Gu Nan reconheceu a espécie do papagaio num instante:
— Deve ter sido alimentado por alguém.
Nuan Nuan assentiu claramente:
— O dono dele está procurando?
A menininha ficou de frente para o passarinho que estava em cima da estante. Fez um gesto chamando e perguntou baixinho:
— Doudou, você lembra o caminho de casa?
O papagaio Doudou enterrou a cabeça debaixo das asas e respondeu com uma voz estranha:
— Não, não sei, não sei.
— Então desce primeiro.
A calopsita bateu as asas e pairou acima de Nuan Nuan.
— O Grande Rei Demônio!
Nuan Nuan provavelmente sabia a quem ele se referia e ficou um pouco irritada. O irmão dela era tão bonzinho, como podia ser o Grande Rei Demônio? Esse passarinho não tinha bom gosto, diferente das crianças.
Mas Gu Nan, que era chamado de Grande Rei Demônio, permaneceu calmo:
— Deixa pra lá. Gu An está ensinando você a ler o livro do primário?
Nuan Nuan se encostou na coxa do irmão com os dois bracinhos, colocando metade do peso do corpinho nele, e assentiu obediente.
— Sim.
— Vai buscar o livro, seu irmão vai te ensinar.
Os grandes olhos preto e branco da Nuan Nuan, parecidos com uvas, brilharam instantaneamente. Ela segurou a palma da mão do irmão com energia, colou o rosto macio nele com intimidade e passou contra ele.
— Obrigada, irmãozão~
Depois de agradecer baixinho, ela saiu rápido para pegar os livros. Vendo isso, Doudou bateu as asas querendo acompanhar, mas não era tão rápido quanto Gu Nan, e a porta se fechou de repente, quase esmagando ele.
— O Grande Rei Demônio, o Grande Rei Demônio!
— Socorro, Nuan Nuan, socorro!
Doudou gritava numa voz estridente, tremendo de medo diante do Grande Rei Demônio sozinho.
Gu Nan olhou para ele friamente:
— Cala a boca.
Bem, o covarde Doudou fechou o bico, senão ia acabar virando prato no segundo seguinte.
— Pode ficar aí. Você pode tirar as penas no escritório ou no quarto da Nuan Nuan.
Gu Nan ameaçou o passarinho com a expressão séria. Se Nan Feng e os outros vissem isso, quantas bocas não caíam? O majestoso mestre deles estava realmente ameaçando um pássaro!
— Entendido, entendido.
Varriado pelo olhar frio do Grande Rei Demônio, Doudou ficou extremamente obediente, mas, no fundo, sentia muita falta da sua doce pequena amiga.
Quando Nuan Nuan voltou com o livro nos braços, não percebeu nada errado, e Doudou não ousou reclamar para Nuan Nuan na frente do Grande Demônio. Mesmo que reclamasse, Nuan Nuan com certeza ficaria do lado do irmão.
Sentada ao lado do irmão, abrindo o livro, Gu Nan leu o texto com voz profunda e fria, tão nobre, elegante e quente quanto um violoncelo, e ela ficou encantada enquanto segurava o rostinho.
Por que a leitura do irmão era tão boa quanto um canto, mesmo que a história não tivesse reviravoltas nem emoção?
A voz quente, macia e aveludada de leite da menininha basicamente lia uma frase, e o irmão lia outra. A voz grave e agradável se misturava à voz imatura e limpa dela. Um livro do primário soava infantil, mas de alguma forma havia um toque romântico nas notas.
Doudou, que antes estava assustado, voou sem perceber para a mesa à frente, balançou as asas e ouviu quietinho. Briquette estava deitado no colo da Nuan Nuan, e sua cauda preta flexível parecia uma pulseira no pulso branco da menina. O contraste claro entre preto e branco destacava ainda mais a brancura e a maciez da pele do pulso.
Por um tempo, só se ouviam as vozes dos irmãos lendo no escritório, e Gu Nan parecia ficar mais caloroso junto com a leitura.
Estava quase na hora do Gu An terminar a aula, mas a chuva lá fora não dava sinais de parar, embora Nuan Nuan ainda quisesse buscar o irmão na escola.
Ela achava que o irmãozinho ficaria feliz em vê-la. Mesmo sem dizer nada, os olhos dele brilhavam muito.
