Capítulo 54. Pedindo dinheiro emprestado ao Comandante.


 O servo da Casa de Penhores Luyuan entrou na sala e rapidamente trouxe dois grandes pratos de cobre. Os pratos estavam forrados com veludo rosa-avermelhado. Diversas joias estavam meticulosamente limpas e organizadas sobre os pratos.

O velho lojista sorriu:

— Aqui estão as joias recém-chegadas. Senhorita, pode escolher à vontade.

Sobre os dois pratos de cobre, de um lado havia grampos e enfeites caros feitos de jadeíta, jade e ágata. Do outro, havia algumas pulseiras e anéis de prata simples, além de colares e anéis comuns com rachaduras.

Lu Tong pousou a xícara de chá e olhou para os dois pratos de cobre. Seus dedos traçaram lentamente as bordas entalhadas dos pratos.

Após a morte de Ke Chengxing, os negócios da família Ke sofreram um baque. A Velha Madame Ke precisava pagar dívidas, então teve que vender as propriedades da família.

Quando Lu Rou se casou, apesar de a família estar empobrecida, com o caráter de seus pais, seu dote não deixou nada a desejar. Depois da morte de Lu Rou, a família Ke ficou com boa parte de seu dote. Mas, pensando bem, se ainda restava algo, a Velha Madame Ke certamente já teria usado para levantar dinheiro.

E a nova esposa da família Ke, Madame Qin, agora queria cortar os laços com a família Ke. Muito provavelmente, não manteria os pertences da falecida Madame Ke.

Lu Tong mexeu no prato de cobre e escolheu um delicado grampo de bambu e uma pulseira de prata que parecia bem brilhante. Por fim, pegou um grampo de prata dourado com pedras incrustadas e, depois, um grampo com uma flor de hibisco também adornado com gemas.

O grampo parecia ter sido usado por muito tempo. Seu corpo fora polido até brilhar, mas as pequenas gemas incrustadas ainda estavam vivas e cintilantes.

Lu Tong escolheu os três itens e olhou para o velho lojista:

— Quero estes.

O velho lojista pediu ao servo que levasse os pratos de cobre e riu:

— Senhorita, tem bom gosto. Esses três itens são todos novidades. O grampo de bambu custa cinco taéis de prata, a pulseira sai por quinze taéis, e este grampo com gemas é um pouco mais caro. Custa cem taéis. Mas este velho vê que a senhorita é uma cliente nova. Como é sua primeira vez aqui, basta pagar cem taéis pelos três.

— Tão caro assim? — Yin Zheng não pôde deixar de exclamar. — Não são nem de esmeralda nem coral! Está achando que a gente não conhece o valor das coisas?

O velho lojista não se irritou com a reação. Apenas sorriu pacientemente:

— Senhorita, embora o material desse grampo não seja tão nobre quanto esmeralda ou coral, o trabalho é refinado e especial. Cem taéis de prata valem o preço. Se acha que o valor está alto, por que não dá uma olhada em outras peças?

Lu Tong ficou em silêncio.

Ela veio ali por causa do grampo de hibisco, mas o preço estava acima do que esperava. Mesmo comprando apenas o grampo, ainda lhe faltaria metade da quantia.

Agora, estava numa situação difícil.

Enquanto Lu Tong e Yin Zheng enfrentavam esse impasse por causa do dinheiro na casa de penhores, alguém descia do Pavilhão Encontro Imortal ao lado.

O jovem estava vestido com um uniforme escarlate de oficial, justo na cintura. Seu protetor de pulso era bordado com padrões de brocado prateado, refletindo um brilho escuro sob o sol. Desceu as escadas, desamarrou as rédeas e se preparava para montar o cavalo.

O rapaz atrás dele comentou de repente:

— Eh? Aquela não é a Doutora Lu?

Pei Yunhuan parou no meio do movimento de montar e ergueu os olhos.

Do outro lado da rua, na casa de penhores, duas figuras familiares estavam de pé. O vestido branco e o grampo florido de Lu Tong chamavam bastante atenção. Ela parecia tão delicada e frágil que até uma brisa poderia derrubá-la. Estando ali, em pé na loja, era impossível não notá-la.

Duan Xiaoyan se animou:

— Não esperava vê-las aqui logo depois de nos despedirmos no templo. Que coincidência!

Pei Yunhuan o encarou por um momento, pensativo, antes de dizer:

— É mesmo uma coincidência.

