Capítulo 142 a 144


 

Capítulo 142: Fuga da Armadilha

A mulher nunca esperava que Guan Suyi pudesse desbloquear o próprio ponto de acupuntura sozinha, muito menos que tivesse força suficiente para subjugá-la num piscar de olhos. Além disso, ainda conseguiu imitar perfeitamente sua voz.

— Velho Cinco, levante a cortina e dê uma olhada! — A mulher gritava descontroladamente em sua mente, mas só conseguia mover os olhos e a cabeça de forma fraca, assim como Guan Suyi fizera antes. Ela achava que essa missão seria fácil. No início, tudo realmente se desenrolou conforme o esperado, mas tudo saiu do controle porque subestimou Guan Suyi.

Ela tentava adivinhar o que Guan Suyi faria a seguir. Ficava claro que era apenas ágil, sem domínio de força interna. O motivo pelo qual conseguiu derrubá-la foi o elemento surpresa. Assim que o Velho Cinco percebesse algo errado e viesse capturá-la, com certeza não seria páreo para ele. Portanto, a melhor saída para ela seria pular da carruagem e fugir.

Guan Suyi também refletia sobre o que fazer, mas imediatamente descartou a ideia de saltar da carruagem. Primeiro, porque não sabia onde estava nem como voltar; segundo, porque não tinha certeza de que não encontraria bandidos pelo caminho; e, por fim, porque não se conformava! Jamais aceitaria deixar impunes aqueles que a feriram, assim como a Mu Mu!

O fogo do ódio ardia em seu peito, tornando seus olhos brilhantes e avermelhados. Ela queria muito perguntar à mulher sobre o paradeiro de Mu Mu e quem era o mandante por trás de tudo, mas sabia que pessoas treinadas em artes marciais tinham sentidos aguçados. O homem do lado de fora certamente ouviria qualquer coisa que dissesse naquela proximidade. Assim, não podia perguntar nada — quanto menos falasse, menos erros cometeria.

Ela ergueu a mão, deu dois tapas na mulher, depois tirou a bolsa que estava presa à cintura dela e encontrou duas máscaras de pele humana. Uma tinha suas próprias feições, enquanto a outra ainda precisava ser moldada com calor. Mas ali não havia nem água fervente nem fogo, então precisava encontrar outro jeito.

Quanto mais crítico o momento, mais claros seus pensamentos ficavam. Rapidamente encontrou uma solução e colocou a máscara inacabada no rosto da mulher. Passou uma camada uniforme de cola na parte externa e, depois de um tempo, a cola secou e endureceu, imprimindo as feições da outra pessoa. Com cuidado, Guan Suyi a removeu e guardou para uso posterior. Em seguida, cobriu o rosto da mulher com a máscara que tinha suas próprias feições e a fixou com cola.

A mulher não entendia o que ela estava fazendo e sentia o coração transbordando de medo e ansiedade. Só quando Guan Suyi também colocou uma máscara e trocou suas roupas pelas dela que a verdade lhe caiu como um raio: ela estava sendo usada como um bode expiatório! Estava provando do próprio veneno!

— Não, não, não! Você não pode fazer isso! Velho Cinco, venha me ajudar!

O desespero tomou conta dela ao lembrar das condições que havia negociado com os bandidos. Eles pretendiam abusá-la em grupo, arrancar seus olhos, ouvidos, boca e nariz, cortar seus tendões e deixá-la largada e nua na parte mais movimentada de Yanjing. Isso era milhares de vezes mais cruel do que qualquer tortura na Prisão Celestial!

— Por favor, me poupe!

Com os olhos cheios de lágrimas, tentou comover Guan Suyi, amolecer seu coração e, então, encontrar uma chance de contra-atacar. "As mulheres Han não são todas assim? Incapazes de ignorar o sofrimento dos outros? Até mesmo quando as folhas secam e as flores murcham, elas derramam lágrimas. Você realmente conseguiria mandar outra pessoa para a morte com suas próprias mãos?"

—Me solte e eu solto você!

Essa súplica estava escrita em seus olhos, mas, no fundo, ela entendia que Guan Suyi, com o rosto e a voz trocados, não precisava mais se preocupar em ser descoberta. A cola deixava sua máscara com um brilho peculiar. Pareceria estranha à luz do dia, mas a carruagem só chegaria à Montanha Yang Hua ao anoitecer. No escuro, quem poderia notar a diferença? Se o Velho Cinco confiasse naquele rosto e não prestasse atenção nos detalhes, cairia direto em sua armadilha.

Guan Suyi não era uma mulher frágil e indefesa. Pelo contrário, com sua força, não seria difícil para ela esmagar o crânio de um adulto com um único golpe! A mulher tremia de medo, mas, naquele momento, não passava de um pedaço de carne no cepo do açougueiro.

Com a chegada da meia-noite, a temperatura ficou um pouco mais fria. Guan Suyi, que descansava de olhos fechados, pegou a capa pendurada na parede da carruagem e a vestiu bem ajustada ao corpo. Aproximou-se da mulher e disse com a voz dela:

— Já estamos quase lá. Divirta-se bastante esta noite.

O homem soltou uma risada e puxou as rédeas com mais força.

— Já chegamos. Garanto que ela vai até o sétimo céu.

