— Alguma novidade sobre Chai Anxi? — perguntou Chu Zhao.
Ying Xiang balançou a cabeça.
— Ouvi dizer que a Princesa Mengji está enviando pessoas para procurar o paradeiro de Chai Anxi.
Chu Zhao sorriu com indiferença.
— Xiao Huaijin ter vindo a Jiyang não passa de mais uma busca por alguém.
Após uma breve pausa, ele perguntou à mulher ao seu lado:
— Quem é Liu Buwang?
— Nunca ouvi falar desse nome. Oficialmente, dizem que ele é o mestre de artes marciais do Comandante Xiao.
— E de onde Xiao Huaijin tirou um mestre de artes marciais?
Ying Xiang assentiu.
— Mas eles parecem ter bastante confiança e respeito por esse senhor Liu.
Chu Zhao pousou a xícara de chá.
— Isso tudo não importa. O mais importante é encontrar Chai Anxi antes de Xiao Huaijin.
— Esta criada entende — disse Ying Xiang, hesitante por um instante, antes de perguntar: — Mas como o jovem mestre pretende lidar com a senhorita He?
Apesar de já ter sido informada por Chu Zhao de que He Yan era uma garota — e de já ter se preparado mentalmente para isso —, não foi até vê-la com seus próprios olhos, com aparência feminina pela janela, que a realidade lhe pareceu palpável. Era difícil conciliar a imagem daquela moça delicada e pequena com a lembrança do jovem destemido e resoluto.
— Não acha estranho Xiao Huaijin estar acompanhado por uma mulher? — Chu Zhao sorriu suavemente. — Estou curioso para saber o quanto ele confia nela.
Ying Xiang baixou os olhos, permanecendo em silêncio. Restou apenas o vapor que subia da xícara de chá, logo dissipando-se no ar sem deixar vestígios.
Do outro lado do aposento, todos já estavam sentados.
— Este é o mapa de defesa militar do povo Wutuo — disse He Yan, entregando o pergaminho a Liu Buwang. — O Quarto Jovem Mestre da Mansão Shi Jinbo trouxe essa informação: os Wutuo planejam atacar Jiyang em breve, mas não sabemos se é verdade. Mestre, por favor, dê uma olhada nesse mapa militar. Enxerga alguma anormalidade?
Liu Buwang examinou o mapa por um momento e depois o pôs de lado.
— Não sei se este mapa é autêntico, mas, se os Wutuo realmente planejam atacar Jiyang, provavelmente começarão pelo canal.
Afinal, a parte mais crucial da Cidade de Jiyang era o canal. Bloqueá-lo significaria cortar a linha vital de toda a cidade.
— Antes, o senhor mencionou estar rastreando os Wutuo até Jiyang — disse Xiao Jue, voltando-se para Liu Buwang. — Poderia explicar o motivo?
Liu Buwang pensou por um instante antes de responder:
— Todos os anos, por volta do Festival do Deus das Águas, eu costumo visitar Jiyang. Este ano, antes de chegar à cidade, encontrei uma chacina nos arredores. Alguém havia matado todos os moradores de uma vila remota durante a noite e usou as roupas das vítimas para se infiltrar na cidade. Um menino que conseguiu escapar me contou. No início, pensei que fosse uma vingança ou um assalto, mas conforme investiguei, percebi que alguns dos autores não eram do Grande Wei. Esses Wutuo infiltraram-se disfarçados de civis, e isso já vem de algum tempo. Descobri apenas uma fração do que realmente está acontecendo. Temo que muitos moradores das redondezas já tenham sofrido. Dentro da cidade de Jiyang, provavelmente há ainda mais infiltrados.
— Então, o senhor está dizendo que muitos Wutuo já entraram na cidade? — perguntou He Yan.
— Sim. Eles vêm se preparando há bastante tempo. Esperavam que o caos do Festival do Deus das Águas facilitasse o sequestro do Pequeno Alteza. Mas seus atos frustraram os planos deles. Então, é provável que tentem de novo em breve.