Na Casa de Penhores Luyuan, Yin Zheng ainda tentava negociar com o lojista:

— Tio, por mais requintado que seja o grampo, o material é só razoável. Se minha senhorita não tivesse gostado, ninguém pagaria cem taéis por ele. Por que não nos faz um desconto? Podemos comprar mais aqui no futuro.

O lojista mantinha o ar gentil, mas não cedia:

— Está brincando, senhorita. Para falar a verdade, nossa loja fica na Rua Qinghe, no sul da cidade. O aluguel aqui é mais caro do que em outros lugares. Somos apenas um pequeno negócio. Se falasse de três ou cinco taéis a menos, tudo bem. Mas cinquenta... Aí me complica.

— Mas... — Yin Zheng ainda queria insistir, quando uma mão surgiu ao lado e colocou um lingote de prata sobre a mesa. Uma voz soou atrás dela:

— Não precisa dizer mais nada. Eu pago para ela.

Lu Tong ergueu o rosto e encontrou um par de olhos negros sorridentes.

— Comandante Pei? — Lu Tong franziu levemente o cenho.

Não esperava encontrar Pei Yunhuan ali.

Parecia ter acabado de sair do trabalho, já que ainda estava com o uniforme oficial. Seu chapéu cobria o coque dos cabelos, o que o fazia parecer elegante e charmoso. Sua postura tinha um certo ar despreocupado. Realmente chamava atenção em seu traje escarlate.

Ele sorriu para Lu Tong:

— Doutora Lu, nos encontramos de novo.

O velho lojista também reconheceu Pei Yunhuan e apressou-se em abrir um sorriso. Desta vez, seu sorriso foi bem mais sincero do que quando estava diante de Lu Tong. Havia até um leve temor.

— Se eu soubesse que esta senhorita era amiga do Lorde Pei, não teria aceitado seu dinheiro. Pode levar essas três joias. Considere um presente meu.

Estendeu a mão para empurrar o prata de volta, mas uma mão pressionou o lingote.

Pei Yunhuan se apoiou na mesa e disse com desdém:

— Mestre, esta loja está na Rua Qinghe, no sul da cidade. O aluguel aqui é mais caro do que em outros lugares. Sendo um pequeno negócio, como posso deixá-lo ter prejuízo?

Devolveu ao velho lojista as próprias palavras. O rosto do homem ficou rígido.

Pei Yunhuan tamborilou a mesa com o dedo:

— Lojista, por favor, embrulhe para ela.

Desta vez, o velho não ousou enrolar. Ordenou apressadamente ao atendente que embrulhasse as três peças e as entregasse a Yin Zheng.

Lu Tong e Yin Zheng pegaram os itens e saíram da casa de penhores. Encontraram Pei Yunhuan esperando do lado de fora com o jovem chamado Duan Xiaoyan ao seu lado. Ao vê-las, Duan Xiaoyan acenou rapidamente em saudação.

Lu Tong retribuiu o gesto, aproximou-se de Pei Yunhuan e disse:

— Obrigada, Comandante Pei.

Ele se virou e olhou para baixo, em direção a Lu Tong. Disse:

— O gosto da Doutora Lu é bem questionável.

Lu Tong o encarou.

— Parece que foi enganada por aquele velho — comentou ele, olhando para a bolsa de pano nas mãos de Yin Zheng. — Ele teve a ousadia de cobrar cem taéis por essas coisas.

O velho lojista da Casa de Penhores Luyuan parecia honesto e simpático, mas na verdade era um homem esperto. Lu Tong sabia que, se não fosse, não teria sobrevivido tantos anos num lugar movimentado como a Rua Qinghe.

Yin Zheng hesitou por um momento, juntou coragem e perguntou:

— Então por que o Comandante Pei não nos aconselhou quando estávamos na penhoraria?

Pei Yunhuan cruzou os braços e olhou para Lu Tong. De repente, sorriu.

— Porque, se eu tivesse feito isso, não teria a chance de fazer com que a Doutora Lu me ficasse devendo um favor.

Sua expressão era ambígua, e o tom, sutil, mas isso fez Lu Tong franzir levemente a testa.

Ela respondeu:

— Eu vou devolver os cinquenta taéis que devo ao Lorde Pei quando voltar.

— Não precisa — Pei Yunhuan olhou para ela. — Ouvi dizer que na clínica da Doutora Lu há um chá medicinal chamado ‘Chun Shuisheng’ que vende muito bem. Vamos usar isso como pagamento.

— Está bem — Lu Tong concordou. — Comandante Pei, me passe o endereço da sua casa. Vou mandar alguém entregar amanhã.

