Capítulo 76 ao 80


 Capítulo 76 – Você Se Recusa a Obedecer? (1)

Enquanto o Oficial Liu ainda hesitava, dois homens vestidos de preto entraram no recinto.

— Príncipe Herdeiro!

Eles vinham procurando pelo príncipe herdeiro no país Yue havia muito tempo, sob as ordens de seu mestre. Agora que finalmente o encontraram, as expressões sob suas máscaras eram de pura empolgação.

Mo Linyuan sabia que eles só haviam vindo por causa de seu sinal secreto, então acenou com a mão, ordenando que se retirassem por ora.

Ainda não era o momento de relembrar o passado.

E quando o Oficial Liu viu que alguém havia conseguido infiltrar-se em sua residência sem alertar ninguém, percebeu na hora que se tratavam de mestres em artes marciais internas. Tornou-se imediatamente cauteloso e teve a confirmação: o jovem à sua frente realmente não era uma pessoa qualquer!

Enquanto pensava nisso, Mo Linyuan sorriu e se aproximou.

— O que mais há para considerar?

Seus olhos longos e estreitos como os de uma fênix o encaravam com imponência, enquanto os cantos de sua boca se curvavam num sorriso de escárnio. Ele falou lentamente:

— Em todo o país Yue, você acredita que pode encontrar um protetor melhor do que eu — um príncipe herdeiro? Fique tranquilo, a humilhação que me impôs naquele dia já foi esquecida, pois me vinguei ontem à noite. E então… vai me ouvir agora?

O corpo inteiro do Oficial Liu estremeceu. Diante do jovem à sua frente, suas pernas ficaram cada vez mais fracas!

Era verdade. Diante da atual situação do país Yue, havia mesmo lugar melhor para ir? Se não concordasse, provavelmente morreria ali mesmo! Afinal, não fazia ideia de quantos homens do príncipe herdeiro estavam espalhados pelo país Yue.

Se fosse alvo dele, para onde poderia fugir?

Por fim, pensou: Em vez de temer os outros, por que não tentar? Talvez eu ainda tenha um futuro promissor!

Com esse pensamento, Oficial Liu se ajoelhou, e sua voz assumiu um tom um pouco mais respeitoso:

— Contanto que Vossa Alteza não me abandone, este humilde servidor não recusará!

Ao ouvir isso, Mo Linyuan semicerrrou os olhos e sorriu com significado.


— E então?! Você foi salvá-lo?

Era tarde da tarde do dia seguinte quando Ye Mu viu Yan Xu novamente. Enquanto pulava de um lado para o outro, feliz e um pouco impaciente, Yan Xu imediatamente tapou sua boca e a levou para trás de um biombo.

— Fique quieta, tenho algo pra te dizer!

— O quê? — Ye Mu inclinou a cabeça, curiosa. Como ela era muito pequena, mal chegava à altura das pernas dele, então Yan Xu a segurava como se abraçasse uma bola de algodão leve e macia.

Seus olhos brilharam por um momento, e então ele falou em tom sério:

— A esposa principal do Primeiro-Ministro de Yue, que é a mãe da Wen Ru, ficou furiosa ao descobrir que Wen Ru foi capturada!

— Ela veio pessoalmente hoje em nome da filha. Na verdade, ela até quis mandar alguém para te assassinar! Que tal eu te escoltar secretamente até Ye Li agora mesmo?

— Me matar? — Ye Mu não esperava que a família Wen se movesse tão rapidamente, mas de repente pensou em algo e arregalou os olhos: — Você está adiando sua partida para salvar Aji só pra me contar isso?

Yan Xu franziu o cenho.

— Já está tarde demais! Por que você ainda está pensando nesse escravo?

Ye Mu o encarou, visivelmente descontente.

— Quem se importa com um escravo? Eu me importo! Ele é meu!

Depois de respirar fundo, ela disse com calma:

— Tudo bem… fico muito grata por ter vindo me dar essa notícia. Você até quis me proteger, mas posso resolver isso sozinha. Comparado à minha situação, ele está em mais perigo agora!

Yan Xu bufou friamente:

— Ele é só um rapaz. E ainda é mais velho que você. Acha mesmo que precisa se preocupar com ele?

Ye Mu fez um biquinho irritado e começou a socar o ombro dele com os punhos pequenos.

— Meus assuntos não são da sua conta. Vai voltar atrás na sua palavra?

