Capítulo 35 – Problemas Batem à Porta (2)
Ye Mu frequentemente esquecia, quase que por instinto, que só tinha seis anos. Continuava com aquele instinto protetor para com as pessoas que estavam ao seu redor, como antes.
Hoje, Mo Linyuan e Ye Xiaolang eram escravos. Mo Linyuan tinha a língua cortada, então quanto menos aparecessem diante dos outros, melhor.
Com isso, Ye Mu sacudiu a mão de Mo Linyuan e saiu. Diante dos estranhos, jamais demonstrava a importância que eles tinham para ela, e Wan Hong, naturalmente, não dava muita atenção a eles.
— Por favor, Sétima Jovem Senhorita.
Ye Mu bufou e seguiu adiante. Ye Xiaolang queria acompanhá-la, mas foi contido por Mo Linyuan. Por enquanto, eles só atrapalhariam. E como Ye Mu havia dito que a mãe principal definitivamente não era uma boa pessoa, Mo Linyuan fez um sinal de aviso para Xiaolang com os olhos.
Xiaolang entendeu logo ao olhar para seu rosto.
— Você quer dizer que também deveríamos ir até o general?
Ele estava bastante assustado, o que não era surpresa. Afinal, Ye Li era terrível, e eles poderiam morrer uma morte dolorosa se não tomassem cuidado! Mas ao pensar na jovem senhorita, seus olhos endureceram, e ele disse a Xiaoqiu:
— Irmã Xiaoqiu, vamos! Vamos juntos!
Xiaoqiu assentiu, e várias pessoas apressaram-se em direção ao saguão onde ocorria o banquete.
Embora Ye Mu dissesse que a mãe principal queria matá-la, aquilo não a surpreendia. Ela já havia lido a biografia e sabia muito bem que a mãe principal da residência Ye não era uma pessoa tão benevolente quanto aparentava nas memórias da hospedeira original.
Essa mulher nunca gostara da Ye Mu original desde o dia em que ela nascera, e sempre quis se livrar dela, mas faltava-lhe a oportunidade.
A razão de seu desagrado era simples: a mãe biológica da Ye Mu original fora uma confidente da mãe principal que, inesperadamente, entrou na cama de Ye Li.
Por alguns anos, Ye Mu foi especialmente mimada, mas por causa de sua arrogância crescente, fora secretamente assassinada pela mãe principal um ano antes.
Temendo ser duvidada por Ye Li, a primeira esposa cessou suas ações e manteve silêncio por alguns anos. Recebeu Ye Mu como se fosse sua própria filha, fazendo-a se sentir uma menina rica e mimada, com refeições saudáveis e deliciosas à sua disposição. Permitiu que ela fizesse o que quisesse, sem precisar aprender etiqueta feminina ou seguir protocolos e respeitar os mais velhos. Deixou-a torturar pessoas à vontade.
Deu tudo para ela, adulando cada movimento.
E isso criou a forte ilusão de que a mãe principal era muito bondosa com Ye Mu. Mas tudo aquilo servia a um único propósito: no futuro, quando fosse matá-la, ninguém desconfiaria dela.
Agora, passado um ano... todo o rancor da mãe principal contra Ye Mu não poderia mais ser contido. No seu momento mais vulnerável, e com a confusão recente envolvendo Ye Tian, era óbvio que a mãe principal jogaria suas cartas agora.
Enquanto pensava em tudo isso, chegaram ao lugar mais requintado e luxuoso da mansão do general. No pavilhão atrás da rocha pontiaguda e da água clara e corrente, uma dama tomava chá com graça. Atrás dela, incontáveis servos a cercavam. Seu longo vestido de seda entrelaçava vermelho e azul, arrastando-se pelo chão.
Ye Mu semicerrava os olhos na direção dela, acalmando seus pensamentos, e adiantou-se para cumprimentar:
— Mãe, a Pequena Sete está aqui.
Wen Ru lançou-lhe um olhar superficial, sem dar atenção à saudação. Quando abriu a boca para falar, Ye Mu teve um mau pressentimento.
— Mu’er tem sido abençoada com grande poder e prestígio ultimamente... Ouvi até que seu irmão mais velho quer evitar seu gume afiado.
Sua voz era suave, e seus traços, discretos e macios. Mas, com o olhar calculista que cintilava de vez em quando, era claro que ela não era uma pessoa comum e submissa.