— O Mestre Liu quer dizer que haverá uma batalha na cidade de Jiyang em breve? — indagou Lin Shuanghe, nervoso. — Este lugar não é nada seguro!
— Não se preocupe — disse He Yan, tentando tranquilizá-lo. — A Princesa Mengji mencionou que irá evacuar os moradores da cidade para um local um pouco mais seguro nos próximos dias. Irmão Lin, você pode acompanhar os cidadãos de Jiyang. Não deve haver problema.
Essas palavras deixaram Lin Shuanghe mais tranquilo, mas ele logo assumiu uma expressão resoluta:
— Acompanhar os moradores? Eu não sou alguém que valoriza a própria vida mais do que a dos outros. Naturalmente, ficarei com meus irmãos, compartilhando vida e morte com eles. Não tentem me dissuadir — vou permanecer com todos vocês, não partirei sozinho!
He Yan ficou em silêncio por um momento, antes de se virar para Liu Buwang:
— Mestre, a Princesa Mengji confiou a guarda dos portões da cidade ao Comandante. Gostaria de dar uma olhada também?
— Ah He, esqueceu? — Liu Buwang suspirou, um pouco sem jeito. — Parece que você se esqueceu de que eu só sei montar formações. Não sei lutar.
De fato, era verdade. Liu Buwang era hábil em Qimen Dunjia e várias técnicas de lança, montaria e espada, mas isso dizia respeito ao combate individual. Quando ensinou Qimen Dunjia a He Yan, foi por meio do estudo e da aplicação estratégica dela que surgiram táticas eficazes.
— Eu também não sei lutar — disse Lin Shuanghe, surpreso —, então minha irmãzinha He aprendeu tudo isso sozinha? Achei que ela tivesse um mestre incrível. Então, irmãzinha He é autodidata?
He Yan sorriu, um tanto constrangida:
— Talvez eu tenha um talento especial... ou fui uma general mulher numa vida passada. Vai ver, está no sangue!
Xiao Jue deu uma leve risada, mas não disse nada.
— Nos próximos dias, continuarei investigando o paradeiro desses Wutuo — disse Liu Buwang. — Se encontrarmos o líder deles, talvez possamos resolver muitas coisas. Quanto aos portões da cidade de Jiyang, deixarei sob os cuidados do Comandante Xiao.
Ele lançou um olhar a Xiao Jue, que agora conhecia sua verdadeira identidade.
— Os guardas do portão da cidade estão em desvantagem numérica. Comandante Xiao, conto com você para proteger o povo de Jiyang.
Xiao Jue assentiu. Era evidente que tinha um carinho especial por Jiyang.
O grupo continuou discutindo sobre os Wutuo por um tempo. Xiao Jue começaria o treinamento dos guardas já no dia seguinte — o tempo era curto, e a tarefa, difícil. Liu Buwang seguiria com sua investigação, e quanto a Lin Shuanghe... não se esperava nada dele. Ficaria na residência Cui, aguardando. Já He Yan se viu em uma posição desconfortável. Queria ir com Xiao Jue ver os guardas da cidade, mas Mu Hongjin não permitiu. Não sabia se isso causaria problemas. Em vez disso, decidiu fazer uma nova cópia do mapa de defesa militar e estudá-lo durante a noite, na esperança de elaborar uma nova estratégia com base no terreno de Jiyang. Se o mapa fosse real, seria o dobro mais útil. Se fosse falso, talvez encontrasse falhas e evitasse cair numa armadilha.
Após a conversa, todos se prepararam para se dispersar. Ao abrirem a porta, viram uma bela criada parada sob as árvores no pátio. Era Ying Xiang, criada pessoal de Chu Zhao. Ninguém sabia há quanto tempo ela estava ali. Quando viu o grupo sair, caminhou até He Yan, curvou-se e disse:
— Senhorita He.
He Yan retribuiu o gesto.
— O jovem mestre gostaria de lhe dizer algumas palavras — Ying Xiang sorriu. — Está aguardando no salão da frente. A senhorita teria um momento?
