deixar entrar na academia? Qual é o segredo? — insistiu. — Se não contar, não respondo pelo que meus punhos vão fazer — ameaçou, sem muita seriedade.
Ye Tian, o quinto irmão de Ye Mu, era o único filho gerado pela primeira esposa da família Ye. Ele queria saber, na verdade, na esperança de conseguir que a própria irmãzinha também frequentasse a mesma escola.
Nem todos os filhos da família Ye poderiam sonhar em ter acesso à educação da academia. Com Ye Mu nela, apenas quatro deles poderiam frequentar. Os outros foram enviados para escolas distantes ou receberam tutores particulares. Isso só significava que seu pai, Ye Li, havia desistido deles.
Mas Ye Mu não gostava de se sentir encurralada. Estava farta de ser confrontada, provocada ou perseguida três, cinco vezes por dia!
— Eu disse que não sei! — exclamou. — Essa foi uma ordem do pai, e só ele sabe! Se quiserem perguntar algo sobre a minha entrada, perguntem a ele! — tentou sair, mas eles não a deixaram ir tão fácil.
— Plebeia! — cuspiu Ye Tian. — Você deveria me respeitar porque essa é a minha autoridade! Você é só uma filha de concubina, e ainda assim ousa me falar assim?! — fazendo sinal para os outros dois irmãos, eles agarraram os dois braços de Ye Mu. Parecia que iam deixar Ye Tian bater nela, mas Mo Linyuan e Ye Xiaolang conseguiram impedir que a pegassem...
Parece que o treinamento estava valendo a pena afinal. Não importava o quanto os irmãos tentassem se soltar, o aperto era tão forte que parecia feito de ferro. Eles não conseguiam escapar.
— O que vocês acham que estão fazendo? — perguntou Ye Xiaolang, com tom frio e ameaçador. A jovem era visivelmente menor que eles, e mesmo assim eles sentiam a necessidade de usar o número para dominá-la.
Os outros dois resmungaram em protesto, ainda incapazes de soltar os braços.
— Como ousa me tocar, escrava! — cuspiu um deles.
— Somos os jovens mestres desta família! Soltem-nos já! — exigiu o outro.
Ye Tian se irritava com a resistência que Ye Mu oferecia.
Ele não gostava de não conseguir o que queria. Quando alguém se recusava, ele forçava com ameaças. Ela era só filha de concubina, e ainda assim ousava desafiá-lo? Minar sua autoridade sobre ela?
— Vocês nos difamam! — exclamou Ye Tian. — Como vocês, escravos, ousam pôr um dedo sobre seus mestres!? Prendam-nas! Ye Mu e suas duas escravas! — ordenou aos que os cercavam. — Se ela resistir, dou permissão para usar a força!
Apresadamente, todos obedeceram. Todos sabiam que Ye Mu era filha de uma concubina. Para eles, a autoridade de Ye Tian tinha precedência. Afinal, ele nascera da primeira esposa.
Ye Mu sabia que isso era questão de tempo. Quando viu as pessoas ao redor se apressarem para executar as ordens e prendê-la, apenas riu sem alegria, antes de encarar Ye Tian.
— Xiaolang, Aji, saiam daqui — ordenou. Os dois servos trocaram olhares. Embora não gostassem da ordem, não fizeram outra coisa além de obedecer. Soltaram os dois príncipes ao mesmo tempo, enquanto Ye Mu se erguia orgulhosa diante das pessoas.
Ela se virou para Ye Tian e colocou as mãos na cintura.
— Irmão mais velho, quer me prender? Então faça isso — disse. — Sei que sempre me odiou, então aqui estou diante de você. Vai lá! Me prenda! — provocou-o. — Mas aviso: o que você fizer comigo, o pai fará com você também.
Ye Tian estava visivelmente furioso com as palavras dela...
— Você não acredita em mim? Então veja se uma garotinha concubina pode vencer um filho da primeira esposa!
— Sua insolente! — cuspiu Ye Tian. — Ridículo! Ridículo até para você! Você nunca será superior a mim! Batam nela! Todos vocês! Batam nela até a morte!
Capítulo 34 – Problemas Batem à Porta (1)
Ye Tian não acreditava! Que seu próprio pai se envergonhasse por causa de uma simples filha nascida de concubina — isso era um pensamento absurdo!
Os olhos escuros de Ye Mu varreram a multidão, e ela resmungou:
— Venham! Ye Tian não morrerá se cometer um erro, mas a história é diferente para servos como vocês. Venham, se quiserem conhecer a morte! Se eu, Ye Mu, consegui entrar na Academia Estrangeira mesmo sendo filha de concubina, deveriam pensar duas vezes antes de se meterem comigo. Meçam primeiro o seu valor!