Ao vê-la sempre se importando mais com os outros do que consigo mesma, Yan Xu ficou furioso e irritado. Realmente não queria mais se envolver com ela! No entanto, ao se lembrar de que seus homens confirmaram que o imperador estava mesmo muito doente, sentiu que essa garotinha poderia ser muito útil e que valia a pena protegê-la.

Assim, engoliu sua raiva e falou com ferocidade:

— Tudo bem, eu vou agora mesmo. Não se arrependa depois!

E pensar que eu vim aqui só pra ajudar… Parece que ela nem precisa!

Capítulo 77 – Você Se Recusa a Obedecer? (2)

— Sim, sim! — Ye Mu acenou displicentemente com a mão. — Vai logo e volta rápido!

O olhar impaciente no rosto dela fez com que ele se irritasse novamente! Queria ver que tipo de habilidade aquele rapaz tinha para ser tão inesquecível, mesmo depois de apenas um dia separados!


— Príncipe Herdeiro, a Imperatriz Viúva envenenou Sua Majestade e assumiu o controle do governo imperial sozinha. Mas, por sua visão limitada, tomou muitas decisões erradas, o que fez com que o governo fosse prejudicado e ganhasse má reputação. O povo também anda se queixando. Todos esperam pelo seu retorno, para que assuma o comando da situação!

O homem de preto estava ajoelhado com reverência aos pés de Mo Linyuan. Eles haviam sido enviados pelo Grande Tutor Imperial Yun, do país Mo — pai biológico da mãe de Mo Linyuan.

Enquanto falava, Mo Linyuan observava o mapa do Exército Imperial Proibido em suas mãos e respondeu com frieza:

— Como podem ver, sou apenas um jovem. Não recebo uma educação adequada desde os seis anos de idade. Como poderia assumir tamanha responsabilidade?

— Isso… — Os dois homens trocaram olhares. — Vossa Alteza, por que se menosprezar assim? O senhor carrega o sangue de um Verdadeiro Dragão. Basta que retorne, e a imperatriz viúva terá de lhe ceder o trono!

Um jovem imperador sem poder, nada mais do que um fantoche. Isso ele só podia desprezar — e o que queria era governar com suas próprias forças e vontade!

Guardou o mapa do Exército Imperial no bolso e disse com firmeza:

— Não vou voltar. Pelo menos, não por enquanto.

— Como assim?! — os dois exclamaram ao mesmo tempo.

— O país Yue está em meio a muitas coisas: tumultos, conspirações... vocês entendem. — Explicou com calma. — Se eu ficar aqui e ajudar alguém a ascender ao trono, essa pessoa me ficará em dívida. Assim, quando retornar, terei mais cartas na manga e não serei controlado por ninguém.

Aqueles dois, que só entendiam de combate e não de estratégia, não conseguiram compreender totalmente, então continuaram inquietos mesmo depois de ouvirem seu plano.

Mo Linyuan franziu o cenho.

— Não se preocupem. Dentro de dois anos, com certeza retornarei. Mas agora, ainda não é o momento.

E continuou:

— Vão e informem o restante de meus homens que ainda estão no país Yue para ficarem atentos. Posso enviar ordens a qualquer instante.

— Sim… Vossa Alteza! — Os dois se ajoelharam em saudação.

Logo depois, um deles se levantou de súbito, percebendo a presença de um intruso por perto.

— Quem está aí?! — exigiu saber.

Yan Xu não esperava ser descoberto tão facilmente. Imediatamente tentou recuar, mas justo quando estava prestes a se virar e partir, viu um jovem sair do quarto.

— Você está bem? — Yan Xu se espantou. Esperava o pior, dadas as circunstâncias.

Mo Linyuan claramente o reconheceu também. Com um gesto, ordenou que seus dois guardas se retirassem.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, simplesmente.

Yan Xu percebeu que aqueles dois mestres em artes internas obedeciam às ordens de Mo Linyuan, e seu semblante ficou mais sério.

— Você não é um escravo? Qual é a sua verdadeira identidade?

Mas antes que Mo Linyuan pudesse responder, alguém cambaleou ao sair de um canto. Era o Oficial Liu!

E quanto ao Oficial Liu, que antes era completamente insensível a adolescentes, agora tremia de medo ao se ajoelhar aos pés de Mo Linyuan. Mal prestou atenção na nova presença em sua residência — afinal, desde que Mo Linyuan chegara na noite anterior, muitas pessoas haviam entrado em sua casa.

