Capítulo 101 ao 105

 

Capítulo 101 – Crianças São Descaradas (2)

Será que esse era o verdadeiro motivo da sua transmigração?

As palavras de Ye Mu fizeram o coração de Mo Linyuan se encher genuinamente de alegria. O canto de sua boca se curvou levemente, e seus olhos brilharam de contentamento enquanto dizia em tom de brincadeira:

— Você não precisa me proteger. Eu sou mais velho que você, então deveria ser eu quem deve te proteger.

Essas palavras lógicas deixaram Ye Mu atônita, e ela ficou um pouco aflita de repente... pois se lembrou da vez em que Mo Linyuan arriscou a própria vida para roubar o mapa secreto do exército imperial da residência do Oficial Liu por causa dela.

Embora Mo Linyuan mais tarde tenha dito que não se feriu nem um pouco porque seus homens chegaram a tempo, quando Ye Mu pensava naquilo agora, ainda sentia um frio na espinha. Se os homens dele não tivessem chegado a tempo, será que ele não teria…

Após um momento de silêncio, Ye Mu ergueu a cabeça e disse com seriedade:

— Na verdade, você não precisa me proteger.

Ele provavelmente a tratava como uma irmã mais nova, mas ela não queria que ele colocasse tudo em risco novamente por causa dela.

— Você vai ser alguém muito importante no futuro... e eu espero que coloque seus próprios interesses em primeiro lugar — assim, eu ficarei em paz. Sério! Por isso... será que pode parar de fazer besteiras por minha causa?

Ela o encarava com olhos flamejantes, aqueles grandes orbes escuros brilhando com culpa. Se não fosse por mim, ele já teria fugido para o país Mo há muito tempo…

Mo Linyuan baixou os olhos, mas havia algo naquele olhar preocupado que remexia o fundo do seu coração, e ele não conseguiu evitar de estender a mão e segurar a dela.

Ela estava tão preocupada com ele, e todo o medo que sentia estava refletido em seus olhos. Essa garotinha estúpida... valoriza os outros mais do que a si mesma?

— Garotinha estúpida… — Mo Linyuan não sabia como expressar o que sentia naquele momento. A mão de Ye Mu estava muito fria, então ele usou seus próprios dedos para aquecê-la, envolvendo com delicadeza aquela mãozinha antes de lentamente pousá-la sobre seu peito.

Ali, seu coração batia bem mais rápido do que antes.

Vendo que ele estava hesitando em aceitar o pedido, Ye Mu fez um biquinho e disse:

— Eu tô falando sério. Não pode me prometer isso? Por favor, para de correr riscos desnecessários por minha causa, tá bem?

Ela ainda está falando besteira. Será que não me leva em consideração?

Mo Linyuan estava irritado e frustrado, mas, acima de tudo, sentia-se inquieto com aquele calor inesperado de estar sendo protegido e valorizado. Por fim, puxou a garota e pressionou a cabeça dela contra seu peito, dizendo de forma impaciente:

— Chega disso. Vamos dormir logo.

— Nada disso! — Ye Mu recusou na hora. — Se você não prometer, eu não vou dormir!

Mo Linyuan a encarou, sem saber o que fazer. Segurou-a com as duas mãos.

— Seja boazinha e não…

— Não! Eu não vou obedecer!

Ye Mu pensou que, já que estava mesmo presa no corpo de uma garotinha de seis anos, podia muito bem levar isso até o fim! Então começou a se revirar na cama como um diabinho furioso:

— Se você não prometer, pode esquecer de dormir tranquilo essa noite!

Diante de uma encrenqueira dessas, o que mais podia fazer? Claro, Mo Linyuan só podia tentar acalmá-la da melhor forma.

Ele suspirou, vencido, e a puxou de novo para seus braços.

— Tá bom, tá bom. Fica calma — eu... eu prometo.

— Sério? — Ye Mu imediatamente parou de se mexer. Deitou obedientemente ao lado dele, com os olhos brilhando como os de um gatinho fofo. — Você vai parar de correr riscos por mim e vai se proteger antes de qualquer outra coisa?