— Não precisa se incomodar — ele sorriu. — A Rua Oeste não é longe. Eu mesmo irei buscar em outro dia.

Lu Tong o encarou. Sua expressão estava calma, como se as palavras dele tivessem sido parte natural da conversa.

Depois de um momento, ela assentiu e disse com serenidade:

— Está bem.

Lu Tong e Yin Zheng saíram primeiro. Duan Xiaoyan seguiu Pei Yunhuan até o Restaurante Yuxian. Ele comentou:

— Essa Doutora Lu não usa nenhuma joia. Achei que ela não gostasse de grampos e pulseiras. Não esperava que fosse igual às outras meninas.

Pei Yunhuan respondeu lentamente:

— Sim. Então, depois que terminar o trabalho, volte até a penhoraria e descubra de onde vieram as três joias que ela comprou hoje.

— Ah — Duan Xiaoyan respondeu, e de repente percebeu algo. — Por que está perguntando isso? Você também a ajudou ontem no Jardim Wu Huai. Mano, por que eu sinto que você está especialmente preocupado com a Doutora Lu?

Pei Yunhuan caminhou até a frente do Pavilhão Encontro Imortal, desamarrou as rédeas e montou no cavalo. Sorriu e disse:

— Como não prestar atenção a uma mulher que pode matar alguém?

Depois, ignorou Duan Xiaoyan e partiu. Duan Xiaoyan ficou boquiaberto por um momento, depois montou apressado no cavalo e o perseguiu, perguntando:

— Matar alguém? Quem?

Era verão, e as noites estavam mais quentes.

Yin Zheng plantava algumas rosas chinesas na frente do pátio. Elas não demorariam a florescer.

No quarto, Lu Tong sentava-se à mesa, olhando para o grampo de hibisco na mão.

A velha senhora Ke realmente não levou esse grampo consigo. Como fazia parte do dote de Lu Rou, o grampo havia sido penhorado pela velha senhora Ke.

O grampo era delicado; sob a luz tênue da vela, as gemas emitiam um brilho difuso, como o reflexo do pôr do sol nas montanhas do condado de Changwu no começo do verão.

Parecia que numa noite assim, sua mãe sentava-se à luz da lâmpada fazendo trabalhos manuais, enquanto ela acabava de tomar banho e repousava no colo de Lu Rou, que secava seu cabelo úmido com uma toalha.

Lu Rou penteava seu cabelo e dizia sorrindo:

— Quando nossa irmãzinha crescer, seu cabelo vai ficar lindo preso num coque.

Então ela se inclinou e sussurrou em seu ouvido:

— Não se preocupe, eu não preciso desse grampo. Vou guardar para você. Quando você conhecer o rapaz que gostar, eu vou pentear seu cabelo para você.

Ela ainda era criança naquela época, e as palavras infantis não tinham maldade. Respondeu sem pensar:

— Tá bom, então quando eu encontrar o rapaz que gosto, vou levá-lo para te conhecer. Irmã, não volte atrás na sua palavra.

A mãe olhou para elas com reprovação.

— Sem vergonha.

Lu Rou riu tanto que não conseguia endireitar as costas. Beliscou o rosto da irmã e brincou:

— Sem problema. Quando chegar a hora, pode trazer ele para me ver. Quero ver qual sortudo vai conquistar o coração da minha irmã.

O vento lá fora fez a luz da vela balançar levemente. Lu Tong voltou à realidade e guardou o grampo na caixinha.

Yin Zheng entrou com uma bacia de água. Lu Tong entregou a ela a pulseira de prata e o grampo de bambu que sobraram.

— Isso é para você.

— Para mim? — Yin Zheng se surpreendeu. — Você não vai precisar?

— Comprei para enganar — disse Lu Tong. — Eu quase nunca uso mesmo.

Yin Zheng pegou os itens e hesitou antes de dizer:

— Então, eu deveria penhorar em outro lugar? Hoje gastamos cem taéis na penhoraria. Sem contar os cinquenta taéis que devemos ao Comandante Pei, ainda estamos devendo para o Mestre Du. Não é bom ficar pedindo dinheiro emprestado para o Mestre Du o tempo todo. Ele não tem muito dinheiro sobrando.

— Como quiser.

Yin Zheng olhou para Lu Tong. Ela estava sentada à mesa, como uma camélia que começava a florescer na noite do começo do verão, ainda mais bela do que a que usava no cabelo.

Só de olhar, dava para sentir pena.