Ye Mu sabia que a outra parte não a chamara com boas intenções. Tudo o que podia fazer naquele momento era ganhar tempo, na esperança de que Ye Li, em troca dos tesouros que ela lhe dera, viesse salvá-la.
Então Ye Mu se levantou e disse:
— Meu irmão mais velho disse isso? Ele deve ter entendido errado. A Pequena Sete sempre o respeitou muito. Da última vez, era só uma brincadeira natural entre irmãos!
— Está zombando disso? — Wen Ru perguntou, surpresa por aquela menininha tratar com tanta leveza um assunto tão sério.
Capítulo 36 – Como Escapar (1)
Wen Ru soltou um sorriso gelado.
— Mu’er, você cresceu tanto em tão pouco tempo... Ainda me lembro de um ano atrás, quando sua mãe biológica acabara de morrer. Você parecia tão miserável, que se esta madame não tivesse acolhido você sob suas asas, teria levado uma vida dura como todas as outras filhas nascidas de concubinas.
Ye Mu respondeu com um sorriso atrevido:
— Por isso mesmo a madame da residência é verdadeiramente benevolente por cuidar da Pequena Sete! A Pequena Sete certamente irá retribuir no futuro!
Ao ouvir essas palavras, o sorriso de Wen Ru tornou-se ainda mais brilhante.
— Não precisa me retribuir. — Ela brincava com a xícara de porcelana cheia de chá na palma da mão e estreitou os olhos. — O que você acha de... ficar tão doente que esta madame precisaria levá-la ao hospital da residência para se recuperar, mas aí você piora e... morre. Será que o general culparia esta madame?
O coração de Ye Mu deu um salto! Seu pior pressentimento se concretizara; a mulher não queria apenas lhe dar uma lição e deixá-la ir, mas sim matá-la agora!
Tentou manter a inocência e disse:
— Madame, o que está dizendo? A Pequena Sete não entende as palavras da senhora. Afinal, a Pequena Sete não está doente! E o pai disse ontem à noite que revisaria minhas tarefas da academia. Como poderia ficar doente em um momento tão importante?
Wen Ru olhou para ela com falsa compaixão.
— Que criança pobre. Às vezes, nem se sabe quando se está doente. Receio que você não verá o general esta noite. Aliás, mesmo que o veja, estará doente demais para dizer qualquer coisa. Mas fique tranquila, o general certamente entenderá sua piedade filial!
Ela declarou com grande magnanimidade e, com um aceno de mão, duas criadas que estavam atrás dela se aproximaram. Uma delas segurava um pequeno frasco de aparência ameaçadora.
À primeira vista, a situação que já era tensa se tornava cada vez mais sombria!
Ye Mu recuou, forçando um sorriso rígido.
— Madame, eu só esbarrei com meu irmão mais velho uma vez. É mesmo necessário fazer isso?
Wen Ru se levantou e disse com calma:
— Aquela briga? Não, não é por isso. Você não sabe? Foi apenas graças à bondade desta madame que você viveu até a afortunada idade de seis anos.
Ela fez uma pausa e olhou para Ye Mu como uma serpente venenosa.
— Você nem deveria ter nascido. Assim como sua mãe ordinária, você me causa aflições todas as noites! É necessário extravasar certos sentimentos reprimidos. Mas, quanto mais eu te odeio, mais gentil eu preciso parecer com você. Assim, quem suspeitaria que você morreria pelas minhas mãos?
Ye Mu rebateu:
— Mãe, a senhora está enganada. Mesmo que, dentro de um ano, minha mãe biológica e eu morrêssemos sem razão aparente, e as pessoas fingissem não ver e se calassem, ainda assim saberiam que foi a senhora. Porém, isso só aconteceria se eu fosse uma garota insignificante. Mas tenho sido de grande utilidade para o pai ultimamente. Do contrário, por que acha que ele me deixaria acompanhar meus irmãos mais velhos e estudar no prestigiado Colégio Estrangeiro?
Ao ouvir isso, Wen Ru ficou ainda mais furiosa! Nem mesmo sua própria filha conseguiu estudar no Colégio Estrangeiro. Como a filha de uma vulgar poderia ter mais privilégios que sua filha legítima? Em vez de recuar, seu ódio por Ye Mu alcançou um novo patamar!
