Capítulo 68 – Visitantes Indesejados

 Era tarde da noite. Xia Rongrong e sua criada já estavam dormindo, mas a luz no quarto de Lu Tong ainda estava acesa.

O pequeno pátio estava silencioso, com apenas o som distante dos insetos.

Yin Zheng sentava-se à beira da cama, meio reclinada. A cama estava coberta de livros.

Lu Tong estava sentada à mesa, folheando atentamente os pergaminhos sob a luz.

Nas últimas noites, Lu Tong não preparara nenhum remédio. Quando chegava a hora de acender a lamparina, ela se sentava à mesa para ler, quase sem fazer pausas.

Yin Zheng bocejou e esfregou os olhos:

— Os casos que o Mestre Fan resolveu no Condado de Yuan An são inúmeros e longos, cada um mais emocionante que o outro. São bem mais interessantes do que romances.

Lu Tong virou uma página.

— De fato, são mais interessantes que romance.

Os pergaminhos sobre a mesa relatavam os casos mais famosos resolvidos por Fan Zhenglian enquanto era magistrado no Condado de Yuan An.

Mesmo que o Mestre Cao tivesse conexões, não conseguiria colocar as mãos nesses arquivos.

Felizmente, a reputação de Fan Zhenglian em Yuan An era amplamente conhecida. O contador de histórias da casa de chá havia transformado alguns dos casos que ele resolvera em romances populares, vendidos pelas ruas. Lu Tong pediu que Yin Zheng comprasse todos os livretos.

— O caso dos sogros difamando a viúva, o da cunhada matando a irmã, o dos irmãos brigando por herança, o do barqueiro afogando o passageiro por ganância... juntos, dariam uma lenda — disse Lu Tong, fechando o livro em mãos. — Fan Zhenglian tinha muito trabalho como magistrado.

Yin Zheng endireitou-se.

— Tantos casos, e o Mestre Fan investigou um por um. Ele realmente parece ser um bom oficial.

— Um bom oficial? — Lu Tong sorriu. — Olhe com atenção. Você viu alguma vítima pobre nesses casos? Há algum nobre envolvido?

Yin Zheng ficou surpresa. Abaixou a cabeça, folheou o livro novamente, e então olhou para Lu Tong:

— Realmente não tem! Você está dizendo que o Mestre Fan buscava fama e reputação ao escolher casos de plebeus para resolver, facilitando limpar seu nome, enquanto os ricos e poderosos ficavam intocados? Mas se ele resolveu tantos casos, deve ter alguma habilidade…

Lu Tong soltou um leve riso.

— Não necessariamente. Não se esqueça que ele tem Qi Chuan ao seu lado.

Qi Chuan era o "Mestre Qi" com quem Lu Tong trombara na mansão da família Fan. Diziam que era o assistente mais confiável de Fan Zhenglian.

Segundo a Senhora Fan e sua criada pessoal, Cui’er, Fan Zhenglian havia transferido Qi Chuan especialmente do Condado de Yuan An para Shenjing, o que mostrava o quão próximos eram.

Quando Lu Tong pediu a ajuda do Mestre Cao para coletar informações, também mandou investigar Qi Chuan.

E foi aí que as coisas começaram a parecer estranhas.

Qi Chuan era filho da ama de leite de Fan Zhenglian.

Tinham idades próximas. A ama havia criado Fan Zhenglian, e Qi Chuan crescera junto com ele na mansão da família Fan.

Com o tempo, era hora de Qi Chuan estudar. A família dele era pobre, e a família Fan, por bondade, pagou seus estudos.

Qi Chuan e Fan Zhenglian estudaram na mesma escola.

Enquanto Fan Zhenglian era medíocre nos estudos, com talento comum, Qi Chuan era o oposto — possuía memória extraordinária e talento genuíno.

Crescendo juntos, naturalmente tinham uma relação próxima. No entanto, durante o exame imperial de outono, Qi Chuan adoecera e não conseguiu comparecer.

Os olhos de Lu Tong se estreitaram em reflexão.

Que coincidência.

Fan Zhenglian passou primeiro no exame e, no ano seguinte, Qi Chuan também foi aprovado.

Um após o outro, dentro da mesma casa, o filho do mestre e o filho da criada passaram nas provas. Em toda a dinastia Liang, era uma coincidência e tanto.