Com o pouco de dignidade que lhe restava, disse de forma lastimosa:

— Mestre, a refeição está pronta. Por favor, dirija-se ao salão.

Essa cena deixou Yan Xu ainda mais chocado. Originalmente, pensava que Mo Linyuan sofreria bastante ali. Afinal, todos conheciam a reputação perversa e o caráter deturpado do Oficial Liu.

Mas como explicar o que via agora? O Oficial Liu era, na verdade, subordinado daquele “escravo”? Só podia ficar atônito.

Mo Linyuan nem sequer olhou para Oficial Liu. Apenas ergueu levemente seus olhos de fênix e sorriu para Yan Xu.

— Como pode ver, estou muito bem. Seria mais apropriado perguntar o que você está fazendo aqui?

Mo Linyuan ainda não havia esquecido do caso com Wen Ru; afinal, o homem à sua frente havia causado mal a Ye Mu.

Sem perceber o olhar perigoso de Mo Linyuan, Yan Xu respondeu:

— Quem diria que aquela garotinha ainda estava pensando em você… e me forçou a arriscar minha pele pra vir te salvar. Quem ia imaginar que você estava na verdade se divertindo por aqui? Até sendo tratado como um jovem mestre!

Os olhos de Mo Linyuan se arregalaram.

— Ye Mu? Por que você ouviu o que ela disse?

Capítulo 78 – A Madame Chama (1)

Yan Xu não disse muito:

— Isso é entre ela e eu. Você não tem o direito de perguntar.

Ao ver a expressão de Mo Linyuan escurecendo, ele acrescentou:

— No entanto... sua vida está melhor agora. Mas isso não significa que deva esquecer sua antiga dona. Pelo que sei, alguém vai tentar assassiná-la hoje.

— O quê?

Um lampejo de pânico cruzou os olhos de Mo Linyuan, antes tão calmos. Ele pensou por um instante e disse:

— Está certo.

Virando-se para os dois homens vestidos de preto ao seu lado, ordenou:

— Zhaowen. Zixu. Vocês dois, vão com ele. Protejam aquela pessoa nas sombras.

— Não! Como podemos deixar Vossa Alteza sozinho? — protestaram imediatamente.

— Está tudo bem. Os demais chegarão em breve... não deverá haver problema com minha segurança. Além disso, essa missão não vai durar muito. Eu os seguirei depois.

Ele então ordenou com firmeza:

— Vocês dois devem proteger aquela garota a todo custo. Se ela se ferir sequer um pouco ou alguém conseguir machucá-la, terão que responder diretamente a mim.

Ao dizer isso, uma aura assassina explodiu de seu corpo, e seus olhos ficaram gélidos como o inverno. Os dois homens não ousaram dizer mais nada, apenas abaixaram as cabeças e aceitaram a ordem.

Ele não permitiria que nenhum mal recaísse sobre ela!

Enquanto isso, Yan Xu não perdeu tempo. Ainda tinha pensamentos sobre a verdadeira identidade de Mo Linyuan, mas empurrou esse problema para depois; mandaria alguém investigar mais tarde. No momento, era mais importante observar atentamente os movimentos de Ye Li.

O que será que aquela pirralha da Ye Mu está fazendo? — pensou, enquanto se afastava da residência do Oficial Liu.


O pátio principal estava um alvoroço de barulho e agitação. A partir disso, Ye Mu soube que a família Wen finalmente havia chegado.

Eles querem me assassinar? — Ye Mu revirou os olhos. Depois, pensou numa solução. Escondendo-se dentro de um vaso no salão externo, entrou na Aura da Tartaruga.

Por um bom tempo, vários grupos de pessoas entraram na casa. Nenhum deles percebeu o local onde ela se escondia. Depois de um tempo, ela ouviu alguém entrando diretamente no cômodo interno. Ao constatar que a pessoa que procurava não estava ali, saiu murmurando algumas palavras.

Ye Mu ouvia atentamente as vozes do lado de fora, mas em seu coração não havia qualquer agitação. Estava completamente imóvel, como se tivesse se fundido ao vaso. Inesperadamente, conseguiu distinguir a voz de Yan Xu entre as conversas confusas.

— Isso é estranho... será que ela foi para o pátio principal?

Yan Xu estava prestes a seguir para o pátio principal para verificar, mas, assim que terminou de falar, uma mão se esticou de dentro do vaso ao seu lado.