— Criadas! A Sétima Jovem Senhorita é culpada de diversos delitos! Prendam-na!
Prender? Iriam mesmo forçar o remédio goela abaixo?! Ye Mu virou-se na hora e correu. Não iria mais ficar parada esperando ser resgatada!
Assim que ela fugiu, Wen Ru enviou mais pessoas para persegui-la. Os bracinhos e perninhas de Ye Mu quase foram encurralados várias vezes!
Droga! Se conseguir escapar hoje, com certeza vai humilhar essa velha bruxa!
Capítulo 37 – Como Escapar (2)
Do outro lado, Mo Linyuan e seus companheiros foram impedidos de seguir adiante.
— O general está participando de um banquete em homenagem ao Imperador Zhao e ao Oficial Liu! Que ousadia de vocês invadirem assim! Não valorizam suas vidas!?
Mas a impulsividade de Ye Xiaolang não podia ser contida. Agarrando o guarda, ele disse com urgência:
— A jovem senhorita está em perigo! Ela é filha do general; ele precisa salvá-la da morte!
O guarda apenas zombou e o empurrou.
— Está brincando? Como a sétima jovem senhorita poderia estar em perigo dentro da própria residência? Se continuarem a causar confusão aqui, serei forçado a prendê-los!
Diante da recusa em acreditarem neles, os três ficaram ansiosos. Mo Linyuan sabia que Ye Mu tinha certa importância para Ye Li, mas não o bastante para que ele deixasse um banquete imperial por causa dela. Portanto, ele precisava forçá-lo a sair — mas, para isso, teria que vê-lo pessoalmente!
Foi então que Mo Linyuan teve uma ideia e escreveu a palavra “Liu” na palma da mão de Ye Xiaolang.
Ye Xiaolang demorou um momento para entender, mas ao ver Mo Linyuan apontar para o ombro recém-curado, compreendeu de imediato. Aquele anormal do Oficial Liu também estava ali, ah!
Será que… eles vão mesmo fazer isso? pensou com morbidez.
Olhou hesitante para Mo Linyuan, que apenas lhe devolveu um aceno solene.
Era preciso fazer.
Assim, os dois correram juntos até o setor dos escravos. E como esperado, havia pessoas no processo de selecionar servos para levarem ao salão principal. Aquela era a chance perfeita de se misturarem!
Enquanto isso, do outro lado, Ye Mu fazia uma cena caótica no Jardim da Chuva e do Orvalho de Wen Ru.
— Inúteis! Nem mesmo adultos crescidos conseguem capturar uma criança de seis anos? Querem uma sentença de morte!?
Wen Ru já não conseguia manter sua máscara gentil. Golpeou a mesa com força, fazendo com que os criados se reunissem ao redor de Ye Mu, apavorados.
No entanto, Ye Mu era escorregadia como uma enguia, escapando de todas as tentativas de captura. O jardim, sendo amplo e espaçoso, dificultava ainda mais a perseguição.
Ye Mu também estava grata por não ter sido preguiçosa nesse período e já ter recuperado parte de sua antiga agilidade. Ela atraiu os criados em círculos, fazendo-os saltar e tropeçar por entre obstáculos.
Em sua mente, só havia um pensamento: Ye Li, venha logo!
Mas num piscar de olhos, um homem alto apareceu em sua frente! Ye Mu imediatamente sentiu o forte instinto assassino que emanava dele.
Isso não era bom! Para alguém se mover com tanta rapidez, só podia ser um praticante de artes marciais internas!
Infelizmente, Ye Mu era pequena e seu corpo frágil não tinha experiência em combate. Com apenas dois movimentos, o homem a agarrou e a levantou como se fosse um filhote.
Ye Mu tentou reagir assim que seus pés saíram do chão, mas o oponente já havia previsto isso e desferiu um golpe cruel em seu estômago. Seu corpo inteiro se contraiu de dor, encolhendo-se como uma bola.
— Madame, finalmente a capturei.
Wen Ru sentia-se humilhada por precisar recorrer a alguém treinado para resolver um "problema tão pequeno". Recompôs sua expressão antes de falar.
Com um sorriso polido, disse:
— Desculpe por incomodar o Mestre Yan. — E então, virou-se e esbravejou: — O que estão esperando!? Levem logo essa menina maldita!
— Sim!