A carruagem parou lentamente ao pé da montanha. Algumas figuras emergiram da floresta escura e perguntaram em voz baixa:

— Vai seguir por este caminho ou subir a montanha?

— Leste, sul, oeste, norte e centro, para onde leva essa estrada? — O homem respondeu com outra pergunta.

Guan Suyi rapidamente percebeu que eles estavam trocando uma senha secreta e sentiu-se extremamente sortuda. Felizmente, o homem confiava muito na mulher e apenas a deixou vigiando a refém, sem permitir que ela respondesse ao chamado. Caso contrário, já teria sido desmascarada. A mulher arregalou os olhos e tentou se mover, mas não conseguiu nem mexer um dedo, restando-lhe apenas esperar em desespero.

— Essa estrada leva ao submundo, entregue sua vida! — Com palavras cruéis, alguns bandidos se aproximaram com sorrisos no rosto e perguntaram apressadamente: — Está na carruagem? Deixa a gente dar uma olhada!

Guan Suyi não demonstrou nenhum sinal de hesitação. Com uma das mãos, pegou a mulher, levantou a cortina da carruagem e a lançou para fora. Se a mulher não tivesse falado com ela antes, talvez não tivesse conseguido imitá-la tão bem. Mas aquelas poucas palavras foram suficientes para que Guan Suyi compreendesse sua verdadeira natureza — arrogante, cruel, desdenhosa e que via matar como seu maior prazer. Como a mulher nunca a tratou como um ser humano, Guan Suyi também não a entregaria de forma pacífica. Nove entre dez vezes, alguém como ela simplesmente jogaria a presa fora.

Pelo riso do homem, Guan Suyi percebeu que havia agido da maneira correta.

A mulher caiu no chão com um gemido, e quando os bandidos acenderam as tochas, não puderam evitar prender a respiração.

— Minha nossa, nunca vi uma mulher tão linda! Olha esse rosto, olha esse corpo, simplesmente deliciosa!

Como praticava artes marciais há anos, a mulher tinha um corpo escultural — onde devia ser volumoso, era extremamente volumoso; onde devia ser fino, não havia excessos — e, somado ao rosto de Guan Suyi, sua aparência se tornava ainda mais sedutora. O homem não conhecia Guan Suyi o suficiente para perceber algo estranho e, impaciente, apressou-se:

— Tá bom, já chega de admirar! Vocês têm três dias e três noites para se divertir o quanto quiserem, não percam tempo de viagem!

Os bandidos, já excitados, concordaram entre risos vulgares.

— Isso mesmo! Vamos logo subir a montanha e deixar o chefe dar uma olhada. Quando ele se satisfizer, aí sim será a nossa vez! Que pena que ela não é mais virgem, senão o gosto seria ainda melhor!

Entre gargalhadas obscenas, seguiram pela trilha íngreme da montanha, desaparecendo rapidamente na floresta densa.

— Vamos voltar e relatar isso. — Guan Suyi disse friamente.

O homem não desconfiou de nada e virou a carruagem para refazer o caminho. Quando o céu começou a clarear, finalmente chegaram aos arredores da capital, a apenas meia hora do portão da cidade. Para evitar que o homem conversasse com ela e acabasse descobrindo sua identidade, Guan Suyi fingiu estar dormindo durante todo o trajeto e só "acordou" naquele momento. Então, abriu a cortina da carruagem e foi se sentar ao lado dele.

Ela conhecia bem aquela estrada e sabia que havia tropas militares estacionadas ali, sem nenhum perigo de bandidos. Aproveitando-se do cansaço e da distração do homem, levantou a mão e deu um golpe certeiro na lateral do pescoço dele.

O homem desabou sem emitir um som, mas Guan Suyi o segurou a tempo, arrastando-o para dentro da carruagem. Rapidamente, deslocou seus membros e sua mandíbula. Assim como a mulher, ele não carregava nada que revelasse sua identidade. A carruagem também era do tipo Wupeng, comum entre o povo, sem qualquer característica especial.

Depois de estacionar em um local discreto, Guan Suyi aguardou em silêncio até que ele recobrasse a consciência. Cerca de um quarto de hora depois, o homem abriu os olhos e, ao perceber sua situação, expressou ódio e dúvida.

— Onde está o garotinho que vocês sequestraram da Mansão do Mestre Imperial? — Ela perguntou em sua verdadeira voz.

O homem ficou chocado no início, mas logo entendeu tudo. Depois de um tempo, uma aura assassina intensa emanou de seu corpo. Ele era ainda mais cruel e desumano do que a mulher, assemelhando-se mais a um soldado treinado para matar do que a um mero cão de guarda dos nobres. Arrancar um segredo de alguém assim seria impossível sem métodos extremos.

Guan Suyi sabia de suas próprias limitações — era capaz de enfrentar vilões, mas não de torturá-los. Por isso, só restava levar o prisioneiro de volta para que Jinzi cuidasse dele. Com sorte, já teriam rastreado o paradeiro de Mu Mu, e ela poderia reencontrá-lo assim que chegasse em casa.

Ela desceu da carruagem, ajustou as rédeas e seguiu pela estrada principal. Quando se aproximou do portão da cidade, avistou uma multidão à frente, reclamando e fazendo barulho.