Yin Zheng abraçou o edredom de brocado e perguntou:

— Senhorita, você está suspeitando que Qi Chuan fingiu estar doente para não prestar o exame, e na verdade substituiu o Mestre Fan no Exame Imperial de Outono?

— Isso é possível… mas qual seria a motivação de Qi Chuan para fazer isso?

— No fim, sua classificação nem foi tão alta quanto a de Fan Zhenglian…

Lu Tong sorriu.

— Sendo filho de serva, se não fosse pelo apoio financeiro da família Fan, Qi Chuan nem teria entrado na escola da família.

— Ele tem uma dívida com eles. Então é natural que ajudasse Fan Zhenglian a prestar o exame.

— Quanto à colocação inferior… Os exames de outono variam muito. Qi Chuan não teria como garantir um bom resultado todas as vezes. E se ele tirasse uma nota menor que a de Fan Zhenglian, talvez ainda recebesse ajuda da família por conta da afeição antiga. Se ele realmente se destacasse e se tornasse famoso, imagine como a família Fan o veria. Com o histórico da família Qi, ele talvez nem tivesse uma carreira tranquila.

— Não é como se o primeiro lugar nunca tivesse fracassado antes.

Yin Zheng assentiu, pensativa.

— Entendi. Mas como você sabe tanto sobre os exames?

— Quando meu pai ainda era vivo, sempre havia estudantes indo à capital prestar os exames — disse Lu Tong, olhando para baixo. — Cresci em Changwu até os nove anos. Naquela época, pouquíssimos conseguiam ser aprovados no exame de outono.

Era por isso que ela sabia que a aprovação de Fan Zhenglian, com seu talento mediano, era anormal.

Yin Zheng pensou por um instante.

— Se Qi Chuan foi substituto de Fan no exame, e depois também foi aprovado, mas foi designado para o Condado de Yuan An como oficial… será que essa nomeação foi arranjada pela família Fan?

O cargo de oficial de condado era inferior ao de magistrado, mas ainda podia ajudar o magistrado.

— Provavelmente — disse Lu Tong.

— Também explica por que Fan Zhenglian, com sua aptidão medíocre, virou um grande homem que tudo vê e tudo resolve depois que chegou a Yuan An.

Fan Zhenglian passou no exame primeiro. Depois, veio Qi Chuan. Fan se tornou magistrado. Então, por algum meio, influenciou a transferência de Qi Chuan para Yuan An, onde ele virou seu assistente.

Assim, Qi Chuan podia ajudá-lo nos assuntos oficiais, como fazia quando estavam na escola.

Talvez todos os casos bem resolvidos em Yuan An fossem obra de Qi Chuan.

Yin Zheng assentiu.

— Agora entendo por que o Mestre Fan quis levar Qi Chuan consigo quando foi transferido para a capital. Ele não pode ficar sem ele. Desde que chegou, resolveu vários casos, sua reputação cresceu e sua carreira deslanchou. Mas… — a voz de Yin Zheng vacilou. — Por que Qi Chuan ainda é apenas um secretário?

Em poucos anos, Fan Zhenglian subira de magistrado de condado a juiz do Tribunal Criminal de Shenjing. Qi Chuan, que era um oficial de condado, estava apenas um grau abaixo. Mas agora, era apenas um secretário.

Secretário não tinha poder. Era apenas um título, sem possibilidade de promoção. Um beco sem saída.

A carreira de Qi Chuan era muito mais difícil que a de Fan Zhenglian.

Lu Tong olhou para a capa do livro e disse com frieza:

— É claro que ele só pode ser secretário. Qi Chuan é a melhor ferramenta de Fan Zhenglian.

— Fan não apenas nunca lhe dará chance de subir, como também fará de tudo para suprimi-lo, controlá-lo e mantê-lo como um secretário insignificante por toda a vida. Só assim poderá usá-lo eternamente como seu degrau.

Yin Zheng respirou fundo.

— Isso é cruel demais. Além de roubar seu mérito, ainda o prende dessa forma. Por que Qi Chuan não reage?

Lu Tong olhou pela janela.

— Filho de serva sempre será inferior. Ser humilhado é normal.

