Capítulo 153


Sob o sol escaldante, Xu Shulou sentiu um calor reconfortante. Ela fechou os olhos contente, saboreando o vinho de arroz barato que acabara de comprar por cinquenta moedas a taça. Ao seu lado, sentava-se Xuan Yang, acariciando distraidamente uma pintura em suas mãos.

"Como você tem estado nesses anos?" Xu Shulou perguntou com um sorriso.

"Não muito mal", respondeu Xuan Yang. "Alguns anos atrás, guerras eclodiram novamente no reino mortal. Aproveitei a chance para me alimentar do sofrimento — comi muito bem."

"..."

"Estranhamente, não estou gostando tanto disso agora", refletiu Xuan Yang. "Talvez as emoções humanas tenham se espalhado em mim."

Xu Shulou ficou em silêncio por um momento antes de perguntar: "Como está a pintura?"

"Está bem. No século passado, guardei a que você me deu", Xuan Yang riu. "Embora eu ainda não saiba por que você me entregou. Mas ela é bem tagarela — fez companhia enquanto eu vagava pelo mundo."

O fato de que ele conseguia sentir a solidão significava que estava se tornando mais humano. Xu Shulou o estudou. "Além da sua aparência, você é praticamente indistinguível de uma pessoa agora."

"Isso é bom ou ruim?"

"Difícil dizer", ela respondeu, então acrescentou: "A pintura não engoliu mais ninguém, não é?"

"Não. Como você disse, ela também se tornou mais humana", explicou Xuan Yang. "Nós até fizemos apresentações de rua juntos uma vez. Eu fingi ser um pintor imortal, e ela acompanhou — mudando suas cenas a cada pincelada. Enganamos algumas pessoas e ganhamos algum dinheiro para viajar."

"Pare de falar!" A tela se desenrolou apressadamente, interrompendo-o.

"Por quê?" Xuan Yang perguntou, perplexo.

"Eu costumava ser tão formidável na frente de Xu Shulou, devorando cultivadores poderosos sem parar. Como você pode deixá-la saber que eu caí para apresentações de rua?!"

"..." Xuan Yang não entendeu a preocupação — afinal, ele nunca havia sido formidável aos olhos de Xu Shulou. "Nós só fizemos isso para comprar aquela moldura chique que você queria."

Xu Shulou riu. "Vou encontrar Xiao Ya mais tarde. Quer se juntar a nós?"

"Não", Xuan Yang acenou com a mão, dispensando. "Vou continuar vagando pelo mundo."

Com isso, ele saltou do telhado, chapéu de palha baixo, pintura na mão, e desapareceu na multidão no final da rua.

Depois que ele partiu, Xu Shulou apreciou o sol, terminando o último de seu vinho quando Xiao Ya chegou.

"Nunca pensei que veria o dia", Xiao Ya circulou por ela, ainda atônita apesar da notícia. "Um imortal ascendido retornando? Se a notícia se espalhar, o mundo da cultivação entrará em alvoroço."

"Eu preferiria evitar causar problemas", suspirou Xu Shulou. "Poucos sabem que eu voltei."

"Quer que eu mantenha em segredo?" Xiao Ya sorriu maliciosamente. "Embora isso não importe muito — conhecendo você, você fará algo grandioso que anunciará sua presença em breve."

Xu Shulou sorriu.

"Então, como está o reino imortal?"

"Está bom. Energia espiritual abundante, perfeito para a cultivação", resumiu Xu Shulou brevemente.

"Se é tão bom, por que retornar? Algo importante para fazer?"

Xu Shulou balançou a cabeça. "Ver flores e oceanos — isso conta?"

Xiao Ya riu, sem surpresa. "Entendo."

Xu Shulou mudou de assunto. "Ainda está na Seita Lingxiao?"

Xiao Ya assentiu. "Terceiro Irmão e eu estamos aguentando. Depois de todos esses anos, nos apegamos. Não é fácil simplesmente ir embora."

"A Seita Lingxiao passou por momentos difíceis ultimamente."

