Capítulo 316: Preso por tanto
tempo, não é bom... para o seu corpo
Ela bate
a poeira do corpo enquanto se levanta.
Ao virar a cabeça, vê Ying Mei a observando sem piscar.
Os cantos dos lábios de Muyan imediatamente se curvam; seus cílios são densos e
longos como penas de corvo, vibrando com um brilho travesso e encantador.
— Ying
Mei, se você continuar me encarando assim, vou acabar entendendo errado e
achando que já está encantado por mim!
Enquanto
diz isso, ela já está se aproveitando dele.
Aquele rosto deslumbrante, de beleza estonteante, junto com o par de olhos
que cintilam com um sorriso, de repente aparece bem na frente de Ying Mei.
Uma mudança repentina surge no rosto eternamente gelado de Ying Mei.
Ele tenta recuar apressadamente, mas seus pés falham e ele acaba caindo para
trás.
Muyan estende a mão e o segura.
Ela envolve a cintura esguia do outro, puxando-o de volta para seus braços. Ri
baixinho:
— Cuidado, eu ficaria muito aflita se você se machucasse com uma queda.
— Vo-você… você… — O rosto de Ying Mei muda várias vezes, mas ele gagueja,
incapaz de dizer uma só palavra.
Ao lado, Han Ye e os guardas vestidos de preto parecem estar vendo um
fantasma.
Han Ye sente como se dezenas de milhares de feras selvagens estivessem
atropelando seu cérebro.
— Céus! Por que simplesmente não o mata com um raio?!
Por que fazê-lo ver uma cena dessas?!
Jun Shang tem sentimentos por a Senhorita Muyan, mas ela está tão próxima,
tão íntima de Ying Mei, com esse contato todo... físico. Se Jun Shang souber
disso...
Han Ye estremece, e realmente não se atreve a pensar mais no assunto.
— Se-senhorita Jun, você… por favor, comporte-se com decoro, você… você é a
mulher de Jun Shang… além disso… também… também não deve causar problemas para
o Ying Mei!
Seu rosto está tomado pelo medo, e as palavras saem todas entre gaguejos.
Muyan sorri ainda mais alegremente, os olhos brilhando com uma luz travessa
e maliciosa.
De repente, ela agarra a gola de Ying Mei e deposita um beijo em sua
bochecha clara e macia.
O ambiente inteiro mergulha em um silêncio mortal.
A visão de Han Ye escurece, e apenas uma frase ecoa em sua mente — "Está
tudo acabado!"
Os guardas vestidos de preto recuam desesperadamente, cada um tentando se
esconder mais rápido que o outro, como se desejassem nunca ter presenciado
aquela cena.
Por outro lado, o beijado — Ying Mei —
Depois do choque e espanto iniciais,
Ele olha para Muyan, que está muito próxima.
Consegue ver um brilho travesso e brincalhão naquele par de olhos em forma de
flor de pessegueiro.
Um único pensamento surge de repente em sua mente.
— Você… você sabe…
Muyan ri suavemente:
— Sei o quê?
Ying Mei morde os lábios e não responde, apenas segura o próprio pulso.
As sobrancelhas de Muyan se arqueiam, admirando o quão perspicaz é esse
“rapaz”.
Sim, ela realmente sabe sobre o segredo de Ying Mei.
Foi no dia em que lidou com Ying Mei.
Seus dedos tocaram inadvertidamente o pulso desse “rapaz”...
E, num instante, tudo deixou de estar oculto.
O pulso de um homem é completamente diferente do de uma mulher.
Por fora, mesmo que Ying Mei se vista como homem, como um belo jovem—
Mas seu pulso não mente.
Exatamente!
Ying Mei não é um homem, mas sim uma autêntica e genuína mulher belíssima.
É por isso que Muyan vive provocando-a, uma vez após a outra.
Muyan nunca havia visto algo assim — uma mulher disfarçada de homem, capaz de
se esconder tão bem.
Completamente isenta de qualquer traço feminino.