— Cunhada, o que está acontecendo lá na frente? — Ela sorriu e cumprimentou uma mulher ao lado da estrada.

— Ouvi dizer que o filho caçula de um alto funcionário foi sequestrado. Ontem, ele denunciou o caso ao imperador, então o portão da cidade foi fechado, e ninguém pode entrar ou sair. Achei que a proibição seria suspensa hoje, mas, vendo essa situação, temo que não conseguiremos entrar tão cedo.

— A criança já foi encontrada? — Guan Suyi prendeu a respiração e perguntou.

— Se tivessem encontrado, ainda estaria tudo fechado? Não sei de quem é esse menino, mas fez a cidade inteira entrar em estado de sítio.

Um ancião ao lado falou em tom baixo:

— É o filho da Mansão do Mestre Imperial. Ele desapareceu ao meio-dia de ontem, e já procuraram por um dia e uma noite sem sucesso. Meu filho trabalha no yamen da cidade e sempre tem boas informações. Ouvi dizer que, ontem à noite, não se podia apagar as luzes da cidade, e estavam revistando casa por casa. O imperador até emitiu um decreto ordenando que as tropas próximas fizessem buscas em toda a região. Se estiver vivo, precisam encontrar a pessoa; se estiver morto, precisam recuperar o corpo!

— O Mestre Imperial não é o professor do imperador? Seu status é nobre o suficiente, não é de se admirar que o imperador esteja tão ansioso. Bodhisattva, conceda sua bênção, que essa criança seja encontrada logo, e que possamos entrar na cidade o quanto antes. — A mulher juntou as mãos e se curvou para o céu e a terra.

Ainda não encontraram? O coração de Guan Suyi disparou, e ela considerou denunciar falsamente o sequestrador para que os guardas a levassem para dentro da cidade. No entanto, antes que pudesse agir, viu um grande alvoroço à frente, e as pessoas começaram a gritar:

— Recuem! O exército está saindo da cidade! Cuidado! Não sejam pisoteados pelos cavalos, os soldados não vão se responsabilizar por ninguém que for atropelado!

— O exército está saindo, rápido, rápido, afastem-se! Talvez tenham encontrado alguma pista e estejam indo capturar os sequestradores!

A multidão recuou lentamente para os lados, e os olhos de Guan Suyi brilharam. Sem hesitar, puxou as rédeas e se afastou cerca de uma milha antes de parar à beira da estrada.

Ela precisava encontrar um jeito de obter informações e descobrir se Hunnar havia encontrado alguma pista. Os cidadãos apenas sabiam que o filho do Mestre Imperial havia sido sequestrado, mas ninguém mencionava que a filha também estava desaparecida. Isso indicava que Hunnar ocultou a notícia deliberadamente. A família Guan era composta por literatos e nunca lidava com militares. Se ela não conhecesse o general encarregado da busca, poderia ser morta antes mesmo de se aproximar, sendo considerada suspeita.

Ela não podia entrar pelo portão da cidade, nem se aproximar do exército. Teria que esperar ali por dias? Pensou e repensou, mas ainda não ousava remover a máscara e revelar sua identidade. Não era apenas sua família e Hunnar que estavam à sua procura—o verdadeiro mandante do sequestro provavelmente havia enviado espiões para monitorar a situação a todo momento. Essas pessoas poderiam estar disfarçadas entre os cidadãos, infiltradas no exército ou até mesmo próximas a Hunnar. Ela não podia confiar em ninguém.

Enquanto se sentia impotente, o exército finalmente atravessou a multidão e se aproximou lentamente. Mesmo com uma barba cheia e a cor dos olhos alterada, o homem na dianteira era, sem dúvidas, Hunnar! Ele estava liderando pessoalmente a busca por ela!


Capítulo 143 – Reunidos

Primeiro, Mu Mu desapareceu. Depois, sua esposa também sumiu. O Imperador Sheng Yuan não sabia como havia sobrevivido a esse último dia e noite. Ele se recusava a imaginar qualquer tragédia que pudesse ter acontecido e apenas repetia para si mesmo, com firmeza, que mesmo que precisasse revirar o Reino Wei de cabeça para baixo, traria os dois de volta.

O sequestro dos irmãos, um após o outro, deixava claro que tudo havia sido meticulosamente planejado. Se sua esposa tivesse sido capturada primeiro, os soldados secretos que ele designara para protegê-la teriam notado. Mas, se todos tivessem sido afastados e a Mansão do Mestre Imperial mergulhado no caos, então atacar sua esposa teria sido fácil. O mentor por trás disso conhecia muito bem a relação entre eles… Mas quem poderia ser?

Ele não desconfiava de seus confidentes, mas, ao analisar a situação, uma figura surgiu em sua mente. No entanto, ele reprimiu esse pensamento. Tudo o que queria era encontrar sua esposa e Mu Mu o quanto antes. A cada instante que passava, o sofrimento deles aumentava. Não havia tempo a perder.

Cavalgava com firmeza, demonstrando aparente calma, mas sua mente estava vazia. Não ousava pensar em nada. Apenas seguia na direção que havia traçado. Era um hábito que desenvolvera ao viver entre as feras: quando a fome apertava demais ou os ferimentos eram graves, a única forma de sobreviver era esvaziar a mente e deixar que seus instintos assumissem o controle. Ele não pensava se encontraria sua esposa naquele dia, muito menos se a encontraria viva… ou se apenas restaria um corpo frio.