— Senhorita — Yin Zheng falou depois de pensar um pouco — o Comandante Pei já ajudou você várias vezes. Hoje ele disse que não quer que você devolva o dinheiro... Será que ele gosta de você?

Vendo que Lu Tong não respondeu, Yin Zheng refletiu e falou:

— Ele é filho do Duque Zhaoning. É bonito e talentoso. Se ele realmente gosta de você...

— Não — Lu Tong a interrompeu.

— Ele não gosta de mim. Ele está me testando.

Pei Yunhuan olhava para ela sem nenhuma afeição no olhar. Era como se soubesse todos os seus segredos e a deixasse em alerta.

Mas, independente das intenções dele, Lu Tong não tinha tempo para se preocupar com isso.

Nos dias seguintes, Lu Tong ficou ocupada preparando remédios para Dong Lin.

Na mansão do Grande Mentor, o Renxin Medical Hall não podia se dar ao luxo de desagradar ninguém, principalmente com o generoso pagamento da família Dong. Lu Tong trabalhou alguns dias até terminar os remédios, e pediu a Du Changqing que os entregasse pessoalmente na residência do Grande Mentor.

Assim que terminou a entrega, alguém do Bureau de Remédios Prontos apareceu.

O farmacêutico do Bureau de Remédios Prontos ficou em frente a Lu Tong e disse respeitosamente:

— Doutora Lu, a Academia Médica Hanlin melhorou a fórmula do ‘Chun Shuisheng’ e a aceitou como remédio oficial. Daqui para frente, o chá medicinal ‘Chun Shuisheng’ só poderá ser comprado na Academia Médica Hanlin e no Bureau de Remédios Prontos. Outros estabelecimentos médicos não poderão continuar vendendo.

Du Changqing acabara de voltar da residência Dong e ouviu aquilo. Não se conteve e agarrou a gola do farmacêutico.

— O que disse?

O farmacêutico ainda era jovem e gaguejou:

— Isso... isso é uma coisa boa. É uma grande honra a fórmula ter sido aceita pelo Bureau de Remédios Prontos. O Mestre deve ficar feliz.

— Feliz nada! — Du Changqing não se conteve e xingou. — Eles tomaram a fórmula. Como vou ganhar dinheiro? Será que Lou está querendo me ferrar? Desgraçado, nem ouve o que o Grande Mentor diz?

— Isso... essa é decisão da Academia Médica Hanlin — o farmacêutico disse, sem saída. — Eu não tomo as decisões. Mestre, por favor... acalme-se...

Ficar bravo com um jovem farmacêutico não resolveria nada. Du Changqing soltou-o, ainda com raiva e expressão amarga.

— Sem vergonha!

Lu Tong não ousou desrespeitar a família Dong e deixou o estabelecimento continuar vendendo as ervas medicinais. Porém, naquele momento, ela tomou uma medida drástica e aceitou a fórmula ‘Chun Shuisheng’ como receita oficial da Academia Médica Hanlin. Para um estabelecimento normal, isso seria um feito glorioso. Mas para o Renxin Medical Hall, que dependia do ‘Chun Shuisheng’ para lucrar muito, não foi nada bom.

Em tempos difíceis, a reputação não vale tanto quanto o lucro.

Ah-Cheng e Yin Zheng se olharam. Ah-Cheng olhou Lu Tong com cuidado.

— Doutora Lu, o que fazemos agora?

Como não poderiam continuar vendendo o ‘Chun Shuisheng’, o Renxin Medical Hall perderia sua principal fonte de renda e voltaria ao estado anterior.

Lu Tong não respondeu. Pegou o selo farmacêutico do funcionário, viu-o sair, e voltou para o quarto interno dizendo:

— Não se preocupem.

Três pares de olhos a encararam. O olhar de Du Changqing brilhou com um fio de esperança.

— No máximo, o Bureau de Remédios Prontos pode aceitar apenas uma receita oficial da mesma farmácia. ‘Chun Shuisheng’ foi aceito pelo Bureau. Isso significa que, a partir de agora, todos os remédios produzidos e vendidos pelo Renxin Medical Hall não serão aceitos — disse Lu Tong. — Mestre Du, você está livre.

— De que adianta estar livre? — Du Changqing disse, descontente. — Não tenho prata. Prefiro ser prisioneiro da riqueza!

— A prata pode ser conquistada de novo — Lu Tong falou com voz calma. — Se uma receita for tirada, criamos outra.

— Criar outra? — Du Changqing a olhou, desconfiado. — É fácil falar. Você consegue?

Lu Tong não respondeu.

Depois de um tempo, falou:

— Consigo.


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