— Ah! Não vá! Eu tô aqui dentro~ — veio uma voz abafada de dentro do vaso.

Yan Xu ficou atônito por um momento. Sua impressão de Ye Mu era que, apesar de ser ainda tão jovem, aquela garotinha era impiedosa. Nunca imaginou que ela fosse se esconder de novo. E logo num lugar tão chamativo.

— Tá esperando o quê?! — a voz abafada dela ecoou ao perceber que ele não a ajudaria a sair. — Eu não consigo sair!

Ele não deveria rir, mas não conseguiu se conter. Caminhou até lá e esticou a mão, agarrando Ye Mu pela gola e a tirando do vaso com um puxão!

Aquela postura... não era diferente de segurar um filhote de lobo!

— Cof... cof, cof! — tossiu Ye Mu, enquanto era suspensa pela gola. Agitando seus bracinhos e perninhas no ar, reclamou com raiva:

— Bastardo! Tá rindo do quê? Por que não me coloca no chão?! Droga, você tá sufocando esse bebê precioso!

Agora, até os olhos de Yan Xu estavam cheios de riso. Quem é que se chama de bebê precioso?!

Essa aí não tem um pingo de vergonha!

Ele cuidadosamente a colocou no chão. A figura minúscula mal chegava à altura de suas pernas. Os cabelos estavam bagunçados, as roupas desalinhadas, e o rostinho branco e redondo exalava pura indignação.

Ele não sabia explicar o motivo, mas achava aquela cena extremamente fofa.

— Por que estava escondida num vaso? — Yan Xu não conseguiu evitar a pergunta, abaixando-se até o nível dela.

Ye Mu apenas revirou os olhos e respondeu com imponência:

— Quem aqui tem cérebro pra lutar de frente comigo? Eles são todos idiotas. Ninguém conseguiu me ver!

Enquanto falava, ergueu as sobrancelhas e levantou o queixo. Seu rostinho pequeno não conseguia esconder o orgulho que sentia de si mesma.

Yan Xu apertou os lábios para conter o riso. Ye Mu apenas lançou-lhe um olhar furioso.

— Ei! Tá rindo do quê?! — Sua voz assumiu um tom mais sério ao se lembrar de seu pedido: — Você conseguiu salvar a pessoa que pedi?

Ao ouvir isso, o sorriso de Yan Xu foi sumindo gradualmente, e ele apenas apontou para trás. Só então Ye Mu percebeu dois homens parados atrás dele, e sua expressão ficou mais solene. Yan Xu, por sua vez, apenas esperava calmamente pela reação dela.

— Esses... quem são essas duas pessoas? — ela perguntou, confusa.

Capítulo 79 – A Madame Chama (2)

Yan Xu ergueu as sobrancelhas.

— Você não os conhece? O homem que você queria que eu salvasse está como uma carpa sortuda nadando nas águas frescas da cidadela imperial. A única em apuros aqui é você. Esses dois homens foram enviados para te proteger.

Ao ouvir isso, a expressão de Ye Mu se tornou cada vez mais séria.

— Me proteger? Ele não vai embora?

Os dois homens escutaram e imediatamente se ajoelharam diante dela.

— Jovem senhorita, Sua Alteza disse que ainda tem assuntos a resolver. Por ora, recusou-se a deixar o país de Yue.

— Absurdo! — Ye Mu explodiu. — Que tipo de besteira é essa?!

Seu rostinho se enrugou de frustração.

— Vão até ele e digam que eu não preciso de proteção! Digam pra ele voltar pro país dele agora mesmo!

Os dois se entreolharam. Um deles, com voz grave, respondeu de forma apologética:

— Lamentamos, Jovem Senhorita. Até recebermos uma ordem direta do Jovem Mestre, ninguém irá partir.

Ye Mu ficou profundamente incomodada.

Mo Linyuan… só porque tem outro objetivo, ele se recusa a ir embora?

Justo quando não sabia mais o que fazer, alguém bateu à porta. Ye Mu olhou para os três homens com um sinal, e eles desapareceram imediatamente. Ela se recompôs um pouco e só então abriu a porta.

— Jovem Senhorita! — Xiaoqiu entrou apressada. — Aquilo que a senhorita pediu para esta criada investigar... eu finalmente consegui algumas informações!