Não importava. Precisava encontrá-la primeiro.

Quando o exército estava prestes a atravessar a multidão e entrar na estrada principal, ele se inclinou levemente para frente, ergueu o chicote e se preparou para acelerar. Seu olhar fixava o horizonte, afiado como uma lâmina, mas suas pupilas estavam dilatadas, como se seu corpo e sua alma estivessem divididos. Metade dele permanecia assustadoramente calma, enquanto a outra se aproximava do limite do descontrole.

De repente, um assobio agudo ecoou à beira da estrada. A melodia subia e caía em um ritmo peculiar, cada nota se sobrepondo à anterior, transformando um simples canto de lenhador entediado em uma melodia vibrante, parecida com o há muito perdido “Som do Uivo”.

Não apenas os transeuntes se viraram para olhar, mas até os soldados, rigorosamente alinhados, desviaram a atenção por um instante.

— O exército está em marcha, carregando as ordens do monarca! Por que está fazendo esse barulho? Está cansado de viver?

O Imperador Sheng Yuan também voltou a cabeça. Seus olhos vazios lentamente focaram… e então brilharam como estrelas.

A autora do assobio era uma mulher esguia. Depois de tirar os dedos dos lábios, olhou diretamente para ele. Vestia roupas que não lhe serviam bem — as mangas eram longas demais, a bainha do vestido arrastava-se ao lado do eixo da carruagem. Seu rosto parecia coberto por algum líquido, brilhando intensamente sob a luz da manhã.

Quando viu que ele a olhava, ela assobiou novamente, então tirou o pesado manto e o lançou para longe. Os soldados, temendo que houvesse uma arma ou veneno escondido nele, prepararam-se para interceptá-lo com as espadas. Mas o imperador ergueu a mão, ordenando que parassem.

A mulher era magra, e ao se livrar do manto, parecia ainda mais frágil. Mas ninguém esperava que suas mãos fossem tão firmes. Quando seus olhos se encontraram, uma suspeita surgiu no coração do imperador, mas ele não ousou confirmá-la. Tinha medo de que tudo aquilo fosse apenas um sonho.

Então, um cheiro familiar emanou do manto jogado ao chão. Num instante, os olhos do imperador se iluminaram de êxtase.

Era ela! Sua esposa ainda estava viva!

— Saiam da frente! — ele gritou com voz rouca, chicoteou o cavalo e disparou em sua direção. Seu rosto exibia uma mistura de alegria indescritível e o pavor de quem esteve à beira do desespero.

Os espectadores viram aquela mulher franzina assobiar para os soldados fortemente armados e até tirar a própria roupa para atrair a atenção do general. Todos pensaram que ela estava simplesmente cansada de viver. Será que ela não se via no espelho? Seus traços eram comuns, e ainda por cima, havia passado algum tipo de gordura no rosto, que refletia a luz do sol de forma quase ofuscante. Olhem só! O general à frente já estava furioso! Talvez, em um instante, ele a cortasse com sua espada!

Mas a cena sangrenta que imaginaram nunca aconteceu.

O imponente general galopou até a carruagem da mulher, saltou sobre o eixo com leveza e, sem dizer uma palavra, a envolveu em seus braços. Uma de suas grandes mãos segurou a parte de trás da cabeça dela, pressionando-a firmemente contra seu peito. Seu queixo encostou-se no topo da cabeça dela, e seus dedos deslizaram gentilmente por seus cabelos, repetidas vezes.

O rosto frio que tanto assustava seus inimigos agora estava tomado por uma suavidade inacreditável. E, se alguém olhasse de perto, veria que havia lágrimas nos cantos de seus olhos.

Por mais inteligente que Guan Suyi fosse, ela ainda era humana. Como não sentir medo diante da morte? Mas ela não podia demonstrar. Não podia permitir que o medo a dominasse, pois sabia que sua maior arma era sua mente afiada e lúcida. Se perdesse isso, perderia também sua vida.

Então, reprimiu tudo. Aguentou firme. Até o momento em que foi envolvida pelos braços de Hunnar.

— Você veio? — Em frente a ele, não precisava mais esconder sua fraqueza ou sua vergonha. Todas as emoções reprimidas irromperam como lava.

Estou aqui. Você está bem?

O Imperador Sheng Yuan afastou Madam ligeiramente e a examinou de cima a baixo, atentamente.

— Estou bem. — Guan Suyi enxugou as lágrimas e apontou para a carruagem. — Ainda há pessoas dentro, vamos entrar e conversar.

O olhar do imperador se encheu de fúria, mas rapidamente ele se recompôs e acenou para os soldados ainda atônitos.

— Mudança de rota para o Vale de Tong! Encontrem-se com o Marquês Zhenxi o mais rápido possível!

— Sim! — todos responderam em uníssono, girando as rédeas dos cavalos e tomando a estrada oficial em direção ao leste.

Dentro da carruagem, o homem Jiuli tentou ao máximo esconder sua surpresa, mas o choque transpareceu em seu rosto antes de dar lugar ao medo.