Até mesmo aquela postura fria como gelo e geada, o frio cortante que emana
de todo o seu corpo — ela é ainda mais imponente e impressionante que Han Ye.
— Não
quer saber por que seu peito está sempre tão dolorido? E como isso está
afetando o progresso do seu cultivo? — Muyan se inclina para o lado de Ying
Mei, abaixando a voz.
Ying Mei
se sobressalta, perguntando automaticamente:
— Por
quê?
Os lábios
de Muyan se curvam, e seu sorriso é malicioso ao extremo:
— Porque,
ficar apertando eles por tanto tempo… não faz bem... pro seu corpo!
Ying Mei
a encara, atônita — e então, numa velocidade visível a olho nu, seu rosto
explode num vermelho intenso.
Capítulo
317: Fique onde está
Ainda
assim, o sorriso de Muyan se torna ainda mais radiante:
— Se
quiser saber como resolver isso, lembre-se de vir me procurar em segredo esta
noite, na hora zi-shi.
(zi-shi
= entre 23h e 1h da manhã)
Ying Mei
cora ainda mais. Aquela frieza de antes, como gelo e geada, agora está toda
misturada com hesitação.
Do ponto
de vista de Han Ye, ele acha que Ying Mei está corando porque—
Está
envergonhado de paixão e tomado por sentimentos ternos?!
Não! Isso não pode continuar assim!
De jeito nenhum!
Caso contrário, se Jun Shang visse essa cena, Han Ye temia que a Senhorita
Muyan e Ying Mei simplesmente não teriam como continuar vivas.
Han Ye estava prestes a dar um passo à frente para separar os dois à força.
Enquanto isso, Muyan — não sabe exatamente quando — apenas percebe que a
“flor” à sua frente de repente aparece atrás dela.
E no momento em que Muyan ainda pretendia estender a mão para provocar Ying
Mei novamente, alguém agarra sua gola e a puxa direto contra um peito.
Muyan só sente seu corpo colidindo contra um abraço firme como pedra.
Seus ombros doem com o impacto.
Ao levantar os olhos, ela imediatamente se depara com os olhos negros como
breu de Di Ming Jue.
Seus olhos se iluminam:
— Como é que você voltou tão cedo hoje? Como está o Xiao Bao? Está se
alimentando direitinho, está dormindo bem? Como anda o progresso dele no
cultivo? Ele sente saudade de mim…?
O rosto
de Di Ming Jue está preto como fundo de caldeirão!
Ele não responde uma única palavra, apenas levanta Muyan pela gola e a arrasta
direto para dentro da casa.
— Ei, Di
Ming Jue! Você não sabe o que significa ser gentil, não? Eu nem estou
resistindo, e mesmo assim você tá me arrastando — tá achando que tá carregando
um saco de batatas?!
……
O que
desperta a curiosidade de Muyan é que, dessa vez, Di Ming Jue não a leva de
volta para o quarto, mas sim para um cômodo bem peculiar.
A
cozinha!
Por que
cargas d'água Di Ming Jue a levaria para a cozinha?
Mãos
grandes a direcionam para que se sente numa cadeira junto à mesa.
Muyan
está prestes a se levantar, mas Di Ming Jue lhe lança um olhar frio e cortante:
— Fique
onde está.
Muyan
pisca, confusa. Esse homem está mesmo furioso — mas o que foi que eu fiz
dessa vez pra provocar ele assim?
No fim,
ela ainda obedece e permanece sentada.
Logo
depois, a cena diante de seus olhos… a deixa completamente atônita.
Ela
observa enquanto Di Ming Jue tira de sabe-se-lá um avental azul e o joga na
frente dela.
Erguendo levemente o queixo, com uma expressão de orgulho no rosto, ele diz:
— Coloque
isso em Ben Jun!
A voz
dele é absurdamente fria, e sua postura toda exala uma imponência majestosa,
imponente e... extremamente elegante.
Mas, pera
aí!
Que tipo
de maluquice é essa de eu ter que colocar um avental nele?!