Ye Mu queria desesperadamente fugir, mas o homem que a segurava a mantinha num aperto implacável. Tremendo de dor, foi facilmente entregue aos cuidados da criada de Wen Ru.
Após entregar a menina, o homem de sobrenome Yan se retirou sem sequer olhar para trás. Wen Ru acompanhou seu vulto com um olhar cheio de anseio. Apenas quando ele desapareceu de vista, ela voltou sua atenção para Ye Mu, caminhando lentamente em sua direção com um ar autoritário.
Olhando de cima, disse com desdém:
— Garotinha, não esperava que tivesse tanta agilidade mesmo sendo tão nova. É bem esperta por tentar resistir ao seu destino.
Vendo a testa de Ye Mu coberta por suor frio, ela sorriu e disse:
— Mas você não esperava que alguém versado em artes marciais internas estivesse aqui, não é? Deve saber… são poucos os que dominam essas artes. — Ela fez uma pausa e zombou. — Ainda assim, a culpa é sua por merecer a morte. Ousou me enfrentar, e agora fará uma morte dolorosa te pagar por isso!
Após esse discurso pomposo, fez um gesto para que a criada com o veneno se aproximasse.
Ye Mu foi forçada brutalmente a se ajoelhar. Ela ergueu o rosto, suando e trêmula, e encarou Wen Ru:
— É melhor que me mate de uma vez... Caso contrário, se meu pai vir o que está me fazendo — eu vou fazer a senhora pagar!
— Você! — O corpo de Wen Ru tremeu de fúria. Mas as palavras de Ye Mu a alertaram: o veneno não tinha antídoto e causava uma morte lenta. Embora dolorosa, essa demora poderia permitir que Ye Li a flagrasse. Era melhor matá-la logo — mas de forma cruel!
— Ah… já que escolheu como quer morrer, vou realizar seu desejo. Chamem o responsável pelos instrumentos de tortura! Esta madame quer ver um espetáculo bem satisfatório, com você implorando por misericórdia!
Ye Mu abaixou a cabeça e cerrou os dentes. Comparado a engolir um veneno de efeitos desconhecidos, era melhor suportar a dor física.
Ela resistiria a qualquer custo!
Capítulo 38 – Chantagem (1)
Por ora… tudo o que Ye Mu podia fazer era desesperadamente colocar suas esperanças em Ye Li — por mais ínfimas que fossem as chances de ele vir salvá-la. Ela odiava o fato de ser tão jovem e fraca, incapaz de fazer algo. Aquilo a humilhava até o âmago!
Enquanto isso, o grupo de jovens escravos selecionados era levado até o ruidoso salão do banquete. Em meio aos lamentos e choros dos demais, apenas dois garotos mantinham o silêncio e a compostura: ninguém menos que Mo Linyuan e Ye Xiaolang.
Naquele momento, os convidados haviam acabado de discutir assuntos importantes e seguiam agora para a segunda parte do banquete: os entretenimentos.
O Oficial Liu nem se dignou a olhar para os escravos. Esfregando as mãos com ansiedade e um sorriso asqueroso no rosto, cochichou para Ye Li:
— General, para ser honesto, este oficial não tem muito interesse nesses moleques… Mas e aquele escravo jovem que é seu? Como ele está?
Ye Li não esperava que ele ainda estivesse pensando em Mo Linyuan e ficou levemente irritado com o brilho de cobiça em seu rosto. Mesmo assim, manteve o rosto impassível, acariciando a barba em fingido desinteresse.
— Aquele garoto? Depois que o oficial o feriu com tamanha gravidade, ele sequer teve tempo de se recuperar. Receio que um corpo tão frágil só venha a entediar vossa senhoria.
Mal terminara de falar, dois garotos saltaram do grupo de escravos.
Um deles, Ye Xiaolang, gritou:
— General! Trago más notícias! A jovem senhorita está em grande perigo! Por favor, o senhor precisa salvá-la!
Seus gritos provocaram um rebuliço no salão até então alegre. Todos ali eram de famílias abastadas ou nobres, e ao ouvirem falar em perigo, ficaram inquietos e nervosos.
Ye Li bateu a mão na mesa com fúria! Ao perceber que os intrusos eram justamente os dois escravos de Ye Mu, a raiva tomou conta e ele falou sem pensar:
— Malditos! Que absurdo estão dizendo?! Perigo? Onde?! Alguém arraste esses dois escravos daqui e execute-os!