O Imperador Sheng Yuan o examinou por completo antes de afirmar com convicção:

— Foi esse homem que a sequestrou? Ele me reconhece.

— Você o conhece?

— Não. Deve ser um soldado particular de alguma família. Talvez já tenha me visto em algum momento.

— Você colocou uma barba falsa e mudou a cor dos olhos, mas mesmo assim ele o reconheceu. Isso significa que ele está muito familiarizado com você e já o viu várias vezes. — Mudando de assunto, Guan Suyi perguntou: — Você tem notícias de Mu Mu?

— Sim, vamos resgatá-lo agora.

O Imperador Sheng Yuan, hesitante, estendeu a mão para segurar o ombro magro de Madam e disse suavemente:

— Você parece não ter dormido a noite toda. Tire sua máscara, descanse um pouco, e eu lhe explicarei tudo quando acordar.

Guan Suyi quase tombou contra seu peito, mas ao lembrar de Mu Mu, cuja vida ainda estava em risco, reuniu forças.

— Eu dormirei depois de resgatarmos Mu Mu. Onde ele está agora?

Enquanto falava, removeu a máscara com um preparado especial, substituindo-a pelo rosto de um jovem. Antes de retornar à Mansão do Mestre Imperial, não podia permitir que sua verdadeira identidade fosse descoberta, para que o verdadeiro mandante por trás de tudo não usasse isso contra ela.

O braço do Imperador Sheng Yuan permaneceu suspenso sobre o ombro de Madam, e ao perceber que ela não se afastava, apertou-a um pouco mais. Mas não ousou tomá-la nos braços abruptamente, temendo ofendê-la. Ela estava frágil naquele momento, e bastaria um pequeno movimento para envolvê-la completamente. No entanto, ele não queria tirar proveito da situação. Depois do êxtase de reencontrá-la, tudo o que desejava era ficar ao lado dela por um momento.

— Após o desaparecimento de Mu Mu, encontramos Minglan desacordada na relva. Foi então que perceberam que você também havia sumido. O Mestre Imperial e o Chefe de Cerimônias correram até o palácio e me imploraram para selar os portões da cidade. Temei que os sequestradores já tivessem fugido, então enviei o Marquês Zhenxi para fora dos muros e espalhei soldados por várias rotas, em busca de qualquer suspeito.

O imperador fez uma pausa e depois perguntou:

— Se você e Mu Mu fossem mortos, quem sairia ganhando com isso? Seguindo essa pista, cheguei até seu primo, Guan Wenhai…

Ao ouvir a história de Hunnar, Guan Suyi começou a juntar as peças do quebra-cabeça. Guan Wenhai também estava envolvido, mas era apenas um bode expiatório para o verdadeiro mandante.

Desde que perdeu seu status de herdeiro, Guan Wenhai passou os dias bebendo e vagando sem rumo. Em uma de suas bebedeiras, dentro de uma taberna, foi ouvido por dois mercenários enquanto xingava Guan Pai. Os homens se aproximaram e ofereceram ajuda para dar uma “lição” em seu pai.

Bêbado e sem discernimento, Guan Wenhai aceitou o acordo e pagou 500 taéis pelo serviço, além de preparar duas rotas de fuga relativamente seguras para os sequestradores. O plano era vender Mu Mu e Guan Suyi para longe. No entanto, os mercenários alegaram que não tinham pessoal suficiente para ambos, então cuidariam apenas de Guan Suyi. Mu Mu seria problema de Guan Wenhai.

Cego pela raiva, ele contratou um grupo de bandidos para vender Mu Mu separadamente. Ele não sabia exatamente os detalhes do plano, apenas financiou e organizou os caminhos de fuga.

Mu Mu foi levado por terra, com destino ao Vale de Tong, no leste. Guan Suyi, por outro lado, foi levada por água, em direção a Wuzhou, no oeste.

Como não tinha os 500 taéis à vista, Guan Wenhai pediu dinheiro emprestado e fez várias visitas às estradas do leste e oeste para verificar os trajetos. Embora fosse bem-apessoado e se vestisse com luxo, frequentou lugares repletos de criminosos, o que chamou a atenção de muita gente. Assim que o Imperador Sheng Yuan divulgou uma recompensa, várias denúncias foram feitas na delegacia. Até mesmo as palavras que Guan Wenhai dissera embriagado foram repetidas exatamente como haviam sido proferidas.

O imperador imediatamente ordenou a prisão e a tortura do suspeito, arrancando informações importantes. Mas sabia que a situação era mais complexa do que parecia.

Talvez Guan Wenhai fosse apenas um obstáculo plantado pelo verdadeiro mandante… Ou talvez Mu Mu e Guan Suyi não estivessem em nenhuma das rotas mencionadas. Mas ele não podia correr o risco de duvidar. E se, entre tantas mentiras, houvesse uma verdade? E se Mu Mu e Madam realmente estivessem nesses locais?

Se hesitasse e eles morressem por isso… jamais se perdoaria.

Então, sem pensar muito, pessoalmente liderou as tropas para fora da cidade. Mas jamais esperava encontrar Madam tão cedo, logo na estrada oficial.