Pessoas em posição elevada podiam destruir os esforços de gente comum com facilidade. Qi Chuan era assim. O Escolar Wu também. A família Lu, da mesma forma.

Yin Zheng suspirou.

— Que triste…

Depois perguntou:

— Qi Chuan é subordinado de Fan Zhenglian só no papel. Na prática, é seu braço direito. Senhorita, você pretende suborná-lo para contar a verdade sobre o caso do Segundo Jovem Mestre Lu e usar isso para reverter o veredito?

— Não.

Yin Zheng se espantou.

Lu Tong guardou o livro na gaveta.

— Reverter o veredito seria apenas entregar o caso a outro juiz. Mas já não confio em nenhum juiz de Shengjing. Eles podem não buscar a justiça.

— Tenho outros planos.

Ao dizer isso, sua expressão tornou-se gélida. A luz refletia nos seus olhos escuros como uma chama fria queimando no fundo do mar congelado.

Yin Zheng ficou sem palavras. Antes que pudesse dizer algo, Lu Tong mudou de assunto:

— Ah, não se esqueça de pedir ao Ah-Cheng que entregue as ervas na casa do Wu Youcai amanhã cedo.

— Sim — respondeu Yin Zheng.

Lu Tong suspirou levemente.

— A mãe dele… provavelmente não vai durar muito.

Ao ouvir isso, Yin Zheng também ficou triste.

Aquele pobre estudioso confucionista era muito filial, mas falhara repetidas vezes nos exames imperiais. Era de se lamentar. Lu Tong mandava Ah-Cheng levar ervas para ele de vez em quando. Como eram vizinhos na Rua Oeste, Ah-Cheng fazia isso com gosto. Du Changqing também nunca reclamara.

Mas…

Yin Zheng lançou um olhar discreto para Lu Tong, confusa. Não sabia se era impressão sua, mas achava que Lu Tong tratava Wu Youcai com uma gentileza diferente. Ela via tantos pacientes pobres todos os dias, e Wu Youcai não tinha nada de especial. Mas sempre que falava com ele, seu tom e expressão eram suaves e pacientes.

Como se estivesse conversando com um parente.

Lu Tong abaixou os olhos.

Ela não sabia o motivo, mas sempre via a sombra de Lu Qian em Wu Youcai. Wu Youcai era gentil e introvertido, tolerante e honesto. Lu Qian era alegre e radiante, claro em seus sentimentos de amor e ódio. Eram completamente diferentes. Mas, toda vez que pensava naquele pobre estudioso, a imagem que lhe vinha à mente era a de Lu Qian voltando para casa da academia com a caixa de livros nas costas.

Ele parava em frente à porta e, sob o olhar ansioso de Lu Tong, tirava de repente a mão que escondia atrás das costas. Dava uma risada e dizia:

— Olha só, peguei um gafanhoto novinho pra você!

Depois saia correndo, rindo, enquanto ela o perseguia furiosa.

Mas Lu Qian já estava morto.

Morrera na prisão do juiz Fan Zhenglian.

Os cílios de Lu Tong estremeceram levemente.

Todos os que o mataram deveriam ser enterrados com ele.

…

A chuva noturna não veio no fim. O dia seguinte amanheceu ensolarado.

Era quase o início do outono, mas os dias mais quentes ainda estavam por vir.

Como a tarde era quente demais para suportar, Lu Tong trocou o horário e passou a tratar Zhao Feiyan na mansão de Fan Zhenglian pela manhã.

Essa seria a última visita de Lu Tong para tratar Madame Zhao.

Zhao Shi já havia emagrecido até alcançar uma silhueta que a deixava muito satisfeita. Se continuasse a perder peso, suas bochechas deixariam de parecer cheias. Comentava-se que ela havia deslumbrado a todos no Banquete de Verão, dias atrás. Era originalmente bela e voluptuosa, mas agora, magra, tinha outro tipo de beleza. Recebera incontáveis elogios durante o banquete, e, naturalmente, estava de ótimo humor.

Com sua vaidade satisfeita e o relacionamento com Fan Zhenglian mais afetuoso do que nunca, Madame Zhao passou a ver Lu Tong com muito mais agrado. Antes que Lu Tong partisse, mandou alguém entregar-lhe os honorários médicos que estiveram retidos nos últimos dias.

