Capítulo 3: Primo, o Iceberg Gelado


 Su Yu se levantou do sofá com uma atitude excepcionalmente tranquila e cumprimentou o recém-chegado:

—Primo!

Assim que falou, percebeu que o progresso zerado havia subido 1% e seus pontos de QI passaram de 0 para 10. Lançando um breve olhar para a interface do sistema, Su Yu se virou para saudar Chu Cheng Yan com um leve sorriso.

Chu Cheng Yan jamais tinha visto esse primo distante antes e, no momento, não estava com disposição para cumprimentar ninguém. Apenas assentiu com a cabeça e disse:

—Se precisar de algo, me avise.

Ignorando completamente qualquer reação de Su Yu, ele subiu direto as escadas com o rosto fechado.

Desfazendo o sorriso, Su Yu se virou e perguntou à esfera:

—Chu Cheng Yan não parece estar de bom humor. O que aconteceu?

Mais cedo, quando o protagonista havia chegado em casa, Su Yu já tinha imaginado que não seria para cumprimentá-lo. E agora se confirmava que era por causa de um mau humor.

A esfera azul encolheu um pouco enquanto virava de lado e começava a vagar.

—Bem... Acabei de verificar a linha do tempo, e parece que hoje é o dia em que Chu Cheng Yan se apaixonou por Jiang Yue Yue e descobriu que ela já tem namorado.

Jiang Yue Yue era a protagonista feminina deste mundo — uma flor de lótus gentil e bondosa, porém completamente sem cérebro.

—Ah, então era hoje… Que timing perfeito! —Su Yu tocou o queixo e olhou para os livros sobre a mesa. Pegando-os, comentou: —Vendo ele nesse estado lamentável, vou, com relutância, ajudá-lo e preparar o jantar.

Neste momento, Chu Cheng Yan sentia uma dor terrível. Não no corpo, mas no coração. Era a primeira vez na vida que experimentava uma emoção tão intensa. Queria protegê-la por toda a vida, mas em apenas duas horas, sua esperança havia sido apagada.

Inesperadamente, Jiang Yue Yue já tinha namorado, e o relacionamento dos dois era doce e íntimo. Essa revelação havia abalado profundamente Chu Cheng Yan. Sem ânimo para trabalhar, havia fugido de volta para casa, arrasado.

Depois de passar uma hora deitado na cama, o humor de Chu Cheng Yan só piorava. Foi então que, de repente, escutou batidas na porta.

—Quem é? —perguntou com a testa franzida, esquecendo-se momentaneamente de Su Yu.

A voz animada de Su Yu soou do lado de fora:

—Primo, já passou das seis horas. Vi muitos ingredientes na sua geladeira, então preparei algo rápido. Vem comer comigo também, tá bom?

Embora fosse a primeira vez que cozinhava, para alguém como Su Yu, com um QI insano, era algo simples.

—Não estou com fome —respondeu Chu Cheng Yan, esfregando a testa com um semblante irritado.

Neste mundo, ele era, de fato, o rei da melancolia. Mas era importante lembrar que isso se limitava apenas a Jiang Yue Yue. Para os outros, ele continuava sendo o mesmo CEO frio e autoritário de sempre.

Su Yu ficou em silêncio por um instante, mas logo voltou a insistir:

—A comida já está pronta. Se você não comer, vai acabar desperdiçando. Primo, venha comer pelo menos um pouquinho. Garanto que minha comida está deliciosa.

Em vez de responder, Chu Cheng Yan usou o silêncio como forma de expressar seu desagrado e recusa.

No entanto, Su Yu fingiu não notar e continuou insistindo:

—Além disso, não tem mais ninguém aqui. Se eu comer sozinho, vou ficar entediado. Primo, desce e come comigo.

Ser persuadido daquele jeito era algo inédito para Chu Cheng Yan. Embora estivesse prestes a perder a paciência, se conteve:

—Tá bom, entendi.

—Ótimo! Então vou te esperar lá embaixo! —respondeu Su Yu, alegre, e desceu novamente.

Chu Cheng Yan havia dito aquilo apenas para se livrar de Su Yu. Não tinha realmente intenção de descer. Mas, com o passar do tempo, começou a hesitar... uma pontinha de culpa surgia em sua consciência.