— A verdade sempre carrega um pouco de mentira, e a mentira sempre traz um pouco de verdade. — Guan Suyi riu friamente. — Eu não estava em Wuzhou, mas na Montanha Yanghua, que fica na direção completamente oposta! Se você tivesse seguido pelo rio, teria se afastado cada vez mais de mim. Quanto a Mu Mu, nove em dez chances de que ele esteja no Vale de Tong.

Seu olhar ficou mais frio ao concluir:

— Os bandidos contratados por Guan Wenhai provavelmente seguiram o trajeto que ele preparou, mas não podemos descartar a possibilidade de terem mudado de rota no meio do caminho. De qualquer forma, vamos verificar primeiro. Guan Wenhai foi apenas um peão… Ele pagou, organizou e, no final, ainda ficou responsável pelo crime. Que idiota!

Depois de tantas reviravoltas e de finalmente conseguir uma pista concreta sobre Mu Mu, Guan Suyi não conseguiu mais se segurar.

— Filhos da puta! — xingou, furiosa.

Não importava quem estivesse por trás disso, não importava quem tivesse tramado esse inferno… Eles pagariam caro!

Mesmo que Hunnar não precisasse intervir, ela mesma faria questão de destruí-los.

E dessa vez, não pararia até que seus inimigos desejassem que a morte viesse como um alívio.


Capítulo 144 - Resgate

Toda a atenção do Imperador Sheng Yuan foi atraída para as palavras “Montanha Yanghua”, e ele perguntou em tom grave:

— Eles queriam te jogar no covil dos bandidos?

— Mais do que isso… — Guan Suyi explicou em detalhes tudo o que havia acontecido no caminho e depois deu um tapinha na bolsa pendurada em sua cintura, dizendo com temor: — Se eu não tivesse carregado essas três máscaras comigo, nunca teria conseguido voltar desta vez.

Até agora, as risadas obscenas daqueles bandidos ainda ecoavam em sua mente, causando arrepios por todo o seu corpo.

O Imperador Sheng Yuan rapidamente deu um leve tapa em seu ombro e a confortou suavemente:

— Não tenha medo, agora você está segura. Vou tirar esse homem da carruagem e torturá-lo para descobrir quem está por trás disso.

Guan Suyi assentiu, mas logo hesitou.

— Tudo bem, mas pode voltar logo?

Quando enfrentava o perigo sozinha, ela podia avançar com coragem e destemor. Mas, uma vez em segurança, com um apoio quente e sólido, inconscientemente sentia vontade de se agarrar a ele. Tinha medo de ficar sozinha na carruagem, e a fraqueza emocional que havia deixado em sua vida passada surgia naquele momento.

O Imperador Sheng Yuan olhou para a mãozinha dela segurando a barra de sua roupa, e seu coração frio e endurecido derreteu como se virasse um lago.

— Madame, não tenha medo. Voltarei logo. Deite-se e durma um pouco, eu te chamarei quando terminar.

— Em quanto tempo você volta? — Guan Suyi perguntou, franzindo a testa.

O Imperador Sheng Yuan sorriu e prometeu:

— Estarei de volta em menos de um quarto de hora.

Madame era extremamente teimosa. Uma vez que agarrava algo ou alguém, jamais soltava. Para os outros, até mesmo para seus próprios parentes, isso poderia ser considerado um problema terrível, mas para o Imperador Sheng Yuan, essa era exatamente a característica mais adorável dela.

Agora, ela parecia um gatinho abrindo as patinhas, segurando a barra da roupa do dono em busca de carinho ou um abraço, mas ao mesmo tempo tentava ao máximo parecer indiferente.

Isso apenas fazia com que ele a amasse ainda mais profundamente.

Guan Suyi então soltou sua roupa e fingiu acenar casualmente com a mão.

— Então vá logo.

O Imperador Sheng Yuan segurou o riso e saltou da carruagem, carregando o homem. No entanto, após apenas alguns passos, ouviu uma voz masculina vinda do interior da carruagem:

— Traga-me um uniforme militar.

— Certo, durma primeiro.

Num momento, o Imperador Sheng Yuan ainda sorria para a carruagem; no momento seguinte, virou-se e sua expressão se tornou extremamente fria. Ele entregou o prisioneiro ao tenente mais habilidoso em arrancar confissões sob tortura e ordenou:

— Descubra a quem pertence esse cão.

Como estavam viajando, o tenente não pôde montar uma câmara de tortura e teve que amarrar o homem na parte de trás de um cavalo, aguardando até montarem acampamento para interrogá-lo.

O Imperador Sheng Yuan encontrou seu cavalo, pegou um uniforme militar limpo e um cobertor fino da bagagem e voltou para a carruagem, ordenando que o exército continuasse a marcha.

Guan Suyi fitava atentamente a cortina da carruagem e, quando viu Hunnar entrar, relaxou e se recostou na parede do veículo. A sensação de estar à beira da morte a assustava. Não, na verdade, ela já estivera deitada dentro de um caixão. Se aqueles dois homens não tivessem colocado um travesseiro de madeira sob seu pescoço, provavelmente teria sido pisoteada, e a única forma de escapar do sofrimento teria sido morder a língua e se matar.