He Yan olhou para trás. Lin Shuanghe fez um discreto gesto com a mão, sinalizando para que ela não fosse. Xiao Jue permanecia impassível, sem demonstrar seus pensamentos. Vendo isso, Ying Xiang disse com um sorriso:
— O jovem mestre comentou que pode ter havido um mal-entendido entre ele e a senhorita He anteriormente. Gostaria de esclarecer pessoalmente. Quando esteve na Guarnição de Liangzhou, partiu sem se despedir, o que foi grosseiro. Espera que a senhorita não guarde mágoa, e hoje deseja se desculpar.
He Yan, na verdade, nunca se importou muito com sua partida sem aviso. Tantos eventos ocorreram em Liangzhou que ela mal teve tempo para pensar nesses detalhes. Mas o jovem mestre da Mansão Shi Jinbo parecia lembrar-se claramente e agia com tanta cortesia que, se recusasse, pareceria ingrata. Além disso... He Yan estava realmente curiosa sobre a identidade atual de Chu Zhao e suas intenções em Liangzhou, especialmente sobre sua alegação de lidar com os Wutuo. Seria essa sua verdadeira missão... ou haveria outra razão?
Com isso em mente, ela respondeu:
— Claro.
— Irmãzinha He! — exclamou Lin Shuanghe, indignado.
— Agradeço pela compreensão, senhorita — disse Ying Xiang, satisfeita.
— Comandante, irei até lá conversar — disse He Yan a Xiao Jue. — Não precisa me esperar para o jantar.
Virou-se para Liu Buwang:
— Mestre, peço licença.
Lin Shuanghe ainda quis insistir, mas He Yan já havia partido com Ying Xiang. Liu Buwang, ocupado com outras questões, apenas assentiu para Xiao Jue antes de também se retirar.
Depois que todos saíram, Lin Shuanghe perguntou:
— Vai deixá-la ir assim?
— O que mais eu poderia fazer?
— Estamos falando de Chu Zilan! A irmãzinha He era tão apaixonada por ele que se perdeu completamente. Quando ele quebrou sua promessa, ela ficou sozinha olhando a lua! Agora esse cafajeste irresponsável voltou para reconquistar minha irmãzinha He... Aposto que vai usar todo seu charme para roubar o coração dela!
— Perfeito — disse Xiao Jue, virando-se com um sorriso preguiçoso. — Pelo menos, o trapaceiro vai conseguir o que quer.
— Você não está preocupado? — Lin Shuanghe o seguia, abanando-se. — E se Chu Zilan vê minha irmãzinha He tão deslumbrante e perde o controle, fazendo alguma coisa terrível com ela?
Xiao Jue entrou no aposento, serviu-se de chá e respondeu, sem pressa:
— Acho que você tem uma ideia errada sobre o gosto de Chu Zilan. Acha mesmo que ele consegue resistir ao que é... deslumbrante?
— Ué, você não acha ela deslumbrante? — Lin Shuanghe se exaltou. — Xiao Huaijin, nem todo mundo tem o seu rosto. Não dá pra comparar!
Xiao Jue ignorou o comentário.
— Além disso, Chu Zilan fazer algo ruim com ela? — Uma centelha de escárnio brilhou nos olhos dele. — Aquela garota é capaz de arrancar a cabeça dele com as próprias mãos. Em vez de se preocupar com a inocência dela, é melhor se preocupar com o Chu Zilan.
Lin Shuanghe: “…”
…
He Yan encontrou Chu Zilan no salão da frente.
Quando ele a viu, sorriu e cumprimentou:
— Senhorita He.
— Quarto Jovem Mestre Chu — respondeu ela, retribuindo o gesto.
O céu já escurecera, e a noite em Jiyang estava animada e vívida. Chu Zhao olhou para fora e disse:
— Vamos sair para conversar?
He Yan não sabia o que ele pretendia, mas com tanta gente na Mansão Cui, conversar ali seria mesmo difícil. Então respondeu:
— Vamos.