— ...Sim.

Ela se remexeu de novo, desconfiada:

— O que é isso? Tá mentindo de novo!

— Garotinha estúpida.

Mo Linyuan não conseguiu conter um sorriso amargo. Ye Mu estava prestes a arregalar os olhos de novo com raiva, mas ele rapidamente disse:

— Tá bom, tá bom. Eu vou obedecer a tudo o que você disser. Dorme agora.

Vendo que ele finalmente cedeu, Ye Mu ficou satisfeita. Fechou os olhos e estava prestes a dormir, mas ainda murmurou:

— Tem que me escutar. É pro seu próprio bem.

— …Eu sei.

— Você vai ser uma pessoa muito importante no futuro... por isso não pode perder tempo com besteira.

Se por causa dela ele não conseguisse alcançar os feitos que deveria, ela se sentiria muito mal — e culpada.

— Sim, eu entendo.

Vendo como ele estava obediente, Ye Mu finalmente bocejou.

— E eu vou te ajudar no caminho. — Decidiu que, a partir de amanhã, se esforçaria ainda mais para praticar artes marciais.

Mas Mo Linyuan apenas respondeu:

— ...Garotinha estúpida.

Capítulo 102 – Um Beijo

— Ugh, tudo bem... Boa noite…

Ela não sabia se era porque se sentia segura dormindo ao lado de alguém, ou se seu corpo estava simplesmente exausto. Mas, em pouco tempo, caiu em sono profundo sem dificuldades.

Mo Linyuan fez uma pausa e então perguntou suavemente:

— O que significa "boa noite"?

Ye Mu se lembrou vagamente de uma frase comum em sua vida passada e, sonolenta, murmurou inconscientemente:

— Boa noite... boa noite. Eu te amo.

Eu... te amo? — Mo Linyuan não ouviu com clareza, mas a frase estranha "eu te amo" ecoou em seus ouvidos, deixando-o extremamente confuso.

Embora não compreendesse o significado exato das palavras, sentiu que haviam sido ditas com carinho, então as repetiu em voz baixa algumas vezes. Quando quis perguntar de novo, percebeu que ela já havia adormecido.

Tudo bem, deixo pra perguntar outra hora… Mo Linyuan olhou para o rosto dela adormecido, contemplando-o por um longo tempo. Finalmente, depois de hesitar por um instante, inclinou-se e a beijou na testa.

Assim que seus lábios tocaram sua pele, foi como se tivesse sido atingido por um raio de lucidez, ficando paralisado. Ele não entendia por que havia sentido vontade de beijá-la.

Mas… aquela sensação não era nada ruim. Pelo contrário—

Ele tocou o local sobre o próprio peito. Está batendo mais rápido que antes? — pensou, surpreso.

Quando a escuridão tomou conta do quarto, ele finalmente se deitou ao lado de Ye Mu, segurando secretamente sua mão. O leve aroma de leite que emanava do corpinho dela o acalmava, conduzindo-o suavemente ao sono.

Depois de um tempo, fechou os olhos com um leve sorriso nos lábios e sussurrou:

— Boa noite pra você também.

Naquele sono tranquilo e confortável durante a noite inteira, ele jamais teria imaginado que esse aniversário o faria se sentir tão em paz. E foi por isso que, no fundo de seu coração, nasceu um desejo silencioso — que Ye Mu estivesse ao seu lado nos aniversários que viriam.

No entanto, os dias pacíficos não duraram muito. Logo depois de Ye Mu atingir o primeiro estágio do cultivo da Sutra do Coração Supremo, o imperador entrou subitamente em coma.

Enquanto o imperador ficava acamado, os seis ministros do alto gabinete — todos muito respeitados — assumiram juntos a gestão do governo. Mas agora, com o imperador inconsciente e sua condição evidente para muitos, os oficiais da corte já sabiam com certeza que seu estado era crítico.

Como alguém com más intenções conseguiria ficar parado numa situação dessas?

O primeiro a agir foi o primeiro príncipe. Ele reuniu seu exército privado para lançar um ataque pelo lado leste da cidade, mas antes mesmo de alcançar os portões do palácio, foi aniquilado pelo Príncipe Zhao[1].