Ao ver que seu rosto passava do branco para o azul, o Imperador Sheng Yuan percebeu imediatamente que ela estava assustada de novo e apressou-se a sentar-se ao seu lado, dando tapinhas em suas costas e consolando-a suavemente:

— Não pense mais nisso. Agora você está aqui, nada aconteceu. Venha, troque suas roupas. Você colocou um rosto de homem, mas ainda veste roupas femininas. Cuidado para não virar motivo de piada.

Guan Suyi lançou-lhe um olhar zangado. Parecia irritada, mas na verdade se sentia muito melhor. Rapidamente, envolveu-se com o robe e amarrou o cinto. Como as mangas e a barra eram longas demais, os dois tentaram dobrá-las, mas, após várias tentativas sem sucesso, ele simplesmente pegou uma adaga e cortou o excesso. Só então ela finalmente parecia um jovem soldado.

— Pronto. Agora durma um pouco. Qin Lingyun é um general feroz sob meu comando e não terá dificuldades para lidar com um bando de marginais. Talvez, ao acordar, você já possa ver Mu Mu novamente.

O Imperador Sheng Yuan juntou as roupas restantes e as colocou para servir de travesseiro improvisado.

— Não ouso dormir. Quero salvar Mu Mu. — Guan Suyi segurou um canto de sua roupa.

— Apenas descanse um pouco. Olhe para você, as olheiras estão escuras.

O Imperador Sheng Yuan tentou persuadi-la várias vezes, mas, sem sucesso, acabou colocando a mão sobre a testa dela e pressionando-a levemente para baixo. No entanto, ela manteve a cintura ereta e se inclinou para frente, recusando-se a deitar. Seu ar teimoso, ao mesmo tempo frágil e adorável, fez o Imperador Sheng Yuan sentir um aperto no peito. Ele desejava envolvê-la completamente em seus braços e deitar-se com ela.

— Vai dormir ou não? Se não for, mandarei alguém te levar de volta para a capital. Não quero que você desmaie no meio do caminho e atrase a marcha. — Sua voz era uma mistura de irritação e divertimento.

— Estou sentada na carruagem, não estou andando, como posso te atrasar? — Guan Suyi esfregou as olheiras, seus olhos um pouco embaçados de cansaço.

— Se não fosse por sua carruagem e a necessidade de acompanhar o ritmo das rodas, com meus dois mil soldados de cavalaria de elite, eu já estaria a milhares de milhas daqui.

O Imperador Sheng Yuan pensou por um momento e então riu suavemente.

— Ou então, que tal descer e abandonar essa carruagem para montar comigo? Se quiser dormir, será mais confortável nos meus braços.

As bochechas pálidas de Guan Suyi ficaram lentamente coradas, mas, felizmente, a máscara escondia isso. Ela recostou-se e cedeu:

— Você venceu. Vou dormir agora. Me acorde em meia hora.

Hesitou por um momento e então mudou de ideia:

— Não, me acorde em três quartos de hora.

— Não se preocupe, eu vou te acordar.

O Imperador Sheng Yuan suspirou, puxou o cobertor fino e o cobriu sobre ela, murmurando:

— Você sempre vence quando não deveria e admite derrota quando não devia perder. Madame nasceu para me dominar.

Guan Suyi puxou o cobertor para cobrir o rosto, deixando apenas a pontinha de suas orelhas avermelhadas à mostra.

O Imperador Sheng Yuan ficou sentado ao seu lado, observando-a por um momento. Então, de repente, soltou uma risada suave, seu olhar repleto de ternura e resignação.

Três quartos de hora depois, o Imperador Sheng Yuan não acordou Madame como prometido. Quando ela despertou, já era quase meia-noite, e o exército finalmente havia encurralado o bando de salteadores na passagem montanhosa próxima ao Vale de Tong. Qin Lingyun e Zhao Luli lideravam dois grupos de soldados e estavam em um impasse contra os desesperados bandidos.

— O que diabos está acontecendo? — O Imperador Sheng Yuan estava extremamente irritado, pois um dos bandidos pressionava uma adaga contra o pescoço de Mu Mu.

O batedor fez um relatório em voz baixa:

— Mestre, esse grupo encontrou Zhao Luli no caminho, e ele acabou reconhecendo o jovem mestre. As duas partes entraram em combate e, por coincidência, foram bloqueadas pelo marquês neste local. O líder dos bandidos percebeu que éramos numerosos e poderosos e, ao descobrir que o jovem mestre é filho mais novo da Mansão do Mestre do Imperador, soube que havia se metido em um grande problema. Então, tomou o jovem mestre como refém e nos ameaça para que os deixemos ir.

— Não podemos deixá-los ir! — Guan Suyi afirmou com firmeza.

— De fato, não podemos — concordou o Imperador Sheng Yuan. — Eles já sabem da identidade de Mu Mu e, assim que chegarem a um local seguro, certamente o matarão para silenciá-lo.

Levando Madame consigo, ele analisou a periferia do campo de batalha, encontrou um ponto elevado com melhor visibilidade, pegou o enorme Arco do Espírito Ósseo e colocou duas flechas ao mesmo tempo.

Os dois permaneceram na escuridão e, enquanto não fizessem barulho, ninguém notaria sua presença. Em contraste, os bandidos estavam cercados por soldados segurando tochas, e as chamas alaranjadas refletiam seus rostos hediondos. Mu Mu era mantido como refém pelo líder, extremamente assustado, seu rosto pálido como papel.