Os que avançavam contra Ye Mu pararam e se entreolharam. Na verdade, não estavam com medo das palavras dela, mas Ye Mu tinha um orgulho inegável e uma autoconfiança transbordante que Ye Tian não possuía!
Essa determinação e destemor os fizeram sentir vergonha e culpa ao mesmo tempo.
Sim, Ye Mu não era uma simples filha de concubina, pois nem mesmo a filha da primeira esposa conseguira entrar na Academia Estrangeira. Se ousassem menosprezá-la, certamente sofreriam as consequências de seus próprios atos.
Assim, após uma breve deliberação, um dos servos se aproximou por trás de Ye Tian e, envergonhado, falou em voz baixa:
— Jovem Mestre, por favor, deixe isso pra lá… brigas não são permitidas dentro da Academia Estrangeira. O general ordenou isso.
Foi então que levou um tapa furioso de Ye Tian!
— Lixo! Que ideia é essa? Você não ousa tocar nela? Ela é só uma filha de concubina — uma garota comum! Do que tem medo?!
Mas as pessoas ao redor apenas ouviram e abaixaram a cabeça.
Ye Mu viu isso e riu.
— Vejam só, não é que eu não vou deixar vocês me pegarem, é que vocês não têm coragem! — provocou. — Mais alguma coisa? Se não, vou indo. Afinal, meu pai me estima muito, e meu tempo é precioso!
Dito isso, ignorou a cara pálida de Ye Tian e se virou para sair.
Porém, em seu íntimo, ela não estava tão tranquila. Na verdade, esperava que isso acontecesse.
Ye Li criava seus filhos como quem cria insetos venenosos; não se opunha que eles se matassem entre si. Tudo porque ele queria que o mais forte prevalecesse. Do contrário, não permitiria que as mulheres do harém criassem filhos com temperamento cruel. Por isso, mesmo em lugares públicos, as crianças da residência Ye não tinham limites e eram bastante agressivas.
Mesmo que ela estivesse em paz com o resto do mundo, ao chegar na Academia Estrangeira, seria vista como um espinho nos olhos alheios. Hoje era só o começo.
Contudo, ela ainda era uma iniciante. Se virasse alvo de grandes figuras do governo, não seria bom para ela. Mas o caminho chegara até ali, e não podia mais voltar atrás.
Não demorou muito para que, ao voltar, Ye Mu fosse convocada pela mãe principal — a primeira esposa. Em seu coração, não esperava que a outra parte agisse tão rápido.
— O pai está na mansão? — perguntou Ye Mu à sua criada antes de sair.
Xiaoqiu respondeu:
— Esta serva já se informou; o general está em um banquete agora. Não há ninguém aqui.
Ye Mu franziu a testa, inquieta. A dona da residência havia mandado chamá-la; mesmo que recusasse, a outra parte acabaria a encontrando. Então disse:
— Xiaoqiu, vá até onde meu pai está. Assim que o banquete terminar, conte a ele o que aconteceu comigo. Diga que... a mãe vai me matar!
— O quê?!
Com essa ordem séria, não só Xiaoqiu ficou chocada, como Ye Xiaolang e Mo Linyuan também mostraram expressão preocupada. Só tinham sido convocados — por que Ye Mu falava como se fosse um assunto grave? A mãe principal não era conhecida por sua benevolência?
Mas Ye Mu não podia explicar muito, pois as pessoas enviadas pela mãe principal já haviam se imposto e entrado à força, sem cerimônia.
— Sétima jovem senhorita, não precisa se preparar para nada. Apenas vá — disse Wan Hong, chefe dos servos da primeira esposa, aproximando-se com atitude firme.
Ye Mu resmungou:
— Precisam verificar a prisioneira antes de partir? Têm medo de que eu fuja?
Ao vê-la indo, Mo Linyuan de repente segurou sua mão. Naquele momento, só podia ficar calado; estava apenas representando o papel de servo, então só conseguiu mandar um recado com os olhos para a jovem ao seu lado.
Ye Mu entendeu e disse solenemente:
— Tudo bem. Eu dou conta disso. Nem você nem Xiaolang devem se envolver.
Capítulo 35 – Problemas Batem à Porta (2)
Ye Mu frequentemente esquecia, quase que por instinto, que só tinha seis anos. Continuava com aquele instinto protetor para com as pessoas que estavam ao seu redor, como antes.
Hoje, Mo Linyuan e Ye Xiaolang eram escravos. Mo Linyuan tinha a língua cortada, então quanto menos aparecessem diante dos outros, melhor.