Os dois saíram juntos da mansão.
A noite primaveril de Jiyang era morna. Às margens do rio, vendedores ambulantes carregavam lanternas e anunciavam seus produtos pelas ruas. Pavilhões e torres se espalhavam, compondo um cenário pitoresco. Podia-se dizer com propriedade: “Entre vielas e aldeias, o som de instrumentos de corda e flauta ecoa, festas se prolongam dia e noite.”
Mas, olhando para aquela noite aparentemente próspera e gentil, não se podia deixar de pensar nos perigos ocultos. Por trás dos rostos sorridentes dos vendedores e da agitação animada, quem saberia quantos Wutuo de intenções sombrias estavam escondidos? Com esse pensamento, mesmo a paisagem mais vibrante parecia perder o brilho. He Yan franziu a testa, preocupada.
— Senhorita He, está zangada comigo? — perguntou Chu Zhao em voz baixa.
— Por que estaria? — ela se surpreendeu.
— Então por que parece tão preocupada e distante, mesmo caminhando ao meu lado?
He Yan riu.
— Não é isso. Só estou pensando nos Wutuo e me preocupando.
Após um breve silêncio, Chu Zhao comentou:
— A senhorita não precisa se preocupar tanto. A princesa vai organizar tudo. E ainda temos o Comandante Xiao, não é?
Ele parecia apreciar bastante o Comandante Xiao, e He Yan resolveu testá-lo:
— Pensei que o Comandante Xiao e o Quarto Jovem Mestre não se dessem bem.
— O Comandante Xiao tem alguns mal-entendidos comigo — respondeu Chu Zhao com um sorriso. — Mas nossas posições são diferentes. Cada um serve ao seu senhor.
Ele realmente admitiu isso tão diretamente? He Yan ficou levemente surpresa.
— No entanto, em relação ao povo Wutuo, o Comandante Xiao e eu compartilhamos a mesma posição. Senhorita He, não precisa se preocupar — disse Chu Zhao. — Sou cidadão de Grande Wei e, naturalmente, não quero ver nossa terra natal invadida por tribos estrangeiras.
He Yan assentiu. — Isso é mais que natural. Não há segurança em um ninho quebrado. Devemos nos unir contra ameaças externas.
— Com minhas palavras, pode ficar tranquila, senhorita He? — ele perguntou.
He Yan respondeu:
— Por que diz ‘ficar tranquila’?
— Não farei mal ao Comandante Xiao, então não precisa ficar tão cautelosa comigo por causa dele — disse Chu Zilan.
He Yan riu.
— Está exagerando, Quarto Jovem Mestre Chu. Não estou desconfiada de você.
— É mesmo? — Chu Zilan pareceu um pouco abatido ao continuar: — Mas, desde nosso último encontro, você deixou de me chamar de ‘Irmão Chu’ e passou a me chamar de ‘Quarto Jovem Mestre Chu’. Parece uma forma deliberada de se distanciar.
— Isso também conta? — pensou He Yan, antes de responder:
— Não é nada disso. Se acha ruim, posso voltar a chamá-lo de ‘Irmão Chu’.
— Posso chamá-la de Ah He?
He Yan hesitou por um instante.
O sorriso do jovem era especialmente gentil, como uma orquídea inofensiva desabrochando à noite na primavera de Jiyang — sua túnica exalava um perfume sutil, e sua aparência era de uma beleza que fazia os passantes olharem mais de uma vez. Diante de alguém assim, era difícil recusar com palavras duras. Após uma breve hesitação, ela respondeu:
— Se quiser me chamar assim, fique à vontade.
Os olhos de Chu Zhao se iluminaram com um leve sorriso enquanto continuava caminhando pela margem do rio ao lado dela.
— Ainda não pedi desculpas a Ah He pelo que aconteceu antes. Havíamos combinado de beber juntos no Monte Lua Branca, mas surgiu um imprevisto de última hora e eu não pude ir. Parti no dia seguinte sem nem me despedir. Mais tarde, em Shuojing, lembrei disso e me senti muito arrependido.