O filho da imperatriz aproveitou a chance para atacar o Príncipe Zhao sob o pretexto de "Qing Jun[2]". Apesar de seu ataque ser poderoso, acabou derrotado no final.

Sendo irmão mais novo do imperador, o Príncipe Zhao também tinha direito legítimo ao trono. Além disso, detinha grande poder militar e seus métodos eram extremamente implacáveis.

Em resumo, com sua força militar absoluta e estratégias astutas, o Príncipe Zhao se tornou o candidato ideal ao trono em pouco mais de um mês! Embora outros príncipes ainda tivessem forças remanescentes, a maioria estava desorganizada. Apenas o segundo príncipe, ao ver esse caos todo, demonstrou pouco entusiasmo em disputar o trono.

Embora essa tempestade repentina parecesse perigosa, o desfecho era inevitável.

Mas como diz o ditado: a louva-a-deus caça a cigarra, sem saber do pássaro que a espreita por trás.


Dentro do palácio, Ye Mu continuava treinando diligentemente suas artes marciais.

Enquanto isso, Mo Linyuan havia desaparecido. Desde que o imperador adoeceu, ninguém o procurou mais. Era como se todos tivessem esquecido dele. Mo Linyuan também estava muito ocupado, frequentemente saindo escondido do palácio.

Ye Mu sabia que ele estava ajudando Ye Li na rebelião. Quando o Primeiro-Ministro caiu, o Príncipe Zhao perdeu muito apoio. Além disso, surgiram rumores de que “o Oficial Liu havia feito um acordo com Ye Li para uma operação secreta”.

Se havia alguém com um grande plano e vastas riquezas escondidas, esse alguém era Ye Li, que possuía o tesouro dos antepassados e o mapa proibido do exército imperial. Mesmo que ela não fizesse nada para ajudá-lo, o Príncipe Zhao ainda assim seria derrotado.

Assim, não havia suspense algum nesse conflito unilateral — e Ye Mu escolheu deixar tudo nas mãos dele.


Notas:

[1] Príncipe Zhao: Corrigido de "Imperador" — o texto original chinês traz "Zhao Wang", e o sufixo "Wang" indica um título de nobreza, não necessariamente imperial.

[2] Qing Jun (请君): Um pretexto político para "purificar a corte" ou "auxiliar o imperador", frequentemente usado como justificativa para derrubar oponentes em nome da justiça.

Capítulo 103 – O Futuro de Yan Xu

Logo após suas reflexões, uma pedra foi atirada em sua direção. Ye Mu a pegou por reflexo e se virou, vendo Yan Xu sentado casualmente sobre o muro.

No momento, ele era o único que parecia alheio a quaisquer circunstâncias inesperadas que pudessem surgir a qualquer momento.

Ye Mu segurou a pedra na mão e riu, divertida. Em seguida, arqueou uma sobrancelha e disse em tom de provocação:

— Quão insignificante você acha que é? Todos os seus irmãos estão à beira de virar o mundo de cabeça pra baixo, lutando por um mísero trono… e você ainda tem tempo de sobra pra vir brincar comigo?

A expressão de Yan Xu continuava tão séria quanto antes. Não, talvez ainda mais grave. Ele tinha apenas dezessete anos, mas sempre carregara a maturidade de um homem de trinta, cheio de preocupações.

Ele pulou do muro e respondeu em tom grave:

— Talvez seja justamente porque eu não represento ameaça alguma. Os três que mais têm tropas nesta disputa são: meu tio, o Príncipe Zhao, meu segundo irmão e o General Ye Li. Enfrentar um deles já seria difícil… imagine três. Não estou interessado em assinar minha própria sentença de morte. Além disso, quem se preocuparia com alguém tão irrelevante como eu?

Ye Mu jogou a pedra longe e limpou o suor da testa.

— Mas essas coisas não são tão importantes, são? No fim das contas, não fazem tanta diferença, certo?

Ela ergueu o rosto e disse meio em tom de brincadeira, com um olhar que escondia segundas intenções:

— Vai saber… talvez seu segundo irmão até escute você.