Embora nunca tivessem se encontrado antes, ainda assim, ele era seu primo. Além disso, o garoto era um recém-formado no ensino médio e essa era sua primeira vez na cidade. Devia estar bastante nervoso, certo?

Chu Cheng Yan suspirou, irritado. No fim das contas, levantou-se da cama e desceu cuidadosamente as escadas. Ao chegar, viu Su Yu sentado à mesa de jantar, com os olhos fixos na escada.

Assim que viu Chu Cheng Yan descendo, um sorriso radiante surgiu no rosto de Su Yu.

—Primo, você finalmente desceu! A comida está esquentando no fogão, vou buscá-la.

Ao ver aquele sorriso, a depressão que vinha se acumulando em seu coração por causa de Jiang Yue Yue aliviou um pouco. Na verdade, ele até sentiu certo conforto. Chu Cheng Yan caminhou devagar até a mesa e se sentou. Su Yu o observava de canto de olho enquanto colocava os pratos na mesa. Ao terminar, sentou-se em frente ao protagonista deprimido.

—Essa é a comida que eu preparei. Prova logo, primo! —Su Yu usava uma expressão que praticamente gritava “me elogie!”. Seus olhos brilhavam ao olhar para Chu Cheng Yan. —Só consegui vir passear na cidade desta vez porque você permitiu que eu morasse aqui. Obrigado, primo!

Ao ouvi-lo chamando de "primo", Chu Cheng Yan achou um pouco estranho, mas não disse nada. Concentrou-se no conteúdo da mesa. Ao ver aquelas apetitosas refeições caseiras, seu apetite — antes perdido — voltou repentinamente.

—Primo, experimenta logo. Me diz se está gostoso! —Su Yu continuava olhando para ele com expectativa.

Chu Cheng Yan assentiu com o rosto impassível. Colocou um pedaço de berinjela cozida na boca. O sabor adocicado que se espalhou em sua língua lhe trouxe uma sensação inesperada de satisfação.

—Nada mal.

—Se o primo gostar, posso cozinhar muito mais para você depois! —Su Yu parecia radiante de felicidade; para cumprir sua missão, ele havia se empenhado ao máximo.

Chu Cheng Yan quis recusar instintivamente, mas, surpreendentemente, não conseguia parar de mastigar. No fim, apenas continuou comendo em silêncio.

Su Yu queria estabelecer um laço mais amigável, mas o outro homem parecia completamente concentrado na comida. Depois de um tempo sem encontrar uma brecha para conversar, ele também se calou e apenas comeu.

Depois de raspar o segundo prato de arroz, Chu Cheng Yan se surpreendeu ao perceber que seu apetite, naquele dia, estava maior do que nunca. Continuou comendo até sobrar apenas meia tigela de arroz — o que, de forma inexplicável, lhe causou certo arrependimento.

"Essa foi a primeira vez que me apaixonei e tive o coração esmagado. Como é que meu apetite ainda está tão bom?"

—Primo, você devia subir e dormir. Eu lavo a louça —disse Su Yu, percebendo imediatamente a mudança no rosto de Chu Cheng Yan. Com um sorriso, começou a recolher os pratos.

Chu Cheng Yan ergueu os olhos para Su Yu. No fim, decidiu não dizer nada e subiu as escadas em silêncio.

—Ver ele agir assim é realmente interessante —disse Su Yu, enquanto mandava o orbe lavar a louça e, ao mesmo tempo, fixava o olhar nas costas sombrias e solitárias de Chu Cheng Yan.

De “paragon insuperável” havia sido rebaixado a lavador de pratos sem dignidade — dessa vez, o orbe não tinha ânimo algum para dar atenção ao seu anfitrião cruel e impiedoso.

Su Yu também não notou as reclamações silenciosas do orbe. Bocejando, acenou displicentemente com a mão:

—Continue trabalhando; tô meio cansado, então vou dormir primeiro.

Na manhã seguinte, Chu Cheng Yan desceu as escadas carregando novamente aquela aura deprimida. Ao chegar na sala, viu Su Yu de avental na cozinha, com um sorriso no rosto.

—Bom dia! Vem tomar café.

O progresso do protagonista aumentou de 1% para 2%. Embora o avanço fosse pequeno, ainda assim era gratificante.