Os olhos ressecados de Guan Suyi instantaneamente se encheram de lágrimas, mas ela reprimiu o impulso de correr até ele. Avaliou visualmente a distância entre os dois lados e expressou sua preocupação:

— Cinquenta a sessenta zhang, vento contrário, pouca iluminação... Não seria difícil demais um ataque furtivo? Se errar o tiro, Mu Mu estará em perigo.

— Madame, pode confiar em mim? — O Imperador Sheng Yuan perguntou em um tom profundo.

No escuro, Guan Suyi não conseguia ver sua expressão com clareza, mas percebeu um vislumbre de determinação e firmeza em seus olhos profundos. Lentamente, seu coração acelerado começou a se acalmar, e ela respondeu palavra por palavra:

— Atire. Eu confio em você.

— Obrigado, Madame.

O Imperador Sheng Yuan sorriu levemente e, em seguida, ergueu o arco e mirou no líder dos bandidos, que estava a sessenta zhang de distância. A corda do arco foi puxada ao máximo, emitindo um leve estalo, como se fosse se romper a qualquer momento. Os nervos de Guan Suyi ficaram tensos, e até suas têmporas começaram a latejar.

Por fim, os dedos do imperador relaxaram inconscientemente, e as duas flechas rasgaram o ar, separadas por poucos zhang uma da outra. A primeira atravessou a cabeça do bandido; a segunda veio logo atrás e atingiu o mesmo ponto. Com dois sons abafados de “puft”, o líder caiu morto antes mesmo de poder piscar. As flechas, ainda cheias de impulso, perfuraram os bandidos atrás dele, que caíram um após o outro.

Mu Mu, que ainda estava sendo segurado pelo vilão e inclinava a cabeça para evitar a lâmina, de repente sentiu a mão do agressor amolecer e soltá-lo. Inicialmente confuso, foi rapidamente puxado por Marques Zhenxi, enquanto Zhao Luli empunhava sua espada e eliminava os bandidos mais próximos.

Mesmo após tanto tempo sem lutar juntos, a cumplicidade cultivada no campo de batalha permaneceu. Em instantes, eles abateram diversos inimigos e recuaram para fora da zona de combate.

— Mu Mu! Mu Mu! Você está bem? — Um jovem correu das sombras e o abraçou, verificando-o da cabeça aos pés.

Mu Mu costumava brincar de “Você me reconhece?” com sua irmã e a identificou imediatamente. Mas lembrou-se das instruções dela e não ousou chamá-la pelo nome, apenas enlaçou seu pescoço e esfregou a cabeça de um lado para o outro, limpando discretamente as lágrimas. Ele era um homem! Não podia chorar de medo!

— O cunhado ficou assustado? Deixe o cunhado dar uma boa olhada.

Outra figura alta saiu das sombras. Carregava um arco gigante nas costas e, com um gesto firme, pegou o pequeno e o colocou sobre seus ombros.

— Você é o cunhado? Você é ótimo com arco e flecha! — Os olhos de Mu Mu brilharam, e ele não quis mais soltar a cabeça do homem. Embora tivesse barba e a cor dos olhos fosse diferente, a voz era a mesma. Foi ele quem o salvou, e, ao seu lado, sentia-se seguro.

Qin Lingyun foi muito atencioso. Assim que pegou a criança, cobriu seus olhos para impedir que visse mais cenas sangrentas, ajudando-o a se acalmar rapidamente. Em seguida, o grupo deixou a zona de combate e caminhou até a carruagem Wupeng para conversar.

— Muito obrigada pela ajuda, Lorde Marquês! Muito obrigada pela ajuda, Mestre Zhao! — Guan Suyi fez uma reverência sincera.

— Não há de quê — Zhao Luli respondeu, fitando-a fixamente, mas sem notar nada suspeito. Apenas presumiu que ela fosse uma criada de Mu Mu, que correu para protegê-lo.

Qin Lingyun, no entanto, entendeu tudo e sorriu:

— Só cumpri ordens, não há por que me agradecer. Ah, o macaquinho de Mu Mu ainda está comigo. Você pode pegá-lo mais tarde. Foi essa coisinha que fugiu e nos guiou até aqui, permitindo que bloqueássemos os bandidos na montanha.

— Dalang está bem? Que ótimo! Obrigado, Lorde Marquês! Obrigado... — Mu Mu hesitou, sem saber como chamar Zhao Luli. Depois de muito pensar, acabou imitando sua irmã e o chamou de “Mestre Zhao”, o que fez Zhao Luli sorrir amargamente.

Ele se virou e, ao ouvir Mu Mu chamando o Imperador Sheng Yuan de “cunhado” com tanto carinho, sentiu como se uma faca lhe perfurasse o coração.

Quanto mais o Imperador Sheng Yuan olhava para seu cunhado, mais gostava dele. Então, simplesmente o colocou nos ombros e o levou para um local aberto para brincar, enquanto aguardava os soldados terminarem de limpar o campo de batalha. Guan Suyi seguiu de perto, e, ao observar as silhuetas grandes e pequenas empilhadas uma sobre a outra, apoiou a testa com um sorriso.


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