Capítulo 96: Destruir a Cidade


 Justo quando o povo ainda condenava o comportamento injusto dos guardas de Wancheng, ninguém esperava que o exército de Chu, que já havia marchado para o norte, de repente voltasse à fronteira — ainda mirando esse lugar pequeno e aparentemente insignificante. Assim, quando os cornos de cerco soaram, muitos ficaram aterrorizados.

Naquele momento, o general encarregado da defesa da cidade ainda se entregava aos prazeres. Ao saber que o exército de Chu estava a apenas dez milhas do portão, agarrou suas armas e correu para fora com as calças mal ajustadas. No entanto, enquanto corria, percebeu algo estranho: nenhum dos soldados estava se reunindo no portão. Em vez disso, todos corriam para o norte em frenesi, saqueando cada casa civil pelo caminho, alegando estar executando uma estratégia de terra arrasada em nome da corte — não deixando nada para o exército de Chu.

Alguns moradores fugiram com seus pertences mais valiosos, enquanto os que resistiram foram mortos na hora, com sangue respingando nos batentes das portas. Uma cidade pacata transformou-se instantaneamente em um purgatório, com lamentos ecoando em cada esquina — uma cena verdadeiramente trágica.

Entre os soldados que participaram da inspeção naquele dia, havia um que, ao passar pela parte sul da cidade, lembrou-se de um comerciante rico vindo da capital. Pensando que "roubar dos ricos não é roubo", liderou alguns companheiros e invadiu a mansão de Chu.

Mas eles não esperavam que os moradores ainda estivessem lá.

O soldado olhou para Liu Yin, que estava parado no portão com as mãos para trás, um traço de desprezo nos olhos. Pretendia empurrá-lo como da última vez e entrar, mas para sua surpresa, o ombro de Liu Yin era mais duro que aço. Sem estar preparado, ouviu um estalo — seu pulso foi deslocado. Ele gritou de dor:

— Ah—

Os outros soldados atrás não viram Liu Yin se mover e não entenderam o que havia acontecido. Pensaram que ele estava fingindo, até que o viram cair no chão, segurando o pulso, suando e se contorcendo de dor. Perceberam que algo estava errado e cercaram Liu Yin rapidamente.

Eram cerca de dez soldados brutais. A formação com espadas grandes era intimidadora, mas Liu Yin nem sequer franziu a testa. Golpeou o mais próximo a vários metros de distância e, em seguida, virou-se e entrou na casa. Os soldados ficaram atônitos.

Quem era ele, afinal?

Ainda em choque, os soldados se recompuseram e começaram a gritar:

— O que estão esperando? Peguem ele!

Eles avançaram com as espadas, mas foram imediatamente cercados por mais de trinta Guardas Sombrios. Nem viram de onde vieram — apenas flashes de luz fria e lâminas já encostadas em seus pescoços. As lâminas afiadas pressionavam exatamente sobre as artérias, prontas para derramar sangue com um simples movimento.

Com alguns sons metálicos, várias espadas caíram no chão.

— O que estão fazendo? Por que tanto medo de alguns criados?

O soldado líder ainda gritava, aparentemente alheio à opressão aterradora no pátio. Os demais permaneciam em silêncio, sem ousar responder. Alguns até se ajoelharam, implorando por misericórdia.

— Perdão, bravo guerreiro! Fomos ignorantes e não reconhecemos nosso erro. Por favor, nos poupe!

— Sim, o exército de Chu logo atacará e não poupará ninguém na cidade. Seu mestre é rico e certamente será alvo de saque. Como vocês, poucos, resistiriam a dezenas de milhares de soldados? Em vez de perder tempo conosco, é melhor proteger seu mestre e fugir!

Eles falavam sem parar, mas Liu Yin não reagia. Nem os Guardas Sombrios ao redor demonstravam qualquer emoção.

Aos poucos, alguns começaram a perceber que havia algo estranho.