"Verdade, longe de sua antiga glória", Xiao Ya olhou para ela. "Mas somos cultivadores — o que é um pouco de dificuldade?"

Xu Shulou balançou sua taça vazia. "Eu brindaria a isso, mas estou sem vinho."

"Eu trouxe um pouco", Xiao Ya sorriu, puxando um jarro de seu anel espacial. "Sabia que você nunca recusaria uma bebida."

Xu Shulou serviu para as duas, inalando o aroma. "Vinho fino."

Após três rodadas, Xu Shulou finalmente perguntou: "Como você está lidando... com o Reino Xiao?"

"Reino Xiao... Eu fiquei fora disso naquela época", suspirou Xiao Ya. "Aqueles cultivadores redigiram as Leis de Huashan — só para me restringir uma vez que as guerras mortais eclodiram novamente, não foi?"

"..."

"Naquela época, todos me instigavam a 'transcender os laços mundanos.' Fácil de dizer", Xiao Ya olhou para baixo. "Mas como alguém realmente faz isso?"

Xu Shulou deu-lhe um abraço sem palavras.

Xiao Ya sussurrou: "Eu senti muito sua falta naquela época. Queria te encontrar e pedir a resposta."

"Eu não tenho uma", disse Xu Shulou pensativa. "Laços mundanos... talvez eles não sejam feitos para serem transcendidos."

Xiao Ya piscou. "A primeira vez que ouço essa visão."

"Só estou divagando", riu Xu Shulou. "A transcendência é para os sábios. Eu sou apenas uma alma comum apegada a este mundo."

"Mesmo você não consegue se soltar?"

"Se eu pudesse, não teria lutado para voltar a esta poeira mortal."

Xiao Ya ficou em silêncio, incerta se a resposta a decepcionava.

Depois de um tempo, ela perguntou: "Como você dissolve o ressentimento?"

"Tempo. Apenas tempo", Xu Shulou bebeu. "O tempo dissolve tudo."

"..."

"Honestamente, minha dor não é tão profunda. Eles eram parentes distantes — nunca nem os conheci", admitiu Xiao Ya. "Principalmente, é raiva em relação ao reino inimigo... e esta solidão aterrorizante e enlouquecedora. Como se meu país tivesse ido, minha casa tivesse ido... restando apenas eu, completamente sozinha."

"Eu entendo."

Claro que sim. Xiao Ya não expressou como ela finalmente havia compreendido o que Xu Shulou sentia — parecia melodramático demais para dizer em voz alta. Ela não precisava. Xu Shulou sempre entendia.

"Fico feliz que você tenha voltado. Com você aqui, eu não estou completamente sozinha", disse Xiao Ya. "Houve uma época em que temi — se o Terceiro Irmão ascendesse, eu realmente não teria mais ninguém."

"Não se preocupe em faltar companheiros no futuro", Xu Shulou brindou a ela. "Se você estiver disposta, sempre encontrará novos amigos."

De qualquer outra pessoa, poderia ter soado como consolo vazio. Mas vindo de Xu Shulou, Xiao Ya bateu taças e provocou: "Eu não farei amizade com nenhuma princesa da nova dinastia, no entanto."

Xu Shulou riu.

Com o vinho terminado, elas se prepararam para se separar. Sua amizade sempre foi leve como água — sem longas estadias, sem encontros frequentes, apenas breves encontros antes da separação.

"Para onde vamos agora?" Xiao Ya perguntou.

Xu Shulou se levantou e sacudiu a poeira de sua veste. "É quase o Festival do Barco do Dragão. Minha irmã júnior disse que está fazendo zongzi hoje e me lembrou de voltar para comer. Espero que eles sejam recheados com pasta de feijão vermelho — eu não gosto dos de carne."

Xiao Ya detectou um toque de calor em seus movimentos calmos.

Era por isso que ela sempre gostava de encontrar Xu Shulou — havia uma ternura inesgotável nela, como uma fonte inesgotável.

Respirando fundo, Xiao Ya se espreguiçou preguiçosamente sob o sol, como se também tivesse sido banhada naquele mesmo brilho reconfortante.

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