Nuan Nuan também ficou muito feliz ao receber o irmão, já que ele não trouxe guarda-chuva naquele dia.
Segurando o guarda-chuva, Nuan Nuan calçava galochas pequenas. O tempo chuvoso tinha esfriado um pouco, então a mãe Gu colocou nela um casaco felpudo branco como neve, comprido como uma saia, que cobria as panturrilhas, com um capuz que tinha duas orelhas de coelho penduradas.
Com a cabecinha fofinha e macia da irmãzinha e seu próprio jeito doce, ela parecia um bolinho branco e macio, que dava vontade de pegar no colo, acariciar e abraçar.
— Nuan Nuan, lembra de não sair do carro, deixa só o irmão buscar o irmãozinho, tá bom?
— Sim, Nuan Nuan sabe.
Mesmo depois de ouvir isso várias vezes, Nuan Nuan ainda assentia pacientemente e respondia que sabia. Se fosse o Gu An no lugar dela, já teria perdido a paciência.
Com medo que Nuan Nuan saísse do carro e pegasse um resfriado na chuva, a mãe Gu repetia a ordem várias vezes, e só deixou eles irem quando ela assentiu obedientemente.
Ao entrar no carro, uma sombra branca passou rapidamente e entrou junto. Assim que Nuan Nuan se sentou firme, um lindo papagaio pequeno apareceu pousado em seus ombros.
O passarinho se enfiou no cabelo dela para esconder o corpo e esfregou-se carinhosamente em seu pescoço.
— Pequena linda, traz o Doudou.
Havia um gato preto que sempre ficava olhando para ele, fazendo suas penas quase eriçarem. O gato tinha tanto medo que achava que morreria até se cochilasse.
Nuan Nuan tocou na cabecinha peluda do Doudou, virou a cabeça e segurou a roupa do irmão, olhando para ele com expectativa.
— Irmão, a gente pode levar o Doudou com a gente?
O covarde Doudou não ousava aparecer.
Ao ouvir o homem cantarolar, Doudou, ainda com as penas tensas, relaxou e quase escorregou do ombro de Nuan Nuan, mas, por sorte, se segurou a tempo.
No resto da viagem, ele basicamente se aninhou no pescoço de Nuan Nuan, se aquecendo.
Quando chegaram à escola, Nuan Nuan se encostou na janela e olhou para fora. Já havia muitos carros buscando as crianças.
Gu Nan afagou sua cabeça:
— Vou buscar o Gu An, não saia do carro.
Nuan Nuan assentiu obediente e apenas observou o irmão abrir um guarda-chuva preto e sair do carro. A chuva molhava o chão, respingava nos sapatos de couro e na calça social preta dele, mas Gu Nan ficava calmo na chuva, ainda com aquela presença real, sem se importar com o tempo.
— Irmão, cuidado!
Nuan Nuan levantou a mãozinha e acenou.
Gu Nan cantarolou, fechou a porta e foi embora.
Enquanto esperava, Nuan Nuan se encostou na janela do carro e olhou para fora. A chuva estava um pouco mais fraca e ela podia ver tudo claramente.
O carro deles estava estacionado num lugar afastado, pois as vagas na frente estavam todas ocupadas. Nuan Nuan olhou e viu um pequeno grupo de coisas tremendo no canto da escola.
Quase imediatamente, abriu a porta do carro e quis sair, mas o motorista na frente ficou pálido de susto.
— Senhorita Nuan Nuan, não desça.
Nuan Nuan tinha esquecido todas as instruções da mãe e do irmão, mordeu o dedo e apontou o outro para as bolinhas lá fora.
— Ma… mas tem um gato ali.
Isso mesmo, aquele que tentava se proteger da chuva no canto, mas tremia sem conseguir, era um gato, um gato branco.
O motorista olhou e correu para a chuva com o guarda-chuva:
— Senhorita Nuan Nuan, por favor, sente-se. Eu já vou lá.
Em poucos minutos, o motorista voltou trazendo alguns gatos dentro do casaco. Debaixo do gato branco, havia dois filhotinhos de leite, e o motivo de o gato grande não ter fugido era justamente por causa dos dois filhotinhos.
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