— Espere! — exclamou de repente o Oficial Liu, levantando-se com os olhos brilhando ao fitar Mo Linyuan. Após mais de um mês de recuperação e treinamento com os cuidados de Ye Mu, o menino estava com a pele ainda mais clara, como leite recém-ordenhado, e uma aparência que fazia o oficial quase salivar.
— General, por favor… espere um minuto! — arfou ele, apontando para Mo Linyuan com entusiasmo. — Já que esse garoto ainda está vivo, por que não me dá ele em vez de matá-lo?
As palavras escaparam da boca do Oficial Liu sem que ele pensasse, e ele nem se importou com a expressão cada vez mais sombria de Ye Li.
Os olhos de Ye Li se fixaram intensamente em Mo Linyuan. Há muito desejava matar aquele pirralho — ele sabia demais. Como poderia entregá-lo a outro?
Mas então lembrou-se: Mo Linyuan ainda era um moleque sem instrução, com a língua cortada por ele mesmo. Mesmo se fosse entregue, não poderia causar problemas. Além disso, nenhum dos meninos que caíram nas mãos do Oficial Liu sobreviveu mais de três dias. Entregá-lo não traria incômodo algum.
Seu semblante relaxou ligeiramente.
— Já que o Oficial Liu pediu, então este general…
— Não, não pode! — Ye Xiaolang o interrompeu de súbito. Pensando na palavra que Mo Linyuan havia escrito em sua palma, ele reuniu coragem e declarou com firmeza:
— General, Aji tem algo importante a lhe mostrar. Se não olhar… com certeza se arrependerá.
Depois disso, concentrou toda sua atenção em Ye Li, esperando pela resposta.
Se fosse qualquer escravo comum dizendo tais palavras, Ye Li teria rido com desprezo. Mas vindo daquele pequeno que sabia tantos de seus segredos… e ainda dizia ter algo a mostrar?
Ele estreitou os olhos, agora tomados por um brilho perigoso, e de repente se levantou. Desceu de seu assento de honra e caminhou até eles.
Os passos pesados ecoaram pelo salão, que caiu num silêncio tão profundo que se poderia ouvir uma agulha cair. O Imperador Zhao abanava o leque, observando a cena com curiosidade, enquanto o Oficial Liu lançava olhares nervosos entre Ye Li e Mo Linyuan.
Estava apavorado com a possibilidade de Ye Li descer e matar Mo Linyuan ali mesmo! Por outro lado, Ye Xiaolang recuou um passo, tomado pelo medo. Apenas Mo Linyuan manteve a calma — erguendo a cabeça e encarando Ye Li diretamente nos olhos.
Capítulo 39 – Chantagem (2)
Por um longo tempo, o salão permaneceu envolto por uma aura opressiva, como se uma mão invisível apertasse o coração de todos os presentes. Ye Li riu de forma sinistra ao parar diante de Mo Linyuan, olhando para o pequeno corpo do menino de cima, como um predador fitando a presa indefesa.
— Há algo que devo ver? — disse com desdém. — Pois então… mostre.
O som de pessoas engolindo seco ecoou ao redor. Mo Linyuan, magro e debilitado, parecia frágil a ponto de se partir com um simples toque de Ye Li, cuja estatura era comparável à de um urso. E, no entanto, o menino permanecia firme, com uma expressão serena e calma, quase pacífica.
Sem dizer uma palavra, ele colocou algo nas mãos de Ye Li.
— Isto é…
Alguns dos convidados mais próximos conseguiram ver que parecia ser um objeto de jade, pequeno demais para que os outros, à distância, conseguissem distingui-lo com clareza.
Assim que Ye Li vislumbrou o jade na mão do jovem, seu rosto empalideceu drasticamente! Virando o objeto, leu as palavras gravadas no verso: “Dinastia Eterna Ye”. Um frio percorreu sua espinha, e seus membros se enrijeceram.
Aquele era um dos tesouros retirados do poço do pátio abandonado!
Após sua descoberta, embora não o tivesse guardado às claras, havia designado especialistas treinados para vigiarem o local secretamente. Não havia como esse moleque tê-lo roubado depois disso. A única possibilidade… é que ele o havia pego naquela mesma noite, ao encontrar o tesouro. Ele havia o retirado escondido!