Ela se aproximou e sussurrou animada:

— A família Wen passou a manhã inteira em alvoroço. Queriam forçar o general a libertar a esposa principal, mas o general não aguentou mais ser pressionado por eles e ficou furioso!

Nesse momento, a voz de Xiaoqiu ficou ainda mais empolgada:

— Ele perguntou como a família Wen teria coragem de encará-lo depois de ele mostrar as provas do adultério da madame. No fim, os dois lados cederam: o general prometeu não se casar novamente, e a família Wen concordou em mandar a madame para um templo para cultivar. Ela será enviada ainda hoje!

Enquanto ouvia o relato de Xiaoqiu, Ye Mu não sabia ao certo o que sentia em seu coração.

Parecia que a influência da família Wen ainda era forte. Afinal, Ye Li tinha um temperamento explosivo. Se fosse com qualquer outra pessoa, ela já teria morrido centenas de vezes.

Fez um gesto para Xiaoqiu se retirar, mas inesperadamente, outra pessoa entrou correndo pela porta.

— Jovem Senhorita, más notícias! — o servo anunciou alto. — A madame vai ao templo para se recolher e cultivar. Mas antes de partir, pediu para vê-la!

— Me ver? — O coração de Ye Mu deu um pulo. A julgar pelo mensageiro, não parecia ser um encontro com boas intenções...

No entanto, mesmo que quisesse recusar... era impossível não ir quando a madame mandava chamá-la. Ye Mu pensou por um momento e tomou sua decisão.

Então caminhou até o salão principal.

Antes mesmo de colocar os pés dentro do local, já podia ouvir o som de choros. Provavelmente a família Wen não esperava que Ye Li tivesse provas em mãos, achando que seu plano original de pressionar o general a libertar Wen Ru teria sucesso.

Mas agora, não tiveram escolha a não ser recuar e permitir que Wen Ru, contragosto, fosse enviada ao templo.

Ye Mu suspirou e se lembrou da primeira vez que viu Wen Ru. Criadas a rodeavam, exaltando sua importância — uma visão imponente. Mas em pouco tempo, ela caiu de sua posição elevada. E até agora, não conseguiu se redimir.

De fato, nos tempos antigos, o status da mulher era lamentavelmente inferior. Não importava sua origem, elas só podiam viver à mercê dos homens.

Assim que entrou, o ambiente ficou em silêncio. Depois de um tempo, uma voz feminina, carregada de ódio e raiva, disse com sarcasmo:

— Você é Ye Mu?

Ye Mu ergueu os olhos e viu que o salão estava cheio de gente. No centro, uma mulher imponente vestia uma longa e luxuosa saia. Assim que seus olhos vermelhos encontraram os de Ye Mu, ela a encarou com hostilidade!

Ao ver que Ye Li estava entre eles, Ye Mu se sentiu momentaneamente aliviada.

— Sim, sou eu — respondeu, e então se voltou para Ye Li. — Pai. Quem são essas pessoas?

Ye Mu se aproximou dele, mas já sabia a resposta. Só queria encontrar um aliado naquele campo de batalha.

Ye Li inclinou a cabeça e disse:

— São da família da sua mãe... estavam procurando por você...

Depois de um tempo, acrescentou:

— Você deve acompanhar sua mãe ao templo para cultivar.

— Ah… estavam me procurando? Mas o que ir com ela ao templo vai resolver? — Ye Mu perguntou com a voz baixa, fingindo estar assustada.

Ye Li ainda não tinha respondido, quando Wen Ru, sentada ao lado, levantou o rosto vermelho e manchado de lágrimas para olhá-la.

— Mu’er. A mamãe queria ver você antes de partir. Venha comigo até o quarto interno… vamos conversar lá…

Capítulo 80 – Chantageando com a Própria Morte (1)

O que mais ela poderia dizer?

Ye Mu se sentia extremamente relutante por dentro, mas com a família Wen ali, sabia que Ye Li não recusaria o último pedido de Wen Ru.

E como esperado, Ye Mu ergueu a cabeça para olhar Ye Li, a tempo de vê-lo assentir para a matriarca da família Wen.

— Mu’er, você e sua mãe devem se despedir em bons termos.

Será que o relacionamento entre elas era mesmo bom? Pai, que pensamento absurdo...

Mas Ye Mu só pôde assentir e, obedientemente, seguiu Wen Ru até o cômodo interno do salão principal.