A criada de Madame Zhao, Cui’er, acompanhou Lu Tong e Yin Zheng até a porta e entregou uma cesta a Yin Zheng:

— Senhorita Yin Zheng, aceite isto.

Yin Zheng aceitou com um sorriso.

Ao ver aquilo, um traço de desprezo passou pelo olhar de Cui’er.

A cesta estava cheia de ovos e outros produtos locais. Fan Zhenglian e Madame Zhao recebiam presentes de ouro e prata todos os dias. Apenas um pobre ignorante daria algo assim. Esses produtos locais nem sequer mereciam atenção dos criados — eram largados sem cerimônia no pátio externo da cozinha. Quem diria que, ao passar por ali, Lu Tong ficaria encarando aquelas coisas por um bom tempo?

A cozinha já estava incomodada com o acúmulo daquelas bugigangas inúteis. Diante disso, Cui’er simplesmente disse que queria presentear Lu Tong com eles. Inesperadamente, Lu Tong não recusou, e ainda ficou visivelmente grata e feliz.

Uma caipira do interior nunca poderia se comparar a alguém nobre, pensou Cui’er, escoltando Lu Tong e Yin Zheng até a saída, trocando algumas palavras formais antes de se retirar.

Lu Tong e Yin Zheng atravessaram o portão da Mansão Fan. Depois de uns dez passos, esbarraram em alguém.

A pessoa que se aproximava usava uma túnica velha. Era alta e robusta. Era Qi Chuan, o secretário do Tribunal Criminal — e braço direito de Fan Zhenglian.

Lu Tong e Yin Zheng pararam.

Qi Chuan era secretário do tribunal, mas agia mais como intendente da mansão Fan.

Às vezes, quando havia convidados a receber, entregas a fazer, ou se Zhao Feiyan de repente queria tomar algo doce, era a ele que pediam para resolver.

Por isso, sempre que Lu Tong ia tratar Madame Zhao, acabava esbarrando com esse secretário.

Com o tempo, Qi Chuan soube que Lu Tong era a médica de Madame Zhao. De vez em quando, quando se cruzavam pelos corredores, ele a cumprimentava.

Hoje não foi diferente. Lu Tong fez uma reverência para Qi Chuan. Ele retribuiu educadamente e estava prestes a seguir rumo ao portão da mansão.

Yin Zheng passou por ele sorrindo, balançando a cesta de bambu sob a luz do sol, que faiscava ao redor.

Os passos de Qi Chuan pararam de repente.

Ele virou a cabeça. Seu olhar pousou na cesta de Yin Zheng.

Era uma cesta de legumes feita de bambu fresco. Havia várias camadas. Cada uma preenchida com mantimentos diversos: carne defumada, ovos, inhames frescos e batatas-doces. Os ovos estavam todos cuidadosamente organizados e embrulhados em papel de palha para que não quebrassem no caminho.

Ele ficou ali, olhando fixamente para a cesta nas mãos de Yin Zheng, até que a voz de Lu Tong o despertou:

— Secretário Qi?

Ele levantou o rosto. Lu Tong o encarava, confusa.

Qi Chuan abriu a boca. Depois de um tempo, disse:

— Doutora Lu, essa cesta... de onde veio?

Lu Tong sorriu.

— Antes de eu sair, Madame Fan me deu como presente.

— Presente, coisa nenhuma! — Yin Zheng resmungou com desprezo. — Madame Fan nunca daria um presente tão mesquinho. Foram os criados que nos trataram como mendigas. Ouvi claramente. Disseram que eram conservas trazidas por gente pobre, que estavam estragadas e ocupando espaço na mansão. Foi por isso que nos deram. Foi só porque a senhorita tem bom coração que caiu nesse truque!

— Que bobagem — Lu Tong a repreendeu. Virou-se para Qi Chuan e disse, com um sorriso contido — Perdoe-a, Secretário Qi. Ela não sabe o que diz.

Ao ouvir isso, Qi Chuan empalideceu. Forçou um sorriso para as duas e partiu.

Ao vê-lo sumir pelos portões da mansão Fan, Lu Tong desviou o olhar.

Virou-se e chamou:

— Vamos.

Yin Zheng a acompanhou, sorrindo.