Dos pés à cabeça, estavam vestidos ao estilo da tribo Xi, mas as espadas que empunhavam não eram típicas do Yi Ocidental. Os coldres tinham padrões de rachaduras únicos do Reino Chu. E o mais importante: desde a última inspeção, esses homens mal haviam falado o idioma local — exceto o mestre.

O que estava acontecendo naquela mansão? Quem eram essas pessoas?

Os soldados do Yi Ocidental especulavam com medo, quando uma voz masculina fria e calma ecoou da frente:

— O exército de Chu não vai massacrar a cidade, nem queimar, matar ou saquear como vocês.

Ao ouvir isso, todos se viraram. Viram um homem e uma mulher surgindo por trás de um biombo cinza entalhado. O homem vestia uma túnica azul brilhante, com coroa de cristal e cinto de chifre de rinoceronte. Usava um anel de jade com padrão de dragão. Era belo e nobre, com uma elegância incomparável. A mulher usava um robe simples de seda, graciosa como fumaça, com olhos e sobrancelhas igualmente etéreos. Parecia uma pintura viva, capaz de alegrar qualquer coração.

Ainda eram o mesmo casal que, naquela noite, parecia apressado e selvagem?

O soldado líder finalmente percebeu que algo estava errado e tentou escapar discretamente, mas ouviu o som ensurdecedor de cascos atrás de si. Aproximavam-se cada vez mais, pesados como se sacudissem o chão. Ao se virar, viu apenas poeira e sombras avançando. Três mil cavaleiros de ferro passavam como um terremoto, vindo direto naquela direção.

O exército de Chu havia entrado na cidade.

Ele ficou cada vez mais apavorado, ignorando o fato de que uma de suas mãos ainda estava inutilizada. Levantou-se e correu o mais rápido que pôde. Mas foi interceptado pela cavalaria de Chu antes de avançar dois metros. Cercaram-no em círculos e pararam na entrada, com os penachos vermelhos balançando ao vento — uma visão impressionante.

O líder da tropa vestia armadura negra e carregava um dragão prateado nas costas. Era excepcionalmente belo, mas tão frio quanto um iceberg — raramente sorria.

Só quando ele desmontou e entrou no pátio é que sua expressão gelada se desfez um pouco.

— Irmão Real!

O soldado não entendeu o que ele gritava, mas reconheceu a arma icônica e imediatamente ficou em choque.

Era o Príncipe Ning, líder do exército de Chu vindo da Cidade Zhulang rumo à Planície de Hezhong! O que ele fazia num pátio tão remoto? Será que eles se conheciam?

Mas a cena seguinte o fez desmoronar ainda mais. Chu Jun e a cavalaria ajoelharam-se diante de todos, gritando em uníssono:

— Vida longa ao Imperador!

— Vida longa ao Imperador, vida longa, vida longa!

— Levantem-se.

Após falar, Chu Xiang ajudou Chu Jun a se levantar e acenou com a mão. Os outros soldados também se ergueram e agradeceram em uníssono, com uma disciplina muito superior à das tropas comuns.

Todos os soldados do Yi Ocidental ficaram atônitos, com a mente em branco — esqueceram até de implorar por misericórdia.

Ele era o imperador do Reino Chu!

Os soldados do Yi Ocidental nem pensaram no motivo de estarem ali ou no que estavam fazendo. Wancheng havia caído, e eles já eram prisioneiros de guerra. Haviam corrido direto para a lâmina — não havia saída.

Alguns fugiram em pânico, sem se importar com a direção. Mas tiveram o azar de correr contra uma espada pelas costas, que perfurou o peito e os matou instantaneamente. Poucos segundos depois, seus corpos caíram com estrondo, molhando os degraus e escorrendo como um riacho.

Yue Lingxi sentiu náuseas e cobriu os lábios com um lenço.