Lá dentro, estavam apenas as duas; Wen Ru não permitiu que mais ninguém entrasse. Vestia uma túnica simples de musselina branca enquanto caminhava à frente, suas costas demonstrando uma leve tristeza.

O corpo inteiro de Ye Mu ficou em alerta, mas ela ainda não sabia qual era o plano escondido de Wen Ru...

Wen Ru se dirigiu até a cadeira principal e, finalmente, sentou-se. Seus olhos, vermelhos e inchados de tanto chorar, fitavam Ye Mu. Mas num piscar de olhos, o calor em seu olhar se converteu em algo cruel.

— Está satisfeita agora?

O quê? Ye Mu só conseguia se perguntar que mal ela tinha feito a Wen Ru, mas tudo que conseguia lembrar era da mulher tramando contra uma criança como ela!

Sem lhe dar tempo para responder, Wen Ru continuou:

— Você me incriminou e ainda arrumou um bode expiatório para jogar a culpa em mim. Eu não esperava que uma criança como você fosse tão ardilosa!

Ye Mu tentou abrir a boca para se explicar, mas ao ver a postura determinada de Wen Ru, sabia que qualquer palavra cairia em ouvidos surdos.

Os dedos de Wen Ru, antes pousados no braço da cadeira, agora se apertavam com força contra a madeira polida. Os nós dos dedos ficaram brancos, e seus olhos insanos se tornaram subitamente sombrios.

Mas havia neles um brilho aterrador — como o de uma louca.

— Por tantos anos, eu pisei em tantas pessoas... e no fim, fui destruída por você? Ridículo. É realmente risível!

Ye Mu estava parada diante dela. Era pequena, nem mesmo chegava à altura dos ombros de Wen Ru, ainda nem uma adulta. Quanto mais Wen Ru a encarava, menos conseguia entender — e mais ódio e confusão consumiam sua mente!

Como é que eu fui derrotada por uma criança?!

O rosto de Ye Mu se fechou por um instante, até que finalmente falou com um tom sério:

— Os fatos são frios e objetivos. E eu não entendo por que deveria haver justificativas por trás deles. Só sei que o mal sempre é revelado no fim.

E acrescentou com frieza:

— Antes de culpar os outros por terem te exposto, por que não reflete sobre seus próprios erros?

— Cale a boca! — gritou Wen Ru, seus olhos cada vez mais ferozes. — Sim, eu errei! Meu maior erro foi ter deixado você viva até agora! Eu sei por que quis me destruir.

Ela soltou uma risada estridente:

— Não é porque fui eu quem matou sua mãe? Você estava esperando por esse dia há muito tempo, não estava?

Ye Mu apenas murmurou:

— Você quase me matou também.

Mas você morreu? — Wen Ru zombou, o rosto corado de forma anormal.

— Quando eu for mandada para um templo, por sabe-se lá quanto tempo, não vai demorar para o general encontrar um motivo para me divorciar! E o que vem depois? Vai se casar de novo, é claro! Quando meus filhos virarem bastardos como você, vai se voltar contra eles também, sua pequena bastarda cruel?

— Você quer mesmo que o general tenha apenas um filho? — ela finalizou, com veneno na voz.

Ye Mu ficou sem palavras. Na cabeça de Wen Ru, ela era a própria encarnação da maldade. Qualquer coisa que dissesse agora não mudaria nada.

— Pense o que quiser… — ela disse por fim, dando meio passo para trás e se preparando para se virar. — Quer você acredite ou não, eu não provoco ninguém que não me provoque primeiro.

Wen Ru sorriu com desdém.

— Ah, claro. Você não provoca ninguém…

Ao ouvir aquela risada enlouquecida, Ye Mu sentiu que o clima estava ficando cada vez mais estranho.

Ela ergueu a cabeça para olhar para trás — só para ver Wen Ru gritar e se lançar sobre ela! Com reflexos rápidos, Ye Mu instintivamente agarrou um objeto duro que foi atirado contra ela e, no segundo seguinte, ele foi completamente empurrado para suas mãos!

Sangue quente escorreu por seus dedos, fazendo Ye Mu arregalar os olhos ligeiramente. Nesse momento, o rosto pálido de Wen Ru estava perigosamente próximo ao seu.

— …Eu não vou te deixar viver uma boa vida! Você vai para o inferno comigo! — foram suas últimas palavras, acompanhadas de um sorriso perverso no canto dos lábios.

No instante seguinte, várias figuras invadiram o cômodo!


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