Avental.
Di Ming Jue.
Isso… isso é mesmo uma combinação que deveria existir sob a luz do sol?!
Muyan
está atônita e confusa enquanto se levanta e amarra o avental em Di Ming Jue.
Logo depois,
o nobre dourado, Jun Shang-daren, se posiciona diante do fogão e começa a
cozinhar com habilidade.
Muyan:
“…”
Espera
aí! Eu realmente não tô alucinando?!
Di Ming
Jue… está mesmo indo pessoalmente para a cozinha cozinhar?!
Muyan
esfrega os olhos. Depois esfrega de novo.
Mas a cena diante dela não muda nem um pouco.
Oh,
Deus!!
Di Ming
Jue está realmente cozinhando — e ainda por cima usando um avental!
O mais
inacreditável é que, mesmo fazendo algo tão fora do padrão, usando um avental
com aparência delicada e feminina… ele ainda consegue parecer absurdamente
atraente, com uma presença tão imponente e refinada, que mais parece estar
sentado num trono, governando todo o seu território.
Muyan
fica completamente embasbacada por um bom tempo.
Então, a
comida deliciosa já chega.
Di Ming Jue parece frio e distante, com uma leve ruga franzindo sua testa. Ele
mesmo pega uma tigela de sopa e a coloca diante de Muyan:
— Não vai
comer?
— Vou! Eu
vou! — Muyan reage de repente, voltando à realidade, e prova uma colherada da
sopa.
O sabor
delicioso e suculento invade toda a sua boca.
Ela arregala os olhos e olha incrédula para Di Ming Jue:
— As
refeições dos primeiros dias, você que fez pessoalmente?
Capítulo
318: Talvez... não consiga segurar
—
Naturalmente. — Di Ming Jue resmunga com desprezo.
Quem mais
faria isso, se não Ben Jun?
Muyan
está realmente chocada agora:
— Você
cozinhou pessoalmente para mim?
—
Naturalmente! — responde ele, com a mesma convicção.
— Mas,
por quê?
Ele é
claramente um monarca no alto de seu poder. Para ele, sem dúvida, todas as
pessoas do continente Yanwu são apenas pequenos insetos insignificantes.
Claramente...
ele deveria ser um homem reverenciado por todas as pessoas, em todas as terras
sob os céus, fazendo com que todas as mulheres corram atrás dele como patos e o
amem loucamente.
Um homem
assim, por qual motivo vestiria um avental ridículo desses e ainda serviria
sopa para ela?
Di Ming
Jue se aproxima um pouco mais, arrastando as palavras:
— É
porque, Muyan, sua comida é tão intragável que não faz bem pra sua saúde.
Veias
azuis de repente saltam nas têmporas de Muyan.
Esse
canalha! Que
“cuidado” é esse — isso é tudo conversa fiada.
Ela
levanta um sorriso cheio de ironia, mas também de charme:
— Se não
faz bem para o corpo, por que então Jun Shang-daren comeu tanto naquele dia? Eu
até pensei que Jun Shang-daren tinha ficado muito satisfeito com o meu
trabalho!
— Hm,
satisfeito. — não há mudança na expressão de Di Ming Jue —
—
Contanto que tenha sido feito por Muyan, eu ficaria satisfeito. Não me
importaria nem que tivesse que comer isso a vida inteira.
Muyan fica paralisada de repente.
Só escuta Di Ming Jue continuar:
— Contudo, você e o Xiao Bao talvez não. Você é fraca, e Xiao Bao ainda é
uma criança, então nenhum dos dois deve comer essas coisas... Depois, eu vou
comer o que você fizer, mas serei o responsável pela dieta de vocês.
— Já te disse, o cozinheiro que preparou esses pratos, pode ficar com você o
quanto quiser, até para sempre.
Muyan o olha, atônita. Um zunido toma seus ouvidos, e por um instante, é
como se ouvisse o som ensurdecedor do próprio coração.
Seu coração está prestes a pular para fora do peito.