E agora o entregava de volta. O significado oculto era claro como o dia. Aquilo era uma ameaça velada!
Se aquele Selo Imperial de Jade caísse nas mãos erradas, suas ambições seriam imediatamente expostas! Todos os seus planos… tudo estaria arruinado! E o pior: nenhum membro da família Ye escaparia com vida!
Pensar nisso fez os olhos de Ye Li transbordarem intenção assassina. Usando sua força interna, esmagou o jade ali mesmo. Em seguida, agarrou Mo Linyuan e o jogou com brutalidade contra um dos enormes pilares do salão.
— Está pedindo para morrer!
As servas se ajoelharam imediatamente, e os convidados, tomados pela tensão, não ousaram sequer respirar alto.
O rosto pálido de Mo Linyuan começou a avermelhar à medida que era sufocado, mas não havia medo em seus olhos. Com uma mão, agarrou o punho de Ye Li; com a outra, apontou diretamente na direção do Imperador Zhao.
Esse gesto claro e direto deixou Ye Li ainda mais furioso!
A mensagem era cristalina: se Mo Linyuan havia sido capaz de pegar o selo, talvez tivesse em mãos outras provas capazes de destruí-lo. O verdadeiro plano de Ye Li era usurpar o trono imperial. Com o próprio imperador presente, qualquer palavra dita fora de hora poderia levá-lo à morte certa.
Por isso, embora desejasse estrangular Mo Linyuan ali mesmo, seus músculos apenas latejavam com o esforço de se conter. Seus dedos sobre o pescoço do menino já não tinham mais força.
Ser ameaçado de maneira tão descarada… mas sem poder reagir, era insuportável!
Naquele momento, nem mesmo o Oficial Liu, apesar do desgosto de ver seu “presente” escorregar por entre os dedos, se atreveu a tocar nos bigodes do tigre. Já o Imperador Zhao, ao ver Mo Linyuan apontar em sua direção, fechou o leque lentamente e comentou com um sorriso enigmático:
— General, não se irrite ainda. Este imperador vê que esse garotinho está levando a sério demais essa brincadeira. Por que ele não fala? Que enigma é esse em que vocês dois se meteram?
Ao ouvir a voz do imperador às suas costas, o corpo de Ye Li tremeu levemente. Lançou um olhar de relance para o soberano — que poderia decretar sua morte com um só gesto — e sentiu um arrepio gelado escorrer por sua espinha.
De fato, ele deveria ter matado aquele escravo desde o início. Não deveria estar sendo chantageado agora!
— Não… não é nada, Vossa Majestade.
Um silêncio pairou por um instante, até que Ye Li soltou uma risada seca e forçada. Por fim, largou Mo Linyuan e disse:
— Esses dois garotos… são próximos de minha filha. Alegaram que ela está em perigo, mas este general não confiou em suas palavras. Por isso, queria confirmar se era verdade ou não. E este menino é apenas um mudo.
— É mesmo? — respondeu o Imperador Zhao com um tom ambíguo, deixando Ye Li sem saber se ele acreditava ou não.
Capítulo 40 – Entre a Vida e a Morte (1)
Ye Li soltou Mo Linyuan, fazendo com que o menino caísse ao chão sem qualquer cerimônia. Ye Xiaolang correu até ele e segurou sua mão, oferecendo conforto apesar de seu próprio corpo tremer visivelmente. Um instante atrás, ele realmente pensou que Ye Li mataria Aji estrangulado!
O que foi que Aji entregou a Ye Li para que este o poupasse?
Mas Mo Linyuan apenas afastou sua mão com um tapa e lançou-lhe um olhar firme. Só então Ye Xiaolang conseguiu retomar o raciocínio. Apressado, disse:
— General, precisamos ir agora! A Jovem Senhorita está mesmo em perigo, não temos escolha senão invadir!
Ao ouvir isso, Ye Li fingiu preocupação e disse:
— Este general tem assuntos urgentes a resolver em seus aposentos e, lamentavelmente, se ausentará por ora. Por favor, aproveitem a festa ao máximo. Não precisam ser formais.
Feito isso, acenou para que os músicos retomassem sua apresentação. Logo depois, mais belas mulheres foram trazidas pelo mordomo para entreter os convidados.
Somente quando chegou a um canto afastado de olhos curiosos, Ye Li removeu a máscara de cordialidade e lançou a Mo Linyuan um olhar feroz, antes de tomar a dianteira e caminhar apressado na frente.