— Senhorita, atuei bem agora, não foi?

— Muito bem.

— Claro que sim — Yin Zheng ficou ainda mais animada. — Embora eu não seja tão esperta quanto você, minhas habilidades de atuação e mentira são de primeira.

Para uma garota que teve de sobreviver num bordel, saber falar e fingir era essencial.

Depois de falar, ela murmurou:

— Uma provocação dessas... Será que Qi Chuan ficou ressentido?

Lu Tong sorriu, sem responder.

Ressentimento... é claro que sim.

Seu talento e habilidade não perdiam em nada para Fan Zhenglian, mas, por conta de sua origem, sempre ficou abaixo dos outros.

Poderia ter feito um nome para si mesmo na carreira oficial, mas acabou reduzido a um servo na Mansão Fan — enquanto o outro subia degrau por degrau, espremendo até a última gota de seu valor.

Se ela fosse Qi Chuan, também não estaria satisfeita.

Qi Chuan era um servo leal. Por isso, durante tantos anos, permitiu que Fan Zhenglian usasse suas conquistas para subir na carreira sem dizer uma palavra, contentando-se em permanecer como secretário.

Mas a paciência de uma pessoa tem limites.

Um subordinado dedicado e leal podia ter acumulado anos de mágoas e ressentimentos no coração. E o motivo de ainda não ter dito uma palavra talvez fosse por um senso de justiça: afinal, cresceram juntos. Afinal, quando a família de Qi Chuan era pobre, foi o dinheiro dos Fan que lhe permitiu estudar.

É claro que aquela pequena provocação não seria suficiente para fazer Qi Chuan se voltar contra Fan Zhenglian de imediato. Ela só precisava plantar a semente no coração dele. O quanto essa semente cresceria, dependeria do quanto Fan Zhenglian havia regado sua lealdade ao longo dos anos.

A falsa amizade fraternal e o suposto afeto entre senhor e servo haviam confundido os olhos de Qi Chuan. Ela apenas começaria a quebrar essa ilusão — pouco a pouco.

Um leve sorriso se formou no canto dos lábios de Lu Tong.

Afinal, essa relação frágil entre os dois já estava cheia de rachaduras.

Depois de caminhar por um tempo, Lu Tong e Yin Zheng voltaram à Rua Oeste.

Yin Zheng usou um lenço para secar o suor da testa e perguntou:

— Senhorita, está com calor? Quer comprar uma água gelada?

Embora as bebidas da loja recém-aberta na esquina fossem um pouco doces demais, tomar um copo de água gelada de ameixa num dia como aquele era ótimo para aliviar o calor.

Lu Tong pensou por um instante e assentiu. Yin Zheng sorriu:

— Então vou chamar o Mestre Du e a Senhorita Xia pra irem conosco!

E saiu correndo adiante.

Lu Tong a seguiu.

Era meio-dia, o sol brilhava forte sobre as ruas. O calor e a umidade estavam por toda parte. A ameixeira frondosa na entrada sombreava o centro médico. Normalmente, nesse horário, fazia tanto calor que quase não havia clientes na Rua Oeste.

Mas hoje era diferente.

Uma figura familiar saiu de um beco lateral e entrou na Clínica Médica Renxin.

Lu Tong parou.

Ao notar isso, Yin Zheng seguiu seu olhar e exclamou, surpresa:

— Não é o Wen You da Clínica Médica Xinglin?

Wen You, criado da Clínica Xinglin, havia saído do beco. Mesmo com um breve olhar, Lu Tong o reconheceu. Afinal, dias atrás, ele apareceu várias vezes no consultório à procura de Lu Tong enquanto Du Changqing não estava. De forma insinuada, propôs que ela fosse trabalhar na Xinglin, dobrando o salário mensal que Du Changqing pagava.

Mas Lu Tong recusou todas as ofertas.

Yin Zheng olhou para o homem entrando no consultório e depois para o beco. Seu semblante ficou intrigado.

— Aquela não é a Senhorita Xia?

— Por que Wen You está procurando a Senhorita Xia?

Xia Rongrong não sabia nada de medicina. Ele não podia estar tentando contratá-la para a Clínica Xinglin… podia?

Lu Tong permaneceu parada por um momento, depois desviou o olhar e disse baixinho:

— Vamos.