Ela pensa que talvez não exista outra pessoa no mundo como aquela diante de
seus olhos. Por ela, ele pode esquecer seu status, pode fazer qualquer coisa
que esteja abaixo da sua posição.
Muyan sente uma sensação sombria no fundo do estômago.
Se os sentimentos de Di Ming Jue sempre queimarem com tanta intensidade,
Se ela continuar a conviver com esse homem o tempo todo, logo... ela não vai
conseguir mais controlar seu coração.
— Por que fica aí olhando para mim feito boba? — Di Ming Jue franze a testa,
colocando mais comida no prato dela. Seus movimentos são gentis, mas o tom de
voz é um pouco ríspido —
— Mesmo que queira cultivar a Flor do Espírito das Nuvens Negras, você
precisa se alimentar. Se eu descobrir que você passou oito horas sem comer, só
tocando guqin, não vai mais poder ver o Xiao Bao.
Desta vez, Muyan não o contradiz.
Em vez disso, ela silenciosamente coloca na boca toda a comida que Di Ming Jue
lhe serve.
Os pratos são picantes e saborosos. Na boca de Muyan, ela sente uma leve
acidez e um toque de doçura enquanto come.
Ela percebe que Di Ming Jue continua a servi-la persistentemente.
De repente, Muyan pega um pedaço de camarão e o enfia na boca de Di Ming
Jue:
— Você não quer provar a sua própria comida?
Di Ming Jue se surpreende, mas logo mastiga o camarão sem expressão e
engole.
Ninguém percebe que suas orelhas ficam discretamente vermelhas.
Os cantos da sua boca também se curvam em um arco suave.
Logo em seguida, ele tosse brevemente e diz:
— Ben Jun também está com fome. Continue alimentando Ben Jun.
Ele não
diria que seu corpo atual simplesmente não precisa de comida.
Nem mesmo no continente Yanwu ele sentiria fome alguma.
Muyan
pisca.
— Aqui
não tem hashis?
O homem à
sua frente franze a testa, com uma expressão muito insatisfeita:
— Ben Jun
está cansado.
Cansado
demais para comer?
Mas tem forças para colocar uma pilha enorme de comida para ela?
Muyan
revirou os olhos, mas não desmascarou a mentira do homem.
Capítulo
319: Segredo
Muyan
revirou os olhos, mas não desmascarou as mentiras do homem.
E assim,
os dois seguem — você come, eu como — e toda a comida daquela grande mesa foi
consumida.
A expressão de Di Ming Jue parece tão grave e austera quanto antes, mas se o
Ancião Chang estivesse ali neste momento, ele veria —
Quão alegre e radiante está o coração do nosso Jun Shang. Especialmente
aquele par de íris azul-gelo, normalmente frias; agora transbordando ondas
cintilantes.
E Muyan também não percebe em si mesma:
Seu sorriso é tão preguiçoso quanto antes, brilhante e claro — mas agora
carregado de uma suavidade que ela jamais mostrara antes.
===
Bem tarde da noite.
Uma sombra negra pousa silenciosamente diante da porta de Muyan.
Está extremamente quieto dentro da casa, sem o menor som.
A figura levanta a cabeça devagar, revelando um rosto frio e belo sob a luz
do luar.
— É Ying Mei!
Um par de pupilas claras e geladas observa a pintura preta do quarto. Há uma
rara ponta de hesitação e preocupação no rosto de Ying Mei.
Ela pressiona suavemente a mão sobre o peito plano, franzindo levemente a
testa.
As palavras de Muyan parecem ecoar em seus ouvidos —
“Ficar amarrado por tanto tempo não faz bem para o seu corpo.”
— Se quiser saber como resolver isso, lembre-se de vir me procurar
secretamente esta noite, na hora zi-shi.
Mas será que ela realmente pode pedir esse tipo de coisa para Muyan?
Ying Mei não consegue lembrar há quantos anos se veste como homem.
No começo, foi para se esconder da perseguição assassina dos inimigos, uma
forma de autopreservação.