Com isso, Ye Mu sacudiu a mão de Mo Linyuan e saiu. Diante dos estranhos, jamais demonstrava a importância que eles tinham para ela, e Wan Hong, naturalmente, não dava muita atenção a eles.
— Por favor, Sétima Jovem Senhorita.
Ye Mu bufou e seguiu adiante. Ye Xiaolang queria acompanhá-la, mas foi contido por Mo Linyuan. Por enquanto, eles só atrapalhariam. E como Ye Mu havia dito que a mãe principal definitivamente não era uma boa pessoa, Mo Linyuan fez um sinal de aviso para Xiaolang com os olhos.
Xiaolang entendeu logo ao olhar para seu rosto.
— Você quer dizer que também deveríamos ir até o general?
Ele estava bastante assustado, o que não era surpresa. Afinal, Ye Li era terrível, e eles poderiam morrer uma morte dolorosa se não tomassem cuidado! Mas ao pensar na jovem senhorita, seus olhos endureceram, e ele disse a Xiaoqiu:
— Irmã Xiaoqiu, vamos! Vamos juntos!
Xiaoqiu assentiu, e várias pessoas apressaram-se em direção ao saguão onde ocorria o banquete.
Embora Ye Mu dissesse que a mãe principal queria matá-la, aquilo não a surpreendia. Ela já havia lido a biografia e sabia muito bem que a mãe principal da residência Ye não era uma pessoa tão benevolente quanto aparentava nas memórias da hospedeira original.
Essa mulher nunca gostara da Ye Mu original desde o dia em que ela nascera, e sempre quis se livrar dela, mas faltava-lhe a oportunidade.
A razão de seu desagrado era simples: a mãe biológica da Ye Mu original fora uma confidente da mãe principal que, inesperadamente, entrou na cama de Ye Li.
Por alguns anos, Ye Mu foi especialmente mimada, mas por causa de sua arrogância crescente, fora secretamente assassinada pela mãe principal um ano antes.
Temendo ser duvidada por Ye Li, a primeira esposa cessou suas ações e manteve silêncio por alguns anos. Recebeu Ye Mu como se fosse sua própria filha, fazendo-a se sentir uma menina rica e mimada, com refeições saudáveis e deliciosas à sua disposição. Permitiu que ela fizesse o que quisesse, sem precisar aprender etiqueta feminina ou seguir protocolos e respeitar os mais velhos. Deixou-a torturar pessoas à vontade.
Deu tudo para ela, adulando cada movimento.
E isso criou a forte ilusão de que a mãe principal era muito bondosa com Ye Mu. Mas tudo aquilo servia a um único propósito: no futuro, quando fosse matá-la, ninguém desconfiaria dela.
Agora, passado um ano... todo o rancor da mãe principal contra Ye Mu não poderia mais ser contido. No seu momento mais vulnerável, e com a confusão recente envolvendo Ye Tian, era óbvio que a mãe principal jogaria suas cartas agora.
Enquanto pensava em tudo isso, chegaram ao lugar mais requintado e luxuoso da mansão do general. No pavilhão atrás da rocha pontiaguda e da água clara e corrente, uma dama tomava chá com graça. Atrás dela, incontáveis servos a cercavam. Seu longo vestido de seda entrelaçava vermelho e azul, arrastando-se pelo chão.
Ye Mu semicerrava os olhos na direção dela, acalmando seus pensamentos, e adiantou-se para cumprimentar:
— Mãe, a Pequena Sete está aqui.
Wen Ru lançou-lhe um olhar superficial, sem dar atenção à saudação. Quando abriu a boca para falar, Ye Mu teve um mau pressentimento.
— Mu’er tem sido abençoada com grande poder e prestígio ultimamente... Ouvi até que seu irmão mais velho quer evitar seu gume afiado.
Sua voz era suave, e seus traços, discretos e macios. Mas, com o olhar calculista que cintilava de vez em quando, era claro que ela não era uma pessoa comum e submissa.
Ye Mu sabia que a outra parte não a chamara com boas intenções. Tudo o que podia fazer naquele momento era ganhar tempo, na esperança de que Ye Li, em troca dos tesouros que ela lhe dera, viesse salvá-la.
Então Ye Mu se levantou e disse:
— Meu irmão mais velho disse isso? Ele deve ter entendido errado. A Pequena Sete sempre o respeitou muito. Da última vez, era só uma brincadeira natural entre irmãos!
— Está zombando disso? — Wen Ru perguntou, surpresa por aquela menininha tratar com tanta leveza um assunto tão sério.
0 Comentários