Mo Linyuan apertou a mão de Ye Xiaolang, conduzindo-o atrás.
Assim que saíram, Ye Li deixou de lado o sorriso que havia sustentado até então. Contudo, ele não alertou o Imperador Zhao sobre o ocorrido. Partiu como se nada tivesse acontecido.
Ele voltou o olhar para Mo Linyuan.
— Você é surpreendentemente calmo para a sua idade… Não parece uma criança.
O olhar de Ye Li continha ameaça, mas sua voz era casual — fria, como se conversasse sobre o tempo.
Mo Linyuan, sendo um “mudo”, naturalmente não respondeu. Apenas acelerou o passo. Havia se ausentado por tempo demais — e Ye Mu estava sozinha com aquela mulher. Ele não podia imaginar o que poderia ter acontecido!
Mas se não respondesse nada, Ye Li poderia simplesmente voltar para o salão. E se Ye Li não fosse, Mo Linyuan também não poderia sair. Reunindo toda a sua determinação, ele se virou e lançou a Ye Li um olhar intenso, carregado de desprezo.
Essa atitude destemida quase fez Ye Li rir.
— Não teme a morte, hein?
Mo Linyuan ardia em angústia. Estavam falando da vida da filha dele! E ainda assim, Ye Li não demonstrava nem uma sombra de preocupação. Não perguntava o que havia acontecido, tampouco mostrava vontade de descobrir. Em vez disso, ficava ali, encarando um mero escravo como se isso fosse importante. Era desumano — no mais puro sentido da palavra!
Ele cerrou os punhos, enquanto Xiaolang se ajoelhava ao seu lado.
— General, tenha piedade! Estamos apenas preocupados com a Jovem Senhorita, que foi chamada pela Primeira Esposa. Não sabemos se ainda está viva… Por favor, vá salvá-la!
O rosto de Ye Li se fechou, e ele rugiu:
— Ridículo! Que perigo poderia haver por ser chamada pela Primeira Esposa?!
Ele realmente não acreditava que tivessem vindo a ele por algo tão absurdo.
Ye Xiaolang ficou sem saber o que responder. Mo Linyuan então o puxou do chão, fez um gesto silencioso e lhe indicou, com os olhos, o que dizer.
Ye Xiaolang compreendeu a mensagem muda. Virou-se novamente para Ye Li, mordeu os lábios e disse com firmeza:
— Se o general apenas der uma olhada! Se estivermos mentindo, aceitamos qualquer punição!
Diante dessas palavras, Ye Li girou os calcanhares, lançou um olhar fulminante para os dois e seguiu a passos largos em direção ao pátio da Primeira Esposa.
De longe, sons estranhos já podiam ser ouvidos…
Depois de ser capturada, Ye Mu fora amarrada a um banco de madeira. O executor responsável pelas punições seguira as ordens da Primeira Esposa sem hesitar. A cada golpe do bastão contra sua carne, a dor se intensificava, rompendo-lhe a pele e fazendo o sangue escorrer.
Wen Ru permanecia sentada tranquilamente em seu pavilhão, sorrindo com sadismo ao som dos estalos de carne ferida.
— Que ossos duros. Nem assim se rende… Que desperdício — murmurou ela com desdém.
Ye Mu só podia suportar em silêncio. Não precisava olhar para saber que a parte inferior de seu corpo já estava coberta de sangue. Para alguém ser capaz de torturar uma criança sem piscar, essa mulher… Ye Mu sabia que jamais poderia cair em suas mãos novamente!
— Já basta. — Wen Ru, achando a cena enfadonha, lançou um olhar ao oeste e bufou: — Matem-na.
— Sim, madame! — respondeu o carrasco, erguendo o bastão bem alto. Um brilho de intenção assassina passou por seus olhos. Sem dúvida — se aquele golpe fosse desferido, Ye Mu morreria!
Ye Mu ergueu os olhos lentamente, fixando o olhar na porta trancada do pátio. Um traço de decepção passou por seu olhar…
De fato… um mundo sem direitos humanos era um mundo de sofrimento para aqueles na base.
Seria isso? Ela… iria morrer?
Fechou os olhos devagar, aceitando seu destino.
Mas naquele exato momento, os portões do pátio foram arrebentados com um estrondo!
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