— Foi algo pequeno, Irmão Chu, não precisa se preocupar com isso — disse He Yan. — Além disso, você não fez de propósito, e eu não fiquei chateada.
Se não fosse por Chu Zhao, ela nem teria ido ao sopé do Monte Lua Branca naquela noite, não teria esperado por Xiao Jue, nem teria descoberto que aquele que a salvara das trevas, no alto do templo Yuhua anos atrás, era ele.
Talvez fosse um caso de desgraça transformada em bênção?
— Ah He é mesmo generosa e de coração amplo — comentou Chu Zhao, com um leve sorriso. — Mas não posso deixar isso passar. Preciso compensá-la.
Ele olhou adiante.
— Quero dar algo a Ah He.
He Yan ficou surpresa.
— O quê?
Chu Zhao estendeu a mão, mostrando um pequeno pingente de franjas. Era adornado com uma flor de romã esculpida em jade vermelho, de onde pendiam finos fios vermelhos. Apesar de pequeno, o artesanato era notavelmente delicado.
— Hoje, vi Ah He usando um chicote longo preso à cintura na entrada da Mansão Real — disse ele com um olhar gentil. — Certa vez, tive a sorte de conseguir esse enfeite, mas como não uso armas, ele acabou ficando guardado. No entanto, achei que combina perfeitamente com o chicote de Ah He. Por que não experimenta e vê se melhora o visual?
He Yan instintivamente quis recusar.
— Não há mérito, Irmão Chu, não precisa me dar nada. E, além disso, essa peça não parece nada barata.
A pequena flor em jade vermelho era tão refinada que ela suspeitou se aquilo não seria outro “item de centenas de taéis de prata”. Se continuasse recebendo presentes assim, os outros poderiam pensar que ela só estava ali para se aproveitar.
— Ah He me chamou de ‘Irmão Chu’, então somos amigos. Trocar presentes entre amigos é comum. E você se preocupa demais. Esse pingente não é caro, e o jade é falso. Não precisa se sentir constrangida. Para mim, não tem utilidade, mas se você recusar, ainda vai me considerar um inimigo?
Mesmo as palavras de leve censura que dizia vinham em tom calmo e gentil. Parecia injusto, mas dito por ele, tudo soava razoável. He Yan hesitou:
— Essa flor de romã é mesmo de jade falso?
Chu Zhao sorriu.
— Se Ah He quiser um de jade verdadeiro, vou ter que juntar umas pratas.
Sabendo que era uma peça de pouco valor, ela se sentiu mais à vontade para aceitar.
— Então agradeço, Irmão Chu.
Ela tirou o chicote de jade roxo da cintura, prendeu o pingente na haste de madeira, e o brilho do chicote imediatamente ganhou um toque de elegância, tornando-se ainda mais bonito.
— O chicote combina com Ah He — comentou Chu Zhao, sorrindo.
— Troca justa é essencial. Já que Irmão Chu me deu um pingente, eu também deveria lhe dar algo — disse ela, sentindo que seria injusto não retribuir. — Irmão Chu, o que viu de interessante hoje no mercado noturno? Eu posso te dar.
Ela enfiou a mão na manga, tocou na pequena pilha de moedas de cobre e acrescentou:
— Mas saí de casa com pressa e não trouxe muito dinheiro. Então… escolha algo simples.
Afinal, Lin Shuanghe não estava com ela naquele dia. Não podia comprar o que quisesse como de costume.
Chu Zhao riu e olhou para ela:
— Está bem.
He Yan o seguiu, e o mercado noturno de Jiyang fervilhava de movimento. Vendedores ofereciam de tudo — comida, petiscos, cosméticos, livros antigos e até armas enferrujadas. Os dois formavam uma dupla tão chamativa que os comerciantes os saudavam calorosamente à medida que passavam.