Com os olhos sérios e a testa franzida, Chu Cheng Yan pretendia recusar, mas, ao lançar um olhar sobre a mesa cheia de comidas variadas, as palavras que saíram foram outras:

—Então, vou aceitar o incômodo.

Era só café da manhã, mas a mesa estava lotada. Tinha leite de soja, youtiao (rosquinhas fritas), ovos cozidos no chá, bolos, hanamaki (pãezinhos no vapor), bolinhos chineses, pães ocidentais, torradas, sanduíches... tanta coisa que até deixou Chu Cheng Yan surpreso.

—Eu não sabia do que o primo gostava, então fiz tudo que consegui. Por favor, não ria de mim —Su Yu coçou a cabeça, como se estivesse constrangido até demais para falar.

Olhando para a comida sobre a mesa — que parecia realmente boa —, o humor de Chu Cheng Yan melhorou um pouco.

—Sente-se, vamos comer juntos.

—Tá bom! —Su Yu abriu um sorrisão. Colocou um bolinho na boca e mostrou uma expressão satisfeita.

"Aquele garoto parecia uma criança fácil de agradar", pensou Chu Cheng Yan de repente. E, sem perceber, sua mão o seguiu ao colocar também um bolinho na boca.

Depois do café da manhã, Chu Cheng Yan falou:

—Quer que eu arrume alguém pra te acompanhar pela cidade?

—Não precisa —respondeu Su Yu, acenando com a mão e exibindo um ar um tanto constrangido. —O fato de o primo ter permitido que eu ficasse nessa casa já é mais que suficiente, não preciso de mais nada. Só quero dar uma volta tranquila pela cidade.

Chu Cheng Yan não insistiu, mas passou a ter uma ideia melhor de quem Su Yu realmente era. Antes, pensava que aquele primo distante havia se mudado para sua casa só pra tentar se infiltrar em seu círculo e tirar algum tipo de vantagem.

—Primo, você vai voltar pra almoçar? Posso preparar uma comida bem gostosa pra você —ofereceu Su Yu.

Chu Cheng Yan normalmente almoçava num restaurante perto da empresa e nunca em casa. Mas, ao ver a expressão de expectativa no rosto de Su Yu, sentiu-se culpado demais pra responder de forma direta.

—Não é certo.

—Então vou preparar o almoço e esperar por você em casa —respondeu Su Yu, ignorando completamente o “não”.

Chu Cheng Yan se viu sem argumentos. Simplesmente ignorou a conversa e saiu da vila. Su Yu o acompanhou com o olhar da porta até não conseguir mais ver o carro do primo.

Depois, serviu-se de um copo de leite e passou a refletir sobre os próximos passos da trama.

De acordo com a trama original, o namorado de Jiang Yue Yue só veria ela com Chu Cheng Yan alguns meses depois, antes de começar a extorqui-lo.

No entanto, agora que Su Yu estava ali, ele não tinha a menor intenção de seguir a linha do tempo da história original. O único problema era que Chu Cheng Yan tinha apenas 2% de aumento no QI. Mesmo que ele acelerasse a trama agora, temia que o protagonista ainda não fosse capaz de tomar as decisões certas.

Por isso, teria que esperar — ao menos até que o QI de Chu Cheng Yan saísse do estágio infantil e chegasse ao estágio adolescente. Su Yu suspirou, começando a sentir o tédio se instalar.

—Se o anfitrião estiver entediado, pode sair pra se divertir pela cidade. A paisagem não é ruim —sugeriu o orbe, visivelmente preocupado com a possibilidade de Su Yu se cansar e decidir voltar ao mundo real.

Su Yu riu, lançando um olhar ao orbe:

—Pode ficar tranquilo, eu tenho uma perseverança incrível. Isso não é nem de longe suficiente pra me fazer desistir.

Com seus pensamentos expostos, o orbe flutuou embaraçado no ar:

—E-e-eu… Não é nada disso!

—Mas, pra ser sincero, agora tá bem entediante mesmo —Su Yu se espreguiçou preguiçosamente no sofá, enquanto seus dedos finos traçavam o contorno da borda do copo de leite que segurava. De repente, seu rosto se iluminou com um brilho de interesse, como se tivesse pensado em algo divertido.

—Embora a gente ainda não possa fazer nada de substancial pra concluir a missão… tem algo interessante que dá pra fazer!


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