Com o tempo, ela passou a se ver completamente como um homem.
Ela já esqueceu como ser mulher.
Quanto às características femininas, para ela são apenas supérfluas e
embaraçosas.
Como resultado, desde que seu corpo começou a se desenvolver, Ying Mei usou
vários métodos para esconder essas características.
Ela é implacável ao enfrentar um inimigo, e ainda mais severa consigo mesma.
Se outras pessoas tivessem que se enfaixar todos os dias, do jeito que ela
faz há uma década, provavelmente não suportariam.
Mas Ying Mei não é uma cultivadora ou guerreira comum.
Mesmo depois de tantos anos, exceto por Jun Shang, a quem jurou lealdade,
quase ninguém no Domínio Polar conhece sua identidade como mulher.
No entanto, com o passar da idade—
Ying Mei percebeu que seu cultivo começou a estagnar.
Especialmente nos últimos dois anos — toda vez que cultivava e operava seu
poder espiritual na região do peito, sentia uma dor tão intensa que desejava
morrer. Depois, não conseguia continuar praticando.
Além disso, essa dor só ficava cada vez mais forte com o passar do tempo.
O velho servo que a acompanha desde criança também é um médico altamente qualificado.
Mas, em todos esses anos, não conseguiu encontrar nenhuma solução.
Jun Muyan é apenas uma mortal do continente Yanwu. Ela nem entende direito
sobre Cultivo Verdadeiro e Poder Espiritual.
Será que
ela realmente pode resolver o problema de Ying Mei?
Os passos
de Ying Mei vacilam um pouco.
Ela sente
que está recorrendo a qualquer médico que encontrar por causa de sua condição.
Mas, em
todos esses anos, Jun Muyan foi a primeira pessoa a perceber seu disfarce de
homem, assim como a doença em seu corpo.
Até mesmo
aquela fada Leng Qingwang, do Tian Yi Men, já se encontrou com ela várias
vezes,
mas nunca
descobriu o segredo de Ying Mei.
Creak—
No
silêncio da noite, o som da porta se abrindo é especialmente perceptível.
Ying Mei
pula de surpresa, voltando abruptamente à realidade, apenas para perceber que
as velas dentro do quarto já estavam acesas, sem que ela soubesse quando.
A voz
distinta e doce soa especialmente clara no silêncio.
— Segundo
o [Cânone Interno do Caos Primordial], o corpo humano possui três pontos
principais — o Yintang, localizado entre as sobrancelhas; o ponto Shanzong no
peito; e o ponto Guanyuan, que fica três polegadas abaixo do umbigo.
— Você
tem forçado e amarrado seu peito por muito tempo, sufocando o Shanzong e
bloqueando o ponto do meio — e assim, obstruindo as regiões superior, média e
inferior.
— Agora,
você ainda pode suportar por um curto período, mas, daqui a pouco, seu ponto de
acupuntura do meio será completamente selado. Será fácil que seus demônios* tomem
conta, e você morrerá se não resolver isso.
*demônios
do cultivo
Capítulo
320: Des... Despir-se
Ao ouvir
essas palavras, Ying Mei não tem mais dúvidas e se ajoelha no chão com um tum.
—
Senhorita Jun!
Ela morde
os lábios, querendo falar e fazer um apelo, pedir ajuda para si mesma. No
entanto, sua frieza natural e teimosia a impedem de abrir a boca.
No
momento seguinte, uma brisa perfumada roça Ying Mei.
A figura
de Muyan surge diante dela.
Mãos
esbeltas e brancas como lírio a ajudam a se levantar do chão, e casualmente
limpam a poeira dos joelhos dela.
— Quer que eu trate sua doença? — Muyan pergunta rindo.
Ying Mei cerra os dentes mais uma vez, tomando uma decisão firme. Ela dobra
os dois joelhos e se ajoelha novamente:
— Peço ajuda à Senhorita Jun. Se no futuro houver qualquer coisa que queira
que eu faça, não importa o quê, atravesse águas e pise no fogo — Ying Mei não
hesitará em cumprir.