Ao final da rua, viram uma multidão reunida ao redor de uma barraca. He Yan seguiu Chu Zhao até lá e viu que era um vendedor de esculturas de açúcar. Um jovem vestindo roupas azuis limpas trabalhava diante de uma tábua de pedra impecavelmente limpa. Ao lado, um grande caldeirão fervia com um xarope de açúcar brilhante e avermelhado. Com uma concha de ferro, ele pegava o líquido e o derramava com habilidade sobre a pedra, traçando formas com agilidade, como um pincel. As linhas de açúcar criavam padrões intrincados que logo se solidificavam. Em seguida, ele usava uma espátula para levantar as esculturas e as fixava em palitos de bambu.
— Isso é um biscoito de açúcar! — exclamou He Yan, animada. — Não esperava encontrar aqui em Jiyang.
Quando vivia em Shuojing, havia uma feira anual do templo, mas por causa de sua condição delicada e do medo de ser reconhecida, evitava lugares com muitas pessoas. Nunca foi à feira. Só ouvia as irmãs contando sobre as novidades quando voltavam. Os biscoitos de açúcar eram uma dessas atrações. Shuojing tinha um mestre exímio nesse ofício, e He Yan sempre desejou provar. Um dia, não resistiu e implorou à Senhora He que trouxesse um para ela. Talvez tocada por seu entusiasmo, a mulher atendeu ao pedido. He Yan se lembrava bem: o doce tinha forma de pássaro. Ela não teve coragem de comê-lo e o guardou em seu porta-trecos. Mas o calor o derreteu em dois dias, transformando sua mesa em um caos pegajoso — e levou uma bronca da Senhora He.
Na época, ela não achou sujo, apenas ficou desapontada. Queria que o doce tivesse durado mais.
Agora, encontrar uma dessas preciosidades de infância em Jiyang parecia um presente inesperado. Observando a destreza do jovem, achou que ele não ficava atrás do mestre de Shuojing. He Yan agarrou o braço de Chu Zhao e avançou animada. Já havia várias esculturas prontas espetadas em uma pilha de feno — flores auspiciosas, pássaros, fênix e animais realistas, todos muito vívidos.
Chu Zhao olhou para He Yan e sorriu de repente:
— Gostei muito disso. Se Ah He quiser me dar algo, que tal um biscoito de açúcar?
— Você gosta disso? Sem problemas! — respondeu ela com entusiasmo, acenando para o vendedor. — Jovem, qual é o biscoito mais caro que tem aqui?
Havia uma placa com os preços: dois wen cada. Ela tinha moedas de sobra.
— O mais caro é o cesto de flores. Custa oito wen. A senhorita quer um? — respondeu o vendedor com um sorriso.
— Cesto de flores? Seja o que for, se é o mais caro, não tem erro. — Ela olhou para Chu Zhao:
— O que acha, Irmão Chu?
— Parece ótimo — respondeu ele, contendo um sorriso.
— Jovem, faça um cesto de flores bem bonito! — disse ela, entregando oito moedas.
O vendedor assentiu:
— Com certeza!
Ele começou fazendo um disco fino de açúcar, depois traçou círculos e linhas verticais, moldando a cesta. He Yan observava atentamente enquanto flores eram acrescentadas uma a uma — rosas, narcisos, crisântemos, flores de pêssego, lótus… flores de todas as estações, reunidas num arranjo vibrante.
De repente, He Yan teve uma ideia:
— Jovem, quero dar esse cesto de flores a um amigo. Pode escrever o nome dele?
— Claro que sim!
Chu Zhao hesitou, e seu sorriso sumiu um pouco.
— Ah He, não precisa…
— Como assim? — ela não entendeu. — Seu nome é tão bonito. Seria uma pena não colocá-lo.
— Bonito?
— Sim — ela assentiu. — Zhao significa ‘brilhante’, e Zilan, ‘orquídea perfumada’. Quem te deu esse nome devia amar muito você. Quis te desejar pureza e um futuro luminoso. É um nome elegante.
Chu Zhao ficou surpreso, enquanto a jovem já se virava para o vendedor:
— Jovem, por favor escreva “Zilan”.
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