A expressão de Yan Xu mudou imediatamente.

— Não diga besteira.

Ye Mu fez careta:

— Besteira? Que besteira eu falei? O céu sabe, a terra sabe!

Ela se aproximou e sussurrou:

— Aliás, estou muito curiosa. Se seu segundo irmão quer alguém com identidade poderosa e influência, por que ele te escutaria?

Yan Xu olhou para o rosto dela. Inicialmente quis negar, mas, ao ver a confiança nos olhos de Ye Mu, franziu o cenho e perguntou após um momento:

— Como você sabe disso?

— Eu chutei! — Ye Mu deu uma risada. — Você não se lembra da última vez que pediu ao seu segundo irmão pra se casar comigo? E pelo visto, ele aceitou direitinho. Não é óbvio? Mas, olha, meu conselho é que pare com isso. Porque desta vez… Ye Li tem mais chance de vencer.

Ela disse aquilo com tanta leveza, como se a troca de dinastia fosse uma coisa banal.

Yan Xu ficou em silêncio por muito tempo antes de bufar friamente.

— Você acredita mesmo em Ye Li? Mas as montanhas e os rios da nossa família Qi não serão tomados tão facilmente!

Ye Mu deu de ombros.

— De qualquer forma, já disse o que queria. Se vai escutar ou não, o problema é seu. E nem faço mais questão de esconder os segredos: Ye Li tem mais gente e mais dinheiro que você e o Príncipe Zhao juntos.

Estranhamente, Yan Xu não pareceu nem um pouco surpreso com a revelação. Ele fitou Ye Mu por um tempo e, de repente, riu.

— Talvez haja outra forma… que tal capturá-la como refém e usar isso pra ameaçar Ye Li? Vai ver ele recua pra salvar a sua vida?

— Nem vem com essa! — Ye Mu rapidamente fez um gesto com a mão e, lembrando de algo, comentou com um sorriso autodepreciativo: — Ele não abriria mão nem de uma moeda por mim! No fim das contas, eu sou só a filhinha de uma concubina qualquer.

— Pelo visto você sabe bem qual é o seu lugar — Yan Xu não resistiu à provocação. — Você sabe que ele é egoísta e mesmo assim ainda insiste em ajudá-lo?

Ele fez uma pausa e, com olhar mais pensativo, acrescentou:

— Por que você não escolheu me ajudar desde o início? Você sabia das minhas intenções.

Ajudá-lo?

Depois que ele subiu ao trono como novo imperador, não demorou muitos anos para que Mo Linyuan tomasse o controle de volta do País Mo e começasse a atacar os sete países vizinhos. O primeiro foi justamente o País Yue — e Yan Xu acabou sendo o primeiro imperador decapitado pelas mãos de Mo Linyuan.

Na época de sua morte, ele tinha apenas vinte e oito anos.

Ye Mu ficou em silêncio por um instante, surpresa com as lembranças… e então sorriu:

— Quem disse que eu não estou ajudando você com isso?

Capítulo 104 – Ye Mu no Espeto (1)

Após um momento de silêncio, Yan Xu disse de repente:

— Seus movimentos agora há pouco foram bem estranhos. Já li muitos livros de artes marciais, mas nunca vi técnicas como essas.

Não eram movimentos belos, mas eram rápidos, precisos e carregavam uma ferocidade inabalável. Do modo como Ye Mu os executava em sucessão, havia um certo charme selvagem ali.

Ye Mu esfregou o punho.

— Ah, então está dizendo que eu parecia ridícula? Eu só estava treinando casualmente… só brincando mesmo.

Yan Xu balançou a cabeça ao ouvir isso.

— Você se moveu muito bem, mas…

— Mas...? — Ye Mu inclinou a cabeça, curiosa.

— Mas teve um movimento que não parecia certo — disse ele, enquanto caminhava para trás dela. — Naquele chute giratório que você deu, virou o corpo para fazer um chute alto. Mas aquela posição tem uma falha muito grande…

Enquanto explicava, ele se abaixou para apoiar Ye Mu por trás. Como ela era baixa, mesmo ele se curvando ainda permanecia mais alto. Com uma expressão séria no rosto, passou a guiá-la com firmeza.