Pela atitude de Jun Shang, ela sabe:
Senhorita Jun inevitavelmente será a Rainha Mãe do Domínio Polar no futuro, e
também o objeto de seus votos de lealdade e devoção.
Ela deve atravessar águas e pisar no fogo por aquela garota à sua frente, e
não hesitar em fazê-lo.
Mas Muyan solta uma risada baixa:
— Hm, mesmo que eu faça você entregar seu coração para mim, você ainda assim
não recusaria?
Ao ouvir isso, as bochechas de Ying Mei ficam vermelhas como brasa:
— Senhorita Jun, você… você sabe muito bem quem eu sou, por favor, não faça
brincadeiras.
Muyan percebe o quanto a outra está desejando encontrar um buraco para se
enfiar.
E não consegue evitar de rir ainda mais alegremente.
Mas, no fim, sua consciência percebe que não pode mais se dar ao luxo de
brincar com esse ‘rapaz’ de pele fria e macia como um bolinho.
Ela puxa Ying Mei para dentro, fazendo-a sentar-se ao lado da cama.
O Tian Mo Qin aparece nas mãos de Muyan. Ela então diz:
— Tire todas as suas amarras e roupas. Preciso examinar seu corpo primeiro.
— Ti... tirar minhas roupas? — o rubor acabara de desaparecer do rosto de Ying Mei quando reaparece, acompanhado das palavras trêmulas — Ti... tirar... tudo?
Muyan não a provoca desta vez, dedilhando suavemente as cordas do guqin. Com
voz calma:
— Aos olhos de um médico, não há diferença entre homem e mulher, existe
apenas um corpo saudável ou doente. A obstrução no seu dantian é muito grave.
Não é possível examiná-la completamente apenas pelo pulso, então preciso usar o
som do guqin para ativar os pontos de acupuntura dentro do seu corpo e perceber
a extensão da obstrução no seu dantian.
À luz das velas, o rosto magnífico da garota se tinge com uma majestade
irresistível, fazendo com que Ying Mei, sem perceber, siga as ordens.
Em seu deslumbramento, Ying Mei até tem a impressão de estar diante de Jun
Shang.
Isso porque Jun Shang é o único que não precisa demonstrar sua pressão e
imponência, mas ainda assim consegue fazer as pessoas se renderem
voluntariamente, tornando impossível desobedecê-lo.
Uma a uma, Ying Mei tira todas as roupas do corpo, inclusive as amarras ao
redor do peito.
A figura perfeita da garota se revela diante de Muyan.
Mas naquele corpo pálido, ela percebe que a região do peito apresenta uma
coloração verde-escura.
Essa tonalidade parece especialmente sinistra quando colocada em contraste
com a pele alva como neve ao redor.
Muyan franze a testa.
Olhando nos olhos da mulher à sua frente, Muyan sente uma ponta de pena.
Uma garota tão jovem que há uma década se prende todos os dias, escondendo
suas características femininas.
Que tipo de dor e sofrimento ela deve suportar diariamente?
O som do guqin começa a tocar lentamente, primeiro sussurrando suave, depois
se tornando um fluxo aveludado, até se transformar nas ondas furiosas de um mar
tempestuoso.
A expressão de Ying Mei também muda — sai da indiferença tímida e vai
ficando lentamente marcada pela dor.
Gotículas finas de suor escorrem pela testa dela.
Uma vermelhidão ardente surge em sua pele alva.
Seu corpo esguio treme cada vez mais violentamente sob a luz das velas.
Finalmente, quando o som do guqin atinge o ápice, lançando-se num crescendo
—
Ying Mei
solta um grito que rasga o silêncio da noite.
Ela
desaba no chão, ofegante, respirando pesadamente em grandes goles de ar.
Após a
música do guqin alcançar seu clímax, ela vai diminuindo até desaparecer por
completo.
Ying Mei
permanece com uma expressão completamente atordoada.
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