Ao vê-la assim, Chu Xiang não disse nada. Abraçou seu corpo delicado e perguntou a Chu Jun:

— A carruagem está pronta?

— Está — respondeu Chu Jun, conduzindo-os até o veículo. — Vossa Alteza, voltaremos ao acampamento primeiro ou seguiremos direto para o Passo Yanmen?

— Ao acampamento.

Chu Jun assentiu, montou novamente no cavalo, suspirou e seguiu lentamente atrás da carruagem.

Dentro da carruagem, Yue Lingxi ainda estava atordoada, murmurando por um longo tempo:

— Não é à toa que você estava tão tranquilo em ficar aqui... já tinha tudo preparado para o príncipe tomar Wancheng.

Chu Xiang achou graça e acariciou sua bochecha corada antes de dizer:

— Você achou mesmo que eu seria um herói solitário?

Yue Lingxi ficou um pouco envergonhada com suas palavras. Demorou até virar o rosto e levantar a cortina verde para olhar lá fora. O cocheiro ainda era Liu Yin, com Shu Ning ao lado. A única diferença era que agora havia um exército de elite ao redor, protegendo-os de perto.

Finalmente, podiam voltar para casa.

Ela olhou para a longa fileira de tropas e lembrou vagamente que a cavalaria de Chu Jun era maior. Logo entendeu: o ataque a Wancheng foi apenas para buscá-los. O exército de Chu nunca teve intenção de mudar sua rota — Chu Xiang estava determinado a vencer na Planície de Hezhong.

Mas ele é muito arbitrário. Como os soldados se sentiriam ao saber que tudo isso foi por causa dela?

O rosto de Yue Lingxi oscilava entre alegria e preocupação. Chu Xiang percebeu que sua mente vagava e a provocou:

— Quando chegar a hora de eu acender uma fogueira por você, aí sim será hora de se preocupar.

Antes de ele falar, ela estava bem. Mas depois, sentiu-se ainda mais atormentada — como se os órgãos estivessem sendo assados sobre brasas.

— Já está quase assim agora!

Ele entrou em território inimigo por ela, movido por sentimentos intensos. Mas como os historiadores escreverão sobre isso? Teme-se que, no fim, isso manche sua reputação, sugerindo que se deixou levar pela paixão — e sua honra seja enterrada ali.

Chu Xiang viu que ela realmente se importava e a induziu com calma:

— Existe uma solução.

— Que solução? — Yue Lingxi mordeu a isca, levantando os olhos úmidos e o encarando com expectativa.

— Quando chegarmos ao acampamento principal, vou nomeá-la oficialmente como minha imperatriz diante de todos os soldados. Talvez não estejam dispostos a se sacrificar por Ye Xiuyi, mas com certeza o farão por sua imperatriz. E se sua barriga der sinais de movimento, será ainda mais justificável que eu tenha vindo salvá-la...

Yue Lingxi só se preocupava com a reputação dele, mas agora começou a considerar seriamente a viabilidade da proposta.

A cerimônia de nomeação era fácil — bastava um decreto. Mas um filho não se tem por comando. Mesmo que engravidasse agora, não daria tempo para o anúncio...

Ela o encarou com desconfiança. Seu coração firme começava a vacilar, mas Chu Xiang mudou de assunto:

— Mas tudo isso só poderá ser feito depois que suas mãos estiverem curadas. Antes disso, não pense em nada.

Yue Lingxi não respondeu.

Durante esse tempo, dependia dele para quase tudo — comer, se vestir, tomar banho e mais. Ele não se importava, até gostava da intimidade, mas seu rosto sempre ficava sombrio ao ver os ferimentos dela.

Ela sabia que isso o preocupava.

Para não deixá-lo aflito, Yue Lingxi sussurrou em seu ouvido:

— Eu entendo. Quando voltarmos ao acampamento principal, cooperarei com o médico militar para o tratamento.

Só então Chu Xiang assentiu, satisfeito.


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