A mente de Ye Mu se agitou com a proximidade e ela sacudiu a cabeça vigorosamente para afastar os pensamentos estranhos.

— Tá, tá! Já entendi o que você quis dizer! Sai da frente, eu repito o movimento pra você!

Yan Xu assentiu e se afastou, observando Ye Mu praticar os movimentos mais uma vez.

Apesar da pouca idade, seus socos já tinham força, e seu rostinho rechonchudo parecia maduro demais para uma criança. No entanto, sua estatura pequena era adorável, fazendo com que os cantos dos lábios de Yan Xu se curvassem involuntariamente — um raro traço de divertimento em seu rosto normalmente austero.

Ao ver Yan Xu começando a se divertir às suas custas, o humor de Ye Mu azedou imediatamente!

— Ei, esse seu sorriso… tá me provocando, é isso?!

Ela admitia que, com aquele corpinho atual, era bem pequenininha, mas tinha praticado tão seriamente agora há pouco!

Yan Xu apenas lançou um olhar para ela, ignorando o chilique, e de repente desembainhou a espada:

— Preste atenção. Essa técnica de espada que vou te mostrar é muito rara. Só vou ensinar uma vez.

Depois de dizer isso, ele passou a demonstrar com precisão tudo o que sabia bem ali, na frente de Ye Mu. Embora não estivesse canalizando energia interna, a arte da espada ainda assim era impressionante e carregava um poder marcante.

Ye Mu, a princípio, pensou: Quem disse que eu pedi pra ele me ensinar alguma coisa!?

O vento produzido pela espada fez com que as flores de ameixeira ao redor caíssem dos galhos, e alguns flocos de neve, sacudidos de seus lugares, também começaram a descer. O jovem de dezessete anos praticava com tanta intensidade que cada movimento parecia unir céu e terra.

Dava pra ver que ele estava profundamente sério naquele treino, mas Ye Mu também percebeu que ele estava extravasando emoções contidas através daqueles golpes…

Ye Mu não nutria sentimentos especiais por Yan Xu. Na verdade, não queria causar mais ondas do que já havia causado. Seu foco era apenas cumprir seu objetivo e garantir o futuro de Mo Linyuan. Quanto aos outros neste mundo… ela fazia questão de ignorá-los.

Mas agora, sentia profundamente que todas essas pessoas — esses personagens — eram reais. Tinham sonhos, alegrias, tristezas, raiva. Eram, em essência, iguais a ela.

Ver isso com seus próprios olhos e sentir este mundo de verdade era a coisa mais aterrorizante. Significava que, quanto mais ela se envolvia, mais difícil se tornava permanecer uma mera espectadora. Será que seu papel como soldado de forças especiais ainda se aplicava neste outro mundo?

Quanto mais pensava, mais pesado seu coração ficava. Virou-se antes mesmo de Yan Xu terminar de demonstrar a técnica, sentindo uma urgência irreprimível de fugir.

Mas quando ouviu o som do vento cortado pela espada vindo em sua direção, Ye Mu imediatamente se abaixou para desviar. A lâmina rasgou a parte de trás de suas roupas, passando perigosamente perto do pescoço e rasgando sua gola de um lado ao outro — até que ela foi espetada pela lâmina, e Yan Xu ergueu seu corpinho com uma mão só!

Mas que diabos! Eu não sou espetinho de churrasco, não!

Capítulo 105 – Ye Mu no Espeto (2)

— Aonde você pensa que vai? — Yan Xu estava meio irritado. Finalmente ele tinha decidido ser o mestre daquela menina tão pequena, mas a pirralha nem queria aprender? Será que ela sabe que, naquela época, muita gente escondia egoisticamente suas habilidades? E agora, tendo a chance rara de aprender algo único, ela ainda tinha coragem de não se interessar e sair correndo?

Ye Mu agitava os braços e as pernas no ar sem rumo. Nunca tinha imaginado que um dia seria carregada no ar pela espada de alguém! Como um espeto atravessando carne!

— Que diabos! Seu desgraçado, você não tem nenhuma boa intenção quando fala! Não tem medo de se encrencar comigo? Quem é que usa a espada desse jeito?!

Yan Xu achava ao mesmo tempo irritante e engraçado vê-la balançar as “garras” no ar, mas só perguntou:

— Por que você fugiu?

Ye Mu lançou-lhe um olhar furioso enquanto ainda estava no ar:

— Eu sou criança e fico com fome fácil. E nem adianta tentar me seguir, não vai poder comer!

— Meu discípulo fugiu antes mesmo da aula acabar. Isso é desrespeito com o professor.

Ye Mu fez cara de indignação e retribuiu o olhar cheio de ressentimento:

— Irmão, será que dá pra ser mais razoável? Você só queria se ensinar, eu não disse que queria aprender com você.

Yan Xu franziu a testa e olhou para ela com descontentamento. Não sabia o porquê, mas seu mau humor inicial logo se dissipou — por causa dela.

Será que ela tem algum tipo de magia que deixa as pessoas mais relaxadas?

Sem mostrar o que pensava, ele apenas estreitou os olhos:

— Já que você não quer aprender, então...

“Então me deixa ir?” Ye Mu o encarou esperançosa.

— Então vem comigo.

Droga!

Depois de falar isso, Yan Xu puxou a espada e, com um braço só, carregou Ye Mu numa direção específica. O mais estranho era que ninguém que deveria protegê-la saiu para impedir. Será que estavam todos de férias?

Ye Mu flutuava no ar, indefesa. Sentia-se em desespero, como se fosse o cachorrinho de Yan Xu!

— Tio, posso mudar essa posição? Você nunca pegou uma criança no colo na vida? — Como ele a ignorava, ela trocou o tratamento — Ei, príncipe! Quer me abraçar um pouco pra aprender o básico?

Mas por mais que Ye Mu reclamasse, Yan Xu continuava carregando-a como um filhote, sem vergonha nenhuma, o que a deixava furiosa! Quando finalmente chegaram, e ele a colocou no chão, ela já tinha passado de um bolinho branco para um tomate vermelho!

— Que frio é esse? Me trouxe pra um congelador? — ela resmungou baixinho, esfregando os braços para se aquecer.

Yan Xu, ao lado, tirou a camisa e jogou sobre seu corpo trêmulo, como se o frio não fizesse efeito nele.

— Veste isso.

Ela resistiu a reclamar mais, resignada, e colocou a camisa. Parecia uma menininha do coral da igreja prestes a cantar — as mangas eram grandes demais e o comprimento da camisa se arrastava atrás dela enquanto andava. Parecia mesmo uma criança vestindo a roupa do adulto escondida.

A cena era até cômica.

Yan Xu notou isso e seus olhos mostraram um brilho de divertimento. Ye Mu bufou e arrastou a camisa no chão de propósito enquanto caminhava na frente.

Era uma espécie de adega de gelo antiga, onde famílias ricas armazenavam blocos de gelo — o equivalente a um freezer moderno.

— Que droga... que frio é esse? Por que me trouxe aqui? Não me diga que guardou um cadáver aqui pra mim — antes que terminasse, ela viu um caixão. — Já vi um...

E realmente havia um!

Yan Xu se aproximou do caixão sem dizer uma palavra.

Dentro, um líquido medicinal vermelho podia ser visto claramente, e uma mulher jazia submersa nele. Estava claro que ela já estava morta há muito tempo, mas o corpo ainda estava muito bem conservado.

Na antiguidade, as pessoas acreditavam na alma e na reencarnação, e que se um corpo permanecesse, sua alma ficaria no mundo dos vivos, podendo ouvir as palavras de seus entes queridos.

Mas aquela cena era estranha...

Lembrando da cicatriz no corpo de Yan Xu, Ye Mu perguntou:

— Ela... sua mãe? É... bonita!

Yan Xu cerrou os lábios. Seus olhos frios, ao pousarem no corpo, estavam cheios de saudade profunda.

— Sim, ela é minha mãe.


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